Pode Um Cientista Também Ser Cristão?
Benjamin L. Clausen
Foi ele o primeiro a usar o telescópio para estudar o firmamento. Foi ele o primeiro a descobrir as luas de Júpiter, o primeiro a falar das manchas no Sol, o primeiro a reconhecer que a Via Láctea é composta de miríades de estrelas e a sugerir que a Lua é montanhosa. Foi ele também um dos primeiros a dizer que Ptolomeu estava enganado e que Copérnico tinha razão. A Terra girava em volta do Sol, e não o contrário.
Estas declarações fizeram com que Galileu Galilei (1564-1642), um dos fundadores da ciência experimental moderna, entrasse em conflito com a igreja. Os jesuítas viram em seus ensinos as piores conseqüências para a igreja de Roma. O velho cientista foi julgado e obrigado a retratar-se. Ele o fez, mas dizem que ele murmurou: "Mas a Terra se move." Mais de 350 anos mais tarde, em 1992, o papa João Paulo II afirmou que erros foram cometidos na condenação de Galileu.
O caso de Galileu é talvez a maior ilustração da tensão entre a ciência e a religião. Houve outros casos desde então, mas onde quer que se discuta ciência e cristianismo, guerra e conflito vêm à tona. Andrew Dickson White até publicou A History of the Warfare of Science With Theology in Christendom em 1896.
A ciência numa cultura cristã
Embora tensão caracterize a relação entre o cristianismo e a religião, ela é por vezes exagerada. Com efeito, como alguns historiadores da ciência têm argüido, a ciência moderna só poderia desenvolver-se numa cultura cristã.1 Os cristãos crêem num Deus pessoal, que é independente de Sua criação. Para o animismo ou o panteísmo, contudo, a natureza é deus -- não inteiramente pessoal, mas mais do que a matéria inanimada governada por leis abstratas. Examinar seus segredos seria uma tarefa arriscada.
Os cristãos crêem num Deus todo-poderoso que criou ex nihilo e que controla a natureza. Deus tinha a liberdade de criar do modo que quisesse, e como Seus caminhos não são os nossos, nossa lógica provavelmente seja insuficiente para compreender a natureza. Precisamos observar e experimentar para descobrir como Deus criou. O poder de Deus sobre a criação é partilhado com a humanidade (Gênesis 1:28); assim espera-se que estudemos a natureza. Em contraste, outras tradições têm uma concepção imprecisa e irracional do mundo. Por exemplo, no sistema grego, a atividade criadora de Deus era limitada àquilo que o homem podia deduzir de princípios gerais; não havia necessidade de experimentar.
Os cristãos criam num Deus bom. Sua criação é boa e digna de estudo. Conseqüentemente, a ciência devia ser usada para benefício da humanidade, aliviando a labuta e o tédio, e minorando a enfermidade por várias descobertas. O tempo é linear e a vida pode ser melhorada. Isto está em contraste com outros sistemas que encaram o mundo como imperfeito e indigno de estudo acurado. Trabalho manual, mesmo o necessário para a descoberta científica, não era digno de respeito. O tempo era cíclico e a vida uma ronda rotineira.
Os cristãos crêem num Deus racional cuja criação é predizível, governada por leis. O homem foi criado como um ser racional e pode descobrir essas leis. A natureza arbitrária dos deuses de outras religiões faria com que o estudo da relação de causas e efeitos naturais parecesse fútil.
Dentro deste contexto de uma filosofia cristã que promove o estudo da criação divina, não há necessidade de conflito entre empreendimentos cristãos genuínos e pesquisa científica. Consideremos alguns dos grandes cientistas do passado e do presente, que também eram cristãos devotos.
Isaac Newton
Isaac Newton (1642-1727) é o exemplo de um cientista preeminente, que era também um crente devoto.2 Ele desenvolveu teorias sobre a natureza da luz e da gravitação universal, e teve parte na invenção do cálculo. Uma evidência interessante da experiência religiosa de Newton é a lista de 50 pecados do passado que ele preparou em 1662, tais como: ameaçando de queimar a casa dos Smith, esmurrando a irmã; xingando Dorothy Rose; tendo palavras e pensamentos impuros, trabalhando domingo à noite, tomando banho no domingo, não se achegando a Deus, não temendo a Deus de modo a não ofendê-Lo.
Segundo John Locke, Newton tinha poucos rivais no conhecimento das Escrituras. Newton organizava esse conhecimento metodicamente e estabeleceu regras definidas para a interpretação da Bíblia. Newton cria ser parte de um remanescente escolhido por Deus para restaurar a interpretação da Bíblia. Escreveu livros sobre as profecias e a cronologia da Bíblia. Cria que esses textos antigos forneciam informação científica, incluindo a descrição de uma criação recente e de destruições catastróficas. Desconhecia-se até este século que Newton mantinha crenças arianas que o levaram a considerar a adoração de Cristo como idolatria. Por causa de suas idéias não ortodoxas ele recusou ser membro de uma ordem religiosa em Cambridge e arriscou perder seu professorado.
O tratado Principia foi a síntese newtoniana de uma nova visão científica do mundo. Em seu comentário à edição de 1713, ele afirma que seu propósito foi estabelecer a existência de Deus, combater o ateísmo e desafiar uma explicação mecânica da operação do Universo. Quando Richard Bentley deu a primeira da série de palestras instituídas por Robert Boyle para a defesa da religião, ele se apoiou na obra de Newton. Newton cria que o Universo exigia um Criador inteligente, e que ele é governado por leis naturais instituídas por Deus e preservadas por atos sobrenaturais da providência especial.
2007-01-09
22:27:13
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