Tuberculose
Pode ser considerada pouco comum entre as causas de mastite e entre as outras formas extra-pulmonares de tuberculose, com uma incidência global pouco conhecida e, de 0,1% de todos os casos notificados, nos Estados Unidos. O ressurgimento da tuberculose no mundo desenvolvido e a epidemia de infecção pelo HIV ( Vírus da Imunodeficiência Humana). Igualmente, os avanços dos meios diagnósticos poderá aumentar o número de casos.
No Brasil, embora haja apenas registros localizados na literatura, dado à alta prevalência da tuberculose - com 20% de formas extra-pulmonares, essa etiologia deve fazer parte do diagnóstico diferencial, sendo recomendado prova tuberculínica e radiografia de tórax, respectivamente, para detecção de infecção prévia pelo M. tuberculosis e eventual foco primário pulmonar.
O diagnóstico diferencial inclui câncer de mama, necrose gordurosa traumática, mastite de células plasmáticas, abscesso piogênico, actinomicose e mastite granulomatosa. Vale registrar que o câncer da mama pode co-existir com a tuberculose, e, ainda, que o aspecto mamográfico entre a lesão tuberculosa e o carcinoma de Mama pode ser muito semelhante.
A apresentação clínica não difere no exame semiótico das demais mastites, sendo a mais comum uma formação endurecida, com ou sem ulceração, com necrose caseosa, podendo ainda se apresentar por nódulos difusos e/ou múltiplas fístulas para a pele. Linfonodos axilares palpáveis são encontrados em 30 a 75% dos casos, em diferentes estudos. O diagnóstico pode ser feito por punção por agulha fina ou biópsia excisional, com rendimento muito variável quanto ao isolamento do agente pelo exame baciloscópico direto, 12 a 60% nos registros da literatura. A cultura em meio apropriado de Lowenstein-Jansen aumenta o rendimento diagnóstico.
O tratamento indicado é com o mesmo esquema adotado no Brasil para todas as formas extra-pulmonares, com associação de Rifampicina (R) + Isoniazida (I) e Pirazinamida (Z), com uso diário por dois meses e Rifampicina + Isoniazida em fase de manutenção por quatro meses, com duração total de seis meses e, a critério médico, individualizado para prolongamento até 9 meses. As doses recomendadas são padrão para as pacientes com mais de 50Kg de peso, ou seja, 600mg+400mg de R/H e 2 g de Z, respectivamente. Para as pacientes com menos de 50 kg recomenda-se a seguinte posologia: 450 mg de R + 300 mg de H/dia e 1500 mg de Z/dia. Nas pacientes portadoras do HIV ou com AIDS preconiza-se iqualmente a manutenção da segunda fase do tratamento por sete meses, com duração total de nove meses.
A ectasia ductal inicia-se com a dilatação dos ductos coletores terminais localizados abaixo do complexo areolo-papilar . Os ductos são distendidos por detritos celulares e material lipídico que atingem o diametro de 3 a 5 mm (cor azulada). Neste momento as paredes ductais estão integras e não há sintomas. Esta forma é muito comum e estima-se que 25% das mulheres a apresente.
Com a evolução do processo, ocorre dilatação, destruição da camada elástica e rotura da parede ductal. Há extravazamento do conteúdo ductal irritante, para o tecido conjuntivo, levando a inflamação e fibrose. Histologicamente encontramos dilatação da luz, atrofia do epitélio ductal e reação inflamatória periductal com linfócitos, histiócitos e plasmócitos.
Clinicamente caracteriza-se por derrame papilar seroso ou hemorrágico e tumor retro-areolar. Muitas pacientes apresentam episódios de infecção aguda com edema, hiperemia e febre. As formas crônicas levam a retrações e inversão da papila.
O diagnóstico é clínico, porém é muito importante diferenciar a ectasia ductal, do câncer de mama. Necessário o exame mamográfico para investigar outras lesões. A citologia do derrame papilar deve ser realizada, porém a ausência de células neoplásicas, não exclui definitivamente a malignidade da lesão. O tratamento baseia-se na ressecção dos ductos dilatados e do processo inflamatório peri-ductal, tendo-se o cuidado de deixar margens cirúrgicas livres de doença.
Granulomatosa
Mastite granulomatosa é uma doença inflamatória benigna da mama, de etiologia desconhecida. Foi proposto um mecanismo auto-imune baseado em sua similaridade com a orquite e tireoidite granulomatosa, assim como uma teoria infecciosa foi postulada, porém nenhum agente foi isolado. Histologicamente caracteriza-se por reação granulomatosa crônica composta de células epitelióides, células gigantes multinucleadas dos tipos corpo estranho e Langhans .
Usualmente se apresenta com tumor mamário e linfadenopatia em mulheres jovens e frequentemente é confundido com carcinoma. O diagnóstico diferencial é com mastite aguda, tuberculose, sarcoidose, necrose gordurosa e ectasia ductal.
Após afastada infecção, terapia clínica com corticóide pode ser benéfica e o uso de prednisona oral por 3 semanas a 4 meses leva a regressão considerável da lesão. Exérese cirúrgica do tumor é o tratamento de opção. Importante salientar que o diagnóstico de mastite granulomatosa é histológico e é necessário excluir neoplasia maligna.
Granuloma lipofágico
Granuloma lipofágico ou esteatonecrose da mama é uma condição pouco comum, mas que ganha importância devido a sua semelhança clínica com o câncer. Manifesta-se por tumor sólido, retração cutânea e linfadenopatia. Paciente pode referir história de traumatismo ou cirurgia, mas não é obrigatório. Acomete principalmente mulheres idosas e com mamas pendulares. Não há associação conhecida com câncer ou risco de desenvolve-lo.
O processo afeta inicialmente o tecido celular subcutâneo, mas nas formas profundas pode se extender ao parênquima mamário
A histologia da necrose gordurosa da mama é semelhante a de outros tecidos. Há reação inflamatória crônica com predomínio de linfócitos e histiócitos. Não há dilatação ductal. A necrose dos adipócitos leva a liberação de material lipídico e formação de "cistos óleos". Mamografia evidencia tumoração com micro e macrocalcificações.
O tratamento é cirúrgico com ressecção da lesão.
Doença a Mondor
Doença de Mondor ou Flebite superficial foi descrito inicialmente, em 1939, por Henri Mondor como uma tromboflebite das veias espermáticas. Posteriormente nas veias subcutâneas da parede torácica, daí a denominação Doença a Mondor, por ser uma variante. Caracteriza-se por cordão doloroso que acompanha o trajeto venoso e é parcialmente aderido a pele. O estudo histopatológico mostra veia trombosada e reação inflamatória da parede e do tecido conjuntivo.
Acomete principalmente mulheres de meia idade, com mamas volumosas e pendulares. As gestantes devido ao aumento da vascularização e hiperviscosidade são de maior risco. Pode surgir espontaneamente, mas acredita-se que traumatismo ou irritação possam levar a lesão da camada íntima das veias subcutâneas e trombose. Radiologicamente podem apresentar espessamento tangencial no trajeto da veia, porém deve-se afastar outras lesões associadas.
A terapêutica consiste em calor local, antiinflamatórios e analgésicos. Não há indicação para uso de anticoagulantes. Tende a regredir espontaneamente e o cordão permanece por algumas semanas.
Sarcoidose
Sarcoidose é uma doença idiopática, sistêmica e que caracteriza-se pela presença de granulomas em linfonodos, pulmões, baço, fígado, olhos, medula óssea e parótidas. O comprometimento da mama é raro.
Manifesta-se como nódulo sólido, móvel e duro. Clinicamente é muito semelhante ao câncer de mama. Exame histopatológico confirma a presença de granuloma não caseoso. Necessário investigar outras causas de mastite granulomatosa.
Pacientes com sarcoidose mamária tem história de sarcoidose pulmonar ou linfática, PPD negativo e teste de Kveim positivo.
O tratamento é clínico dirigido aos sintomas sistêmicos da doença. A ressecção da lesão não é necessária, exceto para diagnóstico diferencial.
Lupus eritematoso
Lupus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica que afeta pele, articulações, rins e outros orgãos do corpo. A evolução pode ser fulminante ou indolente. Trata-se de doença auto-imune e muitas manifestações devem-se a deposição de complexos antigeno-anticorpo nos tecidos.
O comprometimento cutâneo do LES pode levar a paniculite. Quando as mamas são envolvidas, aparecem lesões escleróticas e atróficas, caracterizando a mastite lúpica. Histológica e imunologicamente as lesões são identicas ao LES e estão associadas a outras lesões no organismo.
Linfocítica
Infarto espontâneo
Trata-se de isquemia seguida de necrose do tecido mamário hiperplástico e comumente está associado a gravidez ou lactação. Clinicamente diagnostica-se câncer inflamatório devido a mama nodular, firme, hiperemiada e com edema cutâneo. Geralmente é unilateral. O estudo histopatológico demonstra panarterite inespecífica, endarterite obliterante focal e inflamação das vênulas. O tratamento é cirúrgico com ressecção da área comprometida. A peça deve ser avaliada para investigar doença maligna.
O aparecimento de necrose mamária em mulheres idosas é altamente sugestivo de neoplasia maligna.
Autores:
Maurício Magalhães Costa
Médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho-UFRJ
Mestre e Doutor em Ginecologia-UFRJ
Augusto César Peixoto Rocha
Responsável pelo Setor de Mastologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
Professor Assistente UFRJ
Telefone para contato:
Dr. Maurício- (021) 274-0979, 537-0138, 9982-7473
Modificado em: 28/01/2003
2007-07-17 15:42:14
·
answer #3
·
answered by ÍNDIO 7
·
0⤊
0⤋