Contracepção
Os métodos contraceptivos incluem os contraceptivos orais (pílulas para o controlo da natalidade), preservativos, preparados que detêm ou que destroem o esperma por contacto (espermicidas em forma de espuma, creme, gel e supositórios vaginais), o retirar antes da ejaculação (coitus interruptus), diafragmas, capuz cervical, métodos de ritmo, implantes contraceptivos, contraceptivos injectáveis e dispositivos intra-uterinos (DIU). A contracepção é utilizada quando uma mulher que é fisicamente capaz de conceber e mantém relações sexuais com alguém do sexo oposto não quer ficar grávida. Uma vez conhecidas as vantagens e desvantagens dos diversos métodos contraceptivos, pode-se escolher o método mais conveniente.
Os contraceptivos devem ser usados correctamente para que sejam eficazes. É mais provável que falhem quando são utilizados por pessoas jovens, com menor nível de educação ou menos motivadas para evitar a gravidez. Entre 5 % e 15 % das mulheres que utilizam métodos contraceptivos concebidos para serem utilizados no momento do coito (diafragma, preservativo, espuma, coitus interruptus) engravidam durante o primeiro ano da sua utilização. Geralmente, estes métodos são menos eficazes na prevenção da gravidez do que os contraceptivos orais, os implantes, os contraceptivos injectáveis e os dispositivos intra-uterinos, os quais proporcionam protecção a longo prazo e não dependem de decisões tomadas no último momento. Entre 0,1 % e 3 % das mulheres que utilizam estes métodos contraceptivos a longo prazo ficam grávidas durante o primeiro ano.
Contraceptivos orais
Os contraceptivos orais, frequentemente conhecidos como a pílula, contêm hormonas (uma associação de progestagénio e de estrogénio ou apenas um progestagénio), que impedem que os ovários libertem óvulos (ovulação) e mantêm o muco cervical espesso para que o esperma não o possa atravessar com facilidade.
Estas pílulas são administradas uma vez por dia durante três semanas, suspendem-se durante uma semana para permitir que apareça o período menstrual e, depois, começa-se outra vez. Por vezes, são incluídas pílulas inactivas nesta semana de descanso para criar um hábito que implique tomar uma por dia. As pílulas que apenas contêm progesterona são tomadas diariamente durante todo o mês. O facto de se esquecer de tomar a pílula pode terminar em gravidez.
As pílulas que só contêm progesterona costumam provocar crises de hemorragia irregular. Em geral, só são prescritas quando o estrogénio pode ser prejudicial (por exemplo, durante a amamentação).
Todas as marcas de pílulas de combinação que existem no mercado são igualmente eficazes. As pílulas com uma dose baixa de estrogénio têm menos efeitos secundários graves do que as pílulas com doses mais elevadas. Se a mulher tomar outros fármacos, sobretudo antiepilépticos, a dose de estrogénios tem de ser mais elevada.
Toda a mulher que queira tomar contraceptivos orais deverá consultar o seu médico para saber que vantagens e que riscos isso implicará no seu caso particular. Os contraceptivos orais com uma menor proporção de estrogénios implicam muito poucos riscos para a saúde e têm muitas vantagens não propriamente relacionadas com a contracepção. De facto, reduzem o risco de certos tipos de cancro, mas podem aumentar o de outros. As probabilidades de morrer por causa de uma gravidez normal ou de um aborto são maiores que a mortalidade associada aos contraceptivos orais.
A administração de contraceptivos orais também reduz o aparecimento de dores menstruais, de tensão pré-menstrual, de hemorragia irregular (em mulheres cujos períodos tenham sido irregulares), de anemia, de quistos mamários, de quistos nos ovários, de gravidez tubária (gravidez localizada numa trompa de Falópio, que é uma variante da gravidez ectópica) (Ver secção 22, capítulo 241) e de infecção tubárica. Também as mulheres que fizeram um tratamento com contraceptivos orais têm menos probabilidades de ter artrite reumatóide e osteoporose do que aquelas que nunca os tenham tomado.
Antes de começar a tomar contraceptivos orais, dever-se-á fazer um exame físico para excluir problemas que sejam potencialmente perigosos. Se a paciente ou um familiar próximo tiver tido diabetes ou uma doença cardíaca, habitualmente faz-se uma análise ao sangue para medir os valores de colesterol e de glicose (açúcar). Quando estes valores são elevados, costumam utilizar-se contraceptivos orais de doses baixas, embora o médico, mais tarde, faça outras análises ao sangue para se assegurar de que estes valores não aumentam de forma significativa. Três meses depois do início do tratamento faz-se outra revisão para comprovar que a tensão arterial não se alterou. Depois deste período, é necessária uma revisão pelo menos uma vez por ano.
As mulheres com mais de 35 anos que fumam não deverão usar contraceptivos orais, porque os riscos superam os benefícios. Há também outras mulheres com risco elevado. Por exemplo, os contraceptivos orais podem fazer com que a tensão arterial suba ainda mais numa mulher com tensão alta. No entanto, quando os riscos se equilibrarem com as vantagens, a mulher pode tomar um contraceptivo oral, embora sempre sob controlo médico, de forma a interromper a sua administração caso seja necessário.
A suspensão esporádica do tratamento com contraceptivos para usar outros métodos não é necessária nem tem vantagens. Por conseguinte, a mulher não precisa de deixar de tomar as pílulas a não ser que queira engravidar, que surjam efeitos secundários intoleráveis ou que tenha outros problemas que contra-indiquem a utilização destes fármacos. As mulheres saudáveis que não fumam podem tomar contraceptivos orais de dose baixa até à menopausa.
Uso depois da gravidez
O risco de se formarem coágulos de sangue nas veias das pernas aumenta depois de uma gravidez e pode aumentar ainda mais com a ingestão de contraceptivos orais. No entanto, se a gravidez for interrompida antes das 12 semanas a contar da última menstruação, a mulher pode começar a tomar contraceptivos orais de imediato. Deverá esperar uma semana se a gravidez tiver durado entre 12 e 28 semanas, e duas semanas se tiver chegado às 28 semanas, desde que não esteja a amamentar.
As mães que amamentam geralmente não voltam a ovular (libertar óvulos) até, pelo menos, 10 ou 12 semanas depois do parto. No entanto, podem ovular e ficar grávidas antes de a sua primeira menstruação reaparecer. Consequentemente, as mães que amamentam deverão usar alguma forma de controlo da natalidade se não quiserem ficar grávidas. A ingestão de contraceptivos orais combinados durante a amamentação pode reduzir tanto a quantidade de leite produzido como as concentrações de proteínas e de gordura no leite. As hormonas dos contraceptivos passam para o leite da mãe e, consequentemente, para o bebé. Por isso, as mães em fase de amamentação que queiram tomar contraceptivos orais devem tomar pílulas que contenham apenas progestagénios, uma vez que estes não alteram a produção de leite.
A administração de contraceptivos orais até ao momento da concepção ou ao início da gravidez (antes que a mulher se dê conta de que está grávida) não causa perturbações no feto.
Efeitos adversos
A hemorragia irregular durante o ciclo menstrual é frequente durante os primeiros meses de uso dos contraceptivos orais, mas essa hemorragia anormal pára logo que o corpo se adapte às hormonas. Por vezes, a menstruação é interrompida durante alguns meses depois de deixar de tomar contraceptivos orais, mas estes fármacos não reduzem a fertilidade de forma permanente. Muitos dos efeitos adversos, como náuseas, dor mamária, inchaço, retenção de líquidos, subida da tensão arterial e depressão, devem-se aos estrogénios que a pílula contém e quase nunca aparecem se se tomarem pílulas com pequena concentração dos mesmos. Outros efeitos adversos, como o aumento de peso, acne e nervosismo, devem-se aos progestagénios e também são pouco frequentes nas pílulas de doses baixas. Algumas mulheres que tomam contraceptivos orais aumentam entre 1,5 kg e 2,5 kg devido à retenção de líquidos (e até mais pelo aumento do apetite).
Os efeitos secundários graves são pouco frequentes. A possibilidade de desenvolver cálculos biliares aumenta durante os primeiros anos de ingestão de contraceptivos orais, mas depois diminui. Uma em cada 30 000/500 000 mulheres que tomam contraceptivos orais desenvolve um tumor hepático benigno (adenoma), um tumor que é perigoso se rebentar e sangrar dentro do abdómen. No entanto, os adenomas costumam desaparecer por si só com a interrupção do tratamento.
Estima-se que a formação de coágulos sanguíneos era de três a quatro vezes mais frequente nas mulheres que tomavam as pílulas de doses altas do que nas que não usaram este método contraceptivo. No entanto, à medida que o conteúdo de estrogénios das pílulas foi sendo reduzido, o risco de desenvolver coágulos de sangue também diminuiu, mas é mesmo assim mais elevado do que o das mulheres que não usam contraceptivos orais. No caso de surgir uma dor repentina no peito ou nas pernas, os contraceptivos orais devem ser suspensos e fazer-se uma consulta imediata, porque estes sintomas são sinal de que se formaram coágulos de sangue nas veias das pernas e que chegaram aos pulmões ou estão quase a lá chegar. Devido ao facto de tanto os contraceptivos orais como as intervenções cirúrgicas aumentarem o risco de formação de trombos, qualquer mulher deve deixar de tomar os contraceptivos um mês antes da operação e não deve reiniciar o tratamento até um mês depois.
As mulheres que tomam contraceptivos orais podem ter náuseas e cefaleias e 1 % a 2 % têm depressões e dificuldade em dormir. As mulheres deverão deixar de tomar contraceptivos orais e procurar o médico se tiverem algum dos seguintes sintomas, que podem ser sinal de um maior risco de ataque cerebral: alterações na frequência e na intensidade das cefaleias, formigueiro nos braços ou nas pernas, desfalecimento ou incapacidade para falar. No entanto, o risco de sofrer um ataque cerebral não é maior para as mulheres saudáveis que tomam pílulas combinadas com doses baixas de estrogénios do que para as de idade semelhante que não estejam a tomar contraceptivos orais.
A ingestão de contraceptivos orais pode alterar a proporção de algumas vitaminas e de outras substâncias no sangue. Por exemplo, os valores de vitamina B e C decrescem um pouco e os de vitamina A aumentam. Estas alterações não são consideradas importantes, pelo que não é necessário tomar suplementos vitamínicos.
Em algumas mulheres, os contraceptivos orais provocam manchas escuras (cloasma) (Ver secção 18, capítulo 206) na cara, semelhantes às que aparecem durante a gravidez. A exposição ao sol escurece ainda mais as manchas. Mas, se a sua ingestão for suspensa, as manchas escuras desaparecem lentamente. Não existe um tratamento específico para este problema (a única solução é deixar de tomar os contraceptivos orais logo que as manchas aparecerem).
O uso de contraceptivos orais não altera a tendência para contrair cancro da mama. No entanto, o risco de desenvolver cancro cervical parece aumentar entre as mulheres que tomam contraceptivos orais, sobretudo nas que os tomaram durante mais de 5 anos. Consequentemente, as mulheres que tomam contraceptivos orais deverão fazer um teste de Papanicolaou (Pap) pelo menos uma vez por ano para poderem detectar com rapidez qualquer alteração no colo uterino. Por outro lado, o risco de desenvolver cancro do ovário diminui em cerca de metade entre as mulheres que tomam contraceptivos orais, em comparação com as que nunca os tomaram. Além disso, este efeito mantém-se mesmo depois de se ter suspendido a sua administração.
Interacções farmacológicas
Os contraceptivos orais não interferem na acção de outros fármacos, mas alguns deles, sobretudo alguns sedativos e antibióticos, reduzem a sua eficácia. As mulheres que tomam contraceptivos orais podem ficar grávidas se tomarem ao mesmo tempo antibióticos como a rifampicina e, possivelmente, a penicilina, a ampicilina, as tetraciclinas ou as sulfonamidas. Se tomar doses elevadas destes antibióticos, a mulher deverá utilizar métodos contraceptivos de barreira, como um preservativo ou um diafragma, além do contraceptivo oral. Os fármacos anticonvulsivantes, como a fenitoína e o fenobarbital, aumentam a frequência de hemorragia anormal quando se tomam contraceptivos orais. Para contrariar este efeito, as mulheres epilépticas que tomam anti-convulsivantes necessitam de doses mais elevadas de contraceptivos orais.
Métodos de barreira
A sua função é obstruir o acesso do esperma ao útero. Incluem o preservativo, o diafragma, o capucho cervical e as espumas, os cremes, os geles e os supositórios vaginais.
Se forem utilizados correctamente, os preservativos (condom) proporcionam uma protecção considerável contra as doenças de transmissão sexual, como a SIDA, e evitam certas alterações pré-cancerosas nas células do colo uterino. Alguns preservativos têm um espaço na sua extremidade, para o sémen; se não o tiverem, dever-se-á deixar 1,5 cm livre na parte superior. Mesmo assim, deve ser retirado com cuidado, porque se o sémen se derramar, o esperma poderá entrar na vagina e provocar uma gravidez. O uso de um espermicida, incluido no lubrificante do preservativo ou então colocado na vagina, aumenta a eficácia deste método.
Anticoncepcionais de barreira
Os anticoncepcionais de barreira impedem a entrada dos espermatozóides no útero da mulher. Entre eles encontram-se os preservativos, os diafragmas e os diafragmas cervicais. Alguns preservativos contêm espermicidas. Estas substâncias deverão ser utilizadas com os preservativos.
O preservativo feminino, um dispositivo mais recente, segura-se na vagina mediante um anel. É parecido com os masculinos, mas é maior e tem um índice de fracassos mais elevado,pelo que é preferível o preservativo masculino.
O diafragma, uma hemiesfera de borracha em forma de cúpula com um aro flexível, coloca-se bem encaixado sobre o colo uterino e evita que o esperma entre no útero. Os diafragmas têm vários tamanhos e o ginecologista ou a enfermeira devem recomendar o indicado e ensinar a mulher a colocá-lo para que cubra a totalidade do colo uterino sem provocar queixas. Nenhum dos dois membros do casal deverá dar pela sua presença. Deverá ser sempre utilizado um creme ou gelatina anticoncepcional juntamente com o diafragma, como prevenção no caso de este sair do lugar durante a relação sexual. O diafragma é colocado antes do coito e deverá deixar-se durante pelo menos 8 horas, mas nunca mais de 24. Se se repetir o coito enquanto o diafragma está colocado, acrescenta-se mais espermicida dentro da vagina para aumentar a eficácia. Se uma mulher tiver engordado ou emagrecido mais de 5 kg, tiver usado um diafragma durante mais de um ano ou tiver tido um filho ou um aborto, deve ser feita uma nova revisão, pois o tamanho e a forma da vagina podem ter mudado.
O capucho cervical, semelhante ao diafragma mas mais pequeno e rígido, adapta-se de forma ajustada ao colo uterino. O médico ou a enfermeira devem determinar o tamanho certo para cada caso. Deverá ser sempre usado um creme ou gelatina anticoncepcional juntamente com o diafragma cervical, que se coloca antes do coito e se deixa durante pelo menos 8 horas depois do acto sexual até um máximo de 48 horas.
As espumas, os cremes, os geles e os supositórios vaginais são aplicados na vagina antes do coito. Contêm um espermicida e constituem também uma barreira física para o esperma. Nenhum tipo de espuma ou de supositório é mais eficaz do que outro. À medida que a idade da mulher avança, aumenta a eficácia destes métodos porque ela tem mais prática a usá-los e porque a sua fertilidade diminui.
Coitus interruptus
Neste método contraceptivo o homem retira o pénis da vagina antes da ejaculação, que é o momento em que o esperma é libertado durante o orgasmo. Este método não é fiável devido ao facto de poder sair esperma antes do orgasmo. Também exige um elevado grau de autocontrolo e um rigoroso sentido de oportunidade.
Métodos do ritmo
Este tipo de métodos consistem na abstinência das relações sexuais durante o período fértil da mulher. Na maioria das mulheres, o ovário liberta um óvulo cerca de 14 dias antes do início do período menstrual. Apesar de o óvulo não fecundado só sobreviver cerca de 24 horas, o esperma sobrevive 3 ou 4 dias depois do coito. Consequentemente, a fertilização é possível depois de um coito que teve lugar até 4 dias antes da libertação do óvulo.
O método do ritmo é o menos eficaz, até naquelas mulheres que têm ciclos menstruais regulares. Para calcular o período de abstinência, devem subtrair-se 18 dias ao mais curto dos 12 ciclos anteriores e 11 dias aos mais longos. Por exemplo, se os ciclos de uma mulher duram entre 26 e 29 dias, o coito deve ser evitado desde o dia 8 até ao dia 18 de cada ciclo. Outros métodos mais eficazes associados ao ritmo incluem o método da temperatura, o método da mucosidade e o método sintotérmico.
No método baseado na temperatura, mede-se a temperatura basal do corpo (temperatura em estado de repouso) todas as manhãs antes de se levantar. Esta temperatura baixa antes de o óvulo ser libertado e aumenta ligeiramente (menos de 1ºC) depois da ovulação. Portanto, o casal abstém-se do coito desde o início da menstruação até pelo menos 48 a 72 horas depois do aumento da temperatura basal.
No método da mucosidade, é definido o período fértil observando o muco cervical que, geralmente, é segregado em maiores quantidades e torna-se mais aquoso pouco antes da libertação do óvulo. A mulher pode ter relações sexuais com um baixo risco de conceber desde o fim do seu período menstrual até observar o aparecimento de uma maior quantidade de mucosidade cervical. A partir desse momento deve evitar o coito até 4 dias depois de ter verificado a quantidade máxima (pico) de mucosidade.
O método sintotérmico combina a observação das alterações na mucosidade cervical e a medição da temperatura basal do corpo, bem como outros sintomas que possam ser associados à libertação de um óvulo, como uma ligeira dor no baixo-ventre. De todos os métodos relacionados com o ritmo, este é o mais eficaz.
Implantes contracepcionais
Os implantes contracepcionais são cápsulas plásticas que contêm progesterona, a qual evita que os ovários libertem óvulos e que o esperma penetre na espessa mucosidade cervical. Inserem-se 6 cápsulas sob a pele da parte interna do braço, acima do cotovelo. Depois de anestesiar a zona, é feita uma pequena incisão e, mediante uma agulha, implantam-se as cápsulas distribuídas em forma de leque. Não é necessário dar pontos. As cápsulas libertam progesterona, lentamente, para a corrente sanguínea e podem deixar-se colocadas durante 5 anos. A interacção com outros fármacos é pouco frequente devido ao facto de não conterem estrogénios. Para além disso, as contra-indicações são semelhantes às dos contraceptivos orais.
Os efeitos secundários mais importantes, como hemorragias irregulares ou ausência total do período menstrual, afectam até 40 % das mulheres; outros, menos frequentes, incluem cefaleias e aumento de peso que, em certos casos, podem obrigar a retirar prematuramente as cápsulas. Como estas não se dissolvem dentro do organismo, no fim devem ser extraídas. Tirá-las é mais difícil do que colocá-las, visto que o tecido que se encontra por baixo da pele à volta das cápsulas torna-se mais grosso e dificulta a sua retirada, embora só fique uma pequena cicatriz. Logo que se extraiam as cápsulas, os ovários recuperam a sua actividade normal e a mulher recupera a fertilidade.
Contraceptivos injectáveis
A medroxiprogesterona é um progestagénio que se injecta uma vez de 3 em 3 meses num músculo da nádega ou na parte superior do braço. Apesar da sua grande eficácia, pode chegar a não interromper por completo o ciclo menstrual. Cerca de um terço das mulheres que usam este método contraceptivo não tem período menstrual nos 3 primeiros meses depois da primeira injecção e outro terço tem períodos irregulares que duram mais de 11 dias por mês. Quanto mais se utilizar este processo, mais pacientes deixam de ter período menstrual, mas é menos irregular. Depois de utilizar este método durante 2 anos, cerca de 70 % já não têm mais períodos menstruais. Quando se interrompem as injecções, em cerca de metade dos casos repete-se o ciclo menstrual regular num lapso de 6 meses, e em cerca de três quartos, no decorrer de 1 ano.
Como o fármaco tem efeitos duradouros, pode acontecer levar 1 ano, depois da interrupção das injecções, até que se recupere a fertilidade, embora a medroxiprogesterona não provoque uma esterilidade permanente. O fármaco pode provocar um ligeiro aumento de peso e um adelgaçamento transitório dos ossos (osteoporose), embora estes recuperem a sua densidade normal quando se interrompe o tratamento. A medroxiprogesterona não aumenta o risco de cancro, incluindo o da mama, e reduz em grande parte o risco de desenvolver cancro do útero. As interacções com outros fármacos são pouco frequentes e as contra-indicações são semelhantes às dos contraceptivos orais.
Dispositivos intra-uterinos
Estes dispositivos são muito eficazes e têm algumas vantagens em comparação com os contraceptivos orais: os efeitos secundários limitam-se ao interior do útero e o tipo a colocar depende da decisão da paciente sobre se deseja controlar a natalidade durante 1 ou 10 anos. Actualmente existem dois tipos de dispositivo. Um deles liberta progesterona e deve ser substituído todos os anos. O outro, que liberta cobre, é eficaz durante pelo menos 10 anos.
Apesar de, geralmente, o dispositivo se colocar dentro do útero durante a menstruação, na realidade pode ser colocado em qualquer momento do ciclo menstrual, sempre que a mulher não esteja grávida. Se existir a possibilidade de o colo uterino estar infectado, adia-se a sua colocação até que se tenha tratado a infecção.
O mecanismo pelo qual o dispositivo intra-uterino evita a concepção é uma reacção inflamatória dentro do útero, que atrai os glóbulos brancos. As substâncias produzidas pelos glóbulos brancos são tóxicas (venenosas) para o esperma e, consequentemente, evitam a fertilização do óvulo. Quando se retira o dispositivo, desaparece a reacção inflamatória.
A possibilidade de conseguir uma gravidez durante o primeiro ano depois da extracção do dispositivo intra-uterino é a mesma que depois de interromper o uso de preservativos ou de diafragmas. Após um período de 1 ano, 80 % a 90 % das mulheres que tentam conceber consegue-o.
Dispositivos intra-uterinos
Os dispositivos intra-uterinos (DIU) são inseridos por um médico dentro do útero da mulher, através da vagina e são feitos de plástico moldado. Uma das suas variedades liberta cobre a partir de um arame de cobre que se encontra à volta da sua base. A outra liberta progesterona.
Normalmente têm um fio de plástico para que a mulher possa verificar que o dispositivo continua colocado.
Efeitos adversos e complicações
A hemorragia e a dor são as principais razões pelas quais devem ser retirados os dispositivos intra-uterinos e representam mais de metade de todas as extracções feitas antes de tempo. Cerca de 15 % das mulheres pedem que lhes tirem os dispositivos durante o primeiro ano e 7 %, durante o segundo ano. A extracção, tal como a colocação, deverá ser feita por um médico ou por uma enfermeira.
Por vezes, o dispositivo intra-uterino é expulso. O índice de expulsão é de cerca de 10 % durante o primeiro ano depois da sua colocação e costuma acontecer durante os primeiros meses. O índice é maior entre as mulheres mais jovens e naquelas que nunca tiveram filhos. Geralmente, ata-se um fio ao dispositivo para que, de vez em quando, se possa comprovar o seu estado, especialmente depois da menstruação, para se ter a certeza de que o dispositivo ainda se encontra no seu lugar. Se a mulher não conseguir encontrar o fio, deverá usar outro método contraceptivo, a não ser que possa ir ao médico para confirmar se o dispositivo está bem colocado. Se for colocado um novo dispositivo intra-uterino depois da expulsão de outro, é provável que este último se mantenha no seu lugar. Cerca de 20 % das expulsões passam despercebidas e, portanto, a mulher poderá engravidar.
A perfuração do útero é uma complicação pouco comum, mas potencialmente grave, que pode ocorrer durante a colocação do dispositivo. O risco é de cerca de 1 em cada 1000 inserções. Em geral, a perfuração por si só não provoca sintomas; descobre-se quando a mulher não consegue encontrar o fio de plástico e se localiza o dispositivo intra-uterino graças a uma ecografia ou a uma radiografia. Um dispositivo que perfura o útero e que acaba na cavidade abdominal deve ser extraído para evitar que provoque lesões no intestino e cicatrizes.
No momento da colocação, o útero infecta-se ligeiramente, mas esta infecção desaparece em 24 horas. As infecções uterinas ou das estruturas circundantes que começam 30 dias ou mais depois de o dispositivo ter sido colocado costumam ser em virtude de transmissão sexual e não uma consequência da inserção do dispositivo. A não ser que a infecção seja grave ou que a mulher esteja grávida, o tratamento faz-se sem extrair o dispositivo intra-uterino. A inflamação pélvica (infecção das trompas de Falópio) (Ver secção 22, capítulo 234) não é mais frequente entre as mulheres que usam dispositivos intra-uterinos do que nas que não os usam. O risco de contrair infecções do útero ou das estruturas circundantes é mais elevado no caso de ter havido inflamação pélvica ou se a mulher tiver vários parceiros sexuais, pelo que deverá utilizar um preservativo ou diafragma durante o coito, pois um dispositivo intra-uterino não oferece protecção contra as infecções.
O risco de aborto (espontâneo) é de cerca de 55 % nas mulheres que engravidam depois da colocação de um dispositivo intra-uterino. Se uma mulher desejar continuar a gravidez e o fio do dispositivo estiver visível, o médico extrai o referido dispositivo para reduzir o risco de aborto espontâneo. As mulheres que engravidam com um dispositivo intra-uterino colocado, têm 3 a 9 % de possibilidades de terem uma gravidez tubária, ou seja, 10 vezes mais do que o habitual.
fonte:http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D267%26cn%3D1737
um abraço!
2007-03-05 14:22:12
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answer #3
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answered by Gregorio 7
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