HANSENÍASE (MS)
Aspectos Epidemiológicos
A hanseníase é uma doença crônica granulamatosa proveniente de infecção causada pelo Micobacterium leprae. Este bacilo tem a capacidade de infectar grande número e indivíduos, mas poucos adoecem pela sua baixa patogenicidade, propriedade esta que não é função apenas de suas características intrínsecas, mas que depende, sobretudo, de sua relação com o hospedeiro e grau de endemicidade do meio. O domicílio é apontado como importante espaço de transmissão da doença, embora ainda existam grandes lacunas de conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco implicados, especialmente aqueles relacionados ao ambiente social. Apesar de baixa patogenicidade, o poder imunogênico do Micobacterium leprae é responsável pelo alto potencial sita intracelular obrigatório que apresenta afinidade por células cutâneas e incapacitante da hanseníase, o que permite afirmar que este bacilo é de alta infectividade. A hanseníase parece ser uma das mais antigas doenças que acomete o homem. As referências mais remotas datam de 600 A.C e procedem da Índia, que juntamente com a África podem ser consideradas o berço da doença. A melhoria das condições de vida e o avanço do conhecimento científico modificaram significativamente esse quadro e, hoje, a hanseníase tem tratamento e cura.
_ Agente Etiológico: bacilo álcool-ácido resistente, Mycobacterium leprae. É um parasita intracelular obrigatório que apresenta afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos.
_ Reservatório: o homem é reconhecido como a única fonte de infecção,
embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados - o tatu, o macaco mangabei e o chimpanzé. Os doentes multibacilares sem tratamento –hanseníase Virchowiana e hanseníase Dimorfa - são capazes de eliminar grande quantidade de bacilos para o meio exterior (carga bacilar de cerca de 10.000.000 de BAAR presentes na mucosa nasal).
_ Modo de Transmissão: a principal via de eliminação dos bacilos é a via aérea superior sendo o trato respiratório a mais provável via de entrada do Mycobacterium leprae no corpo. O trato respiratório superior dos pacientes multibacila-res (Virchowianos e Dimorfos), é a principal fonte de Mycobacterium leprae encontrada no meio ambiente. Não se pode deixar de mencionar a possibilidade de penetração do bacilo pela pele, com solução de continuidade.
_ Período de Incubação: a hanseníase apresenta longo período de incubação: de dois a sete anos. Há referência a períodos mais curtos, de sete meses, como também, de mais de dez anos.
CID-10 A30
_ Período de Transmissibilidade: os doentes paucibacilares não são considerados importantes como fonte de transmissão da doença, devido à baixa carga bacilar. Os pacientes multibacilares constituem o grupo contagiante e assim se mantêm enquanto não se iniciar o tratamento específico.
_ Suscetibilidade e Imunidade: a exemplo de outras doenças infecciosas, a conversão de infecção em doença depende de interações entre fatores individuais e ambientais. Devido ao longo período de incubação é menos freqüente na infância.
Contudo, em áreas mais endêmicas, a exposição precoce em focos domiciliares aumenta a incidência de casos nessa faixa etária. Embora acometa ambos os sexos, observa-se predominância do sexo masculino (2:1).
_ Distribuição e Morbidade: a hanseníase é endêmica nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. O coeficiente de prevalência da hanseníase no país, em 1997, foi de 5,43 casos por 10.000 habitantes, com 86.741 casos em registro
ativo, colocando o Brasil em 2º lugar no mundo em número absoluto de casos, sendo superado apenas pela Índia. O coeficiente de detecção de casos novos (incidência), no ano de 1997, foi de 2,78 casos por 10.000 habitantes.
Vale ressaltar que a meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é eliminar a hanseníase como problema de saúde pública até o ano 2000, isto é, atingir uma prevalência de menos de 1 caso por 10.000 habitantes.
_ Aspectos Clínicos
Os aspectos morfológicos das lesões cutâneas e classificação clínica nas 4 formas abaixo podem ser utilizados nas áreas com profissionais especializados e em investigação científica. Entretanto, a ampliação da cobertura de diagnóstico e tratamento impõe a adoção da classificação operacional, baseada no número de lesões:
Quadro 1
Sinopse para Classificação das Formas Clínicas da Hanseníase
CARACTERÍSTICAS
hipocrômicas e/ou eritemo-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de pelos. Negativa Indeterminada (HI) Paucibacilar (PB) Placas eritematosas, eritemato-hipocrômicas, bem delimitadas, hipo ou anestésicas, comprometimento de Clínicas Bacterioscópicas
Formas
Clínicas
Classificação Operacional vigente para a rede básica
Áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas nervo.
Negativa
Tuberculóide (HT)
_ 5 lesões de pele e/ou apenas 1 tronco nervoso acometido
Lesões pré-foveolares (eritematosas planas com o centro claro). Lesões foveolares (eritematopigmentares (de tonalidade ferruginosa ou pardacenta). Apresentando alterações de sensibilidade.Positiva (Bacilos e globias ou com raros bacilos) ou Negativa Dimorfa (HD) Eritema e infiltração difusos, placas eritematosas infiltradas e de bordas mal definidas, tubérculos e nódulos, madarose, lesões das mucosas, com alteração de sensibilidade.
Positiva
(Bacilos abundantes e globias)
Virchoviana (HV)
Multibacilar (MB)
> de 5 lesões de pele e/ou mais de um tronco nervoso acometido
Notas:
_ Na hanseníase Virchowiana, afora as lesões dermatológicas e das mucosas, ocorrem também lesões Viscerais.
_ As manifestações neurológicas são comuns a todas as formas clínicas. Na hanseníase indeterminada não há comprometimento de troncos
nervosos, não ocorrendo por isso, problemas motores. Na hanseníase tuberculóide o comprometimento dos nervos é mais precoce e mais intenso.
_ Os casos não classificados quanto à forma clínica serão considerados para fins de tratamento como multibacilares.
3_ Diagnóstico Diferencial: as seguintes dermatoses podem se assemelhar a algumas formas e reações de hanseníase, e exigem segura diferenciação: eczemátides, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gilbert, eritema solar, eritrodermias e eritemas difusos vários, psoríase, eritema polimorfo, eritema nodoso, eritemas anulares, granuloma anular, lúpus eritematoso, farmacodermias, fotodermatites polimorfas, pelagra, sífilis, alopécia areata (pelada), sarcoidose, tuberculose, xantomas, hemoblastoses, esclerodermias, neurofibromatose de Von Recklinghausen.
_ Tratamento: o tratamento é eminentemente ambulatorial. Nos serviços básicos de saúde administra-se uma associação de medicamentos, a POLIQUIMIOTERAPIA, padrão OMS (PQT/OMS). A regularidade do tratamento é fundamental para a cura do paciente. A prevenção de deformidades é atividade primordial
durante o tratamento e, em alguns casos, até mesmo após a alta, sendo parte integrante do tratamento do paciente com hanseníase. Para o paciente, o aprendizado do auto cuidado é arma valiosa para evitar seqüelas.
_ Esquemas Terapêuticos
Esquema Padrão OMS (Poliquimioterapia/OMS)
DROGA PAUCIBACILAR MULTIBACILAR
Rifampicina (RFM) 600 mg uma vez por mês, supervisionadas 600 mg uma vez por mês, supervisionadas.
Dapsona (DDS) 100 mg uma vez ao dia, auto-administradas. 100 mg uma vez ao dia, auto-administradas.
Clofazimina (CFZ) - 300 mg uma vez ao mês, supervisionadas + 100 mg em dias alternados ou 50mg diárias autoadministradas. Seguimento dos casos Comparecimentos mensais para a medicação supervisionada, no período de tratamento de 6 doses mensais até 9 meses. Comparecimentos mensais para a medicação supervisionada, no período de tratamento de 24 doses mensais, em até 36 meses. Intolerâncias às drogas do esquema padrão OMS são raras. Nesses casos devem ser utilizados esquemas alternativos. (Ver Guia de Controle/Manual de Procedimentos em Hanseníase).
_ Novos Esquemas de Poliquimioterapia/ OMS
A partir de 1998, a OMS recomenda o esquema padrão com a redução do trata-mento dos casos MB para 12 doses, em até 18 meses, e uma nova associação de drogas para os casos diagnosticados com lesão única de pele (lesão única de pele, mancha ou mácula hipocrômica, eritêmato-acastanhada ou área com alteração de sensibilidade cutânea, sem envolvimento de tronco nervoso): O esquema ROM (Rifampicina + Ofloxacina + Minociclina). O Ministério da Saúde adotou o esquema ROM para todas as Unidades de Saúde com diagnóstico clínico e tratamento e o esquema de PQT/OMS 12 doses em todas as US de referência.
4 CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL DROGA PAUCIBACILAR MULTIBACILAR LESÃO ÚNICA (ROM)
Rifampicina (RFM) 600 mg uma vez por mês, supervisionadas 600 mg uma vez por mês, supervisionadas num total de 12 doses mensais em até 18 meses. 600mg dose única supervisionada
Dapsona 100 mg uma vez ao dia, autoadministradas.100 mg uma vez ao dia, auto-(DDS) administradas (12 doses mensais).
(CFZ) -300 mg uma vez ao mês, super-Clofazimina visionadas (12 doses mensais) + 100 mg em dias alternados ou 50mg diárias auto-administradas
(12 meses).
Minociclina (MINO) - - 00mg administrada em dose única supervisionada
Ofloxacina (OFLO) - - 400mg administrada em dose única supervisionada
_ Esquema padrão (Poliquimioterapia) doses infantis por faixa etária:
Paucibacilares
Idade em Anos Dapsona (DDS) Diária Auto-Administrada (mg) Rifampicina (RFM) Mensal Supervisionada (mg)
0-5 25 150-300
6-14 50-100 300-450
>15 100 600
Multibacilares
Idade em Anos
Dapsona (DDS) Diária Auto-Administrada
Rifampicina (RFM) Mensal Supervisionada
Clofazimina (CFZ) (mg) (mg) auto-administrada (mg) sup. Mensal (mg)
0 - 5 25 150 - 300 10/semana 100
6 - 14 50 - 100 300 - 450 150/semana 150 - 200
> 15 100 600 50/dia 300
_ Estados Reacionais: estados reacionais são intercorrências agudas que podem ocorrer na hanseníase, por manifestação do sistema imunológico do paciente. Aparecem tanto no tratamento, quanto após a alta, não exigindo a suspensão ou reinício da poliquimioterapia. As reações podem ser de 2 tipos:
Tipo 1: também chamada REAÇÃO REVERSA. Ocorre mais freqüentemente em pacientes com hanseníase tuberculóide e dimorfa. Caracteriza-se por ERITEMA e EDEMA DAS LESÕES e/ou ESPESSAMENTO DE NERVOS com DOR À PALPAÇÃO DOS MESMOS (NEURITE). A neurite pode evoluir sem dor (NEURITE SILENCIOSA). É tratada com Prednisona via oral (VO) 1-2mg/kg/dia, com redução a intervalos fixos, conforme avaliação clínica (consultar o Guia para o Controle da Hanseníase CNDS/FNS/MS).Hanse
Tipo 2: ou ERITEMA NODOSO. Os pacientes com hanseníase virchowiana são os mais acometidos. Caracteriza-se por nódulos eritematosos, dolorosos, em qualquer parte do corpo. Pode evoluir com neurite. Trata-se com Talidomida (VO) - 100/400mg/dia, somente em paciente do sexo masculino (É PROIBIDO O USO EM MULHERES EM IDADE FÉRTIL DEVIDO A OCORRÊNCIA DE TERATOGENICIDADE); ou prednisona (VO) - 1-2mg/kg/dia. Também é feita em intervalos fixos, após avaliação clínica.
_ Efeitos Colaterais: as medicações usadas na poliquimioterapia da hanseníase são conhecidas há bastante tempo e também usadas em outras doenças, porém, como em qualquer tratamento medicamentoso, deve-se ter atenção para a presença de possíveis efeitos colaterais.
_ Critérios para Alta por cura: o paciente obtém alta por cura ao completar as doses preconizadas, não necessitando ficar sob vigilância do serviço de saúde. Pacientes da forma paucibacilar farão 6 doses de PQT/OMS em até 9 meses de tratamento e aqueles tratados com esquema ROM farão dose única, e os pacientes da forma multibacilar farão 24 doses de PQT/OMS em até 36 meses, ou 12 doses em até 18 meses no caso do esquema de curta duração. A presença de reações não impede a alta, o mesmo se aplicando à presença de seqüelas. Ao final das 24 doses, o paciente multibacilar pode apresentar baciloscopia positiva com bacilos fragmentados, ou seja, sem poder de multiplicação e de transmissão da doença, o que não impede a alta. A eliminação de restos bacilares deve-se ao sistema imunológico do indivíduo e não à administração de medicamentos por um tempo mais prolongado. Deve-se ter especial atenção aos estados reacionais pós alta. Os pacientes devem ser exaustivamente esclarecidos sobre estados reacionais que poderão ocorrer, o que implicará em retorno imediato ao Serviço de Saúde para cuidados exclusivos, sem quimioterapia específica (ver tratamento de estados reacionais). O esclarecimento e a cooperação do paciente são fatores primordiais para o sucesso do tratamento e prevenção de incapacidades.
_ Recidiva
Não é considerada recidiva a ocorrência de episódio reacional após a alta por cura.
PB-pacientes que após a alta por cura apresentarem dor em nervo não afetado anteriormente, novas alterações de sensibilidade, lesões cutâneas novas e/ou exarcebação de lesões anteriores que não respondam a corticoterapia, de acordo com as doses preconizadas.
MB: pacientes com típicas lesões cutâneas virchovianas ou dimorfas, lesões reacionais após 3 anos de alta por cura ou que continuam com reações após o 5º ano de alta. A confirmação baciloscópica deve considerar a presença de bacilos íntegros e globias, com revisão de lâmina por laboratório de referência. Todo caso suspeito de recidiva deve ser investigado e, se confirmado, reintroduzido o tratamento e notificado.
Gia de Vigi
_ Diagnóstico Laboratorial
_ Tipos de Exames
Exame baciloscópico: a baciloscopia poderá ser utilizada como exame com-plementar para classificação dos casos em MB e PB. Baciloscopia positiva indica hanseníase multibacilar independente do número de lesões.
Exame Histopatológico: indicado para elucidação diagnóstica e em pesquisas.
_ Vigilância Epidemiológica
O objetivo do Programa de Controle da Hanseníase é reduzir a morbidade da doença para menos de um (1) doente por 10.000 habitantes até o ano 2000, meta de eliminação proposta pela OMS. Os casos novos devem ser detectados precocemente e tratados para interromper a cadeia de transmissão da doença e prevenir as incapacidades físicas.
_ Notificação: a hanseníase é doença epidemiológica de notificação compulsória em todo território nacional e de investigação obrigatória. Cada caso deve ser notificado através da ficha de notificação/investigação do Sistema de Informações de Agravo de Notificação (SINAN), enviando-a em papel ou em meio magnético ao órgão de vigilância epidemiológica hierarquicamente superior, segundo fluxo e periodicidade estabelecidos na UF e em conformidade com o Manual de Procedimentos do SINAN.
_ Definição de Caso
Um caso de hanseníase é uma pessoa que apresenta um ou mais dos critérios listados a seguir, com ou sem história epidemiológica e que requer tratamento específico para hanseníase:
_ Lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade;
_ Espessamento neural acompanhado de alteração de sensibilidade;
_ Baciloscopia positiva para Micobacterium leprae.
Obs.: a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico de hanseníase.
_ Investigação Epidemiológica do caso: a investigação epidemiológica inclui o exame dermatoneurológico de todas as pessoas que convivem no domicílio com o caso novo de hanseníase, qualquer que seja a sua forma clínica, com o intuito de descobrir a fonte de infecção e conhecer outros casos oriundos dessa mesma fonte.
ok
2006-11-02 02:38:18
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answer #1
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answered by M.M 7
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