Nordeste: Histórico da Culinária Baiana
Assim que chegou aqui, o português cozinhava no estilo da sua terra, adotando um ou outro alimento nativo.
Depois, com a negra na cozinha, entraram na comida os ingredientes africanos.
O resultado, na Bahia, foi uma comida mais negra do que branca, porque ela cozinhava e ali desembarcavam, junto com os pratos, os de comer africanos. E não para os pretos, que eles não consumiam, por exemplo, o dendê, condimento caro demais para a boca de negro cativo.
Segundo Saint-Hilaire, eles comiam “fazendo cozer o fubá na água, sem acrescentar sal”, o que resultava em “uma espécie de polenta grosseira, que se chama angu e constitui o principal alimento dos escravos”.
(Diz Luiz Câmara Cascudo: o mesmo matete de Angola, xima em Moçambique.) Um quarto de farinha e três libras e meia de carne salgada era tudo o que o escravo comia, e a quantidade devia durar dez dias. No mais eram obrigados a “comer uns matos”. Foi o excesso de mão-de-obra escrava e o declÃnio da indústria açucareira que possibilitaram a melhoria das condições de vida do escravo – lembra Darwin Brandão. O negro passou a ser admitido nos trabalhos de engenho e da casa-grande.
Quando a negra entrou na cozinha é que começou a influir na vida do branco, que já comia camarão seco e dendê, mas tinha cozinha pobre como inventiva.
Edson Carneiro (em Ladinos e Crioulos, Editora Civilização Brasileira) diz:
“O negro era a maioria da população. Assim ao lado da exploração agrÃcola, o senhor teve de criar entre a escravaria um corpo de artÃfices para a satisfação das suas necessidades: pedreiros, carpinteiros, ferreiros, oleiros, seleiros, colchoeiros, sapateiros, mecânicos...
Em estágio posterior, foi-lhe preciso tirar do trabalho de campo negras costureiras, doceiras e cozinheiras. E, quando o comércio exterior se desinteressava dos seus produtos, e em conseqüência era grande o número de escravos ociosos, trazia boa parte deles para compor a criadagem nas cidades. A estes teve de ensinar a ler, de treinar em prendas domésticas e em boas maneiras, de preparar para as funções de confiança. Com a sua multiplicação, teve de alugá-los a estrangeiros e à burguesia sem escravos e, mais tarde, se viu na contingência de lhes permitir ganhar a vida por si mesmos, com a condição de lhe pagar uma pequena diária”.
Escolhidas entre as mais bonitas e agradáveis, as cozinheiras só começaram a mudar a cozinha por volta de 1750. LuÃs dos Santos Vilhena (Cartas de Vilhena, impressas na Imprensa Oficial, na Bahia, em 1922) informa que, por esta época, “das casas mais opulentas desta cidade” saem as negras de ganho, “oito, dez e mais, a vender pelas ruas a pregão, mocotó, isto é, mão-de-vaca, cururus, vatapá, mingaus, pamonhas, canjicas, isto é, papas de milho, acaçás, acarajés, abarás, arroz de coco, feijão de coco, angus, pão-de-ló de arroz, o mesmo milho, roletes de cana, queimados, isto é, rebuçados a oito por vintém, doces de infinitas qualidades, ótimos muitos deles, pelo seu asseio, para tomar por vomitórios”. O Senhor Vilhena ia mais longe: dizia ser impossÃvel comer na Bahia, “onde a gentinha tomou conta das cozinhas com sua comida bárbara e desagradável até para os olhos”. Mal vista, a comida dos pretos minas ficou e tornou-se importante, vale mais que a cozinha do branco. E até o traje tÃpico das minas virou uniforme de miss brasileira no exterior – o mais tÃpicos dos nossos trajes. Mas o preconceito ficou.
Preconceito que ainda existe hoje como no tempo do Sr. Rui Barbosa, a quem perguntaram o que significava arroz-de-hauçá. E ele, muito senhor de si: “à uma corruptela de arroz de água e sal”. Não sabia que os hauçás formam uma nação (é o povo de Biafra, provÃncia que tentou a sua independência da Nigéria, há poucos anos). De qualquer forma, o certo é que todos os pratos baianos têm a marca do negro. No dendê, na pimenta, no prazer da mistura, na técnica, no amor que exige, na criatividade espontânea, no desmedido.
A cozinha africana, ou de santo, não é do dia-a-dia da mesa do baiano.
No trivial entra sempre o dendê, muita pimenta, mas os pratos que fazem a honra e a glória da Bahia só figuram nos jantares melhorados, nos dias de festa, ou para receber gente de fora.
Nos restaurantes também não é fácil comer a boa comida tÃpica. E mais: o que toda gente chama de cozinha baiana devia ser chamada antes cozinha de Salvador, porque a cozinha africana está restrita à cidade de Salvador e à sua área de influência.
Darwin Brandão, baiano nascido no EspÃrito Santo, informa (Cozinha Baiana, Editora Letras e Artes) que “a partir da Feira de Santana, rumo ao sul, os pratos tÃpicos de azeite-de-dendê desaparecem, dando lugar à comida sertaneja, mais pobre e mais simples. O mesmo ocorre na direção de São Francisco, a partir de Alagoinhas não se encontra mais a comida tÃpica que tanta fama carreou para a Bahia”.
Roger Bastide (A Cozinha dos Deuses. SAPS, Rio), diz mais: que há um certo preconceito branco em relação à cozinha negra, mesmo na Bahia. E que a algumas senhoras baianas irrita muito fazer vatapá, caruru, efó, quando preferiam servir o stroganoff, que entrou errado no Brasil, continuou errado, mas tem (ou teve, até bem pouco tempo) uma posição invejável: a de prato mais servido nas reuniões de gente de bem, nos últimos dez anos.
O problema, também, é que é preciso ter dedo para fazer um bom prato baiano.
O dedo, segundo Sodré Viana (Caderno de Xangô, Editora Bahiana), é o talento que permite às cozinheiras saber colocar a quantidade exata de tempero, medir o tempo exato de feitura, e não ligar muito para receitas e tabelas de cocção.
Gilberto Freyre (Açúcar, Livraria José Olympio) explica por que há poucos livros de cozinha no Brasil: culpa da maçonaria das mulheres, que guardavam os segredos das receitas em casa, passando de mãe para filha, de vez em quando para a afilhada, às vezes para a nora e de raro em raro para a comadre, na base da troca. E, mesmo assim, sempre ensinando pelo geral.
A baiana em particular, e a brasileira em geral, nunca foi de receita bem medida.
E muita gente boa defendia a tradição, alegando que, assim, o feijão-de-leite com bacalhau ficava um na casa de Joaninha, e outro, tão bom mas certamente outro, em casa de Dona Flor, obrigada a pesquisar, a procurar, a trabalhar uma receita que ensinava tudo, menos as quantidades e o segredo.
Feijoada
Um dos pratos tÃpicos mais difundidos da cozinha brasileira, constituÃdo de feijão-preto cozido com carne de porco, servido com couve finamente picada e refogada com alho, pedaços de laranja, arroz branco, farofa de farinha de mandioca e molho de pimenta, geralmente acompanhada com caipirinha.
A feijoada foi criada durante o perÃodo colonial, a partir do aproveitamento da buchada e de partes do porco (orelha, rabo, pés, focinho, lÃngua) que eram jogadas fora do abate e que os escravos passaram a acrescentar ao feijão durante o cozimento.
Em algumas regiões, como na Bahia, também é utilizado o feijão-mulatinho, ao invés do feijão-preto.
Atualmente é servida com costeletas do porco, paio, lingüiça e carne-seca, além dos ingredientes tradicionais.
Canjica
Designação comum a dois pratos feitos de milho, muito populares, servidos também nas festas juninas:
1) Na Bahia e demais Estados do Norte e do Nordeste, creme consistente de milho verde cozido com leite, coco ralado e açúcar. à provável que tenha sido criado na Bahia, embora o nome seja de origem africana. Nas regiões Sul, Centro-Oeste e Minas Gerais (sem o coco ralado), este prato é chamado Curau.
2) Em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e nos Estados do Sul, milho branco quebrado (sem o olho), cozido com leite e açúcar, polvilhado com canela e servido de preferência quente. Os grãos não se desfazem após o cozimento e o leite não evapora totalmente, podendo ser engrossado com alguns grãos amassados. Na Bahia e demais Estados do Norte e Nordeste, este prato é chamado Mungunzá. No inÃcio do século XIX já era muito popular em São Paulo, onde talvez tenha sido criado.
Moqueca
Prato tÃpico do litoral, constituÃdo de peixe ou frutos do mar cozidos com cebola e tomates, sem água, e temperados com azeite-de-dendê, leite de coco e pimenta.
Na moqueca capixaba, o azeite-de-dendê e o leite de coco são substituÃdos por uma mistura de urucum e azeite, e acrescenta-se coentro.
Os indÃgenas preparavam uma moqueca envolvendo os peixes menores em folhas de bananeira e colocando o embrulho sobre brasas ou enterrando-os na areia, acendo uma fogueira por cima.
Churrasco
Prato difundido em várias regiões brasileiras. Ãs vezes é o almoço do final de semana, outras para comemorações.
à a carne de espeto, assada rapidamente, comida com a farinha, às vezes temperada com molho de salmoura ou simples água e sal.
Alimentação rio-grandense do sul, especialmente do camponês, era tão simples quanto substancial. Consta, em campanha, do churrasco, pedaço de carne cortada em tira comprida e atirada ao braseiro do fogão gaúcho.
O Padre Martim Dobrizhoffer, catequista dos abipões, informava, há duzentos anos: "Preparavam a carne espetando-a num pau, que cravam no chão ao pé do fogo, até ficar pronto um lado".
O processo é universal. O nome tivemos através do Rio Grande do Sul.
Paçoca
Prato tÃpico do Brasil, registrado desde o perÃodo colonial, preparado com carne-seca, cozida ou assada, pilada com farinha de mandioca ou de milho.
Pode ser guardada por longo perÃodo sem refrigeração.
Também temos a Paçoca Doce, feita com amendoim.
Pururuca
Técnica culinária para assar leitão, tradicional em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e outros Estados.
O leitão é assado inteiro e o couro, depois de regado com azeite fervente (ou gordura fervente), torna-se crocante.
Moqueca de arraia
Ingredientes
4 ½ kg de arraia sem pele
5 dentes de alho moÃdos
5 limões
400 g de cebola
400 g de tomate
400 ml de leite de coco
350 ml de azeite de dendê
10 ramos de coentro
Sal a gosto
Modo de fazer
Corte e lave bem a arraia com limão. Em seguida, tempere com coentro, sal, alho e limão. Corte o tomate e cebola em tiras, misture com a arraia e arrume em um recipiente acrescentando leite de coco e azeite de dendê. Deixe descansar por alguns minutos e coloque para cozinhar.
Rendimento: 15 porções
Fonte: "A cozinha baiana no restaurante Senac no Pelourinho", editora Senac/DN, 1990.
Arroz de Hauçá
Ingredientes
1 ½ kg de arroz
500 g de charque
1 colher (sopa) de óleo
100 g de cebola
3 ovos cozidos
Sal a gosto
Modo de fazer
Retire o sal do charque, em seguida corte em tiras finas e refogue em óleo. Depois de refogado, acrescente a cebola, o arroz e a água para cozinhar. Quando estiver pronto, decore com os ovos cozidos, cortados em tiras.
Rendimento: 15 porções
Fonte: "A cozinha baiana no restaurante Senac no Pelourinho", editora Senac/DN, 1990.
Bolinho de Estudante
Ingredientes
300 g de tapioca
70 g de açúcar
100 g de coco ralado
2 xÃcaras de água
1 colher (chá) de sal
2 xÃcaras de leite
Modo de fazer
Misture todos os ingredientes e deixe a massa descansar durante 10 minutos. Tome porções e enrole com as mãos, formando bolinhos. Frite-os em óleo quente. Sirva os bolinhos polvilhados com açúcar e canela em pó.
2006-10-31 11:35:29
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answer #4
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answered by gatopreto 5
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