Já está monótono assistir aos jornais televisivos. Nem dá mais emoção esperar as revistas semanais e quinzenais como Veja, Istoé etc. Os jornais diários seguem os mesmos parâmetros: CORRUPÇÃO, CORRUPÇÃO, CORRUPÇÃO.
Parece que nosso país entrou em um ritmo alucinado em que os políticos, servidores públicos, homens de importância na economia nacional estão envolvidos em todos os tipos possíveis de falcatruas e desvios, sempre com a finalidade única de causar prejuízos aos cofres públicos em proveito próprio ou de terceiros. Os que não participam diretamente se omitem e fingem que nada sabem, nada escutam, nada enxergam.
Fora as informações sobre a meteorologia e o futebol (quando também não tem algum caso de corrupção na arbitragem e "acerto" com os cartolas), o resto ou é a guerra do Iraque ou atos de corrupção praticados por alguém que administra o país ou nos representa no Congresso Nacional, nas Assembléias, nas Câmaras de Vereadores.
Antigamente eram apenas os políticos e sempre havia a mesma desculpa: "... é perseguição, época de eleições, sou inocente, blá, blá, blá...". Como as eleições ocorrem de dois em dois anos (municipais e estaduais/federais), praticamente as alegações eram de que estavam utilizando o período eleitoral para atacar este ou aquele, sempre inocente e perseguido injustamente.
Agora, devido à grande quantidade de envolvidos - Ministros, Juízes de Direito, Desembargadores, Delegados de Polícia e outras autoridades de importância - a desculpa mudou um pouco. Continuam, obviamente, jurando inocência mas a novidade agora é alegar que estão atacando a classe, a instituição a que pertencem, tudo para fazer com que os demais membros - honestos - interfiram em suas defesas e os protejam de serem condenados pelos crimes que cometeram mas que juram não ter perpetrado.
Qual a diferença entre um ladrão "pé rapado" que pratica o "assalto relâmpago", um assaltante de ônibus coletivo, um punguista, um juiz envolvido em venda de sentenças ou um delegado que pratica peculato desviando milhares de reais de taxas que deveriam ser recolhidas aos cofres públicos?
A resposta é apenas uma: não existe nenhuma diferença São todos criminosos, marginais, bandidos, porém congressistas, magistrados e delegados alegam que suas instituições estão sendo ameaçadas e que não podem ser expostos ao público algemados.
Certamente se fossem pobres e pretos não haveria tanto problema em serem decretadas suas prisões, serem filmados e fotografados algemados e transportados na traseira de um camburão. Mas como membros desta ou daquela instituição passam a exigir tratamento especial, não querem ser presos em público e outras "prerrogativas".
Então porque admitir isso que é corriqueiro com traficantes do morro do Dendé, da Caixa D´agua, do Borel ou do Complexo do Alemão? Talvez seus outros colegas - também pertencentes ao mundo do crime - deveriam exigir as mesmas "prerrogativas". As associações de classe devem começar a analisar as diferenças entre defender seus associados pela prática de crimes funcionais (prevaricação, abuso de poder e/ou de autoridade etc.) e a utilização da "maquina institucional" para defender aqueles que praticam crimes "comuns" como peculato, corrupção, extorsão.
O juiz que vende a sentença não é juiz. É um bandido que está travestido de juiz. O senador que recebe propina não pode ser considerado um representante do povo, da República. Ele é um marginal como outro qualquer que vive nas favelas sem oportunidade de morar em algum apartamento funcional em Brasília pago por nós.
O funcionário público que "embolsa" as taxas que deveriam ser recolhidas ao erário para melhorar a qualidade de vida da população não pode ser visto como um colega daqueles que não praticam peculato. O que rouba deve ser encarado como ladrão e não "coitadinho". Ladrão é ladrão e como tal deve ser tratado, escrachado, desconsiderado.
A inversão de valores é forma de valorização da criminalidade e fator de fortalecimento da certeza da impunidade. Se cada um de nós demonstrar o nojo que sentimos por aqueles que se escondem atrás das instituições para se proteger dos crimes que cometem, certamente em alguns anos vamos poder contar com organizações mais fortes, mais éticas e mais seguras para nossos filhos e netos.
Lugar de criminoso (aquele que comete crime) é na cadeia, afastado da sociedade honesta, seja ele um vagabundo foragido do sistema penitenciário seja um servidor público ocupante de cargo importante na administração pública.
Paulo Magalhães - Delegado de Polícia aposentado e Presidente da ONG BRASIL VERDADE (contato@brasilverdade.org.br)
2007-05-28
09:25:16
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zeca do trombone
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Lei e Ética