O ADVENTO DO MESIAS.
A palavra “messias” em hebraico significa o ungido, significando
especialmente o rei. Os israelitas acreditavam na palavra de Deus que Ele haveria de enviar-lhes um rei ou Messias para salvá-los; esta era a expectativa messiânica dos israelitas. Neste sentido, Jesus Cristo veio como o Messias, sendo que “Cristo” significa “Messias” na língua helênica.
O Messias deve vir para que a finalidade da providência de salvação de Deus possa ser realizada. O homem necessita de salvação por causa da queda humana. Por isto, devemos compreender as questões da queda humana a fim de resolver os problemas da salvação. “Queda” significa que a finalidade da criação de Deus foi deixada irrealizada, de forma que devemos primeiro elucidar a finalidade da criação, antes de estudar as questões da queda humana.
A finalidade da criação de Deus devia ser realizada com o
estabelecimento do Reino do Céu na Terra. Devido à queda do homem, um inferno terreno foi produzido, ao invés do Reino do Céu na Terra. A partir de então, Deus tem continuado Sua providência de restaurar o Reino do Céu na Terra. Conseqüentemente, a finalidade do esforço humano é restaurar o Reino do Céu na Terra.
A PROVIDENCIA DA SALVAÇÃO ATRAVÉS DA CRUZ
1. A FINALIDADE DA VINDA DE JESUS COMO O MESSIAS
A finalidade da vinda de Jesus como Messias era realizar a providência da restauração; sua vinda era principalmente para salvar os homens decaídos. Conseqüentemente, o Reino do Céu na Terra devia ter sido estabelecido por Jesus. Podemos ver isto até mesmo pelo que Jesus disse aos seus discípulos: “Sede vós perfeitos como é perfeito o vosso Pai que
está nos céus” (Mt 5.48). De acordo com o Princípio da Criação, o homem que tiver realizado a finalidade da criação se torna um só corpo com Deus, possui deidade e não pode cometer pecados. Este homem, visto da finalidade da criação, é aquele que é perfeito como perfeito é o Pai que está nos Céus. Portanto, as palavras de Jesus para seus discípulos significavam que eles deviam tornar-se cidadãos do Reino celeste depois de terem sido restaurados como homens que realizaram a finalidade da criação.
Desta forma, Jesus veio a fim de estabelecer o Reino do Céu na Terra, tendo restaurado os homens decaídos como cidadãos do Reino celeste. Por este motivo ele mandou que seus discípulos orassem para que a vontade de Deus fosse feita, assim na Terra como no Céu (Mt 6.10). Ele também os exortou a se arrependerem, pois era chegado o Reino do Céu (Mt 4.17). Pelo mesmo motivo, João Batista, que tinha vindo para preparar o caminho do Senhor, também anunciou a aproximação do Reino do Céu (Mt 3.2).
Como seria, pois, o homem que se tornasse perfeito como é perfeito o Pai que está no Céu, tendo restaurado a si mesmo como o homem no qual a finalidade da criação é realizada? Tal homem se tornaria um só corpo com Deus, inseparável d’Ele, vivendo de acordo com a vontade de Deus. Sentindo exatamente o que Deus sentisse, ele possuiria deidade. Este
homem não necessitaria de redenção nem de salvador; tampouco necessitaria da vida de oração e fé exigida dos homens decaídos, porque ele seria sem pecado original. Tal homem, sendo sem pecado original, viria a multiplicar filhos do bem, sem pecado original; em conseqüência, eles tampouco necessitariam de Salvador para a redenção dos pecados.
2. FOI A PROVIDÊNCIA DA SALVAÇÃO REALIZADA ATRAVÉS DA REDENÇÃO PELA CRUZ?
Desde que a história humana começou, não houve homem algum, por mais devoto e santo que tenha sido, que tivesse vivido uma vida em total união com Deus. Nem um só homem experimentou o próprio coração ou sentimento de Deus, nem teve a mesma deidade. Conseqüentemente, não houve ainda santo algum que não necessitasse de redenção do pecado
nem de vida de oração e fé. Até mesmo um homem tão devoto como Paulo foi compelido a levar uma vida de fé e de orações cheias de lágrimas (Rm 7.18-25). Todos os pais, por mais devotos que sejam, não podem gerar um filho sem pecado, que possa ir para o Reino do Céu sem redenção pelo Salvador. Disto percebemos que os pais ainda estão transmitindo pecado
original para seus filhos.
O que nos ensina a realidade da vida de fé do cristão? Diz-nos diretamente que a redenção através da cruz não pode exterminar completamente nosso pecado original, e não deixa a natureza original do homem perfeitamente restaurada ainda. Jesus prometeu que o Senhor viria porque Jesus sabia que não podia realizar a finalidade de seu advento como Messias através da redenção pela cruz. Cristo tinha que vir novamente para realizar perfeitamente a vontade de Deus, porque a
predestinação de Deus para restaurar o Reino do Céu na Terra é absoluta e imutável.
Será então que o seu sacrifício na cruz terminou em nada?
Absolutamente não (Jo 3.16). Se assim fosse, a história cristã não poderia ter existido. Nunca podemos negar a magnitude da graça da redenção pela cruz. Portanto, é verdade que nossa fé na cruz pode produzir redenção. É igualmente verdade que a redenção pela cruz tem sido incapaz de remover nosso pecado original e restaurar-nos como homens de natureza original
que não podem pecar; assim, tem sido incapaz de estabelecer o Reino do Céu na Terra.
Surge então a pergunta com respeito à amplitude da redenção pela cruz. A fé dos modernos homens de intelecto não pode ser dirigida a menos que possamos resolver este problema.
3. A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
Examinemos primeiramente a crucifixão de Jesus do ponto de vista das palavras e ações dos discípulos, que foram registradas na Bíblia. Havia um só sentimento evidente, comum entre os discípulos, com respeito à morte de Jesus. Eles estavam magoados e mortificados pela morte de Jesus.
Sentiam-se indignados contra a ignorância e descrença do povo que causou a crucifixão de Jesus (At 7.51-53). A partir de então os cristãos têm comumente experimentado o mesmo sentimento que os discípulos do tempo de Jesus tiveram. Se a morte de Jesus tivesse sido um resultado natural da predestinação de Deus, não haveria nenhum motivo para os
discípulos a vituperarem, embora talvez fosse inevitável que sentissem pesar pela sua morte. Disto podemos assegurar que o fato de Jesus ter que passar pelo caminho da morte foi injusto e indevido.
A seguir, investiguemos ainda mais, do ponto de vista da providência de Deus, se a crucifixão de Jesus foi um resultado natural da predestinação de Deus. Deus chamou o povo escolhido de Israel, os descendentes de Abraão; Ele os educou e protegeu, e às vezes fê-los passar com disciplina nas dificuldades e tribulações. Ele os confortava mandando profetas que prometiam que no futuro Ele haveria de mandar-lhes um Messias. Ele fez com que o povo erigisse tabernáculos e templos em preparação para o Messias. Ele enviou os magos do oriente, como também Simeão, Ana, João Batista e outros, para testificarem abertamente com respeito ao nascimento e aparição do Messias.
Especialmente com respeito ao nascimento de João Batista, todos os judeus sabiam que o anjo tinha aparecido para testificar sobre sua concepção (Lc 1.13); e os sinais que ocorreram por ocasião do seu nascimento comoveram toda a Judéia em expectativa (Lc 1.63-66). Além disto, suas práticas ascéticas no deserto eram tão maravilhosas que todo o
povo judeu perguntava em seus corações se ele talvez era o Cristo (Lc 3.15). Excusado é dizer que Deus mandou tão grande homem como João Batista para testificar sobre Jesus como Messias, para que o povo judeu acreditasse em Jesus como o Messias. Já que a vontade de Deus era, pois, levar o povo judeu a acreditar que Jesus era o Messias, os israelitas, que
deviam viver de acordo com a vontade de Deus, deviam ter acreditado nele como Messias. Se eles tivessem acreditado em Jesus como Messias de acordo com a vontade de Deus, como poderiam eles tê-lo crucificado depois de esperarem por ele durante tanto tempo? Os israelitas crucificaram Jesus porque, contra a vontade de Deus, não acreditaram que Jesus era o
Messias. Devemos, pois, compreender que Jesus NÃO VEIO PARA MORRER NA CRUZ.
A seguir, investiguemos mais ainda, de acordo com as palavras e obras do próprio Jesus, se a crucifixão era de fato o meio para realizar a finalidade total de sua vinda como Messias. Como se afirma claramente na Bíblia, Jesus expressou em suas palavras e obras o desejo de levar o povo a acreditar que ele era o Messias. Quando as pessoas lhe perguntaram o que deviam fazer para executarem as obras de Deus, Jesus respondeu dizendo: “A obra de Deus é esta: que acrediteis naquele que Ele enviou” (Jo 6.29).
Jesus sofreu por causa da traição do povo judeu; e, não encontrando ninguém a quem apelar, chorou sobre a cidade de Jerusalém e até mesmo a amaldiçoou para que fosse de tal maneira destruída que nem uma pedra ficaria sobre outra, não mencionando os israelitas, o povo escolhido, a quem
Deus tinha conduzido com amor e cuidado por dois mil anos. Jesus claramente indicou a ignorância dizendo: “Tu não conheceste o tempo de tua visita” (Lc 19.44).
Jesus lamentou-se pela descrença e obstinação do povo dizendo:
"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta a sua ninhada debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Mt 23.37 Jesus censurou-os por sua ignorância, que os impedia de acreditar nele, mesmo quando liam as escrituras, que davam testemunho sobre ele, e disse
com grande tristeza:
"Examinais as Escrituras, porque cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida." (Jo 5.39-40)
Ele também disse com grande dor: “Vim em nome de meu Pai e vós não me recebeis”, e continuou dizendo: “Se acreditásseis em Moisés acreditaríeis em mim, pois de mim escreveu ele” (Jo 5.43-46).
Jesus realizou muitos milagres e sinais na esperança de que pudesse restaurar a fé do povo. Contudo, eles o condenaram como alguém que estava possesso de Belzebu, ao passo que viam as maravilhas operadas por ele. Vendo a dolorosa situação, Jesus disse: “. . . se não credes em mim, credes nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em
mim e eu no Pai” (Jo 10.38). Em outra ocasião, ele até os amaldiçoou com grande indignação, profetizando que haveriam de sofrer (Mt 23.13-36). O próprio Jesus, através de suas palavras e obras, procurou fazê-los crer nele, porque era a vontade de Deus que eles assim o fizessem. Se os judeus
acreditassem que ele era o Messias, o que tanto Deus como Jesus queriam, será que poderiam tê-lo crucificado?
Dos fatos acima, podemos ver que a crucifixão de Jesus foi o resultado da ignorância e descrença do povo judeu, e não da predestinação de Deus para realizar a finalidade total da sua vinda como Messias. I Coríntios 2.8 diz: “Nenhum dos príncipes deste mundo compreendeu isto, pois se tivessem compreendido não teriam crucificado o Senhor da glória”, e isto
deveria ser prova suficiente.
Se a crucifixão de Jesus originalmente tivesse sido a predestinação de Deus, como poderia ele ter orado, até três vezes, para que o cálice da morte passasse dele? (Mt 26.39). De fato, ele orou assim desesperadamente porque sabia muito bem que a história de aflição seria prolongada até a época do Senhor do Segundo Advento, se a descrença do povo viesse a
impedir a realização do Reino do Céu na Terra, que Deus tinha se esforçado tanto por estabelecer.
Em João 3.14 lemos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve o Filho do homem ser levantado”. Quando os israelitas estavam a caminho do Egito para a terra de Canaã, falharam em acreditar em Moisés, e naquela época apareceram serpentes de fogo que matavam o povo; então Deus mandou que se levantasse uma serpente de bronze em um poste, e aqueles que olhavam para a serpente sobreviviam. De maneira
semelhante, devido à falta de fé em Jesus por parte do povo judeu, todos estavam destinados ao inferno; e Jesus, prevendo que depois de sua crucifixão como a “serpente de bronze” somente aqueles que olhassem para ele e acreditassem nele seriam salvos, disse isto com imensa tristeza no coração.
Outra maneira pela qual podemos saber que Jesus foi crucificado devido à falta de fé do povo é o fato que, como Jesus tinha predito, a nação escolhida de Israel declinou depois de sua morte (Lc 19.44). Em Isaías 9.6- 7 diz:
"Pois um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz. Do incremento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar em juízo e em justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos exércitos fará isto."
Esta é a predição que Jesus viria sobre o trono de Davi e estabeleceria um reino que jamais haveria de perecer por toda a eternidade. Por isto, um anjo apareceu a Maria no tempo em que ela concebeu Jesus e disse:
"E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim." (Lc 1.31-33).
Destas passagens podemos ver claramente que Deus tinha chamado os israelitas, o povo escolhido, e os tinha conduzido através de aflições e dificuldades por dois mil anos, a fim de estabelecer um eterno Reino de Deus na Terra, mandando Jesus como Messias. Ele veio como o Messias; mas, devido à incredulidade e perseguição do povo, foi crucificado. Desde
então os judeus perderam seu qualificativo como povo escolhido e foram espalhados, sofrendo perseguição até o dia de hoje.
4. O LIMITE DA SALVAÇÃO ATRAVÉS DA REDENÇÃO PELA CRUZ E A
FINALIDADE DO SEGUNDO ADVENTO DO SENHOR
Se Jesus não tivesse sido crucificado, o que teria acontecido? Ele teria realizado a providência da salvação tanto espiritual como fisicamente. Ele teria estabelecido o Reino do Céu na Terra, que duraria para sempre, como foi expresso na profecia de Isaías (Is 9.6-7), na instrução do anjo que apareceu a Maria (Lc 1.31-33) e nas próprias palavras de Jesus, que
anunciavam a iminência do Reino do Céu (Mt 4.17). Deus primeiro criou a carne do homem com a terra e depois soprou em seu nariz o fôlego da vida, e o fez alma viva (Gn 2.7). O homem foi criado para ter espírito e corpo. Sua queda também ocorreu tanto espiritual como fisicamente. Naturalmente, a salvação deve incluir tanto o espírito como o corpo.
Já que a finalidade do advento de Jesus como Messias era realizar a providência da restauração, ele deveria ter realizado a salvação tanto do espírito como do corpo. Acreditar em Jesus significa tornar-se um só corpo com ele; por isto Jesus a si mesmo comparou à verdadeira videira, e seus discípulos aos ramos (Jo 15.5). Ele disse: “. . . conhecereis que estou em
meu pai, vós em mim, e eu em vós” (Jo 14.20). Jesus disse isto porque, vindo na carne, queria salvar os homens decaídos tanto espiritual como fisicamente. Se os homens decaídos tivessem se tornado um só com ele, tanto no espírito como no corpo, acreditando nele, poderiam ter sido salvos tanto espiritual como fisicamente. Já que o povo judeu não acreditou em Jesus e o entregou para a crucifixão, sua carne foi invadida por Satanás e
ele foi morto. Portanto, quando os cristãos acreditam em Jesus e se tornam um só corpo com ele, cujo corpo foi invadido por Satanás, seus corpos ainda permanecem invadidos por Satanás.
Desta maneira, por mais devoto que seja um homem de fé, ele não pode realizar a salvação física somente pela redenção através da crucifixão de Jesus. Já que o pecado original linearmente transmitido desde Adão não foi liquidado, todo e qualquer santo, por mais devoto que seja, tem pecado original e só pode gerar filhos com pecado original. Para impedir a condição da invasão satânica, que constantemente vem através da carne devido ao pecado original, temos que atormentar e negar a carne, a fim de vivermos uma vida religiosa. Devemos orar constantemente (I Ts 5.17) a fim de impedir a condição da invasão satânica, que vem por causa do pecado original, que não foi aniquilado, nem mesmo através da redenção pela cruz.
Jesus não pôde realizar a finalidade da providência da salvação física porque seu corpo foi invadido por Satanás. Contudo, ele conseguiu estabelecer a base para a salvação espiritual formando um fundamento triunfante para a ressurreição através da redenção pelo sangue na cruz. Por isto, todos os santos, desde a ressurreição de Jesus até o dia de hoje, só desfrutaram do benefício da providência da salvação espiritual. A salvação através da redenção pela cruz só é espiritual. Até mesmo em
devotos homens de fé ainda resta na carne o pecado original, que é continuamente transmitido de geração a geração. Por isto, quanto mais devoto se torne um santo em sua fé, tanto mais severa se torna sua luta contra o pecado. Assim, Cristo deve vir novamente à Terra para realizar a finalidade da providência da salvação tanto física quanto espiritual, pela
redenção do pecado original, que não foi liquidado nem mesmo pela cruz.
Como foi mencionado antes, mesmo os santos remidos pela cruz tiveram que continuar a lutar contra o pecado original. É por isso que até Paulo, centro de fé entre os discípulos, lamentou-se sobre sua incapacidade de impedir que o pecado invadisse sua carne dizendo: “
. . . Assim, eu mesmo com a mente sigo a lei de Deus, mas com a carne sirvo à lei do pecado” (Rm 7.22 25). Ele disse isto para expressar a alegria da realização da salvação espiritual, como também deplorar a falha em realizar a salvação física. Outrossim, em I João 1.8-10 João confessou, dizendo:
"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, não há verdade em nós. . . Se dissermos que não pecamos, fazemo-Lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós."
De modo semelhante, nós, que deveríamos ter sido salvos pela crucifixão de Jesus, não podemos escapar de ser pecadores, por causa do pecado original que ainda opera em nós.
5. DUAS ESPÉCIES DE PROFECIAS COM RESPElTO À CRUZ
Qual deve ser o motivo pelo qual em Isaías 53 o sofrimento de Jesus na cruz é profetizado, se sua crucifixão não foi o resultado da predestinação de Deus? Até agora muitos pensavam que as profecias bíblicas sobre Jesus prediziam apenas seu sofrimento. Quando lemos a Bíblia de novo com o
conhecimento do Princípio, podemos entender que, tal como o profeta Isaías predisse na Idade do Velho Testamento (Is 9, 11 e 60), e tal como o anjo de Deus profetizou a Maria, esperava-se que Jesus se tornasse o Rei dos judeus durante sua vida e estabelecesse na Terra um reino eterno, que “não teria fim” (Lc 1.31-33). Investiguemos porque havia duas espécies de
profecias.
Deus criou o homem para aperfeiçoar-se somente pelo cumprimento de sua própria porção de responsabilidade (cf. Parte I, Capítulo I, Seção V, 2 [2]). Contudo, na realidade, os primeiros antepassados humanos caíram sem ter cumprido sua porção de responsabilidade. Desta maneira, o homem podia ou cumprir sua porção de responsabilidade, de acordo com a
vontade de Deus, ou, ao invés, não cumprí-la, contra a vontade de Deus.
Para dar um exemplo disto na Bíblia, era a própria responsabilidade do homem não comer o fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. Adão poderia aperfeiçoar-se pela obediência ao mandamento de Deus de não comer do fruto; por outro lado, ele poderia morrer comendo o fruto, como de fato aconteceu. Deus deu os Dez Mandamentos às pessoas da Idade do Velho Testamento como a condição da responsabilidade do homem na providência da salvação. Assim, o homem poderia ou salvar-se pela obediência aos mandamentos, ou arruinar-se pela desobediência. Era a porção de responsabilidade dos israelitas obedecer ao comando de Moisés quando estavam caminhando do Egito para a abençoada terra de Canaã. Eles poderiam ou entrar na abençoada terra de Canaã pela obediência ao comando de Moisés, ou não entrar nela, pela desobediência ao seu
comando. De fato, Deus determinou que Moisés conduzisse os israelitas para a abençoada terra de Canaã (Ex 3.8) e ordenou que ele fizesse aquilo; mas, devido à sua descrença, o povo pereceu no deserto, deixando apenas sua posteridade para chegar ao destino.
O homem tem, pois, sua própria responsabilidade para cumprir, e ele pode ou realizá-la, de acordo com a vontade de Deus, ou não realizá-la, contra Sua vontade, resultando assim que só uma possibilidade é realizada. Por isto, era inevitável que Deus desse dois tipos de profecia com respeito à realização de Sua vontade.
Era a porção de responsabilidade de Deus mandar o Messias, mas acreditar nele era a responsabilidade do homem. Portanto, o povo judeu poderia ou acreditar no Messias, de acordo com a vontade de Deus, ou não acreditar nele, contra Sua vontade. Por isto, Deus teve que dar dois tipos de profecia fazendo previsões para os dois possíveis resultados segundo o sucesso ou a falha do homem em cumprir sua responsabilidade. Deus profetizou tanto sobre o que aconteceria, caso o povo judeu não acreditasse no Messias, como está escrito em Isaías 53, como também sobre o que aconteceria, caso realizassem a vontade de Deus em glória, acreditando no Messias e servindo-o, como está registrado em Isaías 9,11 e 60 e em Lucas 1.30. No entanto, devido à descrença do povo, Jesus morreu na cruz, e a
profecia de Isaías 53 foi realizada, ficando as outras para serem cumpridas depois do Segundo Advento do Senhor.
6. VERSÍCULOS BÍBLICOS ESCRITOS COMO SE A CRUCIFIXÃO FOSSE INEVITÁVEL
Encontramos na Bíblia muitos versículos escritos como se o sofrimento da crucifixão de Jesus fosse inevitável. Um dos exemplos representativos disto é que Jesus repreendeu a Pedro, que procurava dissuadi-lo quando ele profetizou sobre seu sofrimento na cruz, e disse: “Vá para trás de mim, Satanás!” (Mt 16.23) Senão, como poderia Jesus ter repreendido a Pedro tão duramente? De fato, naquela altura Jesus estava decidido a tomar a cruz como a condição de indenização a pagar para a realização de pelo menos a “salvação espiritual” do homem, quando ele achou que era incapaz de cumprir a providência tanto da salvação espiritual quanto da salvação física (Lc 9.31). Naquela situação, o fato de Pedro dissuadí-lo de tomar o caminho da cruz era um empecilho para a salvação espiritual através da cruz; daí ele repreendeu Pedro.
Em outro lugar, quando Jesus pronunciou suas últimas palavras na cruz dizendo: “Está consumado” (Jo 19.30), ele não queria dizer que a finalidade total da providência da salvação tinha sido atingida através da cruz. Sabendo que a descrença do povo já era, naquela altura, inalterável, Jesus escolheu o caminho da cruz a fim de estabelecer pelo menos o fundamento da providência da salvação espiritual, deixando a providência da salvação física para o tempo do Segundo Advento. Portanto, com as palavras “está consumado”, Jesus queria dizer que ele havia terminado o estabelecimento da base para a providência da salvação espiritual através da cruz, que era a providência secundária da salvação.
A fim de termos uma fé correta, devemos primeiro estabelecer um relacionamento direto com Deus em espírito através da oração ardente, e depois, devemos compreender a verdade através da leitura correta da Bíblia. Foi por isto que Jesus nos disse que adorássemos a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.24).
Desde a época de Jesus até o presente, todos os cristãos pensavam que Jesus tinha vindo ao mundo para morrer. O motivo é que eles não conheciam a finalidade fundamental da vinda de Jesus como Messias e entretinham a idéia errada de que a salvação espiritual era a única missão pela qual Jesus tinha vindo ao mundo. Jesus veio para realizar a vontade
de Deus durante sua vida, mas teve que passar por uma morte relutante devido à descrença do povo. Deve primeiro aparecer a esposa que possa aliviar o coração humilhado e sofrido de Jesus, antes que Cristo, como esposo, possa vir, desta vez para completar sua missão com a sua esposa. Jesus disse: “Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8), lamentando tal ignorância do povo, que ele podia prever.
Esclarecemos o fato de que Jesus não veio para morrer, mas se
perguntarmos diretamente a Jesus através de comunicação espiritual, podemos ver o fato até mais claramente. Se for impossível um relacionamento direto, devemos procurar o testemunho de alguém com tal dom, a fim de termos aquela fé que nos dará o direito de ser a “esposa” a fim de receber o Messias.
SESSÃO 2
O SEGUNDO ADVENTO DE ELIAS E JOÃO BATISTA.
Já tinha sido predito pelo profeta Malaquias que Elias viria novamente (Ml 4.5), e era testemunho de Jesus que João Batista não era outro senão o segundo advento de Elias (Mt 11.14, 17.13). No entanto, o próprio João Batista, como também o povo judeu em geral, não conhecia o fato de ser João Batista o segundo advento de Elias (Jo 1.21). A dúvida de João com
respeito a Jesus (Mt 11.3), seguida da descrença do povo, finalmente compeliu Jesus a tomar o caminho da cruz.
1. TENDÊNCIA DO PENSAMENTO JUDEU COM RESPEITO AO SEGUNDO ADVENTO DE ELIAS
Durante o período do Reino Unido, o “ideal do templo” foi invadido por Satanás, devido à corrupção do rei Salomão.
Deus estabeleceu o “ideal do templo” pela segunda vez. A fim de
preparar o povo para receber o Messias como templo substancial, Ele trabalhou para a separação de Satanás mandando quatro profetas maiores e doze profetas menores. Para não permitir a Satanás impedir a realização deste ideal, Deus fez com que o povo destruísse o deus Baal, mandando Seu profeta especial, Elias e levando-o a lutar contra os profetas de Baal no Monte Carmelo. Contudo, Elias subiu ao céu sem ter completado totalmente sua missão divina (II Rs 2.11), e o poder de Satanás ficou novamente desenfreado.
Por isto, para que o ideal do templo substancial de Jesus pudesse ser realizado, devia primeiro haver a providência da vinda de outro profeta para suceder Elias e cumprir a missão de separar Satanás, que ele deixou sem terminar na Terra. Desta necessidade providencial, o profeta Malaquias predisse o segundo advento de Elias (Ml 4.5).
A fervorosa esperança do povo judeu, que acreditava nestas profecias, era, sem dúvida, o advento do Messias. No entanto, devemos saber que, não obstante este fato, eles desejavam ardentemente a segunda vinda de Elias. O motivo é que Deus claramente prometera ao povo, através do profeta Malaquias, que Ele enviaria o profeta Elias antes do advento do Messias, para que ele pudesse preparar o caminho para o Senhor (Ml 4.5).
Enquanto isso, o profeta Elias tinha subido ao Céu quase 900 anos antes do nascimento de Jesus (II Rs 2.2-11), e conhecemos a ocasião em que ele apareceu aos discípulos de Jesus em espírito (Lc 9.31). O povo judeu acreditava que Elias, estando no céu, haveria de vir de lá da mesma maneira como tinha subido ao céu. Por isto, o povo judeu daquela época
estava esperando que Elias viesse de novo, com os olhos voltados para o céu, na expectativa que Elias viesse das nuvens.
Contudo, não havia rumor algum de que Elias tivesse chegado, como Malaquias havia profetizado, quando Jesus apareceu, dizendo ser o Messias; deste modo, uma grande confusão surgiu em Jerusalém. Assim, os discípulos tiveram que enfrentar o argumento da não aceitação de que Jesus fosse o Messias (Mt 17.10): se Jesus fosse o Messias, então onde
estava Elias, que devia vir antes dele? (Ml 4.5) Os discípulos, sem saber o que responder, perguntaram a Jesus diretamente; e ele respondeu que João Batista não era outro senão o próprio Elias, cuja vinda o povo aguardava (Mt 11.14, 17.13). Os discípulos de Jesus, que acreditavam que ele era o Messias, podiam simplesmente acreditar no testemunho de Jesus de que
João Batista era Elias. No entanto, como podia o povo judeu aceitá-lo, se eles não sabiam quem era Jesus? O próprio Jesus, sabendo que eles não haveriam de facilmente crer em seu testemunho, disse: “Se quereis dar crédito, este é o Elias que havia de vir” (Mt 11.14). O povo judeu não podia acreditar no testemunho de Jesus de que João Batista era Elias, pois ele
veio depois que o próprio João tinha negado aquele fato (Jo 1.21).
2. O CAMINHO DO POVO JUDEU
Jesus disse que João Batista não era outro senão Elias, cuja chegada o povo judeu havia aguardado por tanto tempo (Mt 11.14), enquanto, ao contrário, o próprio João Batista já havia negado aquele fato. Então, nas palavras de quem haveriam eles de acreditar e seguir? Isto dependia de qual dos dois parecesse mais digno de fé aos olhos do povo daquela época.
Examinemos, pois, como Jesus parecia ao povo judeu, de seu próprio ponto de vista: Jesus era um jovem de pouca instrução formal. Ele tinha nascido e crescido no simples e pobre lar de um carpinteiro. Este jovem emergiu desconhecido, chamando a si mesmo o Senhor do sábado, muito embora ele mesmo violasse o sábado, que o povo judeu observava rigorosamente (Mt 12.1-8). Por isto Jesus passou a ser conhecido como
alguém que queria abolir a lei, que era o símbolo da salvação para os judeus (Mt 5.17). Daí Jesus foi perseguido pelos líderes judeus e compelido a reunir pescadores para serem seus discípulos. Tornou-se amigo de publicanos, meretrizes e pecadores, comendo e bebendo com eles (Mt 11.19). Mais ainda, Jesus declarou que os publicanos e as meretrizes
entrariam no Reino do Céu antes dos líderes judeus (Mt 21.31).
Em certa ocasião, uma mulher, chorando, começou a regar os pés de Jesus com suas lágrimas e a enxugá-los com seus próprios cabelos, a beijar seus pés e ungi-los com ungüento precioso (Lc 7.37-38). Tal conduta não seria aceitável nem mesmo na sociedade de hoje; quanto mais difícil não seria aceitá-la na rigorosa ética da sociedade judaica, na qual uma mulher adúltera podia ser apedrejada até a morte? Apesar disto, Jesus não somente aceitou-a, mas até repreendeu os discípulos, que desaprovavam a atitude da mulher e chegou mesmo a elogiá-la (Lc 7.44-50, Mt 26.7-13).
Por outro lado, Jesus colocou-se no mesmo nível de Deus (Jo 14.9) e disse que ninguém podia entrar no Reino do Céu a não ser por ele (Jo 14.6). Ele disse que as pessoas deviam amá-lo mais do que a seus pais, irmãos, esposo ou esposa e filhos (Mt 10.37, Lc 14.26). Devido a atitude que as palavras e ações de Jesus pareciam transmitir, os líderes judeus zombavam
dele e o acusavam de ser Belzebu, o príncipe dos diabos (Mt 12.24). De tudo isto podemos concluir que Jesus não era considerado pelos judeus daquele tempo.
A seguir, investiguemos como João Batista parecia ao povo judeu. João nasceu de uma família distinta, como o filho de Zacarias, o sumo sacerdote (Lc 1.13). Seu nascimento surpreendeu imensamente toda a cidade por causa de milagres e sinais por ocasião de sua concepção. Seu pai, queimando incenso no lugar santo, viu o anjo do Senhor, que anunciou que
sua mulher conceberia um filho e, não crendo Zacarias nas palavras do anjo, foi feito mudo e sua fala restaurada só por ocasião do nascimento do filho (Lc 1.9-66). Além disto, João tinha levado uma brilhante vida de fé e disciplina, vivendo de gafanhotos e mel selvagem no deserto, e para o povo
judeu ele parecia ser tão admirável que até o sumo sacerdote, como também o povo em geral, perguntaram se ele era o Messias (Lc 3.15, Jo1.20).
Considerando as coisas acima, quando comparamos Jesus e João Batista, do ponto de vista do povo judeu, nas palavras de quem era mais fácil para eles acreditarem? Era muito natural que eles acreditassem nas palavras de João Batista. Conseqüentemente, eles tinham que acreditar nas palavras de João, quando negou ser Elias, mais do que acreditavam no
testemunho de Jesus de que João Batista era Elias. Visto que o povo judeu veio a acreditar nas palavras de João Batista, o testemunho de Jesus parecia ser falso, e assim ele teve que ser condenado como um impostor.
Deste modo, Jesus foi condenado como um homem de palavras
imprudentes, e suas maneiras eram ofensivas ao povo judeu. Assim, sua descrença em Jesus foi agravando-se gradativamente. Já que o povo judeu acreditava nas palavras de João Batista mais do que nas palavras de Jesus, tinha que pensar que Elias ainda não tinha vindo; conseqüentemente, não
podia nem imaginar que o Messias tinha chegado.
Deste ponto de vista, os judeus tinham que negar a Jesus, que se dizia o Messias, porque eles, do ponto de vista de pessoas que acreditavam na profecia de Malaquias, não podiam acreditar que Elias tivesse vindo, senão teriam que negar as Escrituras, que profetizaram que a vinda do Messias teria lugar depois da vinda de Elias. Deste modo, o povo judeu, que não podia abandonar a profecia das Escrituras, foi compelido a escolher o
caminho da descrença em Jesus.
3. A DESCRENÇA DE JOÃO BATISTA
Como já foi tratado em detalhe, os príncipes dos sacerdotes como também todo o povo judeu daquele tempo respeitavam João Batista a tal ponto que pensavam sobre ele como o Messias (Lc 3.15, Jo 1.20). Conseqüentemente, se João Batista tivesse declarado ser Elias, como Jesus tinha atestado sobre ele, o povo judeu, que estava aguardando a vinda de Elias antes de receber o Messias, teria vindo para Jesus, porque tinham sido condicionados a crer no testemunho de João Batista. Contudo, a ignorância da providência de Deus por parte de João Batista, que até o último momento afirmou não ser Elias, foi a principal causa de fechar o caminho do povo para Jesus.
Certa vez João Batista atestou dizendo:
"Batizo-vos com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo." (Mt 3.11).
Também em João 1.33-34 ele confessou dizendo:
"Eu mesmo não o conhecia, mas Aquele [Deus] que me enviou para batizar com água, Esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo [Cristo]. Eu vi e tenho testificado que este é o filho de Deus."
Deste modo, Deus diretamente manifestou a João Batista que Jesus era o Messias, e até o próprio João testificou sobre ele como tal, enquanto em João 1.23 ele disse que veio com a missão de endireitar o caminho do Messias. Além disto, ele declarou em João 3.28 que era aquele que tinha sido enviado adiante de Cristo. Por isto, João Batista devia ter sabido, por
sua própria sabedoria, que ele era Elias. Mesmo que João Batista não percebesse por si mesmo que era Elias, ainda assim deveria ter declarado que era Elias em obediência ao testemunho de Jesus, já que sabia que Jesus era o Messias através do testemunho de Deus (Jo 1.33-34) e sabia que Jesus tinha testificado que João era Elias.
Contudo, João não somente negou o testemunho de Jesus (Jo 1.21) por causa de sua ignorância da vontade de Deus (Mt 11.19), mas também se desviou da direção da providência mesmo depois daquilo. Podemos facilmente imaginar como Jesus deve ter ficado triste ao ver João Batista naquele estado, não mencionando Deus, olhando para Seu filho colocado
em tão difícil situação.
Na realidade a missão de João Batista como testemunha, terminou com seu ato de batizar Jesus e testificar sobre ele. Então qual deveria ter sido sua missão depois daquilo? Seu pai Zacarias, movido pelo Espírito Santo, disse a respeito de João Batista, que tinha apenas nascido: “. . . que o serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os os dias da
nossa vida, e tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos . . .” (Lc 1.74-76), claramente profetizando sobre sua missão. João Batista deveria ter servido a Jesus, da posição de discípulo, depois de ter testificado sobre ele. Apesar
disto, ele continuou a batizar as pessoas, separadamente de Jesus, confundindo assim o povo judeu (Lc 3.15), até mesmo os príncipes dos sacerdotes (Jo 1.20). Além disto, os discípulos de Jesus e os seguidores de João Batista contendiam entre si a respeito da “purificação”, cada um dizendo que seu próprio mestre batizava mais pessoas (Jo 3.25). Além disto, João 3.30 nos diz eloqüentemente que João Batista não sofreu o
mesmo destino que Jesus, dizendo: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”. Como poderia ele diminuir enquanto Jesus crescia, se ele sofresse totalmente o mesmo destino de Jesus? De fato, os evangelhos de Jesus deviam ter sido pregados pelo próprio João Batista. No entanto, por causa da ignorância, ele não pôde cumprir sua missão, e finalmente
degradou sua vida, que devia ter sido devotada a Jesus, a uma coisa que praticamente não tinha valor algum.
João Batista sabia que Jesus era o Messias, e quando João estava no lado de Deus, testificou sobre ele. Mas quando Deus já não o inspirava diretamente, e João voltou ao seu estado normal, sua descrença em Jesus agravou-se por sua ignorância. João Batista, que não percebia que era Elias, encarava Jesus do mesmo ponto de vista que outras pessoas,
especialmente depois do seu encarceramento. Conseqüentemente, tudo o que Jesus dizia ou fazia parecia aos olhos humanos de João Batista, ser estranho e incompreensível. Além disto, ele mesmo não podia crer que
Jesus, que tinha aparecido antes da vinda de Elias, era o Messias. Finalmente ele mandou seus discípulos a Jesus em uma tentativa de remover sua dúvida, perguntando-lhe: “És tu aquele que havia de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11.3)
Jesus, assim interrogado, respondeu indignadamente em um tom de admoestação (Mt 11.4-10). João Batista tinha sido escolhido por Deus enquanto ainda estava no ventre da mãe para a missão de servir a Ele durante toda sua vida (Lc 1.76) e tinha sido treinado no deserto com o rigor de uma vida ascética a fim de preparar o caminho do Senhor. Ao começar Jesus seu ministério público, Deus primeiramente disse a João quem era
Jesus, e então fê-lo testificar que Jesus era o Filho de Deus. Quando João Batista, que estava falhando em realizar sua missão e bênção do céu, perguntou isso a Jesus, este não respondeu diretamente com o fato de ser ele o Messias, o que já devia ser bastante claro. Ele respondeu com rodeios dizendo:
"Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos são limpos e os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciada a boa nova." (Mt 11.4-5)
Naturalmente, João Batista não era ignorante de tais milagres e maravilhas feitos por Jesus. Apesar disto, Jesus deu esta tão longa explicação a fim de mostrar-lhe quem era ele, lembrando novamente a João Batista sobre o que estava fazendo.
Devemos compreender que quando Jesus disse que aos pobres era anunciada a boa nova (Mt 11.5), estava indicando o sofrimento de seu coração por causa da descrença do povo judeu, especialmente de João Batista. O povo escolhido de Israel e de modo especial João Batista, tinham sido ricamente abençoados com amor e ternura divina. Apesar disto, eles
traíram Jesus, e ele foi compelido a andar vagando pela costa marítima da Galiléia através da região da Samaria, buscando entre os pobres aqueles que queriam ouvir o evangelho. Os ignorantes pescadores, os publicanos e as meretrizes eram tais pessoas pobres. Na realidade, os discípulos que Jesus preferia não eram pessoas desta espécie. Jesus, tendo vindo para
estabelecer o Reino do Céu na Terra, precisava mais de uma só pessoa capaz de liderar mil, do que mil que o seguissem cegamente. Ele, porventura, não pregou primeiro o evangelho no templo para os príncipes dos sacerdotes e aos escribas do povo, à procura daqueles que eram capazes e bem preparados?
Contudo, como Jesus disse, ele teve que chamar para o banquete um bando de mendigos vagando pelas ruas, porque os convidados não tinham vindo. Jesus, que teve que sair pessoalmente para trazer aqueles que não eram convidados, finalmente pronunciou as amargas palavras de julgamento, em profundo pesar, dizendo: “Bem-aventurado é aquele que
não se escandalizar de mim” (Mt 11.6). Jesus predisse o destino de João Batista dizendo, indiretamente, que aquele que se escandalizasse dele não desfrutaria da bem-aventurança, por maior que ele fosse.
Pelo contrário, foi João Batista quem tinha ofendido a Jesus. Como foi que João Batista o ofendeu? João falhou em cumprir sua missão de servir e ministrar a Jesus.
Depois que os discípulos de João Batista se afastaram de Jesus, ele disse:
"Em verdade vos digo que entre os que de mulher tem nascido não apareceu alguém maior do que João Batista; mas aquele que é o menor no Reino do Céu é maior do que ele." (Mt 11.11).
indicando que, do aspecto de ministério, João Batista tinha originalmente vindo como o maior de todos os profetas, mas que ele estava falhando no cumprimento de sua missão.
Todos os que estavam no Céu tinham antes nascido de mulheres e vivido suas vidas terrenas antes de morrerem. Seria, pois, natural que aquele que era o maior entre os nascidos de mulheres fosse o maior também no Céu. Então, por que João Batista era pior do que aquele que era o menor no
Reino do Céu? Numerosos profetas do passado haviam testificado sobre o Messias indiretamente, a uma longa distância de tempo, aguardando sua vinda no futuro. No entanto João Batista veio com a missão de testificar sobre o Messias diretamente. Já que a missão dos profetas era testificar
sobre o Messias, João Batista, que deveria testificar sobre o Messias diretamente, era maior do que todos os outros profetas, que testificaram sobre ele indiretamente. Contudo, visto do ponto de servir ao Messias, ele foi o menor. O motivo é que o menor no Reino do Céu reconhece Jesus como o Messias e o está servindo, ao passo que João Batista, que fora chamado para a missão de servi-lo intimamente em pessoa (Lc 1.76), não
preparou o caminho de Jesus e falhou em servi-lo. Continuando Jesus disse: “Desde os dias de João Batista até agora, se faz violência ao Reino do Céu, e pela força se apoderam dele”. Se João Batista, escolhido desde o ventre e treinado em tão difícil vida ascética no deserto, tivesse servido a elecomo devia, sem dúvida alguma haveria de tornar-se o chefe dos discípulos
de Jesus. No entanto, já que ele falhou no cumprimento da missão de servir a Jesus, Pedro tomou a posição de chefe dos discípulos.
Na passagem: “desde João Batista até agora se faz violência ao Reino do Céu”, Jesus não estava se referindo à falha do povo em geral, mas à do próprio João Batista. Se João tivesse agido sabiamente, não teria se afastado de Jesus, e seus atos teriam permanecido para sempre como justiça; mas, infelizmente, ele bloqueou o caminho para o povo judeu chegar a Jesus, como também o seu próprio caminho.
Aqui, chegamos a compreender que o maior fator que conduziu à crucifixão de Jesus foi a falha de João Batista. Paulo lamentou a ignorância do povo, inclusive de João Batista, que crucificou Jesus, dizendo:
"Nenhum dos príncipes deste mundo conheceu isto, pois se tivessem conhecido, nunca teriam crucificado o Senhor da Glória." (I Co 2.8)
4. O MOTIVO PELO QUAL JOÃO BATISTA ERA ELIAS
De acordo com o que ficou anteriormente afirmado (cf. Seção II, 1), podemos ver que João Batista veio para suceder Elias e cumprir sua missão deixada inacabada na Terra. Como Lucas 1.17 diz, João nasceu com a missão de ir adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos e os desobedientes à prudência dos justos e
para preparar ao Senhor um povo bem disposto. Por este motivo, João era o segundo advento de Elias do ponto de vista de sua idêntica missão. Os detalhes serão esclarecidos no capítulo sobre a “Ressurreição”, mas sabemos agora que Elias desceu em espírito para João Batista. Cooperando com João Batista, ele procurou cumprir sua missão, inacabada durante sua vida física na Terra, através do corpo físico de João Batista.
João Batista estava na posição de representar o corpo físico de Elias, fazendo-se idêntico a ele, do ponto de vista de sua missão.
5. NOSSA ATITUDE PARA COM A BÍBLIA
Aprendemos do estudo da Bíblia, que a ignorância e descrença de João Batista produziu a descrença do povo judeu, que finalmente compeliu Jesus a tomar o caminho da crucifixão. Desde o tempo de Jesus até o presente, ninguém foi capaz de revelar este segredo celeste. O motivo é que até agora temos lido a Bíblia somente do ponto de vista de que João Batista era
o maior de todos os profetas. Aprendemos da história de João Batista que devemos abandonar a atitude conservadora de fé, que nos levou a temer remover o velho conceito tradicional de fé. Se fosse injusto acreditar que João Batista tivesse falhado no cumprimento de sua missão, sendo que ele realmente tivesse tido êxito, seria, sem dúvida, também errado acreditar que
ele tenha cumprido sua missão se, ao invés, ele tivesse falhado. Devemos lutar para encontrar o verdadeiro caminho da fé, tanto em espírito como em verdade.
Acabamos agora de esclarecer a verdadeira natureza da história de João Batista, como se demonstra na Bíblia. Todo cristão que, em comunicação espiritual, puder ver João Batista diretamente no mundo espiritual, será capaz de compreender a autenticidade de todas estas coisas.
2006-11-30
06:19:32
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Anonymous
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