Em janeiro de 1544, na sacristia da Igreja paroquial de Wittemberg, sob a presidência do dr. Martim Lutero, numerosa assistência reunira-se ao redor duma jovem de dezoito anos – uma histérica sem dúvida (sic) – que o diabo dominara. Começaram rezando preces comuns, mas a moça não se dava conta de nada. Visivelmente o diabo zombava dos espectadores e das preces que dirigiam a Deus. Então Lutero, possuído de cólera, deu na jovem, isto é, no demônio, um grande pontapé; depois se apressou em ganhar a porta, prevendo, sem dúvida, que o diabo, que rira das preces dirigidas a Deus, acharia menos engraçado o pontapé que lhe acabava de dar. De fato, a moça lançou-se em perseguição do dr. Martim que fugira. Maldição! O ferrolho, que fechava a porta, tinha caído automaticamente e a chave não girava mais. Que fazer? O dr. Martim, fora de si, corria daqui para ali, a jovem, o que vale dizer o diabo, uivando no seu encalço. (...) Enfim o bedel da igreja passou um machado por uma vidraça quebrada; podendo-se então arrombar a porta e libertar o exorcitador.” (Brentano: 96)
Grisar narra o mesmo episódio em termos semelhantes, e como Brentano, lembra que posteriormente disseram a Lutero que o diabo abandonou a menina, talvez para consolar o exorcista fracassado. (Grisar: 493)
De novo este Lutero nada tem comum com o padre que se inclina para amparar a vacilante menina deficiente que se equilibra em muletas precárias.
Devido a seu temperamento explosivo, Lutero por diversas vezes não conseguia se controlar, passando de todos os limites e esbravejando desesperadamente:
“Se eu não posso mais rezar, ao menos poderei maldizer. Não direi mais: “Santificado seja o teu nome...”; mas “Que seja maldito, emporcalhado, danado, o nome dos papistas!” Não direi mais: “Venha a nós o teu reino... Repetirei: “Que o papado seja maldito, danado, aniquilado... Sim, é assim que eu rezo todos os dias, do fundo do coração.” (Brentano: 194
2007-02-19
03:56:13
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Maria Wangler
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Sociedade e Cultura
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