Olá Pisty,
Acho muito oportuna a sua pergunta...
Favorece uma ampla reflexão.
No meu entendimento...
A interferência de Deus, por não se mostrar patente e incontestável diante dos olhos de todos, havendo inclusive quem se manifeste ateu, desacreditando da existência de Deus, será compreendida sempre no âmbito pessoal, de acordo com a cultura, crença, experiência e fé de cada um.
Assim, vejo a interferência de Deus como um mistério, apenas compreensível no âmbito da fé ou da experiência pessoal direta.
Nas religiões orientais, o Divino e o Sagrado assinalam um caminho dado aos homens em busca da sabedoria e do correto proceder, levando as pessoas a procurar distinguir, cada vez mais, o real do que é ilusório, visando a Iluminação do ser, onde o Relativo entra em sintonia e harmonia com o Absoluto, encontrando a Verdade, a Luz, a Paz e a Plenitude.
A Dor é fruto da Ilusão, que somente cessa pelo encontro com a Verdade, a Luz, o Absoluto.
Deus é expresso como a Verdade, assinalando o caminho ao Auto-conhecimento, que elimina a dor, o carma e a ilusão, permitindo ao homem a união com o Real.
O livre-arbítrio é exercido de forma a permitir ou não este encontro, colhendo-se os frutos desta escolha sem uma maior interveniência, neste contexto, da vontade ou da soberania de Deus.
Ou seja, neste enfoque, o livre-arbítrio se manifesta absoluto em todo o processo, desde a escolha de alguém como nos desdobramentos dos fatos e suas consequências finais, não estando estas condições subjugadas à vontade ou soberania de Deus que se mostra impessoal e não interfere sobre as escolhas.
Nas religiões ocidentais, onde a Bíblia no todo ou em parte referenciam as bases, tanto do Judaismo como do Cristianismo, percebo que o livre-arbítrio do homem não alcança esta mesma envergadura, pois apenas referencia o propósito de alguém servir a Deus conscientemente, através da obediência, ou inconscientemente, por desconsideração ou desobediência.
Seu poder e soberania vão muito além da alçada humana, abarcando todo o universo visível e invisível, ontém, hoje e sempre.
Neste contexto, a questão pessoal do livre-arbítrio referencia apenas o direito de alguém escolher entre o Bem ou Mal, o Profano ou o Sagrado, a Obediência ou a Desobediência.
Qualquer que seja o propósito de alguém, em obediência ou não, Deus exerce sempre a condição de soberania, reinando sobre justos e injustos.
Ou seja, o fato de alguém ter livre-arbítrio não torna esta pessoa imune à ação e intervenção direta de Deus em sua vida, tanto a favor dos seus intentos quanto contra eles.
As pragas, as boas ou más colheitas, a fome, a doença, o salvamento ou a destruição sempre ocorreram subordinados à vontade e aos desígnios divinos, tanto no Novo quanto no Velho Testamento, atingindo os homens, independentemente de ser esta a sua intenção ou os frutos esperados do exercício do seu livre-arbítrio.
Ele faz nascer o sol e chover sobre justos e injustos, pode fazer livrar ou perecer, pois sua Vontade é soberana, não sendo subjugada ou impedida pelo livre arbítrio das pessoas.
Nenhuma decisão pessoal se sustenta sem a vontade ou permissão divina.
Desta forma, nada que os homens façam ou deixem de fazer pode alcançar sustentação independente da vontade de Deus.
No Salmo 127,1 lemos:
1 - Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
Em Tiago 4, 13-15 lemos:
13 Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos;
14 Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.
15 Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo.
Em Mateus 10,29 Jesus fala aos discípulos da supremacia da vontade de Deus sobre tudo, mesmo dos homens que davam pouco valor aos pássaros vendidos na entrada do templo:
29 Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
Em Provérbios 21,31 lemos:
31 Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, porém do Senhor vem a vitória.
No livro de Atos 12, 5-11 é relatado um incrível livramento que ocorre independente da vontade e das ações geradas pelo livre-arbítrio das pessoas que prenderam o Apóstolo Pedro, onde lemos:
5 Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus.
6 E quando Herodes estava para o fazer comparecer, nessa mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, ligado com duas cadeias, e os guardas diante da porta guardavam a prisão.
7 E eis que sobreveio o anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a Pedro na ilharga, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos as cadeias.
8 E disse-lhe o anjo: Cinge-te, e ata as tuas alparcas. E ele assim o fez. Disse-lhe mais: Lança às costas a tua capa, e segue-me.
9 E, saindo, o seguia. E não sabia que era real o que estava sendo feito pelo anjo, mas cuidava que via alguma visão.
10 E, quando passaram a primeira e segunda guarda, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua, e logo o anjo se apartou dele.
11 E Pedro, tornando a si, disse: Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo, e me livrou da mão de Herodes, e de tudo o que o povo dos judeus esperava.
Neste enfoque, entendo que o livre-arbítrio não torna ninguém imune e independente da ação direta de Deus em sua vida, tanto de forma favorável quanto desfavorável, conforme obedeça ou não a Ele, pois os desígnios de Deus prevalecem.
Outros exemplos:
Com o Mar Vermelho aberto, os soldados do Faraó que perseguiam os judeus foram tragados pela água.
Deus interferiu em suas vidas e destino sem a solicitação deles, pois se os ouvisse, com certeza, ninguém gostaria de perecer afogado.
Da mesma forma, na morte dos primogênitos do Egito, em nenhum momento o livre-arbítrio pessoal escapou das consequências dos desígnios superiores.
Ou seja, o livre-arbítrio não confere a ninguém total autonomia ou isenção da intervenção divina sobre os seus atos nem sobre os resultados colhidos pelas opções tomadas.
Este é o entendimento que pude obter em minhas reflexões.
Não sou o Dono da Verdade, registro apenas o que pude compreender até o momento.
Um grande abraço !!!
2007-02-04 12:32:12
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answer #1
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answered by Peregrino 6
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