Wicca iniciou-se com os escritos e ensinamentos de Gerald Gardner nos anos trinta. Gardner foi iniciado no coven em New Forest na Inglaterra por Dorothy Clutterbuck. Ele publicou descrições imaginárias e não imaginárias da bruxaria, e o primeiro livro não fictício, "Bruxaria Hoje", foi publicado depois que a última das leis anti-bruxaria da Inglaterra fora revogada, em 1954.
Gardner, acreditando que a Arte estava desaparecendo, dedicou-se a reavivá-la. Em seu coven muitas coisas eram secretas, e assim, seus escritos combinaram alguns elementos dos trabalhos do coven juntamente com elementos de magia cerimonial (Kabbala), rituais maçônicos, várias versões da Arte, mitologia Céltica, filosofias orientais, ideologias egípcias, e até mesmo idéias fictícias provenientes de trabalhos místicos nos moldes de Lovecraft e Hubbert.
Os elementos (terra, ar, fogo, água), que formam uma parte importante da ideologia Wiccan pertence à Grécia Clássica. Gardner era claramente um homem instruído e capaz de combinar filosofias diversas e religiões de tal modo que não só freou o declínio da Arte, como também a tornou a religião poderosa e influente que a Wicca é hoje.
Os estudantes de Gardner tiveram um papel importante na evolução e expansão da Wicca; Doreen Valiente adicionou o ar poético a muitos dos rituais que foram passados. Outros que Gardner iniciara levaram as novas práticas a terras distantes, enquanto outros ainda se ramificaram, formando suas próprias tradições, como a tradição Alexandrina iniciada por Alex Sanders.
Na América, apareceram muitas tradições novas, entre elas a bruxaria Diânica e as Tradições de Faerie, ambas distantes do Gardnerianismo e seus descendentes diretos, mas ainda claramente influenciadas pela Wicca Gardneriana.
Bruxaria tradicional
O que nós chamamos de Bruxaria Tradicional tem uma história muito mais antiga que a da Wicca, porém bem menos definida. A Bruxaria esteve presente desde o começo do gênero humano, muito antes que as pessoas pudessem escrever sobre ela. Nossos antepassados deixaram algumas pistas, como estátuas da deusa e desenhos, mas não muita coisa pode ser aprendida sobre a natureza das suas crenças e práticas. Os antropólogos supõem que as culturas primitivas dos tempos modernos têm uma semelhança de transcurso às culturas mortas do passado, e quase tudo tem alguma forma de bruxaria ou magia. Porém, a bruxaria praticada pela maioria dos neo-pagãos hoje é claramente de origem européia, e até
mesmo as bruxas tradicionalmente atentas raramente tentam traçar a origem de suas práticas para além da Idade Média.
Sabemos algumas coisas sobre esta época: As pessoas nativas ao longo da Europa acreditavam em espíritos ou deuses, normalmente associados com a Terra, Sol, e Lua, e eles viam as suas vidas e as vidas dos deuses como possuidoras de um padrão cíclico, seguindo o ciclo anual de estações. A parte final é típica dos povos nativos está em todos os lugares. Enquanto o povo vivia pela agricultura, caça e coleta, o conhecimento dos processos cíclicos tornou possível o controle das forças sazonais da Natureza, vitais à existência. Assim, o desenvolvimento de uma religião na qual as estações eram reconhecidas e celebradas - pela qual poderiam tentar controlar os aspectos mais violentos e destrutivos da Natureza - é bastante compreensível.
A maioria do nosso conhecimento sobre bruxaria européia vem dos escritos de conquistadores cristãos e padres. De fato, foram os cristãos que primeiramente deram o nome à pratica de ‘magia’ como ‘bruxaria’. Antes da invasão não havia nenhuma necessidade de se dar um nome para a religião. Simplesmente era o que todas as pessoas eram levadas a acreditar. Alguns papéis especializados existiram com nomes especiais, entretanto os nomes refletem o idioma da região em lugar de um sistema comum de crenças.
Os cristãos suprimiram a religião nativa, em parte, adotando muitos dos seus rituais e costumes. Yule se tornou o Natal e Oester tornou-se a Páscoa, e tudo se tornou parte da tradição cristã. Porém, nem todos os pagãos abandonaram as suas crenças quando eles "se tornaram" os cristãos.
Muitas das práticas eram simplesmente subterrâneas e foram passadas de geração a geração em famílias. Considerando que a maioria das pessoas não podia ler e nem escrever, estas tradições orais eram os únicos meios para manter o conhecimento vivo. Sem registros escritos, nós sabemos muito pouco destas tradições antigas. Os registros que temos são distorcidos, tendo sido escritos por padres da Inquisição ou sidos tomados dos registros das Inquisições.
Isso não quer dizer que não conhecemos nada da Bruxaria Tradicional. Um pequeno conhecimento gotejou e os estudiosos preservaram as mitologias dos povos conquistados. Evidências arqueológicas ajudam um pouco também. A revivificação neo-pagã tentou recapturar o espírito da religião antiga, se não suas práticas atuais.
É recomendável que se seja um pouco cético com aqueles que professam a ‘Maneira Antiga’, a menos que eles reconheçam que eles estão repaginando esses modos em lugar de reavivando.
Crenças
Há algumas diferenças fundamentais nas crenças das bruxas tradicionais e dos Wiccans. É vital que qualquer estudante da Arte entenda estas diferenças, especialmente se o estudante ainda está buscando um caminho a seguir. Como pode você saber se seu caminho é ser Wiccan ou o da Bruxaria Tradicional se você não tem nenhum conhecimento acerca das crenças associadas a eles?
Talvez agora seja uma boa hora para fazer um comentário sobre a bruxa eclética. Todo recém-chegado à Arte muitas vezes apropria-se daquela etiqueta porque parece significar que eles podem acreditar e fazer tudo que eles querem, sem ter que aderir a qualquer crença particular ou sistema ritualístico. Isso simplesmente não é o caso. Dizer que algo é eclético significa que está composto de elementos advindos de várias fontes. Porém, deve haver fontes para tal ecletismo na Arte. Não significa que você pode compor seu próprio modo de fazer tudo, seu próprio modo de pensamento, e ainda chamar a isto de a Arte. Não significa que você possa incorporar toda idéia da Nova Era, embora atraente possa parecer ao indivíduo, e então reivindicar que o que você faz é a Arte. Uma bruxa eclética escolhe cuidadosamente um caminho que possui elementos de tradições de bruxaria diferentes, tendo a certeza que não há nenhuma contradição ou conflitos entre os elementos escolhidos, e que cada um é bem compreendido. Existem alguns limites. O caminho não pode ser completamente idiossincrático, mas claro ao pagão.
Alguns argumentarão contra isto, mas em minha opinião, é impossível ser simultaneamente cristão e uma bruxa sem sacrificar componentes importantes de um ou o outro. Conflitos entre os dois sistemas de crença são imediatamente aparentes, e alguns são impossíveis solucionar. Bruxas de qualquer tradição não são monoteístas e nem seguem qualquer escritura revelada (Torah, Evangelhos, Quran, Livro de mórmon, etc.). Há muitos outros elementos contraditórios, mas isso deve ser apartado para outro ensaio.
É importante registrar novamente que nem a Wicca e nem a Bruxaria Tradicional é tradicional no sentido de aderir estritamente às crenças e práticas de nossos antepassados. Semelhante a isto ou não, este é o neo-paganismo, porque simplesmente não temos nenhuma escolha. É provável que a religião dos pagãos europeus originais fosse bastante diferente, mas chegamos ao ponto onde precisamos olhar as tradições que são praticadas hoje em dia, no lugar dos "modos antigos", entretanto com referências ao passado tanto quanto possível.
A primeira, e acredito, a mais importante diferença entre Wicca e Bruxaria Tradicional é o relacionamento com Deidade ou deidades. Wiccans adoram uma Deusa e às vezes um Deus, respeitando-os como seres supremos. Bruxos tradicionais não adoram nenhuma entidade como o superior a eles, entretanto eles reconhecem a existência de outras entidades. Eles acreditam na igualdade de todos os seres no Universo, vendo-os como diferentes e separados, mas nunca como superiores ou inferiores. Esta diferença é freqüentemente uma fonte de confusão. Um bruxo tradicional pode falar do deus e a deusa e normalmente se referir aos aspectos femininos e masculinos da Natureza, e enquanto veneram e respeitam Natureza, não a cultuam ou aos seus representantes. Um Wiccan pode falar em condições semelhantes, mas rituais Wiccans tornam claro que a Deusa e o Deus são vistos como seres superiores que devem ser adorados. Este dualismo forma a fundação básica da teologia Wiccan - os componentes femininos e masculinos necessários à energia criativa. No entanto a Bruxaria tradicional é politeísta e animista, incorporando vários espíritos/deidades em um todo significativo.
Permita-me clarear um pouco mais, através de um exemplo. Quando um Wiccan chama a Deusa e o Deus em ritual, ele/ela pretende exatamente que "a" Deusa e "o" Deus, aqueles que aparecem assim de forma destacada nas mitologias que sugerem esta crença e os rituais associados com à ela. A Deusa é uma Deusa Tripla e pode ser chamada através de nomes diferentes em circunstâncias diferentes, mas a maioria do Wiccans acredita que estes nomes diferentes e personalidades são aspectos de uma Deusa em lugar de entidades diferentes. Bruxos tradicionais podem chamar a Deusa e o Deus como representantes da força criativa do Universo, não obstante, bem como normalmente invocarão outros espíritos, cada um sendo visto como uma entidade separada e igual.
Na Bruxaria Tradicional há um Mundo de Espírito ou Mundo Exterior onde estas outras entidades residem. A maioria não o vê como realmente separado deste mundo, mas sim, como uma parte que normalmente não é vista. Assim, os espíritos que são contatados durante o ritual já estão lá, mas podem ser conjurados ou podem ser evocados para facilitar a comunicação. Este um ponto importante no que as Bruxas Tradicionais vêem na interação entre este mundo e o Mundo Exterior como constante e não completamente dependente de um ritual. Wiccans confiam mais no ritual extático para obter contato com a Deusa e dinamizar sua espiritualidade.
Há alguns que dizem que bruxaria tradicional não é uma religião, porque nenhuma deidade é cultuada. De um ponto de vista estritamente antropológico esta poderia ser uma declaração justa, uma vez que religião deva ser definida como um sistema de crenças que inclui a adoração de um ser superior ou seres. Porém, dizer que na prática da bruxaria existe a falta de espiritualidade é simplesmente um equivoco, ao menos entre bruxas modernas. Para muitas bruxas hoje, é o esclarecimento espiritual oferecido pela prática da bruxaria que as leva a ela, até mesmo se a sua aproximação às deidades seja um pouco diferente daquela encontrada em outras religiões, inclusive na Wicca.
Ritual
Qualquer discussão sobre os deuses conduz inevitavelmente às considerações de rituais executados com relação a eles. Na Wicca, rituais tendem a ser compulsórios ou pelo menos é aconselhado que assim seja. A pessoa tem que celebrar a Roda do Ano com seus oito dias santos que representam partes do ciclo mítico. As Bruxas tradicionais observam freqüentemente os mesmos dias que correspondem a solstícios e equinócios, mas não os relaciona com uma mitologia específica. Na Bruxaria Tradicional são as mudanças sazonais que são honradas e não as vidas de deuses e deusas associados a elas. Wiccans e Bruxas Tradicionais observam fases de Lua e outros fenômenos naturais.
O círculo sagrado é a prática central Wiccan. Wiccans geralmente criam espaço sagrado para os seus rituais ao traçarem um círculo, usam técnicas de visualização e dinamização energética. Colocando mais significado no ritual e cerimônia, Wiccans criam e executam rituais bonitos, repletos de simbolismo, marcam as estações da Terra e as estações da vida.
Na Bruxaria Tradicional, todo o espaço é sagrado e toda a vida é uma cerimônia. Quando um ritual ou magia é executada, é provável que o Bruxo Tradicional vá para um lugar que tem qualidades especiais como um fluxo de águas ou montanha, mas os praticantes também reconhecem que o parque local ou o quintal de alguém é igualmente sagrado. Não estou dizendo que Wiccans não vêem a Terra como sagrada; sim, eles vêem. Porém, a maioria dos Wiccans ainda traçam um círculo (definindo um espaço sagrado) antes de executar um ritual. Estas diferenças são freqüentemente uma questão de grau e ênfase.
É freqüentemente difícil para as bruxas urbanas ganhar qualquer experiência prática sobre a zona rural. Talvez a ausência destas oportunidades diárias de se estar em contato direto com a Natureza os atraia tanto aos rituais mais formais e simbólicos da Wicca. A separação dos ambientes naturais também pode tê-los conduzido à intensa preocupação com assuntos ambientais.
Nenhuma consideração acerca do ritual na bruxaria estaria completa sem alguma discussão sobre magia. Magia é fundamento da Bruxaria Tradicional, considerando que muitos Wiccans não praticam as artes mágicas.
Porém, há um sentido no qual todas as religiões usam magia, quando definida como qualquer tentativa para efetuar o resultado de uma determinada situação através de meios sobrenaturais (entretanto em Bruxaria Tradicional estes meios são vistos como naturais). Oração, por exemplo, é uma forma de magia.
Quando praticada, a magia Wicca tende a ser mais cerimonial,
considerando que a Bruxaria Tradicional é mais pragmática. Por exemplo, cura herbária é uma prática tradicional que pode ou não ser parte de um costume Wiccan, outro exemplo é de que a magia da Bruxaria Tradicional podem incluir feitiços e maldições sem uma regra específica para prevenir tal ato (veja seção de Éticas).
A diferença mais importante, porém, concerne a presença ou ausência de espiritualidade na magia. Alguns dizem que magia nunca é espiritual. Desde que há freqüentemente espíritos ou deidades envolvidas, um melhor modo para encarar isto poderia ser pela consideração da relação entre a bruxa e os espíritos executando a magia. A idéia apontada acima em relação à definição de religião também é aplicada à magia, desde que as bruxas trabalham com espíritos executando magia, não seria espiritual a menos que os mesmos fossem adorados. Observar os espíritos como uma parte natural do ambiente da bruxa e como seres iguais no Universo negaria qualquer espiritualidade à magia da Bruxaria Tradicional. Por outro lado, Wiccans executam magia na qual uma deusa ou deus é atraído para auxílio e homenagem durante o ato mágico. Pela prévia definição, isto seria encarado como espiritual. Não estou de todo convencido que encarar espíritos como naturais e procurar as suas ajudas sem adora-los reduziria a magia da Bruxaria Tradicional para algo que é meramente prático e sem um componente espiritual.
Ritos de passagem também são uma parte importante da estrutura ritual dos Wiccans e das Bruxas Tradicionais. Ritos Iniciáticos de passagem são fundamentais para a Wicca, pelo menos como praticado em covens. Dentro de cada coven há uma hierarquia entre os membros baseado nos níveis ou graus que cada um atingiu, com o Alto Sacerdote e Sacerdotisa ao pentáculo. Assim que um membro passa pelos níveis, aprende os Mistérios com alguém autorizado. Os graus são principalmente determinados pelo o que a bruxa estudou e por quanto tempo, de forma que a hierarquia é, pelo menos teoricamente, de conhecimento.
Na Bruxaria Tradicional, há normalmente ritos de passagem de algum tipo, entretanto grupos tendem a ser menos hierárquicos do que covens Wiccan. Em alguns casos, são executados rituais em fases diferentes da vida de uma pessoa, enquanto em outros casos, os ritos podem refletir a escolha do
indivíduo em se dedicar a algum aspecto da Arte. A única coisa que pode ser dita com certeza sobre ritos de passagem na Bruxaria Tradicional é que eles são variáveis, e são determinados mais pelo grupo específico ou individual do que por uma estrutura convencional.
Éticas
Éticas Wiccanas são principalmente baseadas em uma regra: a Wiccan Rede (conselho ou credo), "faça o que tu queres desde que não prejudique a nada nem a ninguém". Um verdadeiro seguidor do caminho Wiccan saberá que isto não se traduz em "faça o que queres". O "desejo" é o caminho escolhido após reflexão cuidadosa, e não somente pelo capricho da hora. O descobrimento de sua verdadeira vontade é parte do caminho que o leva ao esclarecimento espiritual, tolerância, o servir ao Universo, e em última instância, uma vida de realizações. A segunda característica muito importante é em relação à ética Wiccan, que está na Lei de Tríplice, que diz que o que você faz voltará a multiplicado por três (com três vezes a energia). Isto é um princípio de karma que tem origem em religiões orientais e substitui o conceito de pecado e retribuição encontrado no cristianismo. Em outras palavras, se você machuca alguém (pecado), você será punido em retribuição - e isto, multiplicado por três (punição).
Na Bruxaria tradicional não há nem a Wiccan Rede nem a Lei Tríplice. Não há nenhum teste de moralidade, apenas de responsabilidade pessoal e honra. Também não há nem bem ou mal, só intento. Humanos têm a habilidade para tomar decisões e atuar por elas, e podem escolher e agir com boas ou más intenções. A Bruxaria tradicional não delimita leis sobre quais as ações ou intenções que são más, mas os seguidores deste caminho são responsáveis por elas. Em condições práticas, significa que o uso de maldições, feitiços e semelhantes não reage ao princípio. Se provocada ou ameaçada, a Bruxa Tradicional pode agir para a auto-preservação ou a proteção da família e da casa. Estes são considerados atos honrados. E mesmo que haja conseqüências negativas, a Bruxa Tradicional está disposta a sofrê-las.
2007-03-26 02:01:21
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answer #1
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answered by Anonymous
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