Órfãos de Garotinho, evangélicos dividem-se entre Lula e Alckmin
Janaina Vilella
11/09/2006
http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/primeirocaderno/politica/Orfaos+de+Garotinho+evangelicos+dividem-se+entre+Lula+e+Alckmin,,,60,3891265.html
* Enviar para um amigo
* Imprimir
Órfãos de uma candidatura com viés religioso à Presidência da República nas eleições deste ano, os evangélicos pentecostais dividiram-se entre os dois principais candidatos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ex-governador de Sâo Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Este é um quadro radicalmente diferente da disputa de 2002, quando as duas principais denominações da igreja pentecostal no país - Assembléia de Deus e Universal do Reino de Deus - se uniram em prol do "irmão" e então candidato Anthony Garotinho. Não há consenso nem mesmo entre pastores e bispos de uma mesma vertente.
Com 8,4 milhões de seguidores, de acordo com o Censo 2000 do IBGE, a Assembléia de Deus, maior igreja evangélica do país, deve chegar ao pleito rachada, por conta de divisões internas. Sua principal associação, a Convenção Geral das Assembléias de Deus, tende a declarar, ainda nesta semana, apoio à candidatura de Alckmin. Por outro lado, Lula já recebeu de outras entidades da igreja, como o Conselho Nacional de Pastores do Brasil e a Convenção Nacional das Assembléias de Deus - Ministério Madureira (Conamad), ambas presididas pelo bispo Manoel Ferreira (PTB). A Universal, por sua vez, que reúne mais de dois milhões de fiéis, segundo dados do Censo 2000, já declarou apoio à reeleição de Lula. Em 2002, a igreja apoiou Garotinho em alguns Estados mas não de forma explícita.
Na sexta-feira, o presidente se encontrou, no Rio, com o bispo Manoel Ferreira para sacramentar o apoio do ministério de Madureira à sua candidatura. Em nome dos 42 mil pastores, evangelistas e missionários vinculados ao conselho e dos 19 mil ministros e 25 mil templos das Assembléias de Deus - ministério de Madureira - o bispo entregou declarações de apoio das duas entidades à reeleição já no primeiro turno.
Nas últimas eleições presidenciais, em 2002, o bispo Ferreira apoiou o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PMDB), no primeiro turno, e José Serra (PSDB), hoje candidato ao governo paulista, no segundo. "Tendo em vista que a maioria dos segmentos evangélicos se concentra entre a população de mais baixa renda, onde o bolsa-família, programa de transferência de renda do governo Lula, tem forte presença, acredito que os votos, que antes pertenciam a Garotinho, migrem para Lula", explicou o bispo.
O presidente do conselho político da CGADB, pastor Ronaldo Fonseca, contou que o principal ramo da Assembléia de Deus já havia declarado apoio, nas eleições deste ano, ao então pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho. A candidatura do ex-governador do Rio, no entanto, acabou não decolando porque o PMDB, dividido, não lhe deu o respaldo necessário.
"Agora ainda estamos decidindo o que fazer. Mas a tendência é que a gente apóie o Alckmin", disse Fonseca. O bispo explicou que ainda existe uma forte resistência dos pastores e bispos do Nordeste ao tucano.
A última pesquisa do Datafolha mostra que o esforço dos defensores do voto em Alckmin terá que ser grande. A maioria dos que se declaram evangélicos pentecostais (52%) diz que votará em Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em julho, antes do início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, o percentual de evangélicos pentecostais que declaravam voto em Lula era de 43%.
O cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio de Janeiro, um dos autores do estudo "Religião e Sociedade em Capitais Brasileiras", lembra que, em 1989, enquanto a ala progressista da Igreja Católica apoiava Lula, os pentecostais ajudaram a eleger Fernando Collor de Mello. Em 1994 e 1998, os pentecostais apoiaram Fernando Henrique Cardoso, ao perceber que a igreja católica, mais uma vez, havia fechado apoio a Lula.
Em 2002, pela primeira vez, o peso do voto evangélico pôde ser comprovado com a candidatura de Anthony Garotinho à Presidência. O ex-governador do Rio recebeu 15 milhões de votos, ficando em terceiro lugar no primeiro turno. Ele teve mais votos em áreas da periferia de predominância evangélica. "Garotinho foi responsável pela conversão dos votos dos evangélicos, em 2002. Esse ano, como não temos um candidato genuinamente evangélico no pleito, Lula tem investido nos nessas correntes religiosas, de modo a não deixá-las nas mãos de Alckmin. Mas a tendência é que os evangélicos dividam-se", disse Jacob.
Lideranças de denominações evangélicas ligadas à Garotinho ouvidas pelo Valor ainda não decidiram em quem votar. Alguns deles seguirão o voto do "mestre", como chamam Garotinho, e apoiarão a candidata do P-SOL à presidência da República, Heloisa Helena. Outros ainda estão indecisos entre Alckmin e Lula. "O povo evangélico está órfão de uma candidatura. Nenhum dos dois candidatos se identifica muito com o povo evangélico. O Garotinho não tinha a preferência do segmento evangélico apenas por ser um irmão e sim pela sua capacidade técnica. Eu acredito que a maioria dos evangélicos ainda esteja indefinido. Ficou um vazio. Algumas denominações já apoiaram um ou outro candidato. Mas ainda há incertezas", disse o deputado estadual Edson Albertassi (PSC), que exerce atualmente a função de diácono da Igreja Assembléia de Deus, além de presidir a Comissão de Orçamento da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
O pastor Éber Lenz César, da Igreja Presbiteriana Luz do Mundo, freqüentada por Garotinho e sua família, diz que "numa eleição tão complexa como essa" preferiu abster-se de dar orientações ao fiéis, deixando-os livres para fazer suas escolhas. Em 2002, a igreja manifestou apoio à Garotinho, chegando a organizar uma corrente diária de orações em favor do então candidato. "É uma eleição carente de candidatos fortes", resumiu César.
2006-09-27
10:27:05
·
10 respostas
·
perguntado por
Anonymous