I. DEFINIÇÃO E EXPLICAÇÃO
O Papa Pio IX, na bula Ineffabilis Deus, em 8 de dezembro de 1854, declarou como dogma da Igreja e artigo de fé o seguinte: "Ë de Deus revelada a doutrina que sustenta que a bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, e dessa maneira deve ser onda firme e constantemente por todos os fiéis."
Os apologistas do dogma não dizem que Maria foi milagrosamente concebida, sendo que ela teve seus país naturais. São Joaquim e Santa Ana afirmam, sim, que ela nasceu sem pecado original, entendendo-se que este consiste na privação da graça sobrenatural imerecida, graça que Adão e Eva tiveram a principio, mas que perderam por sua desobediência.
O pecado original consiste, segundo a doutrina católica, em que todos os seres humanos, por descendermos de nossos pais Adão e Eva, nascemos privados dessa graça santificante, e, dessa maneira, é congênita em nós a tendência para o mal. Maria participou, no entanto, de algumas das conseqüências do pecado de Adão; esteve incluída na sentença adâmica, incorreu na dúvida, como todos os demais, e não esteve isenta da morte; mas foi ela redimida por antecipação, em vista dos feitos de seu próprio Filho e pela abundância da bondade de Deus.
Convém observar que, com a promulgação deste dogma papal, o primeiro em 18 séculos e meio, Pio IX pôs termo a uma controvérsia que havia abrangido várias centúrias e que implicava numa ameaça de divisão nas filas romanistas. A decisão do Papa adotada por ele e perante ele chegou a ser por isso mesmo uma medida prática e oportuna e deixou bem clara a consolidação das pretensões do papado, de absoluta autoridade sobre os Concílios Gerais e sobre a Igreja toda. Apenas 16 anos depois, este mesmo Papa haveria de decretar, no Concilio Vaticano I, o dogma da infalibilidade papal.
II. HISTÓRIA
No catolicismo, culto à Imaculada Conceição de Maria está muito difundido. A dita festa começou a celebrar-se já no século XII, muito antes da proclamação do dogma. Uma lenda atribui sua origem à ordem dada por um varão resplandecente, o qual, havendo aparecido a um abade inglês, de nome Elpino, que se achava em perigo de naufragar no marcom os seus companheiros,"... disse-lhes que prometessem a Deus guardar cada ano a festa da Conceição de nossa Senhora, e de exortar a outros que aguardassem ,e que desta maneira sairiam daquele perigo e chegariam ao porto desejado". (1)
Em 1140 a festa da Imaculada Conceição foi estabelecida pela primeira vez por alguns cônegos de Lyon, França, os quais foram duramente censurados pelo famoso São Bernardo como iniciadores de tal novidade. A este respeito, a Enciclopédia de La Religion Católica diz: "Ao introduzir-se a festa em Lyon soou a voz da oposição nada menos que de São Bernardo, por outra parte tão grande Mariólogo; e sua autoridade atraiu outros ao seu parecer." (2)
Na celebração desta festa, os católicos aplicam a Maria certas expressões de Cântico dos Cânticos, como as seguintes: "Tu és toda formosa, amada minha, e em ti não há mancha"; "Jardim fechado é minha irmã, minha noiva, sim, jardim fechado, fonte selada"; "Mas uma só é a minha pomba, a minha imaculada; ela é a única. .. a escolhida" (Cant.4:7, 12; 6:9).
Durante onze séculos a crença nesta doutrina foi desconhecida na igreja cristã. Encontramos o primeiro vestígio dela nos meados do século XII, com a instituição da festa, à qual nos referimos anteriormente. Apesar de se celebrar na Igreja Oriental desde o ano 880 uma festa da Conceição em cada 9 de dezembro, esta, no entanto, era só para celebrar o caráter milagroso de Maria, já que sua mãe Ana era estéril (segundo uma lenda apócrifa). A idéia da Imaculada Conceição se foi estendendo, mas de igual modo cresceu a oposição, a ponto de desenvolver-se uma acesa e ampla controvérsia, na qual apaixonadamente intervieram escolas de pensamento, ordens religiosas, igrejas nacionais e proeminentes líderes. Principais contendentes na batalha foram os franciscanos, que, com seu mestre Juan Duns Escotus, defendiam a Imaculada Conceição, enquanto os dominicanos, com Tomás de Aquino os encabeçando, a negavam.
O Concílio de Trento, que decretou como artigos de fé muitas das superstições medievais, se absteve, no entanto, de promulgar este novo dogma, claro indício de que, à altura do ano 1545, a tal crença não contava ainda com o apoio universal. Foi necessário que transcorressem dezoito séculos e meio para que a Imaculada Conceição ingressasse oficialmente no credo católico romano. Com efeito, o Papa Pio IX publicou em 2 de fevereiro de 1849 uma Encíclica, a fim de que todos os bispos expressassem sua opinião a respeito, e, ainda que muitos deles se pronunciassem contra. Posteriormente o Papa declarou como novo dogma da Igreja Católica Romana, na presença de 54 cardeais e 140 bispos, a Imaculada Conceição de Maria.
2006-12-28
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