é uma bactéria que vive no muco que cobre a superfície do estômago e, foi identificada, por dois australianos, Warren e Marshall, em 1983. ( Warren e Marshall, por este motivo, receberam o prémio Nobel da Medicina em 2005 ). A maior parte da população infectada com o H. pylori permanece saudável, sem sintomas e não necessita de tratamento. Apenas uma minoria desenvolve uma doença clínica.
Consequências da infecção por H. pylori
Associações clínicas
Frequência da associação
Úlcera do duodeno
Úlcera do estômago
Cancro gástrico
Linfoma MALT
Dispepsia Funcional
Doença do Refluxo gastro-esofágico
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O H. pylori tem uma distribuição irregular a nível mundial sendo a prevalência muito mais frequente nos países em vias de desenvolvimento. Portugal comporta-se como um país em desenvolvimento, com prevalência muito superior, aos outros países, do mundo desenvolvido.
A gastrite provocada pelo Helicobacter pylori é das infecções mais frequente no mundo, atingindo mais de 50% da população mundial. Cerca de 90% dos portugueses adultos têm gastrite causada pelo H. pylori mas apenas atinge 20% dos Escandinavos. A incidência do Helicobacter pylori diminui com a melhoria das condições sanitárias.
Como nos infectamos ?:
A infecção dá-se geralmente na infância por transmissão oral-oral ou fecal-oral. Ainda não conhecemos totalmente como se faz essa transmissão. Mas sabemos que grande parte das crianças portugueses antes dos 5 anos de idade já estão infectadas.
Mais de 50 % das crianças portuguesas com 8 anos de idade já estão infectadas e depois dos 50 anos de idade mais de 90% dos portugueses estão infectados. Num estudo realizado no Norte de Portugal encontrou-se uma prevalência global de 79,1%. Quase 100% da população adulta da América do Sul e da África está infectada. Nos países desenvolvidos a prevalência ronda os 30 - 40%, metade da prevalência que encontramos no nosso país.
Onde vive o Helicobacter pylori?:
O H. pylori, vive no muco, que cobre a mucosa do estômago e do duodeno, protegendo-se do efeito agressivo do ácido clorídrico normalmente produzido no estômago.
Quais as alterações provocadas, no estômago, pelo Helicobacter pylori ?:
Inicialmente o H. pylori provoca gastrite aguda que, em poucos dias, se transforma em gastrite crónica. Esta gastrite crónica raramente será causa de sintomas, e raramente o seu tratamento será útil ao doente. Mais de 80 % dos infectados com H. pylori nunca terá patologia clínica nem necessita de qualquer tratamento.
Cerca de 10-15% dos infectados progridem para doença ulcerosa ( úlcera do estômago ou úlcera do duodeno ) e há provas evidentes que a maior parte das úlceras curam definitivamente se o H. pylori for erradicado.
Existe uma relação entre o H. pylori e alguns cancros do estômago ( adenocarcinoma e linfoma MALT ). A erradicação do H. pylori no intuito da prevenção do cancro do estômago é uma expectativa infelizmente, neste momento, ainda irrealista. Cientistas em todo o mundo e duma maneira especial cientistas portugueses ( Leonor David, Celso Reis ) do IPATIMUP do Porto ( Sobrinho Simões ) têm feito grandes progressos na identificação das estirpes mais virulentas do H. pylori e dos portugueses portadores dos genes que codificam as mucinas gástricas ( as mucinas são um gel - semelhante à saliva - que cobre as nossas mucosa ) que facilitam o aparecimento do cancro do estômago. Estas descobertas acabarão por permitir, num futuro, que desejamos próximo, o rastreio dos indivíduos com estes factores de risco e assim contribuir para a diminuição da mortalidade relacionada com o cancro do estômago.
As diferentes evoluções ( para úlcera ou para adenocarcinoma ou para linfoma MALT ) são atribuídas à susceptibilidade de cada pessoa, à virulência da estirpe da bactéria, à idade da aquisição da infecção, a factores genéticos, a factores ambientais e possivelmente a outros factores que desconhecemos. Viver assustados porque temos H. pylori e podemos vir a ter cancro do estômago é que não tem qualquer justificação. Infelizmente, ainda não temos, qualquer meio para lutar contra essa evolução. A vacina será provavelmente um meio eficaz, mas ainda não existe. A maior parte de nós tem gastrite causada pelo H. pylori e nunca terá cancro do estômago. Mais de 90% dos Africanos adultos têm H. pylori e o cancro de estômago entre eles, quase não existe.
Como sabemos se estamos infectados ?:
Há várias maneiras de sabermos se estamos infectados. Durante a endoscopia do estômago o médico pode retirar um fragmento do estômago e fazer um teste rápido ou, pedir ao patologista para pesquisar a bactéria no fragmento de biopsia colhido. Existe um teste respiratório de fácil execução e que não exige endoscopia. No sangue pode pesquisar-se os anticorpos anti-Helicobacter pylori. Este é um bom teste para sabermos se já estivemos infectados mas, os anticorpos permanecem cerca de 1 ano positivos depois de a bactéria ser erradicada: a bactéria pode já não existir mas continua a haver anticorpos, o teste continua positivo.
Testes que exigem endoscopia:
Teste rápido da urease ( CLOtest e outros )
Observação ao microscópio
Exame cultural
Testes que não exigem endoscopia
Teste respiratório
Pesquisa de anticorpos no sangue ( embora de pouco valor na clínica, é infelizmente muito utilizado e é causa frequente de angustia para o doente. Não tem valor para verificar a eficácia da erradicação mas é, no entanto, útil em estudos epidemiológicos )
Como, em Portugal, quase todos os adultos estão infectados e, como quase 100% das úlceras do duodeno e cerca de 70% das úlceras do estômago estão relacionadas com o H. pylori, muitos médicos, quando diagnosticam uma úlcera fazem erradicação, sem mandarem realizar qualquer teste para pesquisar o H. pylori e, mandam fazer o teste respiratório depois do tratamento, para se certificarem se o tratamento foi eficaz e o Hp foi erradicado.
É frequente as pessoas, com queixas atribuídas ao estômago fazerem uma análise ao sangue ( pesquisa de anticorpos ) para saberem se têm Helicobacter pylori. Do que fica dito é fácil deduzir que essa pesquisa raramente tem algum interesse: se a pessoa é positiva vai causar-lhe ansiedade desnecessária e em muitos casos vai provocar um tratamento inútil como se explica a seguir.
O tratamento ( erradicação ) é necessário ?:
Quase todos os portugueses adultos estão infectados e seria impensável fazer a erradicação a todos, nem há motivos que justifiquem tal atitude. Com os conhecimentos que temos actualmente recomenda-se erradicar o Helicobacter pylori nos indivíduos que têm úlcera do estômago, úlcera do duodeno e linfoma MALT.
A úlcera do estômago e do duodeno pode cicatrizar definitivamente com a erradicação do H. pylori. Por isso falamos hoje em cura da úlcera.
Alguns linfomas MALT curam com a erradicação do H. pylori.
Há outras situações, para além da úlcera do estômago, úlcera do duodeno e do linfoma MALT, em que a erradicação do H. pylori poderá, eventualmente, ser recomendada. Erradicar o Helicobacter pylori só porque ele existe no estômago é uma atitude muito frequente mas que os peritos condenam. As queixas dispépticas da Dispepsia Funcional, infelizmente, raramente desaparecem depois de se fazer a erradicação.
Poderá um dia descobrir-se uma vacina contra o Hp?:
Sem dúvida nenhuma que será possível mas, até hoje, ainda não se conseguiu. Uma vacinação em massa, na idade infantil, irá diminuir a prevalência do Cancro do Estômago, além de reduzir significativamente a prevalência da úlcera do estômago e duodeno.
Qual é o tratamento correcto? ( Como se faz a erradicação do H. pylori ? ) :
Ainda não existe um tratamento ideal: que seja 100% eficaz, barato e simples de tomar. Presentemente os médicos prescrevem para erradicar o Helicobacter pylori, a associação dum anti-secretor, medicamento inibidor da secreção do estômago, com dois antibióticos, durante 7 dias. Chama-se a esta terapêutica, terapêutica tripla porque inclui 3 medicamentos:
Anti-secretor
Antibiótico
Antibiótico
Como se pode verificar se o tratamento foi eficaz ?:
Em 70% - 80% dos casos o tratamento é eficaz. Quer isto dizer que em 20% a 30% dos doentes que fizeram tratamento, a bactéria, não é eliminada e, a recidiva da úlcera vai, muito provavelmente, acontecer nos dois anos imediatos. Se a úlcera voltar a aparecer deve fazer-se novo tratamento, utilizando uma associação de antibióticos diferente, ou fazendo terapêutica quádrupla: um anti-secretor e três antibióticos.
Na maior parte dos casos, depois do tratamento, o médico não manda fazer nenhum teste para se certificar de que a bactéria desapareceu mas, nas úlceras complicadas ( que sangraram ou que perfuraram ) ou se por curiosidade quisermos saber se continuamos ou não com a bactéria no estômago, o nosso médico pode escolher um de vários testes para se certificar se houve ou não erradicação. O melhor teste é o teste respiratório que não exige nova endoscopia mas custa cerca de 12.000$00 ( há vários laboratórios no Algarve - Faro, Albufeira e talvez noutros locais - que se encarregam da execução deste teste ). Os outros testes exigem nova endoscopia para se colher um fragmento do estômago. Qualquer dos testes só deve ser feito, pelo menos 2 semanas depois, de não utilizarmos nenhum anti-secretor nem antibiótico, caso contrário, podem aparecer falsos negativos ou seja, pode o teste ser negativo embora o Helicobacter continue no estômago.
Como os anticorpos continuam no sangue, pelo menos durante 1 ano, depois de o Helicobacter desaparecer, a pesquisa de anticorpos no sangue não tem valor para verificar o êxito do tratamento.
Assuntos relacionados:
Dispepsia Funcional
Gastrite
Úlcera do estômago
Úlcera do duodeno
Cancro do estômago
Linfoma MALT
O Helicobacter na Internet:
ok
2007-03-23 06:49:53
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answer #1
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answered by M.M 7
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