São dois tipos de incisão (corte) na pele. A mais comum hoje em dia é aquela transversal, na parte inferior do abdome, pouco acima dos pêlos pubianos, chamada de incisão tipo Pfannestiel (fala-se Fanistil). A outra, mais tradicional, é a longitudinal mediana, infra-umbilical. Embora mais feia esteticamente, esta cicatriz longitudinal mediana é um pouco mais segura e com menores complicações, pois há menor sangramento e menor lesão dos tecidos. É também a via de acesso mais rápida, sendo a preferida nos casos de urgência.
Após a pele, são outras 6 camadas até chegar ao nenê. As próximas duas camadas (subcutâneo, incluindo a gordura, e a aponeurose) são cortadas no mesmo sentido que a pele, transversal ou longitudinalmente. As demais 4 camadas são cortadas sempre da mesma forma, qualquer que seja a cicatriz da pele: musculatura (longitudinal), peritônio parietal (longitudinal), peritônio visceral (transversal) e miométrio do útero (transversal). Chegando ao útero, rompe-se a membrana amniótica e aspira-se o líquido amniótico. Então, o obstetra pega a cabeça do nenê com a mão e a puxa para fora. Alguns preferem o uso de uma alavanca, para facilitar este processo, principalmente quando a mão do médico é grande. O médico auxiliar segura a borda do útero e dos outros tecidos, enquanto o anestesista empurra o fundo do útero com a mão. Após sair a cabeça, o obstetra segura-a com as duas mãos e inclina-a para cima e para baixo, para facilitar a saída dos ombros.
Quando estes saem, o resto do corpo vem fácil. O obstetra limpa a boca da criança e corta o cordão umbilical, entregando o nenê para o pediatra.
Após o nascimento no bebê, ainda se precisa retirar a placenta. Isso se faz geralmente com uma pressão no fundo do útero, mas algumas vezes é preciso que o médico obstetra coloque a mão dentro do útero e faça a retirada manual da placenta.
Depois de uma cuidadosa inspeção da cavidade uterina, se faz a sutura do miométrio, com vários pontos. É comum que os lados da abertura do útero sangrem um pouco mais; por isso os pontos nas laterais deverão ser mais cuidadosos. Depois disso, dão-se os pontos de forma separada ou então em chuleio. O tempo aqui é fundamental, pois o sangramento é intenso. Quem já assistiu a uma cesárea, sabe que é comum se impressionar nesta parte, pois praticamente não se vê nada, além do sangue.
Diga-se, de passagem, que uma cesárea sem intercorrências sangra cerca de 800 ml, chegando a um litro, com um sangramento um pouco maior do que o normal. Ou seja, são 2 bolsas de sangue, destas coletadas em banco de sangue. Só como comparação, num parto normal, a perda sanguínea é bem menor: cerca de 300 ml, podendo chegar a cerca de 500 ml se o sangramento for mais intenso. Por estas e por outras é que o médico se preocupa tanto com o ferro e a presença de anemia durante o pré-natal, pois se a mulher já estiver com anemia antes do parto, a anemia tende a ficar muito pior depois do parto, principalmente se for cesárea.
Após ter costurado o útero, a equipe cirúrgica costuma ficar mais tranqüila, pois a parte mais difícil já foi. No entanto, ainda restam outras 6 camadas para serem costuradas, a maioria delas com pontos em chuleio. Não creio que seja importante relatar os detalhes técnicos da sutura destas camadas, a não ser de uma delas: a aponeurose. Na verdade, esta camada é subdividida em duas, no nível do abdome em que a incisão transversal (Pfannestiel) é feita. Como as 2 camadas deslizam-se uma sobre a outra, nos movimentos compostos de lateralidade (como virar o tronco, sem mexer o quadril), é importante que a sutura seja feita em 2 planos, mantendo a diferença anatômica. Por isso, quando as 2 camadas são costuradas juntas, a movimentação ficará limitada no futuro, assim como a dor no pós-operatório é maior. Infelizmente, para acelerar a cirurgia, a maioria dos médicos junta as 2 camadas numa só, complicando a recuperação da paciente.
Os pontos da pele podem ser separados ou também em chuleio, assim chamado ponto intra-dérmico (por alguns também chamado de “ponto de plástica”, embora os plásticos não costumem usá-lo). Os pontos simples são retirados com 7 dias, e os pontos intra-dérmicos de10a 14 dias.
No geral, fechando todas as camadas com cuidado e destreza, uma cesárea dura cerca de 60 minutos, ou um pouco mais, se houver uma cesárea prévia. Feita em menos de 40 minutos, não indica melhor técnica cirúrgica, mas justamente a falta dela. Basta você imaginar a costura de 7 panos diferentes, mesmo que em chuleio, para perceber que, para fazer direito, não dá para fazer assim tão rápido. Afinal, se temos cuidado em bordar um pano de prato, quanto mais a barriga de alguém!
A recuperação da cesárea é lenta. Preconiza-se repouso relativo no leito até o 7º dia. Daí até 30 dias, apenas tarefas cotidianas sem esforço. Para recuperar totalmente a força da musculatura e da aponeurose, serão necessários 6 meses. Muitas mulheres reclamam de certa anestesia na pele, junto à cicatriz, por vários meses, o que é plenamente explicável pela lesão dos nervos, com o corte de tantas camadas. Aos poucos, a recuperação se faz, sendo necessária uma certa dose de paciência.
Costumo dizer que a paciência é sempre necessária, seja na espera de várias horas do trabalho de parto, quando o parto é normal; ou de vários meses, no caso da cesárea. Mas, a bem da verdade, isso tudo é bem menor do que a paciência que a mãe deverá ter em cuidar do seu nenê, não é mesmo?!
2007-03-11 06:18:43
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answer #1
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answered by Anonymous
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