O ex-deputado federal Roberto Jefferson lançou, neste final de semana, às vésperas das eleições, o livro Nervos de Aço, onde relata os bastidores da crise das denúncias envolvendo o governo Lula em irregularidades, em 2005. Jefferson foi responsável pela denúcia da existência do mensalão e teve seu mandato cassado após admitir que havia aceito dinheiro do PT.
O relato de 375 páginas traz as memórias de Jefferson no período de janeiro a setembro de 2005. O ex-deputado afirma que contou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o PT e o PTB tinham acertado partilhar R$ 3 milhões arrecadados de empresas prestadoras de serviço à estatal Furnas Centrais Elétricas.
Jefferson, que se diz eleitor de Heloísa Helena (Psol), afirma que o acordo foi firmado com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. O ex-deputado, que antes acreditava que Lula desconhecia o acordo, volta atrás e acusa o petista no livro. "Hoje penso que Lula sabia de tudo. Qualquer um que tenha convivido com a cúpula do PT sabe qual é a cadeia de comando ali", diz ele.
Uma das principais novidades da obra é o relato de um diálogo dele com o presidente, na presença de Dirceu e do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guias (PTB), no dia 26 de abril de 2005, no Palácio do Planalto. Segundo a Folha de S.Paulo, Jefferson conta que aquele foi seu último encontro oficial com o presidente. "No Palácio do Planalto, Lula quis saber a razão de o então diretor de Engenharia e Planejamento de Furnas, Dimas Toledo, não ter ainda sido substituído por um indicado pelo PTB, como acertado anteriormente.
"Roberto, por que está demorando tanto? Por que vocês não trocaram ainda, rapaz? Eu não quero manter esse cara lá. Por que ainda não saiu a nomeação do PTB? Vamos nomear o Francisco Spirandel?", teria dito Lula a Jefferson, que escreve ter sugerido ao presidente que Toledo fosse mantido, afirmando em seguida que o presidente quis saber do que se tratava o acordo.
Jefferson explicou que Dirceu teria proposto "um acerto direto entre o PT e o PTB", pelo qual os partidos dividiriam "a arrecadação mensal" de Furnas, "por meio de Dimas Toledo". O dinheiro seria arrecadado "entre empresas interessadas em contratos com Furnas".
Segundo Jefferson, Lula se irritou com a explicação e não a aceitou, mandando, a seguir, Dirceu nomear Spirandel.
Redação Terra
2006-09-24
14:59:03
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