Idolatria tem origem nas palavras: Eidolon (imagem) + latreia (culto). A princípio, poderíamos achar que se trata apenas do culto a imagens. Mas ultrapassa isso: repare que, hoje em dia, alguém diz que o cantor tal é seu ídolo. E não está incorreto.
O catolicismo alega que ídolo é um objeto inanimado ao qual se atribui vida própria e poder. Seria uma imagem pagã, um deus. Em vista disso, dizem que não podemos classificar de deuses os “santos” nem à estátua destes, porque eles não são o Criador do Universo nem o Juiz de vivos e de mortos, tanto que não – por ser adoração – não podem receber culto de latria, devido só a Deus. Mas não é bem assim. A Bíblia diz que:
“... a avareza... é idolatria” (Cl 3.5).
Não foi mencionado, aí, o caso de objeto inanimado nem de deus pagão. Trata-se do apego que alguns têm ao dinheiro. Perguntamos: Então a avareza é o Criador dos céus e da terra ou o Julgador de vivos e de mortos para receber culto de latria? É certo que não. Ela nem tem como ser esculpida.
Analisemos mais dois versículos:
“... O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre...” (Fp 3.19),
Esse é o motivo por que a gula está incluída entre as obras da carne, que impedem o homem de herdar o reino de Deus (Gl 5.19,21). É o que acontece com quem usa mal ou com ganância o poder:
“... fazem-se culpados estes cujo poder é o seu deus” (Hc 1.11).
Concluímos que idolatria vai além do amor a imagens pagãs ou não-pagãs, além de se querer atribuir vida e poder a um objeto inanimado. Ídolo é qualquer coisa ou pessoa que colocamos no fundo do coração, em primeiro lugar, depositando nela grande confiança, o que faz dela um deus (com “d” minúsculo). Sendo assim, idolatria pode ser a dedicação a uma imagem, a um ídolo, a um líder religioso, a um deus, a um “santo”, ao ventre, ao poder e a seres ou coisas concretas ou não, reais ou imaginárias, uma vez que até deuses pagãos são criações da mente. É possível idolatrar-se um emprego, um automóvel, um filho e a nós ou a atitudes nossas, o que faz com que Deus perca a primazia.
A idolatria é tão detestável que – quando o povo que acompanhava Moisés pelo deserto convenceu Arão a esculpir um animal, este “edificou um altar diante dele (do bezerro de ouro) e, apregoando, disse: Amanhã será festa ao Senhor”, ou seja, “será festa a Yahweh” (Êx 32.5), ao Deus verdadeiro de Israel (e não ao deus Ápis, do Egito, que era um boi) –, o Altíssimo, ao invés de se alegrar, se irou, pois não gosta de ser representado em forma astros, estrelas, de animal, seres humanos, aves, quadrúpedes nem de répteis. Ele detesta que tentem reproduzi-lo. O capítulo 1 de Romanos diz que, por esse comportamento, entregou homens e mulheres a desejos carnais reprováveis.
Não obstante isso, a televisão exibiu a cidade de Trindade, em Goiás, onde sacerdotes participam de procissões com uma imagem composta de quatro figuras: de Jesus, do Espírito Santo (simbolizado por uma pomba), de Deus (com a aparência de um velho)... e de Maria. Note que a mãe de Jesus está entre eles. Desse jeito, já não teríamos uma Trindade, mas um Quarteto.
O catolicismo, para se defender da condenação que está nos Dez Mandamentos, diz que imagens católicas são como fotografias de nossos parentes, servindo para nos lembrarmos dos santos homens do passado. Entretanto não nos encurvamos perante fotos de familiares nem oramos a elas ou defronte delas nem confiamos nelas. Mas o Decálogo proíbe fotografias usadas para esse fim. Como pode ser, se elas não haviam sido inventadas? Devemos estar atentos a que no segundo Mandamento (Gn 20.4-6), indevidamente omitido nos catecismos católicos, está escrito: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança (ou figura) alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”. Convém lembrar que não se poderia omitir um jota ou til da Lei de Deus (Mt 5.18) e que as imagens de “santos”, que os católicos possuem, são de indivíduos que, acreditam eles, estariam “em cima nos céus”. Mas podem nem estar lá.
Imagem não é sinônimo de escultura, tanto que aí está “imagem de escultura”, isto é, imagem em formato de escultura. A proibição abrange semelhança, que, em certas traduções, está figura. Não existiam fotografias, mas as pessoas ou animais podiam ser retratados por pinturas, desenhos, esculturas e, hoje, por fotos.
O erro não está na imagem ou figura em si, mas no culto que alguns oferecem a elas até sem notar. Nenhum evangélico condena esculturas nem gravuras de Santos Dumont, de D. Pedro II, etc., por ninguém se ajoelhar ante elas. Mas, se alguém o fizer, serão condenadas da mesma forma.
O segundo Mandamento contém promessa, mas, por outro lado, maldição até aos descendentes de quem o transgride. Se é vedada a fabricação desse tipo de imagens, incabível o argumento de que poderiam ser usadas como retratos. Ao esculpi-las (“Não farás...”) o artífice já é um transgressor da Lei de Deus. E quem as compra se transforma em cúmplice dele. Venerá-las é mais sério do que muitos pensam.
O catolicismo diz que Deus não condena imagens como as católicas, mas ídolos, no sentido, como vimos, de objetos aos quais o povo atribui vivência. Todavia as encontradas na Igreja Romana são ídolos. Ainda que não o fossem, a reprovação bíblica atinge ídolos (Êx 32; 2 Rs 21.11; Sl 115.3-9; 135.15-18; Is 2.18; At 15.20; 21.25; 2 Co 6.16) e imagens (Êx 20.1-6; Nm 33.52; Dt 27.15; Is 41.29; Ez 8.9-12). Prestemos atenção à clareza deste versículo:
“Não fareis para vós outros (1) ídolos, nem vos levantareis (2) imagem de escultura nem (3) coluna, nem poreis (4) pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 26.1).
A proibição é geral: não foi feita exceção para “santos”. O catolicismo alega que Deus permite imagens porque determinou a Moisés esculpir uma cobra no deserto (Nm 21.8) e a Salomão construir querubins para o propiciatório da Arca da Aliança (1 Rs 6.23). Não ensinam é que a escultura desse réptil foi feita em pedaços pelo rei Ezequias, porque o povo passou a lhe dedicar incenso, como ocorre hoje em templos, inclusive em procissões, nem ensinam que os querubins – uma classe de anjos, com quatro asas, quatro faces: de homem, boi, leão e águia e planta dos pés semelhante à de bezerros – não podiam ser cultuados pelos judeus. A imagem deles, um enfeite permitido como a palmeira o era, foi colocada no Santo dos Santos, onde somente o Sumo Sacerdote podia entrar, uma vez por ano (Hb 9.3-7); não havia como ser vista nem venerada. Eles exprimiam a presença de Deus. Quanto à cobra de bronze, devemos refletir que, tendo sido construída por determinação direta de nosso Pai celeste e este não a tenha mandado destruir, quem a despedaçou teve sua postura considerada reta por ele (2 Rs 18.4). Hoje quantos subterfúgios criam para manter, até em templos, obras elaboradas por vontade humana.
Não é porque Deus mandou fazer algo, que nos vemos no direito de imitá-lo. É muito diferente quando ele diz “não farás para ti imagens” e quando determina que sejam feitas por sua exclusiva vontade. Ele sabe o que é melhor para nós. E, como Senhor que é, pode determinar o que quer. Veja: É do desejo dele que o adoremos, mas nem por isso poderemos reivindicar o direito de nos adorar; Ele quer que o amemos sobre todas as coisas, mas não aprova que o façamos em relação a nós mesmos.
Imagens geram controvérsias até dentro do catolicismo. Em 730 foram incentivadas; Em 731 houve excomunhão de seus destruidores; Em 754 o Sínodo de Hieréia foi favorável à sua destruição ao decidir: “Representar imagens de Cristo, além de impossível é prejudicial, já que estas imagens separariam a humanidade da divindade e seu culto seria fatalmente desencaminhado”; Em 787 foi oficializado seu culto; Em 794 voltaram atrás, dizendo que não deveriam ser veneradas, servindo para lembrança; Em 843 voltou o culto a elas. O Concílio de Trento (Sess. 25), realizado em 1546, deliberou que “as imagens de Cristo e da Virgem Maria, Mãe de Deus, e de outros santos devem ser possuídas e guardadas, especialmente nas Igrejas e devem ser alvo de honra e veneração.” Interessante é que as decisões dos concílios e dos papas, consideradas infalíveis – isso é idolatria –, são sempre retificadas.
Ao dizermos a católicos que imagens não podem ser adoradas, eles, instruídos por seus líderes, retrucam que não as adoram; o que fazem é prestar veneração aos “santos” que elas representam. Esse argumento é uma evasiva ou desconhecimento, uma vez que a decisão do concílio mostra que determinam a veneração a elas sim.
Falando em veneração, vamos analisar de que se trata. Segundo o catolicismo, o culto se divide em dois: 1) Culto de adoração = latria, que só pode ser outorgado a Deus; b) Culto de veneração, que, por sua vez, é subdividido em dois: dulia, destinado a “santos” e a anjos, e hiperdulia, dedicado a Maria.
2007-01-22
00:53:35
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RELIGIÃO MATA E CEGA
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Religião e Espiritualidade