Consideremos a resposta de Jesus, analisando-a em seus pormenores:
1) “QUE NOS IMPORTA ISSO A MIM E A TI”.?
As traduções correntes dão: .que tenho eu contigo.? Como se Jesus afirmasse nada haver entre ele e sua mãe, o que redundaria num desaforo ou, pelo menos, numa indelicadeza. Ora, o sentido do grego (e do latim, que traduziu muito bem o original) não é esse.
Comecemos pelo latim, mais acessível. A tradução .quid mihi et tibi. corresponde literalmente ao original grego. Trata-se de dois dativos de interesse, ou dativos .éticos., construídos em paralelo. Encontramos um exemplo dessa construção em Plauto (Rudens, 1307): .Sed quid tibi est.? (mas que te importa?).
Se o sentido fosse o das traduções vulgares, o latim teria uma construção diferente (quid mihi tecum est), como vemos ainda em Plauto (Men 323: .quid tibi mecum est rei.? (que é que tens comigo?) e em Ovidio (Tristes, 2, 1, 1): .quid mihi vobiscum est.? (que é que eu tenho convosco?). Então, se a expressão fosse esta, o latim teria um elemento em dativo e o outro em ablativo com cum, e jamais dois dativos em paralelo.
2) “MULHER”
A palavra .mulher. nada tinha de ofensivo nem de menos respeitoso entre os orientais, os gregos e os romanos, tanto quanto nada tinha de desrespeitoso a palavra .homem.. Se a semântica variou com o tempo, emprestando ao termo sentido depreciativo, culpa disso não cabe aos que o empregavam com todo o respeito naqueles idos. Hoje diríamos .senhora. (termo desconhecido naquela época). A palavra .mulher. era usada como tratamento de mulher casada, em oposição a .parthenos. (virgem), e denotava mesmo carinho e consideração (cfr Teócrito, 15:12 .olha, mulher, como ele te observa.!).
3) “MINHA HORA AINDA NÃO CHEGOU”
A terceira consideração referente a essa expressão visa a salientar, segundo os intérpretes, que não havia soado o momento de Jesus iniciar sua missão carismática na Judéia.
Maria, na realidade, não interpretou assim a resposta de Jesus (como uma recusa), tanto que dá ordens aos serviçais, e ordem taxativa: obedeçam ao que ele mandar. E a própria atuação de Jesus contradiz esse sentido, pois ele assume o comando da situação e manda encher de água seis (atenção ao número!) talhas de pedra, que serviam habitualmente para as abluções rituais dos israelitas. Nem eram vasilhas próprias para vinho: eram .tinas. ou .tonéis. em que os judeus se lavavam as mãos, os pés, os pratos, etc. Cada talha continha duas a três .metretas.
Uma vez cheias as talhas até a borda, Jesus manda que levem o novo vinho ao presidente do banquete, para que seja provado. Vem a cena da admiração, por causa da qualidade do produto. O texto é bastante claro, devendo notar-se apenas que vinho .recente. era considerado inferior, já que o bom vinho era o velho.
A tradução que apresentamos do versículo 11 é a interpretação literal do grego. Compreendemos σηµειον como .demonstração., e não .milagre.. O sentido da palavra grega, de fato, é .sinal. como marca distintiva, ou .prova. que demonstra alguma coisa, ou .símbolo. . E δο٤α é a doutrina, a crença, o julgamento, particularmente o ensino filosófico (é o mesmo radical do verbo δοкεω , que significa .ensinar.).
As bodas realizam-se em Caná. "Qanáh" significa .cana. ou .caniço., a planta que nasce reta para o alto, como uma flecha que está para disparar verticalmente. É a flecha da oração que elevará as vibrações, partindo do .Jardim fechado.
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Aproximando-se a hora do esponsalício, da união total, íntima e profunda, em que .os dois serão uma só carne. (Gên. 2:24), a intuição (Maria) adverte a individualidade (Jesus) de que os discípulos (os convidados ao banquete espiritual) .não têm vinho., isto é, ainda não possuem o conhecimento profundo do sentido das Escrituras. E a individualidade retruca que não é esse o caminho, e que .ainda não chegou sua hora., ou seja, o momento do contato. Diz mais, que a intuição não deve dirigir-se a ela (individualidade): .que temos nós com isso?. mas sim à personalidade, aos veículos inferiores, aconselhando-os a obedecer à individualidade, para que ela possa agir.
Compreendendo a advertência, a intuição volta-se para os veículos interiores (os serviçais), que são o corpo físico e o duplo etérico (sensações), as emoções e o intelecto, que servem ao Espírito, à individualidade.
O Espírito, então, observa que ali se encontram seis talhas de PEDRA.
Esclareçamos o sentido dos termos.
PEDRA exprime a interpretação literal das Escrituras: Moisés recebeu os mandamentos gravados em pedras (Êx. 24:12,. 31:18, etc.).
ÁGUA simboliza a interpretação alegórica dessas mesmas Escrituras, o sentido extraído da letra: Moisés feriu a pedra e dela saiu água (Êx. 17:6).
VINHO é a Sabedoria profunda, o sentido simbólico (místico) e espiritual, que inebria os sedentos da Verdade, e que alegra o coração (Mente) da criatura (Salmo, 104:15) juntamente com a música, a mais sublime das artes (Eccli. 40:20).
Quando a doutrina não é pura, Isaías o revela com estas palavras: o teu vinho está misturado com água. ( Is.1:22).
A narrativa dos evangelhos é bastante clara: tomando as Escrituras Sagradas (talhas de pedra), Jesus manda que os serviçais (a personalidade) as encham de .água (de interpretações alegóricas). Eles o fazem. E o fazem bem, enchendo .até a borda.. Esgotam os assuntos e as interpretações de que são capazes. Nesse momento, quando a personalidade está preparada, chega a individualidade (Jesus) e transforma a água em vinho, ou seja, transforma os ensinos alegóricos, em ensinos simbólicos, místicos, espirituais, cheios de sabedoria. Revela-lhes o que há de oculto na Palavra Sagrada.
Depois de fazê-lo, manda que levem essa Sabedoria (que proveio do coração), ao intelecto (o presidente do banquete), a fim de ser por este examinada, provada, saboreada e julgada racionalmente.
O intelecto maravilha-se diante daquela Sabedoria e mostra ao candidato à união (o noivo) que normalmente os homens não agem assim: o comum é dar-se aos convivas (às criaturas) uma boa doutrina, até que eles se embriaguem com ela (se fanatizem), e depois, então, quando querem aprofundar mais, colocam-lhe entre as mãos o vinho ordinário (ensinamentos medíocres) que são aceitos sem discernimento nem critério da razão, porque eles já estão embriagados e fanatizados.
Neste caso, porém, houve o inverso: foram sendo distribuídos vinhos mais ordinários (doutrinas simples e ingênuas) e só no final lhes é dada a Sabedoria profunda. O evangelista nota que o intelecto (o presidente do banquete) não sabia de onde provinha aquela sabedoria, mas sabiam-no os serviçais (a personalidade), que haviam colhido apenas a água da interpretação alegórica.
O bom vinho que os convivas beberam, foi bebido exatamente na união mística, quando os segredos da amada são revelados ao amante, numa união total, em que o vinho permeia todas as células, levado pelo sangue: assim a Sabedoria penetra e impregna todos os escaninhos do ser, quando a criatura atinge a Consciência Cósmica.
E o evangelista salienta em conclusão: esta foi a primeira demonstração da individualidade à personalidade (aos discípulos) revelando-lhes a Doutrina profunda. E os discípulos acreditaram. Depois da união do Espírito com o .espírito., este se convence e se entrega incondicionalmente à evidência dos acontecimentos.
2007-06-22 07:53:28
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answer #1
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answered by Jorge Murta 6
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Passa a haver o seguinte:
"Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles não tem mais vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou’. Disse então sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos disser’" ( Jo 2, 3 – 5 )
Na festa do casamento de Canaã Jesus iniciou seu ministério. Ministério aliás composto por pregação e obras. A SantÃssima mãe percebeu a dificuldade daquela famÃlia, que não tinha vinho para os convidados. A boa Senhora é vigilante, e os servos dela sabem, que ela vigia sobre eles, mesmo quando não se apercebem dessa vigilância. Jesus afirmou então claramente a Maria que, ainda não era o momento para iniciar seu ministério com um prodÃgio, pois disse: "minha hora ainda não chegou". A SantÃssima mãe, conhecendo profundamente o filho, mesmo diante da aparente recusa, o "obriga" docemente a antecipar sua missão. E assim, sem discussão, na mais plena confiança, diz aos serventes: "façam o que ele lhes disser". Maria revela total confiança! Assim, aquela que o introduziu no mundo segundo a carne, o introduz agora no seu ministério, pela sua intercessão. Feliz a famÃlia que tiver por mãe esta doce Senhora. Sua intercessão é infinitamente mais eficaz do que as orações de todos os santos que pedem sem cessar pelos habitantes da terra (Ap 6, 9-10 . 8, 3-4 ; II Mac 15,11-16 ).
2007-06-22 14:13:30
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answer #2
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answered by Maharet ® 6
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Só um comentário: Peça à Mãe, que o Filho atende!
Assim como Maria adiantou o milagre das bodas de Caná, ela ainda hoje é o auxilio dos cristãos.
Sendo plena de graça, Ela foi feita por Deus, então, a medianeira de todas as graças. Como o prisma refrata a luz do sol em todas as suas cores, assim também Maria, a Virgem Mãe de Deus, foi feita tal qual um prisma divino, para espalhar pelos homens todas as graças de Deus.
Toda graça é de Cristo, mas nos vem por Maria, como o próprio Cristo, fonte de todas as graças, nos veio por meio de Maria. Ele é o único Salvador nosso, o único intermediário de necessidade absoluta entre Deus e nós. Mas Ele quis vir a nós por meio de Maria. Deste modo, explica São Luís de Montfort, no seu Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora, Maria Santíssima é, para nós, uma intermediária de necessidade hipotética. Isto é, tendo Deus querido utilizá-la como meio para se encarnar e vir até nós, Ela foi então necessária, porque Deus quis utilizá-la como meio.
2007-06-22 20:10:51
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answer #3
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answered by Tata 2
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Frei Bento, não poderia deixar de aqui demonstrar minha admiração que tenho por Maria, porém quanto a sua pergunta acredito que qualquer outra colocação é mera redundância depois da explanação perfeita do Murta.
2007-06-22 18:40:31
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answer #4
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answered by O Filosofo 4
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Jesus veio para cá para nos dar uma lição de amor e nos ensinar a perdoar e a amar, e naquele tempo não era fácil encontrar alguém que soubesse perdoar e amar ao seu próximo. Como você mesmo disse, o ato de transformar água em vinho foi um símbolo para a transição do Antigo para o Novo testamento, e com isso nos mostrar que o melhor caminho está em Deus. O que passa a haver entre todos nós depois das Bodas de Caná da Galiléia é o fato de passarmos a estar renovados e prontos para aprender tudo o que Jesus viera a nos ensinar. Passamos a ser mais irmãos e a testemunhar o início de uma nova era que começava naquele instante. Mesmo que muitos não sigam ou não acreditem, todos nós somos irmãos e estamos aqui para aprender, ensinar e testemunhar as maravilhas que o Senhor nos proporciona todos os dias e nós não percebemos por estarmos cegos por esse mundo que, se não soubermos administrar, só nos traz impurezas e tristezas.
2007-06-22 14:37:27
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answer #5
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answered by Lara Croft 2
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Passa a haver unidade de pensamentos, atos e sentimentos em Deus, em determinada instância pode ser identificado também como corpo místico de Cristo.
2007-06-23 06:41:19
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answer #6
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answered by cristão 7
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Se uma passagem tão curta e aparentemente tão simples, já dá tantas interpretações diferentes, como alguém ainda pode afirmar que os textos bíblicos podem ser interpretados ao pé da letra, e por leigos?
Tem muito mais peixe abaixo da superfície, perto dos quais nossas redes afoitas ainda nem passaram perto.
Essa pescaria ainda vai longe, até que todo peixe esteja no aquário. Aí então vai dar para ver e admirar como se deve.
Paz e Luz!
2007-06-22 23:00:57
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answer #7
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answered by Amnyoteph 7
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Jesus apesar de respeitar Maria, ele não sentia filho realmente dela. Jesus só teve pai. Prova disto são as suas próprias palavras em seus sermões. Ele sempre exaltou o pai, o Soberano Universal. Maria apenas guardou Jesus no seu útero. Foi a sua moradia passageira. Só isso.
2007-06-22 20:01:51
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answer #8
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answered by Anonymous
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A declaração de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, foi tão profunda que levou Nosso Senhor a antecipar sua missão redentora, ou seja, seu ministério salvífico.
O vinho novo e bom, certamente, trouxe despreocupação e muita alegria aos convivas, além de revelar a todos a divinidade de Jesus. Esse vinho bom e novo é Jesus Cristo. Assim, depois das Bodas de Caná, passou a haver entre todos nós a perspectiva de salvação eterna.
Abraço sincero e cordial a todos.
2007-06-22 18:27:37
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answer #9
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answered by fec 2
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Sim,mas o que isso tem a ver com a nossa crença no Mestre Maior da Humanidade?Se Jesus disse isso,é porque ainda não chegou a hora dele se manifestar aos discípulos e ao mundo todo daí por diante.Falei?Tchau!
2007-06-22 15:47:33
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answer #10
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answered by ? 6
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