Mapa da mina para
mães e pais angustiados
MÁRCIA DETONI
da Folha de S.Paulo
"Em que escola colocar o meu filho? Devo optar por uma mais tradicional, já que a educação em casa é liberal? Ou procurar a que prioriza o conteúdo, já que o mercado de trabalho não está brincadeira? Se bem que dizem que uma escola perto de casa é melhor!" É difícil encontrar pais que não passaram ou não vão passar por angústias desse tipo, seja na escolha da escola que a criança vai frequentar ainda de fraldas ou do colégio de ensino fundamental.
Para começar, desista de encontrar a melhor escola -ou a escola mais "forte", como dizem alguns. Os especialistas simplesmente garantem que ela não existe. "O que existe são escolas que priorizam o conteúdo e escolas que privilegiam as atividades que estimulam a curiosidade, o gosto pelo saber, a cidadania e o pensamento autônomo", diz a psicopedagoga Glaura Fernandes. Mas todas têm de cumprir o currículo mínimo determinado pelas políticas educacionais do país.
"E qual das duas linhas é a melhor?", perguntaria alguns dos pais angustiados. A psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão diz que, para encontrar o melhor caminho, os pais devem fazer outra pergunta a si mesmos: "Como eu gostaria que meu filho fosse educado?".
Do ponto de vista prático, os pais devem, primeiro, visitar a escola e questionar amplamente a sua proposta pedagógica (leia na página 13 uma relação de critérios básicos a serem observados na pré-escola e no ensino médio e fundamental). Depois, é preciso analisar se a linha da escola é adequada aos valores da sua família e também ao temperamento da criança, diz Sayão.
A tendência atual da escola, segundo o professor da Faculdade de Educação da USP Julio Groppa Aquino, é preparar o aluno para a vida, e não para o mercado de trabalho. Ele adverte que escolas muito preocupadas com o conteúdo acabam estressando a criança com excesso de informação e tarefas só para que o pai sinta que o filho está pronto para o mercado de trabalho.
"Isso não faz sentido. O aprendizado tem de ser lento, não é preciso ter pressa. É melhor que a criança saiba pouco, mas bem, do que saiba muito, mas mal", diz Aquino, acrescentando que o ensino voltado para o vestibular "só imbeciliza a criança".
O professor Sylvio Gomide, presidente do Grupo (associação que reúne 44 escolas particulares da capital paulista), observa que o próprio vestibular está começando a mudar e que muitas universidades, como a USP e a Unicamp, já estão avaliando a capacidade crítica e a autonomia de pensamento do vestibulando.
"A tendência hoje é investir cada vez mais em formação. Com tantos meios disponíveis, as crianças recebem muita informação fora da sala de aula. Quando o professor vai abordar um assunto, o aluno já teve contato com ele na internet ou em outro lugar", comenta.
Questões como cidadania e ética, segundo Gomide, também recebem atenção nas escolas particulares elitizadas (o preço médio da mensalidade nas escolas do Grupo é R$ 550). "Não era assim antes dos anos 80, mas, de uns tempos para cá, virou preocupação constante da escola particular fazer com que as crianças de famílias com mais dinheiro estejam "plugadas" na realidade do país", afirma.
Mas essa opinião tão categórica dos especialistas não é facilmente assimilada pelos pais, mesmo por aqueles que, no início da vida escolar dos filhos, optaram pelo método mais atual.
Ao escolher a pré-escola dos filhos, Jonas, 5, e Theo, 2, a economista Gládis Ribeiro e o marido tinham claro o que queriam para filhos: uma escola que desenvolvesse a curiosidade e estimulasse o amor pelo conhecimento. O casal optou pela Escola Viva, localizada no bairro Vila Olímpia, na zona sudoeste de São Paulo, cuja linha pedagógica, segundo Gládis, prioriza o aprendizado através das artes e de vivências do cotidiano.
Apesar de gostar do método moderno usado na educação de seus filhos, ela ainda não decidiu se vai manter as crianças na mesma escola quando chegarem ao ensino fundamental. Não foi uma boa escolha? "É impossível um pai estar 100% satisfeito porque sempre há dúvidas", diz ela. "A linha pedagógica é mais experimental, e não sei se eles vão conseguir competir com alunos das escolas tradicionais, que recebem mais conteúdo", comenta.
As dúvidas de Gládis sobre o peso do conteúdo na formação escolar são as mesmas de muitos pais educados pelos métodos pedagógicos de 30 anos atrás, que tiveram de decorar muitas fórmulas e conceitos para passar no vestibular e seguir uma carreira.
Seja qual for a opção de escola, preste muita atenção à reação de seu filho, ele é um termômetro valioso. Se estiver feliz e interessado em aprender, é um sinal de que a escolha foi boa. Se estiver desanimado e com rendimento escolar baixo, converse com os professores e orientadores pedagógicos dele, diz Fernandes.
Isso não significa que conflitos na escola são motivo para mudança. "Nem sempre é necessário mudar de escola. Às vezes, a criança está muito cansada, e é preciso apenas recuar na carga horária", diz Fernandes. Outras vezes, o problema pode ser solucionado com a ajuda de um orientador ou de um psicólogo.
O publicitário Paulo Labriola, 43, percebeu que seu filho, Pedro, 10, um garoto introspectivo e com boas notas, estava tendo dificuldades no relacionamento com os colegas. Labriola conversou com os orientadores da escola Vera Cruz, no bairro Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, e chegou à conclusão de que mudar não seria a solução.
"Tenho amigos que já tiveram problemas e foram mudando de escola até encontrar a que se encaixava, mas não era o caso. Pedro, por ser filho único, não tinha treino de relacionamento", comenta. Pedro teve sessões de terapia e hoje está contente.
Mas, se o aluno em questão é um adolescente e a idéia de trocar de escola o agrada, a medida é positiva, porque trará novos conhecimentos e oportunidades. A criança não precisa, necessariamente, frequentar a mesma escola do fundamental ao ensino médio, diz Fernandes.
Se, durante o processo de escolha da escola, é aconselhável que os pais promovam um amplo questionamento a respeito dos métodos da instituição, após tomada a decisão, eles devem delegar. É um erro bastante comum atravessar o ano letivo discutindo com a escola os procedimentos dos professores no dia-a-dia. Feita a matrícula, dê o necessário voto de confiança.
Lembre sempre também que a escola é responsável apenas por uma parte da formação da criança. "Quem educa o filho é o pai", salienta Sayão.
2007-01-29 07:58:48
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answer #4
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answered by KKzinha 6
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