Na BÃblia, a palavra “alma” aparece em muitas traduções como tradução da palavra hebraica néfes e da palavra grega psiqué. (Por exemplo, veja Ezequiel 18:4 e Mateus 10:28, nas versões Almeida, Matos Soares, PontifÃcio Instituto BÃblico, Brasileira, Trinitária.) Estes mesmos termos hebraico e grego também têm sido traduzidos “ser”, “criatura” e “pessoa”. Sem considerar se a sua BÃblia verte coerentemente as palavras das lÃnguas originais por “alma” (como faz a Tradução do Novo Mundo), um exame dos textos em que ocorrem as palavras néfes e psiqué o ajudará a compreender o significado destes termos para o povo de Deus na antiguidade Assim poderá decidir por si mesmo a verdadeira natureza da alma.
Descrevendo a criação do primeiro homem, Adão, o livro inicial da BÃblia diz: “Jeová Deus passou a formar o homem do pó do solo e a soprar nas suas narinas o fôlego de vida, e o homem veio a ser uma alma [néfes] vivente.” (Gênesis 2:7) Podemos notar que a BÃblia não diz que ‘o homem recebeu uma alma’, mas que “o homem veio a ser uma alma vivente.”
Será que o ensino cristão do primeiro século diferiu deste conceito de “alma”? Não. No comumente chamado “Novo Testamento”, a declaração a respeito da criação de Adão é citada como fato: “Até mesmo está escrito assim: ‘O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente.’” (1 CorÃntios 15:45) Na lÃngua original deste texto aparece a palavra para “alma”, psiqué. Por conseguinte, neste texto, a palavra grega psiqué, igual à palavra hebraica néfes, não indica um espÃrito invisÃvel que resida no homem, mas o próprio homem. Portanto, certos tradutores da BÃblia escolheram corretamente usar palavras tais como “ser”, “criatura” e “pessoa” na sua tradução de Gênesis 2:7 e 1 CorÃntios 15:45. — Liga de Estudos BÃblicos; Almeida, atualizada; New English Bible; Revised Standard Version; veja a versão Matos Soares, que insere “pessoa” em Gênesis 2:7, mas usa “alma” em 1 CorÃntios 15:45; também a do Centro BÃblico Católico.
à também digno de nota que os termos néfes e psiqué são aplicados aos animais. A BÃblia diz a respeito da criação das criaturas marÃtimas e terrestres: “Deus prosseguiu, dizendo: ‘Produzam as águas um enxame de almas [“criaturas”, Almeida, margem, 1955, 1944] viventes e voem criaturas voadoras sobre a terra’ . . . Deus passou a criar os grandes monstros marinhos e toda alma vivente que se move . . . ‘Produza a terra almas viventes segundo as suas espécies, animal doméstico, e animal movente, e animal selvático da terra, segundo a sua espécie.’” — Gênesis 1:20-24.
Tais referências a animais como sendo almas não se limitam ao livro inicial da BÃblia. Desde o primeiro livro das Escrituras Sagradas até o último livro delas, os animais continuam a ser chamados de almas. Está escrito: “Dos homens de guerra, que saÃram na expedição, tens de tirar . . . uma alma [néfes] dentre quinhentas, do gênero humano e da manada, e dos jumentos, e do rebanho.” (Números 31:28) “O justo importa-se com a alma [néfes] do seu animal doméstico.” (Provérbios 12:10) “Morreu toda alma [psiqué] vivente, sim, as coisas do mar.” — Revelação 16:3.
A aplicação da palavra “alma” aos animais é bem apropriada. Está de acordo com o que se pensa ser o significado básico do termo hebraico néfes. Entende-se que esta palavra se deriva duma raiz que significa “respirar”. Portanto, em sentido literal, a alma é “aquele que respira”, e os animais realmente respiram. São criaturas viventes que respiram.
Quanto à sua aplicação aos humanos, as palavras néfes e psiqué são usadas repetidas vezes de tal maneira, que significam a pessoa inteira. Lemos na BÃblia que a alma humana nasce. (Gênesis 46:18) Ela pode comer ou jejuar. (LevÃtico 7:20; Salmo 35:13) Pode chorar e desmaiar. (Jeremias 13:17; Jonas 2:7) A alma pode jurar, almejar algo ou ficar com temor. (LevÃtico 5:4; Deuteronômio 12:20; Atos 2:43) Alguém pode raptar uma alma. (Deuteronômio 24:7) A alma pode ser perseguida ou posta em ferros. (Salmo 7:5; 105:18) Não são estas as espécies de coisas feitas por pessoas ou a pessoas de carne? Não comprovam tais passagens das Escrituras claramente que a alma humana é o homem inteiro?
Numerosos eruditos bÃblicos do século vinte, católicos, protestantes e judaicos, chegaram a esta conclusão. Note seus comentários:
“O famoso versÃculo de Gênesis [2:7] não diz, conforme muitas vezes se supõe, que o homem se compõe de corpo e alma; diz que Iavé formou o homem, com terra do solo, e depois passou a animar a figura inerte com fôlego vivo soprado nas narinas dele, de modo que o homem tornou-se um ser vivente, que é tudo o que néfes [alma] aqui significa.” — H. Wheeler Robinson, do Regent’s Park College, Londres, na Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft (Revista Para a Ciência do Velho Testamento), Vol. 41 (1923).
“Não se deve pensar no homem como tendo uma alma; ele é uma alma.” — E. F. Kevan, Diretor do Bible College de Londres, em The New Bible Commentary (1965), 2.a ed., p. 78.
“A alma, no A[ntigo] T[estamento], significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro — um homem como ser vivente. Similarmente, no N[ovo] T[estamento] significa vida humana: a vida de uma pessoa individual, consciente.” — New Catholic Encyclopedia (1967), Vol. 13, p. 467.
“A BÃblia não diz que temos uma alma. ‘Néfes’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” — Dr. H. M. Orlinsky, do Hebrew Union College, citado no Times de Nova Iorque de 12 de outubro de 1962.
Parece-lhe estranho que eruditos de diversas crenças religiosas digam agora que a alma é o próprio homem? Foi isto o que se lhe ensinou? Ou foi-lhe ensinado que a alma é uma parte imortal do homem? Neste caso, que efeito teve este ensino na sua pessoa? Induziu-o a gastar dinheiro para fins religiosos, que de outro modo teria gasto com as necessidades da vida? Será que sua igreja foi desonesta no seu ensino? Quem tem razão — a igreja ou seus eruditos?
Se os eruditos tiverem razão ao dizer que a alma humana é a pessoa inteira, inclusive seu corpo carnal, devemos esperar que a BÃblia mencione a alma como sendo mortal. Faz isso? Sim. A BÃblia fala de ‘refrear’, ‘socorrer’ e ‘salvar’ uma néfes ou alma da morte. (Salmo 78:50; 116:8; Tiago 5:20) Lemos também: “Não golpeemos fatalmente a sua alma.” (Gênesis 37:21) “Para lá terá de fugir o homicida que sem querer golpear fatalmente uma alma.” (Números 35:11) “Sua alma morrerá na própria infância.” (Jó 36:14) “A alma que pecar — ela é que morrerá.” — Ezequiel 18:4, 20.
Mas, não é possÃvel que pelo menos em algumas das referências bÃblicas as palavras das lÃnguas originais traduzidas “alma” se refiram a algo que abandona o corpo por ocasião da morte e que é imortal? Que dizer de textos tais como os seguintes? “Enquanto a sua alma partia (porque estava morrendo), ela chamou-o pelo nome de Ben-Oni.” (Gênesis 35:18) “Meu Deus, por favor, faze a alma deste menino voltar para dentro dele.” (1 Reis 17:21) “Parai de levantar um clamor, pois a sua alma está nele.” (Atos 20:10) Não indicam estas passagens que a alma é algo que existe independentemente do corpo?
O texto em Jó 33:22, escrito em estilo poético, fornece a chave para o entendimento destas passagens. Ali, “alma” e “vida” são colocadas paralelas, de modo que estas duas palavras podem ser trocadas entre si sem mudar o sentido da passagem. Lemos: “Sua alma se chega à cova e sua vida aos que infligem a morte.” Em vista deste paralelismo, podemos ver que a palavra “alma” pode significar vida como pessoa, e, portanto, pode-se entender que a partida da alma se refere ao fim da vida como pessoa.
Como ilustração: Um homem poderá dizer que seu cão ‘perdeu a vida’ quando foi atropelado por um caminhão. Quer dizer com isso que a vida deste animal partiu do corpo e continua existindo? Não, ele simplesmente usa uma figura de retórica para indicar que o animal morreu. O mesmo se dá quando dizemos que certo homem ‘perdeu a vida’. Não queremos dizer que a vida dele passou a existir independente do corpo. De modo similar, ‘perder a alma’ significa ‘perder a vida como alma’, e não tem o significado de haver uma existência continuada após a morte. Reconhecendo isso, O Dicionário do Interpretador da BÃblia (em inglês) diz:
“A ‘partida’ de néfes [alma] precisa ser encarada como figura de retórica, porque ela não continua a existir independente do corpo, porém, morre junto com ele (Núm. 31:19; JuÃ. 16:30; Eze. 13:19). Nenhum texto bÃblico autoriza a declaração de que a ‘alma’ se separa do corpo no instante da morte.”
A ORIGEM DA CRENÃA
A evidência bÃblica é inconfundivelmente clara no sentido de que o homem não tem uma alma imortal, mas que ele mesmo é uma alma. Então, como se introduziu esta crença na alma imortal nos ensinos das igrejas da cristandade? Atualmente, reconhece-se francamente que isto se deve à influência da filosofia grega, pagã. O Professor Douglas T. Holden escreveu no seu livro A Morte não Terá DomÃnio, em inglês:
“A teologia cristã ficou tão fundida com a filosofia grega, que criou pessoas que são uma mistura de nove partes de pensamento grego para uma parte de pensamento cristão.”
A revista católica Commonweal, no seu número de 15 de janeiro de 1971, confessou que a idéia duma alma imortal é um conceito que “os judeus posteriores e os primitivos cristãos herdaram de Atenas”.
A quem cabe a culpa por esta mistura de pensamento grego, pagão e cristão? Não cabe aos clérigos religiosos? Certamente, não foram os membros das igrejas que inventaram por conta própria tal ensino, que os eruditos bÃblicos admitem francamente não ser bÃblico.
Mas, onde obtiveram os antigos gregos seu fundamento religioso, básico? Conforme já se salientou, há forte evidência de que os conceitos religiosos dos gregos e de outros povos foram influenciados pelos babilônios. E quanto à crença babilônica sobre a alma, note o que diz a International Standard Bible EncyclopÅdia:
“Após a morte, as almas dos homens continuavam supostamente em existência. . . . Os babilônios . . . amiúde colocavam junto aos mortos objetos que pudessem ser usados na sua existência futura. . . . No mundo futuro, parece que havia distinções entre os mortos. Os que morriam nas batalhas parece que tinham favor especial. Recebiam água fresca para beber, ao passo que os que não tinham descendentes para lhes por ofertas nos túmulos sofriam severas e muitas privações.”
Portanto, os gregos podiam ter facilmente obtido de Babilônia suas idéias básicas sobre a imortalidade da alma, idéias que então foram ampliadas pelos filósofos gregos.
Algo similar parece ter acontecido com relação à s religiões não-cristãs ainda existentes hoje. Por exemplo, uma comparação da civilização antiga do Vale do Indo, onde o hinduÃsmo é a religião predominante, com a da Mesopotâmia, revela notáveis similaridades. Estas incluem construções tais como os ziguratos religiosos de terraços da Mesopotâmia e sinais pictográficos de forte semelhança com primitivas formas mesopotâmicas. O famoso assiriologista Samuel N. Kramer sugeriu, à base de seus estudos, que o Vale do Indo foi povoado por um povo que fugiu da Mesopotâmia quando os sumerianos assumiram o domÃnio daquela região. Não é difÃcil de entender, pois, onde o hinduÃsmo obteve sua crença numa alma imorredoura.
A evidência indica assim Babilônia como o ponto de origem mais antigo do qual se espalhou a crença na imortalidade da alma humana até os confins da terra. E ali, em Babilônia, segundo a BÃblia, deu-se uma rebelião contra Deus. Isto já bastaria para encarar a doutrina da alma imortal com reservas. Mas, não se esqueça de que, conforme já vimos, este ensino está também em conflito direto com a BÃblia.
Além disso, não é a idéia de que a alma seja imortal contrária ao que observou pessoalmente? Por exemplo, o que acontece quando a pessoa é deixada inconsciente, quando desmaia ou é anestesiada num hospital? Se a sua “alma” for realmente separada do corpo e puder funcionar de modo inteligente à parte do corpo, de modo que nem mesmo a morte afete a sua existência e seu funcionamento, então por que se dá que, durante tais perÃodos de inconsciência, a pessoa está completamente desapercebida de toda a atividade em volta dela? Por que se lhe precisa dizer depois o que aconteceu durante este tempo? Se sua “alma” é capaz de ver, ouvir, sentir e pensar após a morte, conforme ensinam as religiões em geral, por que é que algo muito menos drástico do que a morte, tal como um perÃodo de inconsciência, pára todas estas funções?
Também, o cadáver, quer humano, quer animal, volta por fim aos elementos do solo. Nada a respeito da morte nem mesmo insinua haver uma alma imortal que sobreviva.
O EFEITO DA DOUTRINA A RESPEITO DA IMORTALIDADE DA ALMA
O que a pessoa crê a respeito da alma não é de pouca importância.
O ensino da imortalidade da alma humana foi usado para anular a consciência do povo em tempos de guerra. Os lÃderes religiosos fizeram com que parecesse que tirar a vida não é tão mau assim, visto que os mortos realmente não morrem. E aos que morrem em batalha contra o inimigo promete-se a bem-aventurança. São tÃpicas as observações tais como as noticiadas no jornal Times de Nova Iorque, em 11 de setembro de 1950: “Os pais tristes, cujos filhos foram recrutados ou novamente convocados para serviço de combate foram ontem informados na Catedral de S. PatrÃcio que a morte na batalha era parte do plano de Deus para povoar ‘o reino do Céu’.” A idéia expressa ali difere pouco do antigo ensino babilônico de que os mortos na guerra obtinham favores especiais.
As deturpações do que a BÃblia diz sobre a alma contribuÃram assim para se dar pouco valor à vida humana e fizeram as pessoas sentir-se dependentes dos grandes sistemas religiosos, que falsamente afirmaram cuidar de sua alma.
Sabendo disso, o que fará você, leitor? à evidente que o verdadeiro Deus, sendo “Deus da verdade” e odiando a mentira, não considerará com favor os que se apegam a organizações que ensinam a falsidade. (Salmo 31:5; Provérbios 6:16-19; Revelação 21:8) Realmente, gostaria mesmo de se associar com uma religião que não o tratou com honestidade?
2007-05-09 17:02:28
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