O sistema nervoso apresenta-se dividido em duas porções: uma situada no paquímero neural ou posterior constituindo o sistema nervoso central, que engloba o encéfalo e a medula espinhal, e outra situada no paquímero anterior ou visceral constituindo o sistema nervoso periférico, contendo os nervos e gânglios periféricos.
O neurônio é a unidade funcional do sistema nervoso. Ele é constituído pelo corpo celular, axônio e dendritos. Os axônios e os dendritos, neste sistema, se agrupam em tractos, lemniscos ou fascículos e estão distribuídos em dois grupos: aqueles que levam o impulso ao órgão efetuador, as vias eferentes, e aqueles que trazem o impulso ao sistema nervoso central, as vias aferentes.
As fibras eferentes encontram-se distribuídas em duas classes: somáticas e viscerais. As fibras eferentes viscerais vão compor o chamado sistema nervoso autônomo, responsável pela inervação das glândulas, musculatura lisa e musculatura cardíaca. No caso da eferente somática, estas vão inervar os músculos esqueléticos, os quais estão sob controle voluntário.
Os tractos constituídos por fibras eferentes promovem uma comunicação entre os neurônios motores situados no córtex cerebral e os neurônios situados na medula. Esta comunicação pode ser direta: córtex » medula; ou por uma forma indireta: córtex » núcleo da base » medula.
2. Considerações Gerais
O Sistema Nervoso Central necessita de um mecanismo que o conecte ao Sistema Nervoso Periférico. Este mecanismo se processa através de vias aferentes e eferentes.
As vias aferentes são vias sensitivas e sensoriais, centrípetas, que nascem na periferia, e fornecem todos os tipos de informações aos centros receptores.
As vias eferentes são centrífugas a partir dos centros efetores, geram impulsos, e esses impulsos irão estimular a contração muscular.
Este trabalho vai se limitar às grandes vias eferentes que, por sua vez, dividem-se em somáticas e viscerais. As últimas vão ligar o sistema supra-segmentar a músculos liso, cardíaco ou glândula, através dos tractos retículo-espinhal e hipotálamo-espinhal. Os tractos citados fazem a conexão de forma indireta e direta, respectivamente.
As vias somáticas dividem-se em piramidais e extrapiramidais. As vias piramidais são representadas pelos tractos que transitam pela pirâmide bulbar, são eles: o córtico-espinhal e o córtico-nuclear. O papel do tracto córtico-espinhal está relacionado à inervação da musculatura esquelética. Possui também a exclusiva função de controlar os movimentos de precisão, realizados pela parte distal dos membros.
Já o tracto córtico-nuclear é o correspondente do tracto córtico-espinhal no tronco encefálico. Porém esse não se corresponde com os neurônios motores da medula, como o tracto córtico-espinhal, e sim, com os núcleos dos nervos cranianos.
As vias extrapiramidais são representadas basicamente pelos tractos rubro-espinhal, tecto-espinhal, vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal.
O tracto tecto-espinhal origina-se nos colículos superiores e está relacionado com os movimentos reflexos da cabeça e com o campo visual.
O tracto vestíbulo-espinhal é composto por dois feixes originados basicamente no núcleo vestibular lateral do bulbo. É a principal via de associação entre os órgãos vestibulares e a medula espinhal.
O tracto rubro-espinhal nasce no núcleo rubro e assim como o tracto córtico-espinhal, está envolvido com o controle dos movimentos esqueléticos voluntários.
O tracto retículo-espinhal surge da formação reticular do bulbo e da ponte. É responsável pela manutenção da postura e do tônus muscular. É o mais importante tracto extrapiramidal (MACHADO, 2000).
É importante também que se tenha o conhecimento da aplicação prática deste estudo, o que será feito de forma sucinta através da exposição de algumas síndromes envolvidas com os distúrbios destas vias.
3. Eferência Autonômica
O sistema nervoso autônomo é o componente que inerva as vísceras, tendo importância na manutenção da estabilidade do meio interno, ou seja, na homeostase.
Umas das diferenças anatômicas entre os sistemas autônomo e somático está no número de neurônios entre o sistema nervoso central e os órgãos efetuadores. No sistema nervoso autônomo, há dois neurônios: um pré-ganglionar e um pós-ganglionar, excetuando a inervação da substância medular da glândula supra-renal, que recebe, diretamente, fibras pré-ganglionares. Assim, os impulsos nervosos que saem do sistema nervoso supra-segmentar em direção às vísceras, alcançam os neurônios pré-ganglionares e destes passam para os neurônios pós-ganglionares, a partir dos quais se distribuem para os diferentes órgãos.
A atividade visceral é regulada pelo hipotálamo, pelo sistema límbico e pela área pré-frontal. Para que haja essa regulação é necessária a existência de vias nervosas, conectando o sistema nervoso supra-segmentar aos neurônios pré-ganglionares. Entre estas vias existem aquelas que são indiretas, tendo início na formação reticular do mesencéfalo e a partir daí se projetando sobre os neurônios pré-ganglionares por meio do tracto retículo-espinhal. Mas ocorrem também as vias diretas entre o hipotálamo e os neurônios pré-ganglionares através do tracto hipotálamo-espinhal.
Os centros nervosos que dão origem aos impulsos eferentes viscerais localizam-se na medula espinhal e no encéfalo. No córtex cerebral estão situados na área pré-frontal e no lobo límbico; No diencéfalo situam-se em núcleos hipotalâmicos dos grupamentos anterior, médio e posterior. No tronco encefálico ocupam a formação reticular e se associam a núcleos dos nervos cranianos oculomotor, facial, glossofaríngeo e vago; e na medula espinhal constituem a coluna cinzenta lateral dos segmentos torácicos e lombares altos, e parte da coluna anterior dos segmentos sacrais S2, S3 e S4.
Fibras que saem dos centros responsáveis pelas atividades viscerais situados no córtex, no diencéfalo, na formação reticular, para estabelecer sinapses com os neurônios de núcleos motores viscerais da medula espinhal, percorrem o tegmento e a porção médio-lateral da formação reticular do tronco encefálico e os funículos anterior e lateral da medula espinhal.
Há uma importante via eferente visceral na massa cinzenta subependimária do tronco encefálico, próximo à linha mediana: o fascículo longitudinal dorsal ou posterior.
Acredita-se que outras fibras eferentes viscerais da medula espinhal constituem grandes cadeias de curtos neurônios poucos mielinizados. Essas cadeias neuronais podem ser homolaterais ou à medida que vão descendo cruzam a linha mediana, alcançando o lado oposto do neuro-eixo.
O neurônio pré-ganglionar possui o corpo localizado em um núcleo anexo ao dos nervos cranianos citados anteriormente, ou na coluna lateral (de T1 a L2), ou mesmo ainda na coluna anterior (de S2 a S4) da medula e conduz o impulso nervoso até o gânglio simpático.
Já o corpo do neurônio pós-ganglionar está situado no gânglio simpático ou disperso ao longo do nervo.
Sistema Nervoso Autônomo Simpático
Os corpos dos neurônios pré-ganglionares simpáticos situam-se nos segmentos medulares torácicos e lombares altos. As fibras desses neurônios se destinam a gânglios simpáticos para-vertebrais, do tronco simpático, ou a gânglios simpáticos pré-vertebrais. Elas saem da medula junto com as fibras das raízes ventrais dos nervos espinhais, abandonando-os ao nível de formação dos troncos dos respectivos nervos através dos ramos comunicantes brancos e alcançando os gânglios simpáticos.
Em geral, a fibra pré-ganglionar ao atingir o gânglio do tronco simpático, estabelece várias sinapses com os neurônios pós-ganglionares e então, essas fibras pós-ganglionares podem tomar três caminhos diferentes para sua inervação terminal: as fibras podem destacar-se como um nervo à parte, como um plexo arterial ou ainda através do ramo comunicante cinzento, elas podem alcançar o tronco do nervo espinhal correspondente, indo inervar os músculos eretores dos pêlos, os vasos e as glândulas sudoríparas.
As fibras pré-ganglionares podem não estabelecer sinapses ao chegar no respectivo gânglio e, em vez disso, percorrem o tronco simpático através das fibras interganglionares. As fibras de origem torácica alta tendem a alcançar os gânglios cervicais, enquanto que as de origem torácica baixa e lombar alta, tendem a alcançar os gânglios sacrais e coccígeos (quando estes existem). E as de origem intermediária tem destino ascendente e descendente com trajeto mais ou menos longo. Estas fibras irão atingir gânglios de diferentes níveis onde estabelecerão sinapses com neurônios pós-ganglionares. Daí podem alcançar o nervo espinhal, via ramo comunicante cinzento, se distribuindo com ele, ou então saem como ramo recorrente para as meninges medulares ou ainda como pequenos ramos viscerais para a musculatura lisa e glândulas de órgãos vizinhos.
As fibras pré-ganglionares podem ainda atravessar os gânglios do tronco simpático sem interrompimento, indo estabelecer sinapses com neurônios de gânglios pré-vertebrais, constituindo os nervos esplâncnicos. As fibras pós-ganglionares originadas dos gânglios pré-vertebrais acompanham vasos e formam plexos.
As fibras pré-ganglionares que, através dos nervos esplâncnicos, se destinam à substância medular da glândula supra-renal, conduzem impulsos nervosos que levam à secreção de adrenalina, que através da corrente sangüínea estimula os neurônios pós-ganglionares simpáticos, em virtude da afinidade dessa substância com o sistema nervoso autônomo simpático. Por conta disso, o funcionamento deste sistema tende a ser unitário. As fibras pós-ganglionares simpáticas contraem o baço, inibem ações gastrointestinais, aceleram o ritmo cardíaco, dilatam os brônquios, dilatam a pupila, deixa os pêlos eretos, contraem os vasos, entre outros demais bem característicos.
Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático
Os núcleos dos neurônios pré-ganglionares parassimpáticos situam-se em núcleos anexos aos dos nervos cranianos oculomotor, facial, glossofaríngeo e vago e nos segmentos sacrais S2, S3 e S4. As fibras pré-ganglionares seguem com as dos respectivos nervos, alcançando gânglios situados próximos ou nas paredes das vísceras (gânglios ciliar, óptico, cardíaco e outros).
O gânglio ciliar localiza-se na cavidade orbitária e recebe fibras pré-ganglionares através III par craniano, enviando os nervos ciliares curtos que contém fibras pós-ganglionares para o bulbo ocular e para alguns músculos situados a este nível.
O gânglio pterigopalatino situa-se na fossa pterigopalatina e recebe fibras pré-ganglionares através VII par craniano, enviando as fibras pós-ganglionares para a glândula lacrimal.
O gânglio óptico está logo abaixo do forame oval e recebe fibras pré-ganglionares mediadas pelo IX par craniano, mandando as fibras pós-ganglionares para a glândula parótida via nervo aurículo-temporal.
Já o gânglio submandibular situa-se próximo da glândula submandibular e recebe fibras pré-ganglionares do VII par craniano, mandando fibras pós-ganglionares para as glândulas submandibular e lingual.
Existem gânglios parassimpáticos próximos ou situados na parede das vísceras, do abdômen e do tórax, sendo que nas paredes do tubo digestivo formam os plexos submucoso (Meissner) e mioentérico (de Auerbach). Esses gânglios recebem fibras pré-ganglionares do nervo vago, enviando fibras pós-ganglionares curtas para as vísceras.
As fibras pré-ganglionares que saem através das raízes ventrais dos nervos sacrais se destacam ao nível do tronco destes nervos, formando os nervos esplâncnicos pélvicos. Através destes, chegam às vísceras da pelve onde fazem sinapse nos gânglios aí situados.
Conexões Eferentes do Sistema Límbico
O sistema límbico desempenha suas funções através de conexões que existem entre o sistema límbico e o hipotálamo, e entre o sistema límbico e a formação reticular do mesencéfalo.
O hipocampo, o corpo amigdalóide e a área septal são as estruturas do sistema límbico que mantêm relações com o hipotálamo. O hipocampo, através do fórnix, conecta-se com os núcleos mamilares do hipotálamo e, a partir daí, os impulsos vão em direção ao núcleo anterior do tálamo através do fascículo mamilo-talâmico (circuito de Papez); o corpo amigdalóide conecta-se com o hipotálamo através da estria terminal; e a área septal se liga ao hipotálamo no decurso de fibras que percorrem o feixe prosencefálico medial.
Já as conexões do sistema límbico com a formação reticular do mesencéfalo ocorrem através do feixe prosencefálico medial, situado entre a área septal e o tegmento do mesencéfalo; através do fascículo mamilo-tegmentar; e através da estria medular, área septal até os núcleos habenulares do epitálamo, que se ligam ao núcleo interpeduncular do mesencéfalo, e daí os impulsos seguem para a formação reticular.
Essas vias possibilitam ao sistema límbico fazer controle do sistema nervoso autônomo, em vista de existir conexão direta do hipotálamo e da formação reticular com os neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo.
4. Neurônios Motores
4.1 Neurônio Motor Superior
O sistema piramidal, discutido mais adiante, é um sistema complexo formado por diversas áreas do cérebro. As células piramidais gigantes de Betz situados no giro pré-central fazem parte deste sistema. Estas células são relativamente escassas, em número de 25.000 a 34.000. Elas originam as fibras mais grossas de 10 a 22 mícrons. As fibras delgadas, mais numerosas, provêm de outras áreas corticais. As fibras grossas estão relacionadas com os movimentos mais específicos e as fibras finas com movimentos mais amplos e com o tônus muscular.
4.2 Neurônio Motor Inferior
Os neurônios motores inferiores situam-se na coluna anterior da medula, e podem ser divididos em dois grupos principais: neurônios motores alfa e neurônios motores gama.
• Neurônios motores alfa: dão origem às fibras nervosas do tipo A alfa ou fibras eferentes alfas com aproximadamente 16 micrômetros de diâmetro. Estas fibras vão inervar as fibras musculares esqueléticas, geralmente uma única fibra inerva entre 150 a 300 fibras musculares extrafusais. O neurônio motor junto com as fibras musculares por ele inervadas é chamado de unidade motora.
• Neurônios motores gama: originam as fibras do tipo A gama ou fibras eferentes gama com cerca de 5 micrômetros de diâmetro e inervam as fibras intrafusais.
Os neurônios motores inferiores atuam na manutenção do tônus muscular e na postura junto com mecanismos proprioceptivos como o fuso neuromuscular. O fuso é formado por uma região mediana não contrátil e extremidades formadas por fibras musculares intrafusais contráteis em número de 3 a 10. Enrolado em torno da área central existe uma terminação nervosa chamada receptores anulospiral sensível à distensão da parte central. O fuso neuromuscular está envolto por uma bainha de tecido conjuntivo que está ligada direta ou indiretamente ao tendão do músculo, assim qualquer modificação na forma do músculo excita os neurônios do receptor anulospiral que entram pela raiz sensitiva e fazem sinapse ou com os neurônios motores ou com os neurônios internunciais (mais comum).
As fibras eferentes alfa inervam as fibras extrafusais, maior parte do músculo, e as fibras eferentes gama inervam as fibras intrafusais aumentando ou diminuindo a excitação do receptor anulospiral. Desta maneira os neurônios motores inferiores atuam na manutenção do tônus muscular, na postura e na quantidade da contração.
Existe também neurônio beta, cujos axônios se bifurcam para inervar tanto as fibras extrafusais como as intrafusais. Estes neurônios, comuns em anfíbios e répteis, ocorrem em número reduzido em alguns mamíferos (MACHADO, 2000).
As fibras eferentes gama podem ainda excitar as fibras intrafusais e distender a área central estimulando o receptor anulospiral e assim causar uma contração muscular generalizada, isto é chamado de sistema de controle servo.
Síndrome do neurônio motor inferior
Acomete os neurônios motores primários (alfa e gama) e com isso, atrapalha toda a manutenção do tônus muscular e da postura, causando hipotrofia e reflexos hipoativos (paralisia flácida). Uma das doenças do neurônio motor inferior é a poliomielite.
5. Vias Piramidais
O fascículo piramidal tem ação motora sobre a musculatura voluntária. Esta área motora piramidal exerce sua ação sobre o neurônio motor primário através de dois tractos: córtico-espinhal e córtico-nuclear.
Suas fibras originam-se no córtex cerebral, em células denominadas Células Gigantes Piramidais (Células de Betz) às quais estão localizadas principalmente na área 4.
A área 4 corresponde a parte posterior do giro pré-central, nas proximidades do sulco central. Ela é a responsável pelos movimentos de grupos musculares do lado oposto, daí que os distúrbios dessa área são caracterizados por problemas motores. Sua conformação é a de um homúnculo motor cuja cabeça se situa inferiormente e o pé superiormente (na região anterior do lóbulo para-central); nessa conformação, vale ressaltar, a grande área correspondente à mão, isso se deve à necessidade de movimentos precisos e delicados do membro superior.
Os axônios dessas células formam fibras com grandes diâmetros e que são mielinizadas. Essas fibras transmitem seus impulsos nervosos com a velocidade mais rápida de transmissão dentre todos os neurônios que transmitem seus impulsos para a medula. Além disso, no caso do tracto córtico-espinhal, calculou-se que 55% das fibras deixam a medula na região cervical, 20% na região torácica e 25% na região lombar o que caracteriza o grande controle sobre o membro superior.
Tracto Piramidal Córtico-Espinhal
Assim como todas as fibras piramidais, o tracto córtico-espinhal também tem sua origem nos neurônios do córtex cerebral, principalmente da área 4 (giro pré-central). Os axônios corticais formam fibras que eferem pela coroa radiada passando, em seguida, pela perna posterior da cápsula interna onde se dispõem, de frente para trás, da seguinte maneira: membros superiores, tronco e membros inferiores. A partir daí, seguem para a base do pedúnculo cerebral, onde se situam, ântero-lateralmente à substância negra e lateralmente ao tracto córtico-nuclear medial; em seguida, seguem para a base da ponte onde se aproximarão da linha mediana.
No bulbo se agrupam na pirâmide, onde seguem até a junção entre o bulbo e a medula espinhal. Neste local existe uma decussação incompleta (entre 75% a 90% das fibras seguem esse trajeto - MACHADO, 2000) as quais formarão o tracto córtico-espinhal lateral; as fibras que prosseguem sem cruzar formam o tracto córtico-espinhal anterior.
Como já foi dito, as fibras do tracto córtico-espinhal anterior não cruzam e passam a seguir um trajeto ventral na medula, ocupando o funículo anterior (medialmente à emergência das raízes espinhais anteriores). Ao nível do neurônio motor, essas fibras, que não realizaram nenhuma conexão desde a sua origem cortical, cruzam a comissura anterior indo se relacionar ao ramo anterior contra-lateral.
Já o tracto córtico-espinhal lateral ocupa a parte posterior do funículo lateral, estas fibras vão manter-se no mesmo lado, isto é, vão se relacionar com o corno anterior homolateral. Isto ocorre porque suas fibras já cruzaram a linha mediana na decussação. Segundo STRONG Y ELWYN (1967), o tracto córtico-espinhal lateral possui algumas fibras homolaterais (cerca de 10% de seu total) que não decussam no bulbo e nem cruzam na medula.
Apesar de se relacionarem com o corno anterior, a maioria das fibras não faz sinapse diretamente com os neurônios motores, elas fazem sinapse com neurônios internunciais situados na substância cinzenta intermédia, que por sua vez, vão se relacionar com os neurônios motores (acredita-se que isso possibilita a este neurônio exercer uma função também inibitória sobre os neurônios motores).
O tracto córtico-espinhal exerce uma função essencialmente motora (axial e apendicular) em especial os movimentos delicados e que exigem destreza (movimento dos dedos), isso ocorre porque o tracto córtico-espinhal emite fibras que se ligam diretamente aos neurônios motores o que possibilita movimentos independentes. Como esses movimentos delicados são exclusividade do tracto córtico-espinhal, considera-se hoje que esta seja sua principal função, tendo em vista que o tracto retículo-espinhal tem função motora sobre as partes proximais dos membros e o tracto rubro-espinhal tem função motora sobre a parte distal dos membros. Por isso, em casos de lesões do tracto córtico-piramidal, existe uma perda de força (paresia), mas não existe uma perda total dos movimentos que depois são recuperados - com exceção dos movimentos delicados que são perdidos definitivamente.
Apesar disso tudo, existe uma tendência em se admitir (MACHADO, 2000 & STRONG Y ELWYN, 1967) que o tracto córtico-espinhal está envolvido também na ação sensitiva, isso porque existem fibras originadas na área somestésica do córtex e que terminam na coluna posterior.
As fibras córtico-espinhais agem tanto sobre neurônios motores alfa como gama, produzindo uma resposta motora (este último, através da alça-gama).
Tracto Piramidal Córtico-Nuclear
Apresenta-se composto por fibras de axônios dos neurônios motores do córtex cerebral que se situam na porção inferior do giro pré-central. Essa porção corresponde à área 4, responsável pelo território muscular subordinado aos nervos cranianos. Equivale às regiões da cabeça e do pescoço no homúnculo motor ou de Penfield.
As fibras atravessam o centro branco medular do cérebro e convergem para a cápsula interna, na parte que corresponde ao seu joelho. Alcançam o tronco encefálico, onde a maioria das fibras faz sinapse com neurônios internunciais situados na formação reticular. Estes últimos encontram-se próximos aos núcleos motores, e estes por sua vez, ligam-se aos núcleos motores dos nervos cranianos.
A partir do tronco encefálico, as fibras divergem e se dirigem aos núcleos da coluna eferente somática (núcleos do oculomotor, troclear, abducente e hipoglosso) e eferente visceral especial (núcleo ambíguo e núcleos motores do trigêmeo e facial).
Algumas fibras do tracto córtico-nuclear terminam em núcleos sensitivos do tronco encefálico (grácil, cuneiforme e núcleo do trigêmeo).
Ao contrário da maioria dos autores da literatura pesquisada, (LATARJET & RUIZ LIARA, 1993) divide o trajeto dessas fibras em uma porção anterior e uma porção posterior.
Na porção anterior suas fibras descem para a ponte, e nela se expandem de forma gradual, chegando, sucessivamente aos núcleos dos nervos trigêmeo, facial, glossofaríngeo, acessório e hipoglosso.
Já na porção posterior, suas fibras vão para os núcleos motores do bulbo ocular (oculomotor, troclear e abducente) e para os núcleos espinhais do nervo acessório.
Diferenças Básicas entre os Feixes Córtico-Espinhal e Córtico-Nuclear
O tracto córtico-nuclear transmite impulsos aos neurônios motores do tronco encefálico, enquanto que o tracto córtico-espinhal o faz aos neurônios motores da medula.
As fibras do tracto córtico-espinhal são potencialmente cruzadas; já o tracto córtico-nuclear tem um grande número de fibras homolaterais.
Desta forma, demonstra-se que a inervação dos núcleos cranianos motores é em grande parte bilateral, mais complexa, além de mais extensa que a existente em níveis medulares. Esta representação bilateral é mais acentuada nos grupos musculares que não podem ser contraídos voluntariamente de um só lado, como os músculos da laringe e faringe, os músculos da parte superior da face (corrugador do supercílio, orbicular e frontal), os músculos que movimentam a mandíbula (masseter, temporal e pterigóideo medial) e os músculos motores do olho.
O núcleo do nervo facial apresenta um comportamento diferente das fibras córtico-nucleares. A porção inferior do núcleo do nervo facial recebe aferências córtico-nucleares apenas heterolaterais; este dado anatômico é de considerável importância clínica, pois permite distinguir dois tipos de paralisia facial: central e periférica. Na central teremos o comprometimento dos músculos da mímica da porção inferior da hemiface contra-lateral. Na periférica, todos os músculos da mímica homolaterais estarão paralisados.
Algumas Considerações sobre a Síndrome Piramidal
Antes de iniciar as características da síndrome piramidal, devem ser conhecidos alguns termos básicos.
Por exemplo, a perda a força muscular é denominado paresia, por sua vez, a perda total do movimento é chamada de plegia. Daí os conceitos de hemiplegia e hemiparesia, que nada mais são do que manifestações dos termos anteriores em lados inteiros do corpo.
Tônus trata-se do estado de relativa tensão em que se encontra o músculo em repouso. Pode se manifestar através de seu aumento (hipertonia), diminuição (hipotonia) e sua ausência (atonia).
Nessas modificações na motricidade podem ocorrer modificações nos reflexos musculares como hiperreflexia profunda (aumento), hiporreflexia superficial (diminuição) e arreflexia (ausência).
Paralisias flácidas (característica do neurônio motor inferior) são aquelas com hiporreflexia e hipotonia, sendo aquelas com hiperreflexia e hipertonia denominadas de paralisias elásticas (relacionadas com o sistema piramidal) ou plásticas (referentes ao sistema extrapiramidal).
Essas lesões das vias de motricidade se acomodam em dois grupos: as lesões do neurônio motor inferior, que se caracterizam pela afecção dos neurônios da coluna anterior da medula, e a síndrome do neurônio motor superior, onde a lesão é referente a áreas motoras do córtex e suas respectivas fibras de eferência.
Síndrome Piramidal
A denominação de síndrome piramidal é um pouco errônea, mas consagrada pelos tempos, pois antigamente achava-se que os sintomas apresentados por pacientes portadores da síndrome do neurônio motor superior fossem exclusivos de lesões restritas ao tracto córtico-espinhal. No entanto, conseguiu-se provar, mais tarde, através da piramidotomia em macacos (garantindo assim, a secção exclusiva do tracto piramidal), que outras fibras motoras descendentes também tinham de ser lesadas para o aparecimento dos correntes sintomas. A base da experiência está no fato de os animais só apresentarem, após a secção, como seqüela significativa, dificuldades motoras nos dedos.
A lesão de outras fibras torna-se evidente, em decorrência dessa observação, e fala-se em lesão dos tractos córtico-nuclear e rubro-espinhal. Este tracto rubro-espinhal age da seguinte forma: ele atua ativando os neurônios motores alfa e gama para os músculos distais dos membros e inibe os neurônios motores alfa e gama para os músculos extensores, de modo que tem ação quase que sobreposta a do piramidal. Portanto pode-se dizer, que a função mais importante desse tracto córtico-espinhal é o comando da destreza e habilidade da movimentação dos flexores distais dos membros, que tem controle exclusivo pelo mesmo.
O sistema piramidal é encarregado basicamente pela elaboração e condução dos impulsos motores voluntários e inibição sobre o sistema extrapiramidal e sistema motor periférico, por meio de fibras de comunicação.
A síndrome piramidal ocorre de maneira gradativa. Logo de início, acontece uma paralisia flácida, com hipotonia e hiporreflexia, e um tempo depois, ela se torna bem característica, com uma paralisia epástica, acompanhada do sinal de Babinski, sincinesias, ausência de movimentos voluntários e clônus.
Clinicamente falando, essas lesões piramidais traduzem-se por duas ordens de sintomatologia, a síndrome piramidal deficitária e a síndrome piramidal de libertação.
A síndrome piramidal deficitária se caracteriza pela perda dos movimentos voluntários, resultando em hemiplegias, paraplegias, monoplegia, triplegia e tetraplegia, isso tudo a depender da extensão da lesão.
A síndrome piramidal de libertação, por sua vez, apresenta os sintomas decorrentes da alta atividade dos sistemas extrapiramidal e periférico, como hiperreflexia elástica e eletiva, o sinal de Babinski, sincinesias e outros.
A síndrome piramidal propriamente dita não passa do conjunto de sintomas destas duas ocorrências. É importante frisar que essas não ocorrem por lesões exclusivas do tracto piramidal, como citado anteriormente.
O acidente vascular encefálico agudo é um dos principais responsáveis pelo aparecimento dessa síndrome. Esse acidente vascular se revela muito prejudicial, pois compromete bastante a cápsula interna, e para provar que as lesões não acometem exclusivamente as fibras do tracto córtico-espinhal, faz-se necessário uma descrição breve dos sintomas acompanhados de alguns conceitos anatômicos.
No caso da síndrome deficitária, decorrente de lesão capsular, tudo se explica naturalmente. A paralisia acontece porque se encontram interrompidos os tractos córtico-espinhal, córtico-nuclear, dentre outras fibras córtico-fugais.
No caso da síndrome de libertação, a hipertonia é causada pela ausência de funcionamento das vias córtico-espinhal, rubro-espinhal e retículo-espinhal lateral, e conseqüente preponderância do sistema vestíbulo-espinhal, que é responsável pela ativação dos neurônios alfa e beta destinados à ativação dos músculos extensores e inibição dos flexores. O não funcionamento do tracto retículo-espinhal lateral, possibilita a hiperatividade do sistema córtico-retículo-espinhal anterior, que é facilitador dos neurônios alfa e gama, e isso faz com que os reflexos miotáticos fiquem exaltados.
Um dos grandes indicadores da síndrome piramidal é o sinal de Babinski, a estimulação da região plantar provoca normalmente flexão plantar dos artelhos, porém, quando há lesão do sistema piramidal, a resposta é uma dorso-flexão do hálux e abertura dos demais. Na criança, o sinal de Babisnki é normal porque os tractos piramidais ainda não estão completamente mielinizados.
6. Vias Extrapiramidais
O sistema motor extrapiramidal é mais antigo e se constitui no sistema motor primitivo. Um bebê que nasça prematuramente aos oito meses, embora não tendo completado o desenvolvimento piramidal da medula, é capaz de realizar vários movimentos, que são organizados pelo sistema extrapiramidal.
A maior parcela da atividade motora do homem é aquela que envolve os movimentos automáticos e a manutenção do tônus muscular: a organização dessas funções é atribuída ao sistema extrapiramidal. Os complexos atos motores que são apreendidos após longos treinamentos e que dependem de atos voluntários (nadar, andar de bicicleta) e que se tornaram automáticos, os movimentos instintivos de defesa, fuga ou ataque também são atribuídos a esse sistema.
Com relação ao tônus muscular, o sistema extrapiramidal atua de maneira a inibi-lo, através das conexões dos sistemas com as áreas bulboreticulares que vão atuar diretamente nos mecanismos tonígenos.
O sistema extrapiramidal é representado pelos núcleos da base, núcleos do tronco encefálico e suas correspondentes projeções medulares, conectando com os corpos celulares de neurônios motores periféricos (DORETTO, 1989).
Tracto Vestíbulo-Espinhal
É composto por dois feixes, um ventral ou anterior e um lateral. O tracto vestíbulo-espinhal ventral origina-se em sua maior parte do núcleo vestibular espinhal ou do núcleo vestibular inferior. Trajeta no sentindo crânio-caudal, na porção anterior do funículo anterior da medula, lateralmente ao tracto córtico-espinhal anterior.
Segundo BROBECK (1976), este tracto nada mais é que uma extensão descendente do fascículo longitudinal medial.
O tracto vestíbulo-espinhal lateral origina-se do núcleo vestibular lateral do bulbo (algumas fibras se originam do núcleo vestibular lateral contra-lateral) ou núcleo de Deiter, recebendo fibras do ramo vestibular do nervo vestíbulo-coclear (VIII par craniano) e do cerebelo, mais precisamente do arquicerebelo. Também tem seu trajeto no sentido crânio-caudal, percorrendo toda a medula, no entanto, a grande maioria das fibras não se cruza. Apresenta-se como uma via destacada, situada na porção lateral da medula espinhal nos segmentos cervicais e, nos demais segmentos, vai passando gradualmente de lateral para anterior.
O tracto vestíbulo-espinhal como um todo termina em fibras do fascículo anterior ou então, em neurônios internunciais que irão transmitir informações, através de sinapses, aos neurônios motores situados nos cornos anteriores da medula espinhal.
As fibras aferentes cerebelares terminam especificamente em porções do núcleo vestibular lateral. Além disso, órgãos vestibulares e porções específicas do cérebro mandam informações aos tractos vestíbulo-espinhais, que por sua vez, conduzem estas informações através de impulsos nervosos à medula espinhal de uma maneira indireta. Assim, nota-se que as influências vestibulares sobre a medula, são realizadas em grande parte devido ao tracto vestíbulo-espinhal. Segundo CARPENTER (1967), existem provas de que os núcleos vestibulares, principalmente o núcleo vestibular lateral, exercem influências sobre a atividade reflexa da medula e sobre mecanismos espinhais que controlam o grau de contração muscular.
Tracto Tecto-Espinhal
Os feixes deste tracto originam-se nos colículos superior e inferior contra-laterais, situados no tecto mesencefálico. Após suas formações, estes feixes se dirigem no sentido crânio-caudal, próximo à substância cinzenta do aqueduto cerebral, ocorrendo um cruzamento destes feixes na linha mediana, anteriormente ao fascículo longitudinal médio. Há uma fusão destes feixes, formando um tracto compacto, que trajeta ao longo do tronco encefálico, através da formação reticular. Segundo CARPENTER (1967), ao nível bulbar, o tracto tecto-espinhal se incorpora dentro do fascículo longitudinal médio. Antigamente as fibras tecto-espinhais constituíam o fascículo pré-dorsal.
Ao nível da medula espinhal, este tracto se bifurca, formando dois fascículos, um anterior e outro posterior, que terminam nos segmentos cervicais. A este nível, estão situados os centros nervosos para os músculos do pescoço. Com isso, as fibras nervosas deste tracto estabelecem sinapses direta ou indiretamente com neurônios motores que inervam esta musculatura da região cervical. Assim, os estímulos captados pela retina e córtex relacionada à visão, são transmitidos aos colículos superiores, e estes por sua vez, passam estes estímulos ao tracto tecto-espinhal, o qual irá manter a interação da visão com os movimentos reflexos da cabeça (reflexos visuais).
Os colículos inferiores estabelecem relações com o tracto tecto-espinhal através dos reflexos auditivos.
Tracto Rubro-Espinhal
Consiste de um tracto relativamente reduzido na espécie humana. Suas fibras se originam das grandes células do núcleo rubro. As fibras situadas na porção medial do núcleo rubro se dirigem no sentindo crânio-caudal e cruzam a linha mediana em direção ao lado contra-lateral, formando a decussação de Forel. Após esta decussação, as fibras deste tracto trajetam ao longo da ponte e do bulbo, através das respectivas formações reticulares, no entanto, algumas destas fibras dirigem-se ao cerebelo.
Ao nível da medula espinhal, o tracto rubro-espinhal tem seu trajeto ao longo do funículo lateral, localizando-se anteriormente ao tracto córtico-espinhal lateral. Os segmentos medulares da região cervical são os que recebem maior número de fibras deste tracto.
Segundo CARPENTER (1967), o núcleo rubro e o tracto rubro-espinhal exercem influência sobre tônus muscular flexor. Segundo BROBECK (1976), este tracto tem pouca ou nenhuma função. Segundo MACHADO (2000), este tracto junto com o tracto córtico-espinhal lateral, controla a motricidade voluntária das poções distais dos membros.
Tracto Retículo-Espinhal
Este tracto é constituído por um sistema de fibras relativamente finas que se originam da formação reticular do bulbo e da ponte. Um maior número de fibras parecem ter origem nas áreas dorsal e rostral do núcleo olivar inferior (no bulbo). As fibras da formação reticular pontina, que são em sua maioria cruzadas, descem principalmente pela parte medial do funículo anterior; as fibras retículo-espinhais bulbares, principalmente diretas, estão situadas em toda parte anterior do funículo lateral. Então, na realidade existem dois tractos: um anterior, situado no funículo anterior e um lateral, situado no funículo lateral.
O tracto retículo-espinhal trajeta no sentido crânio-caudal até os segmentos torácicos, mas suas fibras podem ser encontradas em todos os segmentos da medula espinhal. Ele termina em neurônios internunciais que se ligam aos neurônios motores, situados na parte medial da coluna anterior, para realizar sua função motora.
Este tracto promove a ligação de várias áreas de formação reticular, as quais recebem informações de muitas partes do sistema nervoso central, com a medula, ou seja, com os neurônios motores que vão inervar a musculatura axial e a musculatura proximal dos membros.
Sua função está relacionada ao controle dos movimentos voluntários e automáticos que vão manter o corpo em uma postura básica. Esta é importante para a realização de movimentos finos, desempenhados pela musculatura distal dos membros, controlada pelo tracto córtico-espinhal.
O tracto retículo-espinhal tem um importante papel na manutenção do equilíbrio, da postura e no controle tônus muscular. Além de está relacionado com o controle da marcha, visto que une o centro locomotor localizado na formação reticular do mesencéfalo a um centro locomotor da medula lombar. Este último dá origem a impulsos nervosos para a manutenção rítmica dos movimentos alternados de extensão e flexão e é regulado pelo centro locomotor da formação reticular por meio do tracto retículo-espinhal.
Tracto Olivo-Espinhal e Helweg ou Bulbo-Espinhal
Consiste de um tracto complexo composto de fibras finas. Está situado na parte anterior da medula espinhal ao nível da zona de transição entre os funículos anterior e lateral, e encontra-se atravessado parcialmente por fibras radiculares ventrais. Contém fibras descendentes do núcleo olivar inferior e fibras olivo-espinhais que ascendem para os núcleos olivares acessórios posterior e medial. Este tracto tem seu trajeto até a região cervical.
O tracto olivo-espinhal relaciona-se com a transmissão dos impulsos, originados na oliva (núcleo olivar inferior), até os neurônios que irão inervar a musculatura responsável pelos movimentos automáticos, rápidos e repetitivos, no entanto, estes movimentos precisam ser previamente aprendidos. Segundo BROBECK (1976), a função deste tracto é desconhecida.
Algumas considerações sobre o Fascículo Longitudinal Medial
As fibras descendentes deste fascículo se originam do núcleo vestibular médio, da formação reticular, dos colículos superiores e do núcleo intersticial de Cajal. Além disso, este fascículo recebe fibras da via auditiva.
Suas fibras conectam os nervos cranianos oculomotor, abducente e troclear entre si e estes com os núcleos vestibulares. Este fascículo encontra-se localizado na parte posterior do funículo anterior. No tronco encefálico e na medula espinhal, as fibras deste tracto estão sempre imediatamente anteriores ao aqueduto cerebral, ao quarto ventrículo e ao canal central.
Durante seu trajeto, as fibras formam um tracto bem definido só na parte superior dos segmentos cervicais da medula espinhal. A maior parte destas fibras termina entre os neurônios internunciais da parte mais interna da coluna anterior.
A função do fascículo longitudinal medial consiste basicamente na interação entre os movimentos reflexos do globo ocular e do pescoço com os estímulos visuais, labirínticos e auditivos.
Segundo DORETTO (1989), o fascículo longitudinal medial é um importante feixe de associação, no qual as projeções do tracto interstício-espinhal juntam-se a ele.
Síndrome Extrapiramidais
Para que as síndromes extrapiramidais sejam compreendidas, faz-se necessário mostrar as funções e conexões dos núcleos da base e a correlação que existe entre a lesão dos mesmos e o aparecimento dessas síndromes.
Núcleos da base
A motricidade é integrada pelo córtex motor, pelos núcleos da base, pelo cerebelo e pelo tálamo. As "ordens motoras", antes de partirem do córtex motor, recebem "mensagens adicionais orientadas" dos núcleos da base e do cerebelo, via tálamo (DORETTO, 1989).
São incluídos entre os núcleos da base o núcleo lentiforme (putâmen e globo pálido) e o núcleo caudado. Por serem semelhantes, o putâmen e o núcleo caudado são chamados de neostriado, striatum (DORETTO, 1989) e, ainda, estriado (PORTO, 1990). O globo pálido recebeu a denominação de paleostriado. O claustro e o núcleo amigdalóide são chamados de arquiestriado.
Devido à correlação existente entre os núcleos da base com a substância negra e o núcleo subtalâmico, estes últimos foram englobados neste item.
O núcleo subtalâmico situa-se sob o tálamo e pouco se sabe sobre ele (PORTO, 1990). Ele relaciona-se com o globo pálido através de um circuito recíproco e, supõe-se que as lesões desta região levam ao aparecimento de hemibalismo. A substância negra está entre a base e o tegmento do pedúnculo cerebral (mesencéfalo). Ela desempenha ação inibitória sobre o estriado e mantém conexões com o tálamo (projeções nigro-talâmicas). Além das projeções nigro-talâmicas, há também as projeções nigro-tectais, que são formadas por fibras da substância negra que se projetam para o núcleo do colículo superior, de onde se origina o tracto tecto-espinhal.
O estriado apresenta funções importantes na manutenção e regulação dos movimentos automáticos aprendidos. O aprendizado se faz das ações diárias corticais e motoras. Depois de assimilados, os movimentos passam para o domínio do estriado. Ele tem conexões aferentes e conexões eferentes. Entre as conexões aferentes destacam-se as:
• Córtico-estriatais: originam-se no córtex motor primário e são ativadoras do estriado;
• Nigro-estriatais: originam-se na substância negra e dirigem-se ao estriado, tendo ação inibidora sobre o mesmo (tem como neurotransmissor a dopamina). Sua lesão causa o Mal de Parkinson.
As conexões eferentes mais importantes são as:
• Estriato-palidais: são projeções de função inibidora emitidas para o globo pálido e que tem ação facilitadora sobre o tônus muscular;
• Estriato-nigrais: tem função inibidora na substância negra (estriato-nigrais inibidoras) ou ação facilitadora sobre a substância negra (estriato-nigrais facilitadoras), dependendo do neurotransmissor (GABA ou substância P, respectivamente) considerado.
A lesão do estriado leva ao aparecimento de hipercinesias, as quais são movimentos involuntários, como por exemplo, às do tipo coréia.
O globo pálido tem ação inibitória sobre o tônus muscular e está relacionado aos movimentos automáticos primários e à movimentação mímica. Recebe aferências do estriado (projeções estriato-palidais) e do núcleo subtalâmico (projeções subtálamo-palidais), estas últimas agem inibindo o globo pálido. Suas projeções eferentes dirigem-se para o tálamo. A lesão do globo pálido causa hipertonia (rigidez) e tremor nas extremidades (equivalente ao que ocorre na síndrome de Parkinson); causa perda dos movimentos associados e da mímica gestual e facial, o que é característica pakinsoniana.
Nem sempre se pode relacionar as manifestações clínicas das doenças encefálicas com alterações patológicas em estruturas bem definidas anatomicamente. Em algumas doenças as lesões são extensas, abrangendo vários setores no sistema extrapiramidal; em outras, as lesões são pequenas, mas são múltiplas, acometendo estruturas variadas.
As doenças que acometem o sistema extrapiramidal podem ainda ter origem bioquímica (uso de drogas, distúrbios hormonais).
Desordens Hipocinéticas
As desordens hipocinéticas caracterizam-se por uma pobreza geral na motricidade automática e associada, com diminuição da expressão facial. Também são chamadas de: acinesia, hipocinesia, bradicinesia. Os tipos mais comuns dessas desordens são as síndromes Parkinsonianas.
Parkinsonismo
É a mais freqüente das disfunções extrapiramidais. Foi descrita em 1817 por James Parkinson com o nome de "paralisia agitante" (isso porque embora a doença seja de evolução lenta, ao fim de aproximadamente 10 anos, ela determina o acamamento do paciente o qual comporta-se realmente como "paralítico").
O Parkinsonismo é caracterizado por desordens da motricidade e suas principais manifestações são rigidez, tremor intenso, principalmente nas mãos, bradicinesia (tríade clássica) e distúrbios posturais (marcha Pakinsoniana).
Na rigidez muscular do Parkinsonismo os músculos do segmento são afetados como em todo (diferentemente da espasticidade que ocorre nas lesões piramidais): flexores, extensores, adutores, abdutores, supinadores e pronadores. O movimento passivo das articulações faz-se de uma maneira entrecortada (sinal da roda denteada).
A hipertonia muscular está relacionada a alterações no funcionamento do globo pálido por diminuição do controle inibitório exercido pelo estriado. Este deixa de realizar sua atividade inibitória porque também se encontra liberado da ação inibitória exercida pela substância negra que, na maior parte das síndromes Parkinsonianas, encontra-se lesada. Além disso, a perda das aferências diretas providas da substância negra aos neurônios motores gama da medula espinhal, com uma liberação destes, concorreria para a hipertonia.
O tremor da síndrome Parkinsoniana, pelo menos na sua forma inicial, ocorre quando os membros estão em repouso, ao contrário de outros tipos de tremores que ocorrem quando há ação muscular. O tremor é o primeiro sinal que o doente percebe e quase sempre se inicia na extremidade de um membro superior (sinal de contar dinheiro). Costuma desaparecer no sono e acentuar-se nas emoções. Com o decorrer do tempo o tremor acomete o outro membro superior e aumenta de freqüência e amplitude, passando a participar de todo o membro superior, músculos peitorais, seguimentos cefálicos e membro inferior.
Segundo HASSLER (1984), a motricidade normal está no equilíbrio entre a ação sincronizada do sistema piramidal origina sobre os sistemas motores segmentares da medula e entre a ação dessincronizante que o sistema estriato-nigral exerce sobre aquele setor medular. No Parkinsonismo, há uma diminuição da ação dessincronizante e predomínio da ação sincronizante, o que causa tremor. Isso ocorre devido à queda no nível da dopamina em relação à acetilcolina.
A bradicinesia é responsável por uma pobreza na motricidade, hiponímia (diminuição da expressão facial), perda dos movimentos associados (por exemplo o balanço dos membros superiores durante a marcha), entre outros.
A instabilidade postural se deve a perda de reflexos posturais, por isso, o Parkinsoniano assume uma postura característica com a cabeça e o tronco fletidos anteriormente e tem muita dificuldade de ajustar a postura quando se inclina.
Os casos mais comuns de Parkinsonismo são os do tipo idiopático, no qual há alterações anátomo-patológicas principalmente na substância negra, no núcleo caudado e no putâmen. Na substância negra encontram-se corpos de Lewy, que são específicos da doença e há morte de seus neurônios principalmente na zona compacta. Essa morte acarreta a diminuição da dopamina no núcleo caudado, putâmen e globo pálido. Como a dopamina é um neurotransmissor inibitório da atividade colinérgica estriatal (excitatória), sua diminuição produz um desequilíbrio entre a atividade dopaminérgica (diminuída) e atividade colinérgica (aumentada). Esse desequilíbrio origina uma desorganização funcional do sistema extrapiramidal e vai originar os principais sintomas da síndrome Parkinsoniana.
Desordens Hipercinéticas
Atetose
Nessa desordem hipercinética, ocorrem movimentos involuntários nas partes distais de um ou mais membros. Também pode atingir o tronco, o pescoço e a face. Esses movimentos têm caráter lento, de contrações musculares vigorosas e a movimentação voluntária nos membros atingidos ficam muito dificultada ou até impossibilitada.
Nos membros superiores ele começa por uma hiperextensão do punho e dos dedos, seguidos por uma flexão da mão e depois uma rotação para o lado (PORTO, 1990 ).
A atetose desaparece durante o sono e intensifica-se quando há estimulação emocional ou sensorial (se está for intensa). Isso também ocorre em outras hipercinesias de origem extrapiramidal.
Alterações do corpo estriado são observadas nessa doença . Lesões na parte externa do globo pálido ou nas conexões do mesmo com o tálamo e, ainda, lesões nas conexões entre o tálamo e o córtex também podem produzir atetose.
A paralisia cerebral (na sua forma extrapiramidal) está entre os casos clínicos que promovem a manifestação da atetose. Na paralisia cerebral ocorrem lesões encefálicas que englobam áreas do sistema extrapiramidal (no período perinatal).
Tiques
Os tiques são movimentos involuntários estereotipados e que podem ser inibidos pelo controle voluntário. Entretanto, a pessoa que é portadora de um tique sente uma profunda angústia que só se alivia após o tique.
Normalmente os tiques são movimentos simples e que aparecem em momentos de tensão emocional. Os tiques são considerados como uma manifestação somática do sistema extrapiramidal desencadeado por um estímulo emocional (PRADO, RAMOS E VALLE, 1999).
No entanto, existe a "doença dos tiques" (Gilles de la Tourette) que é causada por distúrbios orgânicos no sistema extrapiramidal e em áreas afetivas. A "doença dos tiques" manifesta-se sob uma combinação de múltiplos tiques, ecolalia, coprolalia (palavras obscenas colocadas impropriamente de maneira compulsiva).
Balismo
É uma sucessão de movimentos involuntários rápidos e violentos de grandes áreas do corpo que são causados por contrações musculares enérgicas e de curta duração que acometem predominantemente as grandes articulações (escápulo-umeral e coxofemoral). Como geralmente ocorrem em apenas um lado do corpo, são chamados de Hemibalismo.
O hemibalismo é produzido por lesões extensas das áreas subtalâmicas contra-laterais, com o comprometimento do núcleo subtalâmico. Suas causas mais comuns são de origem vascular, mas tumores na área subtalâmica também podem produzir a hipercinesia.
Coréias
São umas séries de movimentos involuntárias irregulares, rápidas, sem contração tônica dos músculos, de breve duração e sem seqüência definida. Ocorrem principalmente, nas extremidades e na face. Ela também apresenta hipotonia muscular de vários graus.
Os movimentos coréicos podem apresentar-se em apenas um lado do corpo: hemicoréia. Eles originam-se da disfunção do estriado (putâmen e núcleo caudado) e do paleoestriado (globo pálido), com maior ênfase para o estriado. Lesões dessas estruturas, a ação de drogas nessa região, fatores genéticos, entre outros, podem desencadear uma série de tipos diferentes de Coréia.
Na Coréia, há uma diminuição da atividade colinérgica estriatal e aumento da atividade dopaminérgica nigral.
Neste trabalho, destacaremos a Coréia de Sydenham e a doença de Huntington.
Coréia de Sydenham
Acomete principalmente crianças na faixa etária dos 5 aos 13 anos e tem sido relacionada à moléstia reumática. Entretanto, em muitos casos se apresenta sem que um antecedente definido (artrite, faringite) possa ser identificado.
O processo imunológico oriundo da infecção provoca a deposição de imunocomplexos em várias regiões do organismo, com destaque para o SNC (áreas estriatais cerebelo e córtex). A agressão estriatal se reflete num comprometimento dos sistemas neuronais intrínsecos, com diminuição da atividade colinérgica estriatal, causando o desequilíbrio em relação à atividade dopaminérgica de origem nigral.O resultado é a manifestação da síndrome coréica.
A fase inicial dessa coréia é caracterizada por movimentos bruscos e repetitivos.Com seu progresso , há hipotonia muscular que pode ser tão extrema que pode causar prostração e pouca movimentação voluntária no portador da síndrome. Ela acarreta distúrbios comportamentais e desaparece durante o sono.
Doença de Huntington
É uma enfermidade degenerativa, de evolução lenta. Não há predisposição por sexo e é muito ligada ao fator genético. Começa em torno dos 35 anos.
No início, ela é marcada por leve postura distônica nos membros. Com sua evolução, os movimentos involuntários do tipo coréico atingem os membros, o tronco e a face; a marcha torna-se estranha e cada vez mais difícil, até que sua realização não seja possível. A expressão facial é deformada pelos movimentos faciais. O doente apresenta distúrbios emocionais e um processo demencial progressivo.
Na doença de Huntington são observadas lesões disseminadas, com degeneração celular e atrofia cerebral. As anormalidades são mais facilmente observadas no núcleo caudado e no córtex cerebral. Têm-se evidências de uma deficiência de GABA no cérebro, principalmente no estriado. O GABA funciona como um inibidor da substância negra, e sua deficiência impede essa inibição, ocasionando um aumento da atividade dopaminérgica da substância negra e esta vai causar um desequilíbrio entre dopamina e acetilcolina no estriado, levando à coréia. Essa doença não tem cura.
7. Algumas Considerações sobre os Sistemas Piramidal e Estrapiramidal
A divisão da porção somática eferente em vias piramidais e extrapiramidais apresenta-se puramente didática. Isto se justifica pelo fato de que os núcleos do corpo estriado assim como o cerebelo exercem sua influência sobre os neurônios motores através do tracto córtico-espinhal, ou seja, através do sistema piramidal. Há evidências (MACHADO,2000) de que o sistema extrapiramidal também controla os movimentos voluntários. Assim, os termos piramidal e extrapiramidal são usados para indicar respectivamente as vias motoras que passam e não passam pelas pirâmides bulbares em seu trajeto até a medula.
8. Considerações Finais
O estudo das grandes vias eferentes e de sua importância anátomo-fisiológica não se restringe apenas a seus tractos. Estes por sua vez, não são apenas feixes isolados que levam uma determinada informação até um órgão efetuador, pois na realidade, formam um complexo sistema condutor de informações que, funcionando harmonicamente, se torna o grande responsável pelas ações do homem com a natureza e com seus semelhantes, pois é através dessas vias que a manutenção da postura, os movimentos voluntários e automáticos, são possíveis.
Uma vez que as grandes vias eferentes estão associadas ao controle dos mais variados movimentos, suas disfunções podem ocasionar patologias que dificultam, ou até mesmo impossibilitem, as relações sociais do homem.
ok.
2006-11-09 07:00:07
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answer #4
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answered by M.M 7
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