03/12/2006
Estudo propõe que os cristãos reneguem o Antigo Testamento
Adilson Camargo
“De tudo o que eu li na minha vida, o Antigo Testamento é o livro com mais violência, corrupção, desonestidade e traição. E tudo feito em nome de Deus.” Depois de cinco anos debruçada sobre os 46 livros do Antigo Testamento, incluindo os chamados livros apócrifos, essa foi a conclusão a que chegou a professora de literatura Mariza Bianconcini Teixeira Mendes.
Na opinião dela, o Antigo Testamento deveria ser renegado pelos cristãos. “Não é possível aceitar um Deus como aquele”, afirma Mariza. O estudo do Antigo Testamento foi a base para a dissertação de mestrado da professora.
Intitulado “No princípio era o poder”, a dissertação faz uma análise semiótica das paixões no discurso do Antigo Testamento. Mariza revela que nunca aceitou muito bem os dogmas impostos pela religião. Até por isso decidiu estudar nos mínimos detalhes os livros mais antigos da Bíblia.
Talvez até levada pela vontade de se convencer de que todos os mitos criados pela Igreja são verdadeiros “absurdos”. “Sempre tive um pé atrás com essa história (dos dogmas)”, conta ela.
Um dos “mitos” que Mariza contesta em seu estudo é que o Deus dos cristãos é um “Deus de amor”. Na avaliação dela, isso não corresponde à realidade, pelo menos no que se refere ao Deus do Antigo Testamento, que ela classifica como “cruel e vingativo”. Segundo ela, os livros mais antigos da Bíblia se resumem a uma única preocupação. “É a história pela disputa de poder”. E nessa disputa, de acordo com a professora, valia de tudo.
Mariza acredita que talvez por isso a Igreja Católica nunca tenha incentivado a leitura do Antigo Testamento. Ela fala com o conhecimento de quem seguiu o catolicismo quando adolescente. Mariza chegou inclusive muito perto de se tornar “filha de Maria” e hoje relembra com indignação os “absurdos”, segundo ela, que eram ensinados.
“Acreditar em virgem Maria é o mesmo que acreditar em contos de fadas”, ataca ela. A professora comenta que antes de iniciar o estudo da Bíblia, leu o livro “O poder do mito”, de Joseph Campbell. “Esse livro me ajudou a ver muito dos mitos cristãos”, diz ela.
Mariza chegou a recorrer a livros de história para ver se algum deles fazia referência a acontecimentos que são relatados na Bíblia. Segundo ela, nada foi encontrado. “A Bíblia é um discurso passional (produzido pela paixão), que esqueceu toda a lógica da vida”, afirma.
Ela diz que sempre duvidou dos acontecimentos bíblicos, e muita gente também duvida, mas é difícil alguém questionar isso de uma forma aberta. “(Os ensinamentos da Bíblia) é uma coisa muito forte, que está entranhada nas pessoas. Se alguém questiona, sente como se estivesse pecando”, diz a professora para emendar em seguida.”
Segundo Mariza, a semiótica, usada por ela para analisar o discurso religioso, ensina que não existe a verdade verdadeira. “Toda verdade é relativa. Depende do ponto de vista de quem conta.”
Como exemplo dessa “verdade”, a professora se arrisca a afirmar que os cristãos perderam todas as guerras narradas na Bíblia. Mas como foram “os derrotados” que contaram a história das batalhas, a verdade que prevaleceu foi a verdade dos cristãos.
Assim que a dissertação ficou pronta, Mariza conta que foi como se tivesse conquistado sua libertação. “Eu consegui pôr para fora todos os meus demônios”, diz ela demonstrando alívio por poder expressar seus pensamentos. Algo que tinha vontade desde que deixou de ser uma aspirante a “filha de Maria”.
Defesa
“Em toda a história da humanidade, o que mais se viu foram pessoas lutando contra a fé cristã. Mesmo assim, antes de diminuir, ela só aumentou”, afirma o pastor Edson Valentin, diretor do Conselho de Pastores Evangélicos de Bauru.
Segundo ele, muitos estudiosos têm tentado de diversas formas desqualificar os ensinamentos da Bíblia. “Eles usam argumentos humanistas para explicar coisas espirituais”, diz. Valentin não concorda com a afirmação de que o Deus do Antigo Testamento é um Deus cruel e vingativo. Na opinião dele, trata-se do mesmo Deus que deu a maior prova de amor pela humanidade ao entregar Jesus, seu filho, para morrer pelos pecadores.
Ainda segundo o pastor, quem lê o Antigo Testamento é capaz de perceber que esse “Deus de amor é também um Deus de justiça”. O monsenhor Almir Cogiola disse que a Diocese de Bauru não faria nenhum comentário sobre as conclusões da professora Mariza em sua dissertação de mestrado sobre o Antigo Testamento. Segundo ele, a Igreja prefere aguardar a publicação da matéria para depois decidir se contesta ou não qualquer declaração contra a Bíblia e a fé cristã.
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O livro mais lido
O Antigo Testamento conta a história do povo de Israel entre 1800 e 500 anos antes de Cristo. O livro pode ser classificado em cinco grupos distintos: a lei, os livros históricos, os livros poéticos, os profetas e os livros Deuteronômicos. Ele foi redigido em dez séculos, não sendo assim obra de um único autor, mas de uma imensa gama de escritores, na maior parte anônimos.
Nesta epopéia religiosa, anterior à invenção da escrita, transmitida oralmente de pai para filho, há milênios, há estilos bastante diversificados: narrativas históricas, como o Livro dos Reis; contos, como Jonas; poemas, como em Cântico dos Cânticos; orações, como os Salmos; ensinamentos, como Provérbios. A ordem de classificação dos textos bíblicos não corresponde à ordem cronológica em que foram escritos.
Já o Novo Testamento foi escrito pelos primeiros cristãos e relata a vida de Jesus e das primeiras comunidades cristãs. É composto por 27 livros, que foram escritos em grego entre os anos 51 e 100 da era cristã. O Novo Testamento está traduzido em 459 línguas e vende mais de 15 milhões de exemplares por ano.http://www.jcnet.com.br/editorias/detalhe_geral.php?codigo=92120
2006-12-03
21:25:55
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Anonymous
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