De facto, na Parte Segunda desta obra, diz o autor que só aos Adeptos, que são, e forem, perfeitos, e justos concederá Deus esta grande ciência; porque a sabedoria não entra no entendimento dos homens maus, nem preservera no corpo dos pecadores9 . Por isso mesmo, Deus remunera esses homens – sejam eles cristãos, ou não, como o gentio Hermes, o mouro Geber e o hereje Paracelso10 – com as utilidades da Crisopeia, e outros bens temporais, para satisfazer os seus merecimentos, pois se eles não tiveram estas virtudes, não os remuneraria Deus com estes prémios11 . Anselmo Caetano continua a enumerar, pela voz de Enodato – que dialoga “hermeticamente” com Enódio – as outras qualidades do Filósofo Hermético, o qual, segundo ele, Há-de ser homem de claro entendimento, profundo juÃzo, subtil discurso, grande compreensão, e bom engenho; e porque isto só não basta, deve ser também perito na lÃngua latina, consuma-do na Filosofia, inteligente na Matemática, e versado na lição dos livros QuÃmicos, para que o estudo aperfeiçoe o entendimento, e o entendimento ilustrado alcance grandes segredos com a subtileza do juÃzo, e os reduza à prática com o bom engenho. Além de todas estas qualidades há de ter indústria, constância riqueza, prudência, sossego, paciência e segredo porque (…) em nenhuma coisa devem os Adeptos ser mais acautelados, do que em ocultarem os segredos com que obram12 .
E mesmo na justificação do segredo alquimico, nunca Anselmo Caetano evoca razões iniciáticas ou mÃsticas – tais como as que são explicitadas hoje pelos cultores da moderna alquimia operativa, mesmo que operativamente tradicional13 – antes enumera razões que têm a ver com a dificuldade das operações - a razão deste misterioso segredo é, porque as operações da Arte Magna são muito dificultosas, e não podem os homens explicar-se com palavras, quando as coisas são muito difÃceis14 - e outras que têm a ver com questões de preservação do segredo por motivo de segurança de todos – para que ficando estas operações duvidosas, não sejam inquiridas, nem averiguadas por homens ignorantes, e malignos, que executem com elas grandes maldades (…) para que os Herméticos inventores, e descobridores deste segredo não ficassem obrigados a satisfazer os danos, que causariam ao Mundo todos aqueles Tiranos, e Poderosos, que abusassem de tão ambiciosa potência, e tirania15 . DaÃ, ainda, a necessidade (devido à natureza dificultosa do assunto e devido à conveniência de protecção da Obra) de uma linguagem crÃptica, de natureza simbólica: se os Adeptos não a descrevessem com enigmas, e metáforas, e sonhos, e fábulas, poderia ser conhecida a matéria da Crisopeia, e preparada a Pedra Filosofal pelos rústicos, e ignorantes16 . Note-se que aqui, Anselmo Caetano invoca uma razão utilitária (e não iniciática) para a utilização so simbolismo: o afastamento dos (perigosos) ignorantes. No entanto, ele refere ainda uma razão última para a manutenção do segredo – mesmo para os que têm condições para encetar a Obra – e que consiste na exigência do esforço individual nesta via operativa. Mas para aqueles que, hoje, verão facilmente aqui uma indicação de tipo iniciático, o autor de ENNOEA menciona com singeleza a necesidade de que o Adepto tenha em grande apreço a sua Obra: Bem sabeis, que vos não posso revelar a matéria da Pedra Filosofal, senão em segredo; e para o segurar mais, quero que vos custe algum trabalho, porque os homens não estimam senão aquilo, que pelo seu trabalho adquiram17 .
2006-12-15 06:20:06
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answer #2
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answered by JESUS TE AMA 7
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