Pastor Sílvio Galiza acusa outras três pessoas pela morte do adolescente, dois deles também da Igreja Universal
DEODATO ALCÂNTARA
Reviravolta no caso do assassinato do adolescente Lucas Vargas Terra, 14 anos, incendiado vivo em um monturo da Avenida Vasco da Gama, em 21 de março de 2001 – crime pelo qual o pastor Sílvio Roberto Santos Galiza, 24, cumpre pena de 18 anos no Complexo Penitenciário do Estado, na Mata Escura. Em depoimento ao Ministério Público (MP), Galiza apontou um bispo e um pastor, seu colega na Igreja Universal do Reino de Deus, como os autores do homicídio.
Um dos acusados, pastor Joel Miranda, 40 anos, que trabalha na Universal do município de Breves (PA), foi preso na semana passada pela polícia paraense e trazido a Salvador. No entanto, poderá ser libertado a qualquer momento do Presídio de Salvador, pois o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já revogou sua prisão temporária, por meio de liminar de habeas-corpus.
O outro, o bispo Fernando Aparecido da Silva, 28 anos, que atualmente trabalha na cidade de Curitiba, capital paranaense, fugiu após tomar conhecimento que seu colega Miranda havia sido detido. Mas sua prisão ainda não foi revogada e a polícia está à sua procura. Os dois acusados trabalhavam em Salvador na ocasião da morte de Lucas Terra, e foram transferidos ainda durante as investigações.
Em depoimento gravado em vídeo pelo MP, Galiza alega inocência e diz que uma terceira pessoa, que não conheceria, participou da trama. Ele afirmou que descobriu o assassinato no dia seguinte, em 22 de março, mas que teve de se manter calado por causa das ameaças de morte contra si e sua família, feitas pelos dois religiosos.
Ainda na gravação, Galiza diz que a igreja mantém seu pagamento de salário – de R$ 1,5 mil – como forma “de me manter de boca fechada em relação ao crime”.
MAIS DE UM – Para a promotoria pública, o relato de Galiza tem fundamento. “Quase tudo do que ele disse bate com o que foi apurado nas investigações e concluído pela perícia. Sempre soubemos que o crime havia sido cometido por mais de uma pessoa, só não tínhamos chegado ainda aos nomes”, declarou o promotor Oscar Araújo Silva.
Primeiro promotor do caso, ainda em 2001, quando se encontrava na 2ª Vara da Infância e Juventude, Silva foi chamado a interromper suas férias em janeiro, a pedido do próprio Galiza, para tomar o depoimento. “Por iniciativa própria, ele disse que confiava em mim e me escolheu para abrir o jogo”, ratifica o promotor.
No entanto, Silva diz que não é possível descartar a participação de Galiza no assassinato. “Reiniciamos as investigações, vamos fazer reconstituição, acareações e tudo mais o que for preciso. Se participou ou não, agora está mais fácil descobrir”, declarou.
O Ministério Público já tomou novos depoimentos de todas as testemunhas de acusação, o pai de Lucas Terra, José Carlos Terra, a namorada e outros obreiros e ex-obreiros da Igreja Universal, cujos nomes foram preservados. Ontem, por mais de duas horas, o promotor tentou tomar o depoimento de Joel Miranda.
Mas, acompanhado por três advogados da Universal – um do Pará e dois de Salvador –, ele respondeu a todas as perguntas dizendo que se manteria calado por determinação de seus defensores.
Por volta do meio-dia, Miranda foi levado de volta ao presídio, onde ficou aguardando o comunicado oficial – à direção da casa – para que fosse libertado. Segundo Oscar da Silva, os advogados de Miranda, liderados por Mateus Cerqueira, alegaram que não teriam nada a declarar porque não sabiam quais eram as acusações ao cliente.
“Mas eles assistiram ao vídeo com todas as acusações Galiza e leram tudo o que temos de documentos, inclusive os depoimentos das testemunhas. A verdade é que não estão dispostos mesmo a ver isso esclarecido”, declarou o promotor.
Segurança de vida para Galiza
O pastor evangélico Sílvio Roberto Santos Galiza, 24 anos, condenado a 18 anos de prisão pela morte de Lucas Vargas Terra, 14, crime ocorrido em 21 de março de 2001, pediu proteção de vida para fazer revelações que afirma serem verdadeiras sobre o caso.
Oito pessoas de sua família, inclusive os pais, já foram incluídas no Programa de Proteção à Vida (Provita), rede nacional de segurança mantida pelos governos Federal e de cada Estado.
Também Galiza, mesmo no Presídio de Salvador, está sob proteção especial do Ministério Público. A decisão de denunciar, diz, foi tomada depois que sua família passou a ser ameaçada também.
“Não posso pagar por um crime que não cometi”, acrescenta, ao afirmar que o assassinato foi cometido pelo bispo Fernando Aparecido da Silva, 28 anos, e pelo pastor Joel Miranda, 40, ambos seus colegas da Igreja Universal do Reino de Deus – que seriam, também, os autores das ameaças de morte. Galiza fala de um terceiro homem, que diz não conhecer, como envolvido.
Na ocasião do crime, Fernando Silva era pastor regional da igreja da Pituba, enquanto Miranda era o pastor no Rio Vermelho, onde Galiza também trabalhava e dormia. Segundo Galiza, só os dois citados poderiam dizer o que motivou a morte de Lucas Terra. “Ouvi dizer que o pai de Lucas teria aplicado um golpe de mais de R$ 1 milhão na Universal, no Rio, onde Fernando era pastor”, declarou.
Na tarde de ontem, o advogado Sérgio Habib – que defendeu Galiza no segundo júri, supostamente contratado pela Igreja Universal por honorários de R$ 300 mil –, declarou que poderá renunciar ao caso. “Vamos fazer uma reunião com Galiza para eu poder decidir”, disse.
O advogado voltou a negar que tenha sido contratado pela Universal, mas deixou escapar que recebeu uma carta “deles”, fazendo elogios a sua atuação no júri. Já no Ministério Público, um dos advogados da igreja disse, ontem, que a Universal fez pagamentos mensais a Sérgio Habib, sem declarar o valor.
2007-03-01
04:52:42
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perguntado por
Zecargill
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Religião e Espiritualidade