Quando se reconhece o engano da ciência da época, utilizado pelo Codificador em seu artigo, o Espiritismo surge como única solução para eliminar, de vez, o preconceito. - LEIA AQUI O POLÊMICO TEXTO DE ALLAN KARDEC SOBRE A RAÇA NEGRA
Quando mal interpretado e fora de contexto, causa estranheza no leitor, e é alvo de polêmica, a conclusão de Allan Kardec apresentada no artigo Frenologia Espiritualista e Espírita - Perfectibilidade da Raça Negra, publicado na Revista Espírita, de abril de 1862, e citada numa nota em A Gênese. No tempo de Kardec todos acreditavam que os negros formavam uma raça inferior à raça caucasiana, ou branca, o que explica a frase de Kardec, que parece ferir a lei de igualdade: "Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporeamente falando, jamais alcançará o nível das raças caucasianas". Era uma questão não só cultural mas tinha também o respaldo da ciência daquela época, que observava o estado primitivo dos povos africanos e escravizados nas Américas. As conseqüências da crença nas diferenças raciais levavam inevitavelmente à discriminação, divisão de classes e exploração do homem pelo homem. Allan Kardec, pesquisando o elemento espiritual, sabia estar nele a chave da questão. Todos somos iguais, e evoluímos até nos tornarmos espíritos puros.
O propósito do artigo de Kardec era esclarecer os conceitos espíritas a partir da realidade científica e cultural de sua época. Passados 130 anos, a desigualdade entre as raças é um conceito totalmente superado. A diferença genética entre dois negros normalmente é maior do que a existente entre um branco e um negro. No passado, a conseqüência da explicação materialista sobre as distinções raciais foi a eugenia (ver quadro na pág. 34), base científica utilizada pelos nazistas para justificar o holocausto. Além disso, a perfeição da humanidade está fora das previsões da genética, antropologia, e outros ramos da ciência, enquanto materialistas. As pesquisas genéticas, inclusive, estão reascendendo as idéias eugênicas. O artigo de Kardec combate exatamente as terríveis conseqüências da análise materialista da diversidade humana. Afastando o erro científico utilizado pelo Codificador - que justifica a diferença entre os corpos do negro e do branco - e todas as deduções derivadas dele, o artigo é não só avançado para sua época, como é a única resposta para implantar no mundo a verdadeira igualdade.
O propósito do texto era resolver a seguinte questão: "A raça negra é perfectível [ver quadro na pág. 32]? Segundo algumas pessoas, esta questão está julgada e resolvida negativamente. Se assim é, e se essa raça está votada por Deus a uma eterna inferioridade, a conseqüência é que é inútil se preocupar com ela, e que é preciso se limitar a fazer do negro uma espécie de animal doméstico adestrado para a cultura do açúcar e do algodão". Depois de desenvolver o tema, Kardec concluiu: "Sob o mesmo envoltório, quer dizer, com os mesmos instrumentos de manifestação do pensamento, as raças não são perfectíveis senão em limites estreitos, pelas razões que desenvolvemos. Eis por que a raça negra, enquanto raça negra, corporeamente falando, jamais alcançará o nível das raças caucasianas; mas, enquanto Espíritos é outra coisa; ela pode se tornar, e se tornará, o que somos; somente ser-lhe-á preciso tempo e melhores instrumentos".
Nesta matéria vamos provar que o Espiritismo é a única chave possível para convencer a humanidade a definitivamente abandonar os preconceitos. Mas antes disso precisamos resolver a contradição entre essa missão providencial do Espiritismo e as diferenças entre a raça negra e a caucasiana citada por Kardec em seu artigo. Não é possível desatar essa aparente contradição sem antes definir as características especiais da ciência espírita, o contexto da época em que ela foi escrita, e também as teorias consideradas como premissas por Kardec para elaboração do artigo Perfectibilidade da Raça Negra; tarefa a qual nos dedicaremos a seguir.
Revista Espírita: um laboratório
Para analisar o papel da raça negra no desenvolvimento da humanidade, Kardec fez uso tanto dos conceitos doutrinários espíritas e também, no que toca aos aspectos humanos, das teorias científicas disponíveis em sua época, escolhidas por ele dentre as que considerou mais aceitáveis por sua razão e bom senso. Nos livros da Codificação, mas principalmente na Revista Espírita, é preciso distinguir o que são apenas opiniões pessoais das questões qualificadas como conceitos doutrinários estabelecidos.
Enquanto as ciências exploram os fenômenos respeitando os limites da matéria; o Espiritismo vem completá-las pela observação do elemento espiritual - fazendo uso de métodos apropriados, como a mediunidade. É assim que Ciência e Espiritismo se completam. A Ciência, propriamente dita, não tem como dar palpites nos temas exclusivamente de origem espiritual, e, por outro lado, no que tange aos fenômenos materiais, o Espiritismo acompanha a ciência quando surgem novas descobertas, correções ou quando hipóteses são superadas.
É fundamental atentar para as diferentes funções dos Espíritos e dos homens na elaboração da Doutrina Espírita. Esse é o nó da questão. É de responsabilidade humana a elaboração científica das teorias em seu campo de observação material, porém, a iniciativa da edificação do Espiritismo pertence aos Espíritos, e é o resultado dos ensinamentos coletivos e em concordância entre eles. Kardec esclareceu em A Gênese: "Somente sob tal condição se lhe pode chamar doutrina dos Espíritos. De outra forma, não seria mais do que a doutrina de um espírito e apenas teria o valor de uma opinião pessoal".
Existem verdades que os homens não estão preparados para compreender. Esses limites de aceitação e entendimento não são ultrapassados pelos bons Espíritos. Eles são cautelosos e previdentes. Em comunicação, transcrita em O Livro dos Médiuns, o Espírito de Verdade explicou: "Cumpre que se tenha em conta a prudência de que, em geral, os Espíritos usam na promulgação da verdade: uma luz muito viva e muito súbita ofusca, não esclarece. Podem eles, pois, em certos casos, julgar conveniente não espalhar a verdade senão gradativamente, de acordo com os tempos, os lugares e as pessoas".
No que tange à participação dos homens, no entanto, Kardec deixa tudo no campo das hipóteses, passiveis de reformulação quando superadas pelas novas descobertas científicas. No livro A Gênese, ele deu a mais exata explicação dessa questão, afirmando que esta obra é um complemento da Doutrina Espírita, "com exceção de algumas teorias ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado de indicar como tais e que devem ser consideradas simples opiniões pessoais, enquanto não forem confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese sobre a doutrina a responsabilidade delas. Aliás, os leitores assíduos da Revista Espírita hão tido ensejo de notar, sem dúvida, em forma de esboços, a maioria das idéias desenvolvidas aqui nesta obra [A Gênese], conforme o fizemos, com relação às anteriores. A Revista Espírita, muitas vezes, representa para nós um terreno de ensaio, destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre alguns princípios, antes de admiti-los como partes constitutivas da doutrina".
Os ensinamentos dos Espíritos, respeitando a universalidade e concordância entre eles, e após o exame da razão, constituem a Doutrina Espírita. Até então, sejam as idéias de origem humana ou espiritual, elas permanecem no campo das hipóteses e opiniões pessoais.
A divisão racial da humanidade
Até fins do século 18, a única explicação para o surgimento das espécies era a da criação, instantânea, por Deus de dois exemplares de cada espécie. Essa hipótese era monogenista. "A visão monogenista, dominante até meados do século 19, congregou a maior parte dos pensadores que, conformes às escrituras bíblicas, acreditavam que a humanidade era una", explica a professora de antropologia Lilia Schwarcz, em O Espetáculo das Raças.
Para os monogenistas, a diferença entre os homens estava numa escala entre a perfeição do Éden e a degeneração. Povos primitivos seriam, de acordo com essa hipótese, povos decaídos e corrompidos, e o continente africano seria o maior exemplo dessa idéia. Alguns acreditavam que os negros teriam sido uma raça inferior criada por Deus e destinada eternamente aos trabalhos braçais. Essa explicação servia como uma luva para atender aos interesses dos países escravocratas e seu perverso comércio. Numa tentativa de tornar a escravidão aceitável socialmente, a ideologia religiosa chegou a negar o caráter humano do escravizado dizendo que o negro não tem alma.
No século 19, em vista da crescente sofisticação das ciências biológicas e sobretudo diante da contestação ao dogma monogenista da Igreja, surgiu outra interpretação, que se tornou dominante, a poligenista. Para os pesquisadores poligenistas, as raças tomaram caminhos evolutivos diversos por terem surgido em diferentes centros. De acordo com essa hipótese, essa teria sido a origem das diferenças observadas entre as raças branca, amarela, vermelha e negra.
Foi o naturalista francês Georges Cuvier (1769-1832), pesquisador produtivo e influente, que introduziu no meio científico o termo raça e a classificação dos negros como raça inferior. Os negros podiam ser observados somente nas tribos primitivas da África ou entre os escravos trazidos para as Américas. Nos relatos dos observadores, eram evidentes e indiscutíveis as diferenças entre a civilização moderna e culta da Europa e os hábitos, costumes e limites culturais e tecnológicos dos povos africanos. Desse modo, o conceito de raça e a superioridade da caucasiana passaram a ser aceitos pela totalidade dos pesquisadores europeus.
Uma ciência da época
Teoria altamente influente em seu tempo, nascida das pesquisas poligenistas, a frenologia (de phrenos, mente e logos, estudo) interpretava os diferentes comportamentos, habilidades, e até faculdades morais e intelectuais do homem, como características inatas e dependentes da organização do cérebro. Conforme essa teoria, cada parte do cérebro tem diferentes funções. "Surgiu das experiências anatômicas e fisiológicas que demonstraram claramente o papel especial de certas partes do cérebro nas funções vitais, e a diferença de fenômenos produzidos pela lesão de tal ou tal parte", explicou Kardec em seu artigo, Perfectibilidade da Raça Negra. É de acordo com a frenologia que se considerava, biologicamente, menos capaz o organismo do negro em relação ao do branco. Sem ter uma base experimental que a confirmasse, a frenologia foi abandonada pela ciência no final do século 19. No entanto, podemos considerar a frenologia como a primeira teoria completa do atual conceito do localizacionismo cerebral - partes do cérebro com funções específicas. Quanto a esse conceito ela estava correta.
Hoje, segundo a genética, as diferenças entre as raças caíram por terra. Não existe diferença entre o negro e o branco. A frenologia estava equivocada quando considerou o corpo do negro inferior ao corpo do branco europeu. Podemos considerar superadas as referências de Kardec em seu artigo quanto a essa idéia. No entanto, o localizacionismo cerebral é um conceito válido, e o artigo, no que refere a esse aspecto e ao conceito doutrinário da evolução espiritual permanece correto, atual e revolucionário.
Uma inacreditável
ousadia de Darwin
A evolução natural é correta, mas, separada do espiritualismo, descambou em idéias materialistas de superioridade racial, desigualdade, racismo, e, o que é pior, no eugenismo: termo que significa "boa raça" e é a tentativa de aplicar tecnicamente ao homem a teoria da seleção natural para purificar uma hipotética raça humana superior.
É um fato chocante e estranhamente mantido em silêncio, mas Darwin propôs - em sua obra A Origem do Homem e a Seleção Natural, publicada em 1871 - as bases da eugenia: "Devemos suportar o efeito, indubitavelmente mau, do fato de que os fracos sobrevivem e propagam o próprio gênero, mas pelo menos se deveria deter a sua ação constante, impedindo os membros mais débeis e inferiores de se casarem livremente com os sadios". Darwin acreditava que os criminosos, por sua vida mais breve e a dificuldade de se casarem, naturalmente livrariam as raças superiores de sua má influencia. Além disso, com o predomínio dos casamentos entre os mais fortes, sábios e moralmente superiores - e evitando a miscigenação com as "raças inferiores" - Darwin acreditava na evolução física, moral e intelectual das "raças superiores" pela seleção natural!
Quase no final de sua longa obra, Darwin fez a seguinte observação: "O homem analisa escrupulosamente o caráter e a ascendência dos seus cavalos, do seu gado e dos seus cães antes de acasalá-los; mas quando chega a época das núpcias, raramente ou nunca toma semelhante cuidado". E, então, acreditando na causa absolutamente orgânica da personalidade, propôs que o homem, "mercê da seleção, poderia de algum modo agir não só sobre a estrutura física e a conformação óssea da sua prole, mas sobre as suas qualidades intelectuais e morais. Ambos os sexos deveriam abster-se do matrimônio se acentuadamente fracos no corpo e na mente (...) todo aquele que prestar alguma ajuda para se colimar este fim estará fazendo obra boa". Em 1883, um parente de Darwin, o inglês Francis Galton, criou o termo eugenia e a proposta de esterilizar os humanos fracos de corpo e mente, e de raças inferiores. A proposta foi adotada pelos norte-americanos que, por sua vez, foram os inspiradores do genocídio adotado por Adolf Hitler, na Segunda Guerra Mundial, que assassinou judeus, negros, ciganos, portadores de deficiências físicas e mentais, e homossexuais (ver quadro ao lado).
Uma luz no fim do túnel
Allan Kardec, a partir dos conceitos da Doutrina Espírita, pôde conciliar o conceito da perfectibilidade da espécie humana com o conceito doutrinário da evolução espiritual. Conforme o Espiritismo, a evolução moral e intelectual, característica da espécie humana, não se dá pela evolução natural das espécies, ou pela herança genética, mas sim pela evolução do princípio espiritual. O Espiritismo é a única chave possível para convencer a humanidade a, definitivamente, abandonar os preconceitos e superar as terríveis conseqüências do materialismo científico. Isso porque o Espiritismo é uma doutrina edificada na lei natural da reencarnação. Os Espíritos da Codificação estavam preparados para desvendar verdades que chocariam a humanidade mergulhada em hábitos, costumes e estruturas sociais impregnados pelas chagas do orgulho e egoísmo.
A revelação da pluralidade das existências é um golpe mortal nos fundamentos das castas, hierarquias, privilégios e nos preconceitos de raça, cor, sexo, religião e nacionalidade. A reencarnação não foi invenção de Kardec, mas foi apresentada pelos Espíritos e tornou-se conceito doutrinário pelo método científico da indução - primeiro Kardec observou os fenômenos, e a partir dessas observações formulou as hipóteses.
Mas a tarefa dos Espíritos não foi fácil. Eles precisavam despertar o interesse dos homens por meio dos fenômenos mediúnicos e estabelecer um diálogo sincero para que a Doutrina Espírita fosse bem recebida. Os Estados Unidos eram o ambiente ideal para provocar fenômenos de efeitos físicos que atrairiam a atenção do povo, da imprensa e da comunidade científica. No entanto, os preconceitos de cor e de raça, base do sistema de escravidão vigente naquele país, impediriam a aceitação do conceito da reencarnação. Afinal, como eles aceitariam o fato de que um negro poderia reencarnar num branco, um escravo na família de seu senhor? Verdade demais ofusca, e os Espíritos são prudentes, jamais deixariam que uma resistência apenas ao conceito da reencarnação impedisse a aceitação do todo.
Uma invasão espiritual organizada
A estratégia dos Espíritos foi iniciar a invasão espiritual pela América, com as mesas girantes, mas estabelecer a Doutrina Espírita num país que estava mais aberto à liberdade de opinião, a França - essa nação, em particular, tem ancestrais reencarnacionistas nos celtas e seus sábios druidas e fôra palco dos ideais de liberdade propostos pela Revolução Francesa. Foi por isso que os Espíritos que se comunicaram na primeira metade do século 19, nos paises de língua inglesa, evitaram falar da reencarnação, e, conseqüentemente, de aprofundar os conceitos doutrinários. O intrigante e atraente fenômeno das mesas girantes, instrumento de divulgação da mediunidade, se espalhou pelo mundo e alcançou enfim a França, pátria da Codificação.
Mesmo na França, os Espíritos encontraram dificuldades. Kardec levou mais de um ano para ter certeza de que lidava com Espíritos. Como justificar a ação de seres imateriais no mundo físico? A idéia parecia sem fundamentos científicos. No entanto, o professor Rivail, cuja alma positiva não lhe permitia tirar conclusões precipitadas, dialogou com os Espíritos até ficar convencido da realidade dos fenômenos.
O diálogo entre os dois mundos prosseguiu e a Doutrina Espírita começou a tomar forma. No momento propício, os mais diversos Espíritos, por vários médiuns, revelaram os fatos comprobatórios das vidas sucessivas. Não foi, porém, de pronto que Kardec aceitou a reencarnação: "Quando nos foi revelado [esse princípio], ficamos surpresos, e o acolhemos com hesitação, com desconfiança: nós o combatemos durante algum tempo, até que a evidência nos foi demonstrada. Assim, esse princípo, nós o ACEITAMOS e não INVENTAMOS, o que é muito diferente", explicou na Revista Espírita, em fevereiro de 1862. Fica claro que o Espiritismo não é um sistema pessoal criado por Kardec. Inversamente, os conceitos doutrinários são obtidos pelo método científico da observação e então confirmados pela razão. Muitos deles deixaram Kardec surpreso porque pediam novos paradigmas. Para aceitá-los, era preciso reformular o edifício das concepções pessoais sobre a própria existência.
A fraternidade eliminará
os preconceitos
Rivail rapidamente compreendeu que o Espiritismo, depois de nascer da ciência e revelar sua sublime filosofia, propõe profundas reformas sociais. Para Kardec, "a solidariedade que ensina o Espiritismo já não é simples teoria, é uma conseqüência forçada das relações existentes os mortos e os vivos; estas relações fazem da fraternidade entre os vivos não só um dever moral, mas uma necessidade, porque vem do interesse na vida futura. Não bastou o evangelho de Jesus para destruir os equívocos sociais, as idéias de casta, os preconceitos aristocráticos, produtos do orgulho e do egoísmo, não foram em todos os tempos um obstáculo à emancipação das massas?".
A sociedade fundada por Kardec em Paris foi o primeiro exemplo de respeito à igualdade: "Seria um erro pensar que a Sociedade de Paris fosse uma reunião exclusivamente aristocrática, porque ela conta mais de um proletário em seu seio; ela acolhe todos os devotamentos à causa que sustenta, quer venham das altas, quer das baixas camadas sociais; e grão-senhor e o artífice aí se dão as mãos fraternalmente. (...) É que o Espiritismo ensina que o pequeno pode ter sido grande na terra, que o grande pode tornar-se pequeno e que no reino celeste as classes terrenas não são levadas em conta. É assim que, destruindo logicamente os preconceitos sociais de casta e de cor, conduz à verdadeira fraternidade", afirmou ele na Revista Espírita de outubro de 1863.
| O que é perfectibilidade |
Conceito utilizado por Kardec em seu artigo, perfectibilidade é uma palavra criada pelo pensador Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) para exprimir a capacidade que o homem possui de aperfeiçoar-se: "Há uma qualidade muito específica que distingue os homens, a respeito da qual não pode haver contestação - é a faculdade de aperfeiçoar-se" - ou perfectibilidade -, afirmou Rosseau em Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. (P.H.F.)
| Eugenia |
Esse termo foi criado pelo parente de Charles Darwin, o inglês Francis Galton (1822-1911). Galton, inspirado na teoria Darwiniana da seleção sexual do homem, que considerava a transmissão hereditária das características físicas, morais e intelectuais, iniciou uma campanha para selecionar os casamentos entre homens e mulheres, mais ricos e bem dotados em inteligência e moral para produzirem uma geração prodígio. Em seu livro Hereditary Talent and Genius (sem tradução para o português), Galton aconselhou: "As forças cegas da seleção natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substituídas por uma seleção consciente e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo estudo e o processo da evolução nos tempos passados, a fim de promover o progresso físico e moral no futuro". Suas idéias deram base para a fundação de instituições eugênicas, com investimentos de grandes corporações inglesas e norte-americanas - em menor escala no mundo, inclusive no Brasil. Por fim, inspirou o genocídio de Hitler. (Redação)
Afastando o erro científico utilizado por Kardec, e todas as deduções derivadas dele, o artigo é não só avançado para sua época, como é a única resposta para implantar no mundo a verdadeira igualdade
"O Espiritismo, restituindo ao Espírito o seu verdadeiro papel na criação, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos da cor"
| Kardec e o preconceito |
Allan Kardec, num banquete em outubro de 1861 na cidade de Lyon, anunciou: "O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos da cor. O Espiritismo, alargando o círculo da família pela pluralidade das existências, estabelece entre os homens uma fraternidade mais racional daquela que não tem por base senão os frágeis laços da matéria, porque esses laços são perecíveis, ao passo que os do espírito são eternos. Esses laços, uma vez bem compreendidos, influirão pela força das coisas, sobre as relações sociais, e mais tarde sobre a legislação social, que tomará por base as leis imutáveis do amor e da caridade; então ver-se-á desaparecem essas anomalias que chocam os homens de bom senso, como as leis da Idade Média chocam os homens de hoje. Mas isso é obra do tempo, deixemos a Deus o cuidado de fazer chegar cada coisa à sua hora; esperemos tudo de sua sabedoria e agradeçamo-lo somente por nos ter permitido assistir à aurora que se eleva para a Humanidade, e de nos ter escolhido como os primeiros pioneiros da grande obra que se prepara", afirmou Kardec conforme transcrito na Revista Espírita de 1861. (P.H.F.)
| Eliminando os mais fracos |
Essa incrível história, pouco conhecida, foi contada num minucioso relato, A guerra contra os fracos - a eugenia e a campanha norte-americana para criar uma raça superior, livro do jornalista americano Edwin Black. Cláudio Camargo, jornalista da revista IstoÉ, resume as revelações do livro: "Nos domínios de Tio Sam, a eliminação de grupos étnicos indesejáveis não foi perpetrada por sinistras tropas de assalto, como no Terceiro Reich [Império de Hiler], mas por respeitados professores, universidades de elite, ricos industriais e funcionários do governo'. Sob a batuta do zoólogo Charles Davenport, o movimento eugenista obteve apoio de instituições renomadas, como a Carnagie Institution - que montou a primeira empresa de eugenia em Long Island -, da Fundação Rockefeller e de inúmeros de acadêmicos, políticos e intelectuais. O movimento cativou tanto a elite americana da época que, a partir de 1924, leis que impunham a esterilização compulsória foram promulgadas em 27 Estados americanos, para impedir que determinados grupos tivessem descendentes. Uma vasta legislação proibindo ou restringindo casamentos também foi criada para barrar a miscigenação. Confrontada com tamanha violação dos princípios da Constituição americana, a Suprema Corte fez o pior, dando sua bênção à eliminação dos mais fracos. 'Em vez de esperar para executar descendentes degenerados por crimes, a sociedade deve se prevenir contra aqueles que são manifestadamente incapazes de procriar sua espécie', disse o juiz Oliver Wendell. Entre os anos 1920 e 1960, pelo menos 70 mil americanos foram esterilizados compulsoriamente - a maioria mulheres. 'Os esforços americanos para criar uma super-raça nórdica chamaram a atenção de Hitler'. Antes da guerra, os nazistas praticaram a eugenia com total aprovação dos eugenistas americanos. Não sem uma ponta de inveja, claro: 'Hitler está nos vencendo em nosso próprio jogo', declarou, em 1934, Joseph DeJarnette, superintendente do Western State Hospital, da Virgínia. Condenada pela comunidade acadêmica somente em 1977, a eugenia escondeu o rosto e buscou refúgio nos cromossomos da engenharia genética". (P.H.F.)
| Cor de pele não diferencia o homem |
A cor de pele, utilizada para definir o superado conceito de raça, é determinada por alguns poucos genes. Essa diferença é tão pequena que não justifica uma classificação da espécie humana. Duas pessoas de cores de pele diferentes podem ter mais similaridade genética que dois indivíduos da mesma cor.
Para os cientistas, ainda é possível usar a genética para classificar grandes populações de acordo com a sua área de origem. Esse estudo não funciona para populações que resultem da mistura recente com outros grupos. O conceito de raça perdeu o sentido. O termo atual para o estudo das diferenças populacionais é etnia, que, no Dicionário Aurélio significa: "População ou grupo social que apresenta relativa homogeneidade cultural e lingüística, compartilhando história e origem comuns". (P.H.F.)
| O DNA revela a história humana |
A escassez de dados sobre a origem do homem, que havia no século de Allan Kardec, pouco mudou até o final do século 20, nos anos 90. A única forma de explorar os ancestrais humanos era pelo exame de ossos e ferramentas de pedra lascada de uma centena de indivíduos fossilizados - desde a separação das linhas evolutivas de macacos e os hominídeos. Informações insuficientes para hipóteses sólidas.
O DNA é o novo instrumento de pesquisa dos cientistas para compreender a história humana. A longa e complexa molécula que transmite as informações genéticas, de uma geração a outra, revela na África a origem dos primeiros ancestrais que caminharam em duas pernas. Até há dois milhões de anos, o continente africano foi o único habitado por nossos antepassados. Em vários períodos, diversas espécies de hominídeos dividiram essa terra. Há 1,5 milhões de anos, aproximadamente, o Homo Erectus caminhou para a Europa e a Ásia. Os grupos espalhados continentalmente foram se diferenciando até gerar espécies distintas. Na Europa surgiram os Neandertais, na Ásia permaneceu o Homo Erectus, e na África nasceu a espécie moderna do homem, o Homo Sapiens.
Entre 100 mil e 50 mil anos atrás, ocorreu uma transformação, ainda pouco compreendida, no Homo Sapiens, resultando na espécie anatomicamente moderna. Aconteceu, então, uma nova migração para a Europa e Ásia. Num primeiro momento, os humanos modernos se espalharam para o norte da África, caminharam ao longo do Vale do Nilo e chegaram ao Oriente Médio pela península do Sinai. Posteriormente, ocuparam a Índia, o sudeste asiático, e navegaram até a Austrália. Há 40 mil anos, chegaram à Europa e ao Extremo Oriente. Finalmente, há pouco mais de 10 mil anos, atravessaram uma planície que ligava a Sibéria ao Alasca e se espalharam pelas Américas.
Os cientistas não sabem ainda dizer se eles dizimaram, substituíram ou miscigenaram com os neandertais europeus e os hominídeos asiáticos; mas, de fato, as 6 bilhões de pessoas vivendo atualmente em nosso planeta descendem daquele pequeno grupo de Homo Sapiens. (P.H.F.)
Numa tentativa de tornar
a escravidão aceitável socialmente, a ideologia religiosa chegou a negar
o caráter humano do escravizado dizendo que
o negro não tem alma
2006-09-12
07:03:43
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Sociologia