Milímetros
Quem já viveu próximo ao poder conhece o tamanho da encrenca a que remete a Operação Navalha. A relação incestuosa entre políticos e empreiteiras de obras públicas não é de hoje. Em quase todos os escândalos recentes e antigos, esta marca sempre esteve presente.
Foi assim nos anos 80, durante a administração de certo governador de certo grande estado do país, que chegou a dizer a bombástica frase: “quebrei o estado, mas elegi meu sucessor”. A quebradeira, claro, tinha tudo a ver com obras superfaturadas. O mesmo repetiu-se na vida política de Maluf, e os escândalos são tão recentes que economizo espaço em citá-los.
Nos casos da Sudene e Sudam, durante o governo FHC, a história marcou a mesma e repetitiva cena: obras e mais obras, todas elas com um empreiteiro por trás, um político na ponta, e muita verba pública sendo desperdiçada no meio.
A política brasileira é movida a hipocrisia. Muita hipocrisia. Para começar, a idiotice de afirmar que dinheiro de campanha é arrecadado de forma honesta.
Não fossem os cofres generosos das empreiteiras de obras públicas e campanha no Brasil não teria os custos milionários que conhecemos. Não fossem as emendas de deputados, e não se veria tanto luxo e riqueza nas noites de Brasília.
A conclusão é simples: empreiteiros generosos cobram reciprocidade dos donos do poder. E para se garantir, fazem doações a todos, não importando o cunho ideológico.
O que a operação da PF conseguiu foi apontar ao resto do país o que poucos já sabiam, mas sempre duvidaram que pudesse vir à tona.
O pânico instaurado entre políticos de vários partidos e matizes apenas confirma que o escândalo é muito maior do que nos foi dado a saber. A empreiteira Gautama, numa comparação vulgar, pode ser vista apenas como o estrume do cavalo do bandido.
As grandes, estas já puseram suas barbas de molho, enquanto seus protegidos avançam para conter a derrama. O dilema que acenam, apocalípticos, é o risco da governabilidade.
No fundo, o medo dos políticos está na profundidade do corte da navalha. Uma investigação alguns milímetros mais funda mostrará que temos pouquíssimos políticos sérios, raríssimos executivos idôneos, e praticamente nenhum poder soberano.
2007-05-28
05:30:35
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ninja
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