Na realidade, a maioria tem um entendimento muito imperfeito do significado da palavra “perfeito”. Por exemplo, talvez se vejam camisas anunciadas por “R$ 19,90”, com o aviso ao lado, dizendo “39,90 quando perfeita”. É este o uso correto da palavra “perfeito”?
Alguns diriam que não. Talvez digam: “Não há tal coisa como uma camisa ‘perfeita’.” Por quê? Ora, talvez pensem que uma camisa “perfeita” devia ter qualidades espantosas, nunca devia gastar-se e devia durar para sempre. Mas, se a camisa fosse feita de pano que nunca se gastasse, como é que se poderia cortar o pano? Se puder ser cortado, então também pode gastar-se. E se não pudesse ser cortado, então ela seria mais dura do que qualquer outra substância existente, mais dura até mesmo do que os diamantes. Que sensação teria com tal camisa nas costas?
Sim, o uso que o anúncio faz da palavra “perfeita” é correto. O dicionário nos diz que a palavra “perfeito” vem do prefixo latino per, significando “através de todo”, “cabalmente” ou “completamente”, e do verbo facere, significando “fazer”.
Portanto, algo que é “perfeito” é algo que é ‘completamente acabado ou terminado, não lhe faltando nenhuma parte essencial, não defeituoso’. Significa também ‘satisfazer todos os requisitos e normas de excelência estabelecidos’.
Portanto, a pergunta é: Quem decide o que é essencial e quem estabelece os requisitos e as normas de excelência? No caso da camisa, é o fabricante, que mantém certos requisitos e normas. Quando estes são satisfeitos, a camisa é “perfeita”. Naturalmente, se for uma camisa esporte e o comprador quiser uma camisa social, então, do ponto de vista deste, a camisa não é “perfeita” para seu uso, para o fim que visa.
Na realidade, pois, quem objeta ao uso da palavra “perfeita” com relação a uma camisa ou coisa similar, simplesmente se orienta pelo seu “ideal” pessoal. O “ideal” é a idéia ou o conceito da própria pessoa quanto à excelência ou perfeição, é o que acha sobre como a coisa deve ser. Mas os ideais divergem de uma pessoa para outra, não divergem? O que diria sobre qual é a altura “perfeita” dum homem, o formato “perfeito” do rosto duma mulher ou mesmo o sabor “perfeito” duma torta de maçã? Sua resposta, naturalmente, representa apenas a sua própria preferência, o seu ideal.
Mas o que tem que ver isso com a Bíblia ou com a vida em perfeição na terra? Muita coisa. Embora estes pontos tenham parecido simples, tê-los em mente nos poderá ajudar a compreender muitas coisas da Palavra de Deus, inclusive as perguntas feitas no início deste artigo. Isto se dá porque as palavras hebraicas e gregas usadas pelos escritores bíblicos para expressar a perfeição têm um sentido bem similar ao significado básico da palavra portuguesa “perfeito”. Transmitem a idéia de alguma coisa “completa”, “cabal”, “rematada”, “tendo atingido o objetivo ou alvo intencionado”. Vejamos, pois, como tudo isso nos ajuda a compreender as Escrituras e a sua promessa de vida em perfeição.
DERRADEIRO ÁRBITRO DA PERFEIÇÃO
Toda a criação deve a sua existência a Deus. Isto significa que Ele é o derradeiro Juiz quanto a se algo é perfeito ou não. Se satisfizer as suas normas, se servir ao seu objetivo do modo como ele quer, então é perfeito. É por isso que podemos corretamente dizer que a perfeição de qualquer parte da criação de Deus é relativa, não absoluta. Quer dizer, tudo se relaciona com o objetivo de Deus para com ela, e somente quando soubermos seu objetivo poderemos saber se algo é perfeito aos Seus olhos, ou não.
Por exemplo, Deus preparou o planeta Terra como habitação para o homem, enchendo-o de vegetação, aves, animais e peixes, e finalmente produziu o homem sobre ele. Examinando a sua obra, Deus declarou que o resultado completo era “muito bom”. (Gên. 1:31) Estava à altura de suas normas perfeitas. Mas note que Deus ainda mandou que o casal humano ‘sujeitasse a terra’, evidentemente querendo dizer que deviam cultivá-la e tornar o planêta inteiro um jardim de Deus, não apenas o Éden. (Gên. 1:28; 2:8) Podemos comparar isto com o construtor contratado para construir uma bela casa para uma família, mas depois a entrega a ela para a pintura, a decoração e a mobiliação. Quando entrega a casa à família, o trabalho do construtor é completo e acabado, de excelente qualidade. É “imperfeita” porque ainda restam outras coisas a ser feitas? Não, pois este foi o arranjo decidido de antemão.
Outrossim, Deus deu também ordens aos israelitas para construírem um tabernáculo ou uma tenda de adoração no ermo, fornecendo-lhes as especificações para a construção. O trabalho foi de excelente qualidade e feito “assim como Jeová mandara”. (Êxo. 36:1, 2; 39:32, 42, 43) Podemos dizer que era perfeito? Decididamente que sim, pois, quando foi completado, Deus o aprovou e tornou a sua presença ali evidente. (Êxo. 40:16, 33-38) No entanto, com o correr do tempo, Deus fez com que esta tenda portátil fosse substituída por um templo fixo em Jerusalém, e mais tarde causou que até mesmo este templo fosse destruído. Por quê? Porque tais construções deviam servir apenas como tipos ou representações proféticas em pequena escala da “tenda maior e mais perfeita”, o arranjo celestial de Jeová, no qual o ressuscitado Cristo Jesus atua como Sumo Sacerdote. (Heb. 9:11-14, 23, 24) A tenda terrestre era perfeita porque satisfazia todos os requisitos de Deus. E serviu para o fim designado. Por outro lado, a perfeição daquilo que é representado, o arranjo celestial de Deus, era dum tipo mais elevado e realizaria o derradeiro objetivo de Deus, de remover completamente o pecado. Por isso, neste sentido, aquilo que foi representado pela tenda terrestre era ‘maior e mais perfeito’.
Portanto, não nos podemos guiar apenas pelas nossas próprias idéias neste assunto, senão tentaríamos fazer de nós mesmos um deus, colocando o nosso próprio pensamento acima do de nosso Criador. Visto que ele é o Criador, o Produtor, ele sabe o que quer e tem o pleno direito de decidir quais devem ser as normas de excelência e perfeição na sua atividade e criação.
PERFEIÇÃO ENTRE OS HUMANOS
Voltando agora para o primeiro casal humano, vemos que Adão e Eva foram criados perfeitos — física e mentalmente. Deus lhes deu até mesmo um início de perfeita moral, pois implantou no homem a consciência. É por isso que o apóstolo podia dizer corretamente que a lei de Deus ‘está escrita no coração dos homens’. (Rom. 2:15) Podia aquele casal humano perfeito pecar? Ou, para serem perfeitos, deviam ter sido incapazes de pecar, feitos de modo que só pudessem obedecer, só pudessem agir de modo certo, nunca se desviando do proceder delineado para eles? Se fabricasse uma máquina, digamos um automóvel, então o faria de modo que sempre fosse na direção em que vira o volante, não é verdade? Portanto, não devia o primeiro casal humano ter sido assim, para serem perfeitos?
Não. Por que não? Porque não foram feitos para serem máquinas, para operarem como máquinas. Deus, o Criador, teve por objetivo que exercessem livre arbítrio, quer dizer, que pudessem fazer decisões morais pessoais, escolhendo entre o certo e o errado, entre a obediência e a desobediência. Lembre-se de que o Criador estabelece as normas e os requisitos, que é a sua vontade que governa. Portanto, se o casal humano não tivesse tido a capacidade de escolher, teriam sido realmente incompletos, imperfeitos, segundo as normas de Deus. — Veja Gênesis 2:15-17; 3:2, 3; Deuteronômio 30:19, 20; Josué 24:15.
Mas, suponhamos que alguém argumente: “Sim, mas se fossem perfeitos, deveriam ter escolhido apenas o que é direito.” Isto eqüivaleria a dizer que não tinham escolha, pois, se puder “escolher” apenas uma única coisa, realmente não tem escolha nenhuma. Portanto, este argumento simplesmente substitui as normas do próprio Deus por uma idéia pessoal. Estas normas exigiam que o casal humano fosse capaz de escolher entre o que é bom e o que é mau. Por quê? Porque só então podia o amor entrar em cena. Se obedecessem apenas porque só podiam obedecer, então o seu serviço seria automático. Mas Deus concedeu-lhes a capacidade de escolher, de modo que podiam servir por amor no coração. Ou podiam tornar-se desobedientes, porque seu coração se havia tornado egoísta. Como podia acontecer isso?
Dependeria daquilo com que alimentassem seu coração, do qual procedem as motivações. Assim como seus corpos, embora perfeitos, exigiam a espécie certa de alimento para funcionarem bem, assim também tinham de alimentar o coração com pensamentos e raciocínios certos. O perfeito Adão não podia comer terra, cascalho ou madeira e ainda usufruir saúde física perfeita; se tentasse respirar água, em vez de ar, ele se afogaria. Sua perfeição era relativa, limitada à esfera da vida humana. Do mesmo modo, se decidisse alimentar a mente e o coração com pensamentos errados, resultaria em ele ter desejos errados e finalmente produziria o pecado e a morte. Isto é exatamente o que aconteceu, e Adão, pela desobediência de sua própria escolha, entrou na imperfeição. — Tia. 1:14, 15; veja Gênesis 1:29; Mateus 4:4.
RETORNO DA HUMANIDADE À PERFEIÇÃO NA TERRA
Em resposta à oração: “Realize-se a tua vontade, como no céu, assim também na terra”, Jeová Deus vai remover da terra tudo o que não se harmoniza com as suas normas, tudo o que não se ajusta ao seu propósito justo. Ele promete que, em resultado disso, ‘não haverá mais lágrimas, nem morte, pranto ou clamor, nem dor’. (Mat. 6:10; Rev. 21:3-5) Durante a regência milenar do reino celestial de seu Filho sobre os habitantes da terra, os obedientes serão levados física e mentalmente à perfeição, assim como era o primeiro casal humano antes de pecarem. — 1 Cor. 15:25, 26; Rev. 20:4-6.
Será que isso ‘tirará todo o interesse da vida’, tornando a vida ‘mecanicamente regular e monótona’? Exatamente o contrário. O motivo de alguns terem esta idéia é que imaginam que um humano perfeito poderia fazer praticamente tudo o que ele ou ela quisesse, quase sem esforço. Suponhamos que quisesse tocar violino. Ora, simplesmente o apanharia, e, embora nunca antes tivesse pegado num, agora tocaria uma peça assim como Zigeunerweisen (Melodias Ciganas) de Sarasate, sem uma única falha! Alguns parecem pensar assim. Mas este é apenas um ideal imaginário. A Bíblia não fornece nenhum conceito assim.
Jesus Cristo nasceu como homem perfeito. Todavia, teve de aprender a comer alimento sólido, a andar e a falar como todos os meninos humanos. Se ele trabalhou como carpinteiro com seu pai adotivo José, conforme parece provável, certamente teve de aprender o manejo dos instrumentos de carpinteiro. Não sabia isso automaticamente por ser perfeito. O mesmo se dava com outros conhecimentos, mesmo o conhecimento da Palavra e do propósito de seu Pai. Conforme diz Lucas 2:52 a seu respeito, a partir da idade de doze anos: “E Jesus progredia em sabedoria e em desenvolvimento físico, e no favor de Deus e dos homens.” — Luc. 2:42-52.
Portanto, a perfeição não tirará o interesse da vida. Cada tarefa terá os seus problemas específicos a solucionar. Exigirá esforço, reflexão e planejamento. Mas a perfeição removerá a frustração, o desapontamento e a futilidade resultantes agora de vivermos num mundo imperfeito, cheio de pecado, onde até mesmo nossos melhores esforços amiúde são frustrados por obstáculos ou pela curta duração de nossa vida, ou fracassam por causa da fraqueza de nossa natureza pecadora.
A própria perspectiva da vida eterna fará com que os que viverem na nova ordem de Deus se interessem em aprender cada vez mais, em informar-se sobre a maravilhosa terra em que vivem e sobre a enorme variedade de coisas criadas por Deus. Será um desafio para a produtividade, a iniciativa, a habilidade e o empenho, a sagacidade e a inventividade de cada um. O que cada um fará com respeito ao lar, a jardins, à roupa, aos artefatos e obras de arte refletirá sua própria preferência pessoal e seu objetivo, embora tudo seja feito em harmonia com a vontade de Deus. Isto garantirá uma interminável variedade, em toda a terra, nunca uniformidade e monotonia.
Portanto, deve dar-se conta de que devemos aprender agora tudo o que pudermos da Fonte de conhecimento que realmente vale a pena. Reconheça que, “quanto ao verdadeiro Deus, perfeito é o seu caminho; a declaração de Jeová é refinada”. Confie na Palavra dele, ponha-a agora em operação na sua vida, e, confiando nas promessas dele quanto ao futuro, torne-o seu refúgio e sua fonte de energia. Daí poderá dizer junto com o salmista: “O verdadeiro Deus é Aquele que me cinge bem de energia vital, e ele concederá que meu caminho seja perfeito.” — Sal. 18:30-32.
2006-11-08 08:03:42
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