O diálogo com Carlstadt é apenas mais uma idealização de Lutero, passando a idéia de que o rebelde era imbatível nos debates e que a Igreja só possuía ignorantes e sofistas.
É por isso que o filme Lutero não mostra a Disputa de Leipzig, pois seria difícil conciliar a imagem superior de Lutero com a derrota na disputa com o teólogo Católico John Eck, que conseguiu encurralar o revolucionário alemão para que negasse toda autoridade da Igreja (Papa e Concílios) e mostrar-se verdadeiramente um herege. (Grisar: 115-116)
Nessa famosa disputa, Eck fez Lutero negar os livros que na Bíblia defendem o Purgatório, fundamento das indulgências que Lutero atacava.
Eck venceu de tal modo a disputa, que como conseqüência o Duque George da Saxônia firmou posição definitiva a favor da Igreja, e as universidades de Colônia e Louvain condenaram as doutrinas heréticas de Lutero. (Llorca: 671)
O fato relevante é que as universidades haviam sido invocadas como árbitros da disputa, e seu veredicto então deveria ser aceito pelos participantes. As universidades de Paris e Erfurt também irão condenar Lutero, embora mais tarde (Llorca: 671)
Mais curioso ainda é que Lutero havia dito no começo que aceitaria as sentenças das universidades. Quando Colônia e Louvain rejeitaram várias de suas proposições, Lutero escreveu uma Responsio, onde pretendia mostrar “a vaidade e nulidade de tais veredictos acadêmicos em geral.” Dizia ainda, em linguagem que lhe era própria:
“Até que eles o refutem, (...) considera as condenações como se fossem imprecações de uma meretriz bêbada (sic!). Os professores de Louvain e Colônia são caracterizados como “asnos” em carta a Spalatin.” (Grisar: 149)
Embora tenha perdido a disputa de Leipzig, Lutero é quem contará a versão oficial na Alemanha, graças à intensa máquina de propaganda que acompanhou toda Reforma.
Humanistas – como Crotus Rubeanus, Filipe Melanchthon e Justus Jonas, com a bênção de Erasmo - e os hussitas cerrarão fileiras com Lutero, e o apoiarão decisivamente, divulgando suas idéias e mesmo protegendo-o do imperador e do Papa. (Grisar: 116-117)
As elites alemãs suportaram o jovem e impetuoso rebelde.
Como sempre acontece nas revoltas populares...
2007-02-19
02:42:19
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perguntado por
Anonymous
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Sociedade e Cultura
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