JERUSALÉM E A ORIGEM DO DOMINGO
Embora as três referências do Novo Testamento comumente citadas para apoiar uma origem apostólica da observância do domingo pertençam à área geográfica das comunidades cristãs da Grécia de fala grega (I Cor. 16:2) ou Ásia Menor (Atos 20:7; Apoc. 1:10) há uma acentuada tendência em estudos recentes de atribuir à comunidade apostólica de Jerusalém a iniciativa e responsabilidade pelo abandono do sábado e a instituição da observância do domingo. J. Daniélou afirma, por exemplo, que "a instituição do domingo remonta à própria primeira comunidade e é uma criação puramente cristã."1 Em outro estudo, o mesmo autor declara que "o costume de reunirem-se neste dia (isto é, domingo) aparece já na semana seguinte à Ressurreição, quando encontramos os apóstolos reunidos no Cenáculo, o domingo é a continuação desta reunião semanal."2
C. S. Mosna conclui sua investigação da origem do culto dominical declarando: "Podemos concluir sem dúvida que o domingo nasceu na primitiva comunidade de Jerusalém antes de nascer na comunidade paulina."3 W. Rordorf similarmente afirma que vários argumentos podem ser convincentemente formulados pela opinião de que a observância cristã do domingo é uma criação genuinamente cristã, a qual alcança o mais antigo período da comunidade primitiva e até mesmo as intenções do próprio Senhor ressurreto.4
Esta tese está baseada em várias suposições básicas. P. K. Jewett nota, por exemplo, que "parece muito improvável que Paulo fosse pioneiro na observância do domingo, quando ele é o único escritor do Novo Testamento que adverte seus conversos contra a observância de dias (Col. 2:17; Gál. 4:10 Rom, 14:6)."5 O mesmo autor astutamente observa que, "se Paulo houvesse introduzido o culto dominical entre os gentios pareceria provável que a oposição judaica teria acusado sua ousadia em pôr de lado a lei do Sábado, como foi o caso com referência ao rito da circuncisão (Atos 21:21)."6 E, mais ainda, Paulo, como observou W. Rordorf, "teria feito mais referências à observância do domingo e ... teria respondido as objeções de uma oposição judaizante."7 Assume-se, portanto, que "Paulo encontrou o costume do culto no primeiro dia da semana estabelecido entre os cristãos quando começou sua missão gentílica; isto é, o culto no primeiro dia é de origem judaico-cristã."8
Assume-se também que desde que os eventos da ressurreição e/ou as aparições de Jesus ocorreram e foram conhecidas em Jerusalém no domingo, deve ser lá, portanto, que os apóstolos primeiro instituíram o culto dominical para comemorarem estes mesmos eventos através de um dia cristão distinto e com uma singela liturgia cristã. Além disso, presume-se que uma mudança no dia de culto, e a sua subseqüente adoção por muitos cristãos em todos os lugares, somente poderia ter sido realizada pela autoridade apostólica exercida em Jerusalém, a igreja-Mãe do Cristianismo.9 O princípio explícito nesta observação é deveras válido, e é um que temos que ter em mente em nossas indagações para a origem da observância do domingo. Os cristãos em geral dificilmente teriam aceitado mudar o dia de seu culto semanal, ou a data de sua celebração anual da Páscoa, exortados por qualquer igreja, a não ser aquela que desfrutasse posição de liderança universal e indiscutível. A controvérsia da Páscoa, como veremos, prevê o exemplo mais adequado.
Outro argumento significativo é a alegada necessidade imediatamente sentida pelos primeiros cristãos em Jerusalém, de se ter um lugar e hora especial para adoração, uma vez que, conforme afirmam, "eles não mais se sentiam em casa no culto realizado no sábado judaico."10 C. S. Mosna arrazoa, por exemplo, que os apóstolos instituíram o domingo "muito tempo antes que Paulo pudesse pensar em sua instituição," como "os primeiros cristãos acharam-se na necessidade de terem um dia especial de culto porque o período do sábado era então inadequado às exigências da nova fé."11 W. Rordorf expressa a mesma convicção em palavras similares quando diz que "a necessidade prática de uma hora regular de adoração nas comunidades cristãs aponta, portanto, a uma origem pré-Paulina da observância do domingo."12
O relato de Eusébio (cerca de 260-340 A.D.) sobre os Ebionitas – uma seita judaica-cristã do cristianismo primitivo – é referendada por diversos eruditos como evidência adicional de uma origem apostólica do domingo. O historiador relata que a ala liberal dos Ebionitas "observava o sábado e o resto dos ensinos dos judeus mas ao mesmo tempo, como fazemos, celebravam o dia do Senhor como memorial da ressurreição do Salvador."13 A alegação é que estes judeus cristãos retiveram a prática original do domingo da Igreja de Jerusalém, uma vez que dificilmente a teriam emprestado da Igreja gentílica após romperem com ela.14
Estes argumentos parecem persuasivos, deveras, porém sua validade deve ser testada ã luz da informação histórica provida pelo Novo Testamento e pela literatura dos primeiros pais da Igreja, considerando a composição étnica e a ' orientação teológica da Igreja de Jerusalém. Isto investigaremos agora, estendendo nossa consulta até 135 A.D., isto é, até o tempo da destruição da cidade por Hadrian. Àquela época, como veremos, tanto a cidade como a Igreja passaram por mudanças radicais ocasionadas pelo edito do imperador pela expulsão de judeus e judeus-cristãos. Isto provocou a explosão final, não somente da aspiração judaica à independência nacional dos romanos, mas também da posição de liderança da Igreja de Jerusalém. De fato, conseqüentemente o papel da Igreja lá era demasiado insignificante para poder influenciar o resto do cristianismo.
A IGREJA DE JERUSALÉM NO NOVO TESTAMENTO
Que informações o Novo Testamento fornece com relação à atitude da Igreja de Jerusalém quanto aos cultos judaicos e o calendário litúrgico? Sugere ela, como sustentam alguns, que a Igreja "não mais se sentia à vontade no culto judaico realizado aos sábados, tendo portanto que reunir-se por si mesma e em uma hora especial?"15 Procuraremos responder a tais perguntas considerando primeiro o lugar e a hora das primeiras reuniões cristãs, e em segundo lugar, a composição étnica e a orientação teológica da Igreja de Jerusalém.
O Lugar das Reuniões Cristãs
Os lugares para as reuniões mais freqüentemente mencionados no livro de Atos são o templo, a sinagoga e casas particulares (uma vez ocorreu reunião a céu aberto).16 Em Atos 2:46, o relato de que os cristãos estavam "freqüentando o templo juntos e partindo o pão em casa sugere uma possível distinção entre a pregação evangelística pública e as reuniões particulares para comunhão fraterna. Todavia, no capítulo 5:42 é dito que "todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo." Isto implicaria que nenhuma distinção formal havia entre as reuniões evangelísticas públicas e os encontros particulares de comunhão fraterna.17 O quadro que emerge de Atos é deveras de uma intensa vida de comunhão dos novos conversos que "unânimes" (Atos 24) e com freqüência se reuniriam para partilhar sua fé, tanto publicamente no templo, sob o pórtico de Salomão, ou nas sinagogas, bom como privativamente nas casas,18 Porém, presumivelmente, havia uma diferença entre estes dois tipos de reuniões. No templo e na sinagoga, a comunidade primitiva podia proclamar o evangelho (Atos 3:11; 5:12), bem como participar da oração (Atos 3:1; 22:17; 2:46,47) e na instrução das Escrituras. Nas reuniões privadas, por outro lado, os crentes podiam receber instruções pessoais do Apóstolo (Atos 6:42; 1:14) e expressar seu laço de companheirismo pela participação no alimento e na Ceia do Senhor.19
As reuniões privadas da comunidade primitiva, embora designadas a expressar mais livre e completamente o fundamento de sua fé no Senhor ressurreto, não são apresentadas como conflitantes com os serviços do templo e da sinagoga, mas como complemento deles. Ralph Martin observa que "nos primeiros dias da vida da Igreja, parece não ter havido desejo algum de se abandonar a religião primeira – pelo menos no que concerne ã prática exterior da fé."20 O autor assinala que "a mais primitiva Igreja cristã parecia um partido dentro do rebanho judaico" e era explicitamente designada como "a seita dos nazarenos" (Atos 24:5). A mesma palavra "seita – é usada em Atos para descrever tanto o partido cristão (Atos 24:5,14; 28:22) como os oficiais partidos judeus dos Saduceus (Atos 5:17) e Fariseus (Atos 15:5; 26:5). Portanto, Martin conclui que "nada havia, em sua presença, que soaria estranho a respeito dos congregados judeus de um só pensamento como um grupo de nazarenos."21
Alguns eruditos chegam a sugerir que externamente a comunidade primitiva pode, primeiramente ter se assemelhado a uma sinagoga especial, pois, segundo o Mishnah, eram necessários somente dez judeus de sexo masculino para formar uma sinagoga em qualquer lugar.22 Os seguidores de Cristo, como é dito em Atos 1:14, unanimemente se dedicavam ã oração - ( ). O termo grego em pregado aqui é aquele que designa a "reunião de oração" regular da sinagoga (conforme Atos 16:13 e 16). O emprego de um termo usado pela sinagoga para descrever a reunião devocional dos primeiros crentes sugere a possibilidade de que as reuniões cristãs pudessem ter sido consideradas como uma espécie de reunião da sinagoga.
É fato que a sinagoga é o local de culto mais freqüentemente mencionado. Verificamos isto no ministério de Cristo, uma vez que Ele ensinava e adorava nas sinagogas no Sábado (Mar. 1:21-28; 3:1-6; 6:2; Mat. 4:23; Luc. S:15; 16:30,31 up, 44; 6:6; 13:10-17; Joao 6:59; 18:20). Semelhantemente, em Atos, o registro da freqüência cristão à sinagoga é muito impressionante. Paulo se reunia regularmente na sinagoga com os "judeus e gregos" (Atos 18:4,19; 13:5,14,42,44; 14:1; 17:1, 10, 11) e até Apolo, quando chegou em Éfeso, reuniu-se com os crentes de Éfeso na sinagoga (Atos 18:24-26). C. W. Dugmore, a quem somos devedores por um estudo Completo sobre a influência da sinagoga sobre o serviço cristão, demonstra persuasivamente que a "sinagoga realmente influenciou tanto a forma de culto como as horas em que os cristãos se reuniam Para a oração pública nos primeiros quatro séculos de nossa era, em um grau muito maior do que , às vezes, é reconhecido."23
A aceitação do Messias como Senhor e Salvador criou uma exigência imediata de adotar um novo lugar e hora de culto a fim de dar expressão à nova fé? É fácil e tentador interpretar o registro fragmentário da Igreja de Jerusalém ã luz da posterior separação que ocorreu entre a igreja e a sinagoga. Este esforço pode ser motivado pelo elogiável desejo de minimizar a ligação da Igreja de Jerusalém aos costumes religiosos judaicos, e assim defender a singularidade do conteúdo e expressão da fé cristã logo em seu nascimento. Conquanto tais objetivos possam ser dig nos de louvor, dificilmente justificam uma re construção imprecisa dos primeiros costumes de culto da Igreja de Jerusalém.
As freqüentes referências ao templo, à sinagoga, à oração e pregação, sugerem que o culto cristão surgiu, não como uma instituição completamente nova, mas sim como uma continuidade e reinterpretação dos serviços religiosos judaicos. Pedro e João, por exemplo, após a experiência do Pentecostes, vão até a porta do templo à hora da oração (Atos 3:1). A freqüência ao templo e à sinagoga continua ainda, embora sejam conduzidas reuniões privadas complementares. Semelhantemente, a língua do culto judaico – sacrifício, oferta, sacerdote, pastor – permanece em uso. É óbvio que tudo isto fosse reinterpretado à luz de seu cumprimento messiânico – do evento "Cristo". Não há, todavia, indicação alguma de que sua nova fé provocasse o abandono imediato dos lugares de culto regular dos judeus.
A Hora das Reuniões Cristãs
Precisamos agora considerar a hora dos serviços de culto da Igreja de Jerusalém. Os primeiros cristãos respeitaram e usaram o calendário litúrgico judeu, ou propositadamente o rejeitaram, escolhendo em seu lugar novos dias e datas para suas festividades semanais e anuais? Oscar Cullman sustenta que as reuniões dos primeiros cristãos "aconteciam diariamente (Atos 2:46; 5:42; veja também Luc. 24:53). O sábado também pode ainda ter sido observado aqui e ali. Contudo... já nos primórdios do cristianismo, o culto cristão primitivo criou por si mesmo um cenário especificamente cristão, no qual um dia foi especificamente designado como o dia para os cultos da Igreja – o dia do Senhor. Este não é o sábado judaico, mas em deliberada distinção do judaísmo, os primeiros cristãos selecionaram o primeiro dia da semana, uma vez que neste dia Cristo ressuscitou dos mortos, e neste dia apareceu aos discípulos reunidos para uma ceia."24
Segundo nosso autor – uma posição amplamente apoiada por muitos eruditos – as reuniões da comunidade primitiva ocorriam diariamente, esporadicamente aos sábados e, regularmente aos domingos para comemorar a ressurreição e aparições de Cristo. Não precisamos considerar novamente a reivindicação de uma regular observância do domingo nos mais primitivos dias da Igreja, uma vez que em nossos capítulos anteriores estabelecemos que tal tese repousa basicamente em três passagens do Novo Testamento mal interpretadas, e em motivos teológicos ausentes na literatura apostólica.
Com relação às reuniões diárias, Lucas, em pelo menos três exemplos refere-se aos apóstolos e/ou crentes que "diariamente - " (Atos 2:46; 5:42; conforme Luc. 23:53) vinham para a instrução e companheirismo. É possível que, no entusiasmo do Pentecoste, por algum tempo os crentes realmente tenham se reunido com os Apóstolos, mas obviamente somente estes poderiam sustentar um contínuo programa de ensino diário no templo e nos lares (Atos 5:62). Como H. Riesenfeld apropriada mente observa, "para aqueles que não eram apóstolos isto devia ser uma hipérbole."25 Estas reuniões diárias eram indubitavelmente de natureza evangelística destinadas a proclamar o evangelho aos judeus e gentios. Possivelmente, novos conversos participavam destas reuniões, mas não há evidência de que se esperasse que toda a comunidade participasse dos serviços diários.
O sábado, segundo O. Cullmann, representante de uma opinião popular, era observado "aqui e ali, porém, desde as mais remotas eras a Igreja escolheu o primeiro dia da semana como o novo dia de adoração, numa deliberada distinção do judaísmo."26 Em um dos últimos capítulos teremos oportunidade de mostrar que a exigência de diferenciar-se dos judeus deveras contribuiu substancialmente para a adoção da observância do domingo no lugar do sábado. Todavia, isto foi um passo posterior, o qual não ocorreu nos primeiros dias da Igreja de Jerusalém.
C.S. Mosna argumenta que os cristãos em Jerusalém se desligaram muito cedo do templo e da sinagoga por causa da perseguição dos líderes religiosos: "Após o apedrejamento de Estevão, eles foram procurados nas casas (Atos 8:3) e a perseguição contribuiu para isolá-los dos judeus e de suas práticas (Atos 9:2)."27 Não há dúvida de que as perseguições judaicas contribuíram, com o tempo, para isolar os cristãos dos serviços e costumes religiosos judaicos, mas, como mostraremos abaixo, tal ruptura não ocorreu tão drasticamente ou tão imediatamente. Paulo, por exemplo, após o martírio de Estevão, foi procurar cristãos nas sinagogas de Damasco (Atos 9:2; conforme 22:19), presumivelmente porque ainda se reuniam lá. Ao final de seu ministério, o próprio Apóstolo, "como era seu costume" (Atos 17:2), congregava no sábado na sinagoga ou ao ar livre, não somente com os judeus (Atos 13:14; 17:2; 18:4) mas também com os gentios (Atos 13:44; 16:13; 18:6). Isto era possível porque nenhuma radical separação dos lugares e tempos de reunião judaicos havia ainda ocorrido.
Também deve ser observado que a primeira perseguição judaica registrada em Atos 6-8 foi, aparentemente, dirigida não contra a igreja toda, mas principalmente contra os "helenistas". Estes, segundo pesquisas recentes, eram um grupo não conformista de cristãos judeus aparentemente muito diferente do principal corpo da Igreja.28 Isto é sugerido em Atos 8:1 onde está registrado que quando "uma grande perseguição surgiu contra a Igreja em Jerusalém.., eles foram espalhados... exceto os apóstolos". O fato de ter sido permitido aos apóstolos que permanecessem na cidade prova, como nota O. Cullmann, "que a comunidade inteira não partilhava das idéias bastante peculiares e ousadas deste grupo (isto é, os helenistas)."29 Contudo, deve ser creditado aos helenistas que sua atividade missionária ousada e oral resultou na evangelização de Samaria (Atos 8:1-40).
Alguns sugerem que este grupo de cristãos helenistas (judeus de fala grega) "publicamente reivindicavam para si a própria liberdade de Jesus com respeito ao sábado"30 e adotaram a observância do domingo. Mesmo condescendendo com tal suposição, a qual repousa sobre conjecturas gratuitas, deve ser observado que estes helenistas representavam somente um grupo radical que cedo se desligou da Igreja-mãe da qual os apóstolos eram parte. Considerando que não eram os porta-vozes da Igreja, dificilmente poderiam ter imposto à Igreja em geral que aceitasse um novo dia de adoração. Mesmo porque, se deveras a observância do domingo fosse um dos marcos distintivos de suas práticas religiosas, isto teria fomentado uma acirrada controvérsia dentro da Igreja, especialmente em vista de sua atividade missionária "vocal".31 Porém, não se detecta em Atos nenhum eco de tal polêmica. No concílio de Jerusalém, por exemplo, a observância do sábado não estava na pauta do dia. Na verdade, consideraremos agora as indicações esmagadoras de sua observância regular, particularmente na comunidade ultra-conservadora dos judeus cristãos de Jerusalém.
A Orientação Teológica da Igreja de Jerusalém
Um estudo da composição étnica e orientação teológica da Igreja de Jerusalém providencia talvez os mais significativos dados pelos quais podemos testar a validade da tese que reivindica Jerusalém como o lugar de nascimento da observância do domingo. A igreja originou-se na cidade ao redor do núcleo dos doze apóstolos. Uma vez que estes, bem como seus primeiros conversos eram, como bem declarou T. W. Manson, "judeus por nascimento e crescimento... é provável, a priori, que trouxessem à nova comunidade pelo menos algumas das práticas religiosas às quais há muito estavam acostumados."32
Lucas relata que entre os muitos conversos judeus, havia um grande número de sacerdotes que "eram obedientes ã fé" (Atos 6:7). F.A. Regan bem observa que "Lucas não dá indicação alguma de que sua conversão conflitasse, em modo algum, com seu apego à Velha Lei."33 De fato, possivelmente, como sugere B. Bagatti, "eles naturalmente continuaram exercendo seu ministério."34 Isto bem pode ter sido necessário, em vista de que, como relata Lucas, havia "muitos milhares... entre os judeus que creram" (Atos 21:20). Parece plausível identificar estes sacerdotes convertidos com os anciãos que assistiam a Tiago e aos apóstolos na administração da Igreja (Atos 15:6, 22, 23; 16:4; 20:17, 18). F.F. Bruce adianta a hipótese de que "pode ter havido setenta deles, constituindo uma espécie de sinédrio nazareno, com Tiago sendo seu presidente."35 Esta informação dada por Lucas revela que a Igreja de Jerusalém não somente era composta principalmente de conversos judeus, mas possivelmente era até administrada por ex-sacerdotes, segundo o familiar modelo judaico do sinédrio. Sua atitude básica em relação às observâncias religiosas judaicas é melhor expressa pela concisa declaração de Lucas de que "eram todos zelosos da lei". (Atos 21:20)36
A escolha e exaltação de Tiago proporciona confirmação adicional da orientação teológica "judaica" da Igreja de Jerusalém. Por que foi Tiago "o irmão do Senhor" (Gal. 1:19) e não um apóstolo o escolhido para ser líder da Igreja? Aparentemente, na escolha de um líder para a Igreja, o fator parentesco foi considerado mais importante que qualquer relacionamento anterior com Cristo. Esta razão, já implícita nas referências de Lucas e Paulo 37 a Tiago, é explicitamente fornecida em várias obras posteriores de origem judaica-cristã.
Hegesippus, um converso judeu do segundo século, nativo da Palestina; e vários autores anônimos que produziram obras tais como: o Proto-Evangelho de Tiago, o Evangelho dos Hebreus, a História de José - o Carpinteiro, o Evangelho de Tomé, os diversos Apocalipses de Tiago, o Reconhecimento Clementino e as Homilias exaltam a figura de Tiago.38 Nestas obras, Tiago é glorificado como o representante legítimo de Cristo,39 como o irmão real de Cristo a quem primeiro apareceu,40 como o cabeça da Igreja,41 como aquele por cuja causa o céu e a terra vieram à existência,42 como o sacerdote único "a quem foi permitido entrar no santuário... para implorar o perdão divino para o povo", como o filho de um sacerdote, como "santo desde o ventre da mãe."43 Parece, portanto, que aos olhos dos judeus cristãos, como bem resumiu B. Bagatti, "Tiago era superior a Pedro e a Paulo, porque era descendente de Davi, do mesmo sangue de Jesus, e portanto, o legítimo representante da raça sacerdotal; e, finalmente, ele observou a lei ao ponto do heroísmo. Nenhum outro apóstolo poderia reivindicar tais prerrogativas."44
Enquanto esta exaltação de Tiago representa um progresso posterior, motivado aparentemente pela necessidade de realçar a posição da Igreja de Jerusalém numa época em que entrava na obscuridade, permanece o fato de que Tiago foi aparentemente escolhido porque podia reivindicar parentesco sanguíneo com Cristo e assim cumprir o papel de um legítimo "sumo sacerdote" cristão. Isto revela o quanto o novo "sacerdócio" cristão e a liderança na cidade eram de orientação judia. Ainda mais esclarecedora para nossa investigação da possível origem da observância do domingo em Jerusalém, é a atitude básica de Tiago e seu grupo em relação às obrigações legais judaicas.
No ano de 49-50 A.D. os líderes da Igreja Cristã se reuniram em Jerusalém para deliberarem sobre os requisitos básicos a serem cumpridos pelos gentios que aceitavam a fé cristã. O Concílio foi convocado por causa da dissensão que surgiu em Antioquia quando certos agitadores vieram da Judéia para aquela Igreja, ensinando: "Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos." (Atos 15:1) Estes judaizantes aparentemente alegavam falar no nome de Tiago, embora ele claramente negasse tê-los autorizado a fazer isto. (Atos 15:24) Para definir a discussão, achou-se necessário que Paulo e Barnabé fossem a Jerusalém para discutir o problema com os apóstolos e anciãos. (Atos 15:3) Houve grande contenda (Atos 15:7) na reunião, e foram feitos discursos por Pedro, Paulo e Barnabé (versos 7 e 12). Ao final, Tiago, que parece ter sido o presidente, propôs que os gentios que se haviam tornado cristãos estavam isentos da circuncisão, sendo porém notificados que deviam se abster "das contaminações dos ídolos, da prostituição, da carne de animais sufocados e do sangue. Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados." (versos 20 e 21)
A proposta foi aprovada pelos "apóstolos e anciãos" (verso 22) e medidas imediatas para as segurar sua implantação foram tomadas. A decisão do concílio, a qual é mencionada três vezes (Atos 15:20, 29; 21:25) com pequenas variações lança alguma luz na atitude da Igreja de Jerusalém para com a lei judaica. Vários pontos são dignos de nota.
A isenção da circuncisão foi concedida somente "aos irmãos dentre os gentios" (verso 23). Nenhuma inovação houve para os cristãos judeus, que ainda circuncidavam seus filhos. Isto está indicado, não somente pela existência, após o concílio, de um grupo que era a favor da circuncisão, aparentemente apoiado por Tiago (Gal. 2:12), o qual constantemente embaraçava as comunidades gentias evangelizadas por Paulo (Gál. 3:1; 5:12; 6:12; Fil. 3:2), mas também pela explícita acusação que Tiago e os anciãos" fizeram a Paulo (aproximadamente dez anos mais tarde), a saber: "ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos nem andar segundo o costume da lei" (Atos 21:21). A preocupação dos líderes da Igreja de Jerusalém por tal boato (mesmo após tanto tempo, cerca de 58 A.D.) e sua proposta a Paulo que silenciasse a acusação fazendo um voto de purificação no templo (Atos 21:25), revelam quão profundamente ligados eles ainda estavam às instituições judaicas, como a circuncisão.
Além disso, as mesmas propostas feitas por Tiago e adotadas pelo Concílio, indicam que não se concedia liberdade indiscriminada aos gentios no tocante aos reclamos da lei. Dos quatro preceitos do decreto, de fato, um é moral (abstenção da prostituição) e três são cerimoniais (abstenção da contaminação dos ídolos, do que é sufocado e do sangue) (verso 20). Esta preocupação desnecessária pela contaminação ritual e leis alimentares reflete o grande respeito que ainda prevalecia para com a lei cerimonial. Para evitar ofender os preconceitos dos cristãos judeus, os conversos gentios deviam se abster de comer o que quer que fosse oferecido a ídolos, e até mesmo de aceitar ou participar de uma festa doméstica gentia, onde pudesse ser servido alimento associado a ídolos. Deviam também seguir as leis alimentares judaicas, não comendo da carne de animais mortos por estrangulamento. Esta preocupação excessiva de Tiago e dos apóstolos (Atos 15:22) em respeitar os escrúpulos judaicos quanto ao alimento e a associação com os gentios, dificilmente permite-nos imaginar que um assunto de maior importância como a observância do sábado fosse unanimemente ab-rogado.45
Mas, como podem alguns interpretar o silêncio do Concílio na questão do sábado como "a mais eloqüente prova de que a observância do domingo havia sido reconhecida por toda a igreja apostólica e tinha sido adotada pelas igrejas paulinas"?46 Que tão drástica mudança no dia de adoração houvesse sido unanimemente realizada e aceita, sem provocar dissensão, é difícil de acreditar, em vista de diversos fatores. A atitude prevalecente da Igreja de Jerusalém, como já destacamos, era caracterizada por intransigente respeito e observância dos costumes e instituições judaicas. Em tal clima, era praticamente impossível mudar a data de uma instituição milenar como o Sábado, que era ainda altamente respeitada.
A declaração que Tiago fez para apoiar sua proposta é também significativa neste particular: "porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados." (Atos 15:21) A conexão entre a proposta de Tiago (verso 20) e esta declaração explicativa (verso 21) tem sido diversamente interpretada. Alguns acreditam que significa que os cristãos judeus não precisavam temer que a liberdade gentílica solapasse a observância das leis mosaicas, "ainda lidas, cada sábado, nas sinagogas ou congregações".47 Outros entendem o verso como significando que assim como os preceitos da lei de Moisés eram diligentemente ensinados cada sábado, os cristãos gentílicos deviam cuidar para não ofender os preconceitos de seus irmãos judeus.48 Outros ainda interpretam-na como significando que os gentios certamente não achariam a proibição arbitrária ou dura, pois estavam bem inteirados das regulamentações levíticas em virtude de sua habitual freqüência à sinagoga no sábado.49 F. F. Bruce acha que as observações de Tiago talvez pretendesse acalmar a apreensão do partido farisaico na Igreja de Jerusalém, a cujos olhos era especialmente importante que todo o Torah fosse ensinado entre os gentios.50
Embora as interpretações acima aplicam as observações de Tiago a pessoas diferentes (cristãos gentios, cristãos judeus, ambos, e a ala farisaica na Igreja de Jerusalém) todos reconhecem que tanto em sua proposta como na justificativa, Tiago reafirma a natureza obrigatória da lei mosaica que era costumeiramente pregada e lida cada sábado nas sinagogas. A manifestação deste excessivo respeito pelo Concílio à lei cerimonial mosaica, a explícita referência de Tiago à sua costumeira leitura e pregação aos sábados nas sinagogas, excluem categoricamente a hipótese de que o sábado já havia sido substituído pelo domingo.
A última visita de Paulo a Jerusalém (58 60 A.D.), à qual já nos referimos anteriormente dá evidências adicionais da observância da lei pela Igreja de Jerusalém. A menção de Lucas de que Paulo "estava apressando-se para estar em Jerusalém, se possível no dia do Pentecoste" (Atos 20:16) e que eles haviam passado os dias dos "pães asmos" em Filipos (Atos 20:6), indica que os cristãos ainda conduziam suas vidas pelo calendário litúrgico judaico. Mais esclarecedor ainda é o registro do que ocorreu na própria Jerusalém. Tiago e os anciãos, depois que Paulo tinha "contado cada uma das coisas que Deus tinha feito aos gentios por intermédio de seu ministério" (Atos 21:19), disseram a Paulo: "Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são zelosos da lei; e foram informados a teu respeito que ensinas todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os filhos nem andar segundo os costumes da lei." (Atos 21:20,21)
A profunda lealdade da liderança da Igreja de Jerusalém às tradições religiosas judaicas é claramente evidente. Não somente Tiago e os anciãos informaram a Paulo que muitos milhares de membros judeus de sua Igreja eram zelosos da lei, mas até mesmo confrontaram o apóstolo com o boato de que ele dissuadia crentes judeus de praticarem os costumes antigos, tais como a circuncisão, legados por Moisés. Procurando crer que seus receios eram infundados (e de fato não há evidência de serem verdadeiros), Tiago e os anciãos propuseram que Paulo dissolvesse a maliciosa acusação e provasse que ele mesmo "vivia observando a lei" (Atos 21:24) ao submeter-se ao rito purificador no templo, juntamente com quatro membros da Igreja que aparentemente haviam se contaminado cerimonialmente. Com isto, sentia-se que toda a multidão de crentes de Jerusalém, bem como todo o povo na cidade podia ver por si mesmo que o apóstolo ainda cumpria a lei de Moisés.
Esta preocupação da liderança da Igreja para reassegurar aos crentes judeus na Palestina o respeito de Paulo pelos costumes dos antigos, sugere, como o nota R. C. H. Lenski, por um lado, que os membros haviam sofrido possivelmente por causa de falsos rumores sobre Paulo, e, por outro, que "eles ainda mantinham o seu modo judaico de viver, circuncidavam os seus filhos, comiam alimento puro, guardavam o sábado, etc."51 Isto indubitavelmente facilitou a conversão de "muitos milhares" (Atos 21:20) de judeus, porquanto a aceitação do evangelho não exigia significativas mudanças em seu estilo de vida.
Esta excessiva ligação da Igreja de Jerusalém aos costumes religiosos judaicos pode, talvez, deixar perplexo o cristão que considera a Igreja-mãe da cristandade como o modelo ideal de sua vida religiosa. Não se deve esquecer, todavia, que o cristianismo surgiu das raízes e estrutura do judaísmo. Os primeiros conversos judeus viam a aceitação de Cristo não como a destruição de sua estrutura religiosa, mas como o cumprimento de suas expectativas messiânicas que realçavam sua vida religiosa com uma nova dimensão. O processo de separar a sombra da realidade, o transitório do permanente, foi gradual e com dificuldades.
A conduta de Paulo também merece considerações. Violou ele suas convicções ao aceitar a proposta de purificar-se no templo? Assim não parece, uma vez que, por exemplo, ele não se envergonhou de mencionar o incidente quando defendeu-se perante Felix (Atos 24:17,18). Alguns sugerem que, de fato, como o Apóstolo havia anteriormente feito um voto de Nazireu, por sua própria iniciativa em Cencréia (Atos 18:18), ele já estava planejando oferecer sacrifício no templo para completar seu voto. Esta hipótese apóia-se no fato de que não há referência de Paulo fazer voto em Jerusalém.52 E ainda mais, como observa F.J.A. Hort, "o tempo a que se refere parece demasiado curto para que ele fizesse um voto e o cumprisse."53 Parece plausível assumir, portanto, que Paulo houvesse propositadamente planejado trazer à sua nação "esmolas e ofertas" (Atos 24:17) para ajuntar mais intimamente as alas judia e gentia da igreja.54 Para conseguir este objetivo, ele evidentemente sentiu que necessitava providenciar também uma demonstração plausível de sua pessoal lealdade à lei e aos costumes. Esta preocupação do Apóstolo em confirmar aos crentes judeus o seu respeito pela lei, revela não somente a lealdade destes aos costumes religiosos judaicos, mas também a indisposição de Paulo em ofender seus irmãos judeus em tais questões (se uma questão de princípio não estivesse envolvida). Esta atitude do apóstolo é suficiente para desacreditar quaisquer tentativas de atribuir-lhe a responsabilidade pela ab-rogação do sábado e pela introdução da observância do domingo.
O conselho de Cristo relativo à fuga de Jerusalém também é significativo neste aspecto. Em Mateus, um evangelho endereçado aos cristãos judeus, a admoestação de Cristo é assim registrada: "E orai para que a vossa fuga não aconteça nem no inverno nem no sábado" (24:20). Em nossa anterior análise deste texto concluímos que a passagem, como declara E. Lohse, "oferece um exemplo da guarda do sábado pelos cristãos judeus."55 Isto bem pode refletir a preocupação da Igreja de Jerusalém com a observância do sábado não simplesmente pelo relato de sua referência à cidade, mas especialmente porque segundo a tradição da primitiva igreja, o evangelho de Mateus foi escrito em aramaico para os cristãos judeus da Palestina.
A precedente análise das fontes do Novo Testamento sobre a Igreja de Jerusalém estabeleceu solidamente que a primitiva igreja aí era composta primariamente de judeus conversos sendo administrada por eles, e que mantinham uma profunda ligação aos costumes religiosos judaicos, tais como a guarda do sábado. É impossível portanto, assumir que um novo dia de adoração fosse introduzido pela Igreja de Jerusalém antes da destruição da cidade em 70 A.D. Podemos acrescentar que em vista da enorme influência exercida na Igreja em geral pela liderança e membros cristãos, teria sido praticamente impossível para qualquer Igreja, onde quer que estivesse, introduzir a observância do domingo antes de 70 A.D, W. D. Davies, um bem reconhecido especialista em Cristianismo Primitivo, concisa e sabiamente resume a situação religiosa da época: "Por toda a parte, especialmente a leste do Império Romano, haveria cristãos judeus cujo modo exterior de vida não seria marcadamente diferente daquele dos judeus. Tinham por certo que o cristianismo era uma continuação do judaísmo; pa ra eles, o novo concerto, o qual Jesus estabeleceu por ocasião da Santa Ceia com os discípulos e selou com sua morte, não significava que o concerto entre Deus e Israel não estava mais em vigor. Ainda observavam as festas da Páscoa, Pentecoste e Tabernáculos. Continuavam sendo circuncidados, guardando o sábado semanal e as regulamentações mosaicas com respeito ao alimento. Segundo alguns eruditos, elas devem ter sido tão rigorosas que até a queda de Jerusalém em 70 A.D. eram o elemento dominante no movimento cristão.56
A Igreja de Jerusalém após 70 A.D.
A pergunta que pode ser feita a esta altura é: Seria possível que a comunidade cristã de Jerusalém introduzisse o culto do domingo no lugar da guarda do sábado após o êxodo da cidade, que ocorreu antes de sua destruição em 70,A.D.? O significado histórico do abandono cristão judaico e a migração para Pella (uma cidade da Transjordânia na parte norte da região da Peréia) não deve ser subestimada. J. Lebreton adequadamente resume a importância do evento:
"O êxodo teve decisivas conseqüências pa ra a Igreja de Jerusalém: foi quebrado o último elo que ligava os fiéis ao judaísmo e ao Templo; até o fim eles amaram sua magnífica construção, suas cerimônias e memórias; agora não restava nele pedra sobre pedra; Deus os havia separado do Templo. E este êxodo finalmente alienou deles a opinião judaica; haviam abandonado Jerusalém na época de sua maior tribulação; sua fé era então, não a de sua nação, e eles buscariam salvação em qualquer outro lugar.57
O abandono da cidade pela comunidade cristã-judaica resultou também em sua alienação das instituições judaicas, tais como o sábado? F.A. Regan assume esta mesma posição em sua dissertação e sugere que o ano 70 A.D, marca o rompimento decisivo entre o sábado e o domingo. Ele escreve: "Pode-se apontar algum outro evento em especial, no qual o rompimento decisivo entre o sábado e o dia que chamamos domingo? Uma data muito provável seria o ano 70 A.D., com a destruição do Templo de Jerusalém."58
Indubitavelmente o êxodo e a destruição de Jerusalém tiveram efeitos decisivos no relacionamento entre o cristianismo e o judaísmo. Há contudo, significativas indicações históricas as quais excluem a possibilidade de que já no ano 70 A.D., ou pouco depois, os cristãos-judeus da Palestina romperam com a guarda do sábado e introduziram a observância do domingo. Consideraremos brevemente alguns dos mais pertinentes dados históricos
Os historiadores Eusébio (cerca de 260-360 A.D.) e Epifânio (cerca de 315-403), nos informam que a Igreja de Jerusalém, até o cerco de Adriano (135 ,1.D.) consistia de hebreus conversos e era administrada por quinze bispos dos "da circuncisão", isto é, de descendência judia.59 Sua atitude básica parece ter sido de uma profunda lealdade aos costumes religiosos judaicos. Eusébio, por exemplo, relata que tanto a ala conservadora quanto a liberal dos Ebionitas (um grupo cristão judeu) eram zelosos em insistir na observância literal da lei.60
Os Ebionitas
Alguns argumentam que a declaração de Eusébio de que o grupo liberal dos Ebionitas observava não somente o sábado e o resto dos ensinos dos judeus, mas também "o dia do Senhor como um memorial da ressurreição do Salvador", significa que alguns cristãos judeus devem ter observado o domingo desde o princípio. A suposição é que esses cristãos judeus não teriam tirado, da Igreja gentílica, este dia de adoração depois de romperem com ela.61 A debilidade desta tese é que repousa em várias suposições gratuitas. Considera, por exemplo, que o grupo liberal de Ebionitas que observavam o domingo representa os seguidores da "guarda original do domingo do cristianismo judaico" enquanto o grupo conservador que guardava o sábado representa alguns apostatados que "por uma ou outra razão, mais tarde desistiram".62 À luz do profundo respeito pela lei que, como destacamos acima, caracterizou os primitivos cristãos judeus, é deveras difícil crer que estes que começaram como liberais tornaram-se mais tarde conservadores, e não o contrário. Deve ser mencionado que Eusébio escreveu seu relato sobre os Ebionitas quase dois séculos e meio após a destruição de Jerusalém, sem especificar o tempo de sua adoção da observância do domingo. Note que, embora Irineu (cerca de 130 a 200 A.D.), uma fonte muito mais anterior, forneça um relato quase idêntico àquele de Eusébio, não faz menção de qualquer observância dominical.63 É possível, portanto, que um grupo de cristãos judeus, desejosos de se unirem ao corpo da Igreja, adotassem a observância do domingo em uma época posterior, enquanto ainda mantinham a guarda do sábado.
Outra falsa suposição é que os Ebionitas representam ou pelo menos podem estar relaciona dos aos primeiros cristãos-judeus. É verdade que ambos enfatizavam a importância da observância da lei, porém diferiam radicalmente uns dos outros em sua posição quanto à natureza de Cristo. A Cristologia dos Ebionitas era, na verdade, como a dos gnósticos, considerando Cristo como um homem simples e comum, "o qual era fruto da relação conjugal de um homem com Maria".64 Tal erro cristológico dificilmente pode ser atribuído aos primeiros cristãos-judeus. Portanto, devido a tal diferença doutrinaria fundamental, os Ebionitas, como bem percebeu J. Daniélou, "não deveriam ser confundidos pura e simplesmente com os herdeiros dos primeiros cristãos de fala aramaica, que fugiram para a Transjordânia após a queda de Jerusalém no ano 70 A.D."65 Marcel Simon argumenta, baseado em informações dadas por Epifânio, que "a seita dos Ebionitas parece ser o resultado de uma confluência entre a seita original Cristã-judaica e a judaica pré-cristã.
A origem desta seita cristã-judaica heterodoxa praticamente não pode ser colocada nos tempos do Novo Testamento. Sabemos, por exemplo, que no tempo de Justino, os cristãos judeus eram caracterizados não por heresia cristológica, mas por duas tendências opostas em relação à lei: alguns que não exigiam que os cristãos gentios "fossem circuncidados, ou que guardassem o sábado ou observassem qualquer outra cerimônia"; outros que queriam "obrigar os gentios... a viver em todos os aspectos, segundo a lei dada por Moisés".67 Deve-se notar que, segundo o relato de Justino, tanto a mais moderada como a mais exaltada classe dos cristãos judeus enfatizavam a observância do sábado. Não se faz menção de guardarem o domingo. Se os cristãos judeus já houvessem adotado o domingo além da guarda do sábado, certamente Justino teria feito alusão a ele, em algum momento, em seus repetidos debates sobre a questão do sábado registrado em "Dialogue with Trypho". Que melhor meio de encorajar seu amigo judeu Trypho e seu povo a observar o domingo que apontar-lhe seus patrícios, os cristãos judeus, que já estavam fazendo assim. Porém a ausência de qualquer referência à observância do domingo pelos cristãos judeus, conjugada aos esforços de Justino para mostrar, a partir do Velho Testamento, a superioridade do domingo sobre o sábado, pressupõe que, em sua época, a observância do domingo era estranha tanto a judeus como a cristãos judeus.
Os Nazarenos
Que os primeiros cristãos judeus não observavam o domingo é também apoiado pelo testemunho de Epifânio, considerando a seita crista-judaica "ortodoxa" dos nazarenos. O bispo reporta que "a seita originou após a fuga de Jerusalém, quando os discípulos estavam vivendo em Pella, tendo deixado a cidade conforme a palavra de Cristo e migrado para as montanhas por causa do cerco iminente. Foi assim que ela surgiu, quando aqueles de quem falamos estavam morando na Peréia. A heresia dos nazarenos começou ali.68
Estes nazarenos, cuja existência do quarto século é confirmada até por Jerônimo,69 parecem ser os descendentes diretos da comunidade cristã de Jerusalém que migrou para Pella. M. Simon confirma sua identidade quando escreve que "são caracterizados essencialmente pela sua tenaz ligação às observâncias judaicas. Se se tornaram hereges aos olhos da Igreja-mãe, é simplesmente porque permaneceram apegados a posições antiquadas. Realmente representam, embora Epifânio energicamente se recuse a admiti-lo, os legítimos descendentes diretos da comunidade primitiva, da qual nosso autor sabe que era referida pelos judeus pelo mesmo nome de nazarenos."70
Se os nazarenos, como a maioria dos estudiosos considera, são mesmo os descendentes diretos da primitiva comunidade de Jerusalém, seria de se esperar que estes (e não os Ebionitas) houvessem mantido as práticas originais do cristianismo judaico. Deve-se ler o que Epifânio tem a dizer acerca deles, particularmente com respeito ao seu dia de adoração. Apesar das tentativas do bispo de denegri-los como "heréticos", no longo relato que faz de suas crenças, nada há de heterodoxo a respeito deles. Após identificá-los com os judeus por usarem os mesmos livros do Velho Testamento (dificilmente são heresias.) ele continua: "Os Nazarenos não diferem deles, isto é, dos judeus, em nada de essencial como praticam o costume e doutrinas prescritas pela lei judaica, exceto que crêem em Cristo. Crêem na ressurreição dos mortos e que o universo foi criado por Deus. Pregam que Deus é um e que Jesus Cristo é Seu Filho. São muito conhecedores da língua hebraica. Lêem a lei... Portanto, diferem tanto dos judeus como dos cristãos; dos primeiros, porque crêem em Cristo; dos verdadeiros cristãos, porque cumprem até agora os ritos judaicos como a circuncisão, a guarda do sábado e outros."71
Este quadro dos Nazarenos combina muito bem com aquele da Igreja de Jerusalém que reconstruímos anteriormente. Existe, portanto, a possibilidade de que os Nazarenos representem a sobrevivência do legado étnico e teológico do primitivo cristianismo judeu.72 O fato de que mantiveram a guarda do sábado como um dos seus marcos distintivos mostra persuasivamente que este era o dia original de adoração na Igreja de Jerusalém e que nenhuma mudança do sábado para o domingo ocorreu entre os cristãos judeus da Palestina após a destruição da cidade.
A Maldição dos Cristãos
Outra indicação da sobrevivência da observância do sábado entre os cristãos judeus na Palestina se evidencia, ainda que indiretamente, pelo teste introduzido pelas autoridades rabínicas para detectar a presença de cristãos na sinagoga. O teste consistia de uma maldição que era incorporada na Oração diária – Shemoneh Esreh – e devia ser pronunciada contra os cristãos por qualquer participante nos serviços da sinagoga. Marcel Simon relata o texto palestino da maldição e também sugere a data de sua introdução, aceita pela maioria dos estudiosos: "É da sugestão de J. Gamaliel II, pouco depois da queda de Jerusalém e, muito provavelmente por volta do ano 80 A.D., que foi inserido no Shemoneh Esreh, a famosa fórmula contra o Minin: "Que os apóstatas não tenham esperança e que o império do orgulho seja prontamente destruído em nossos dias. Que os Nazarenos e os Minin pereçam em um instante; que eles todos sejam apagados do livro da vida, e que não sejam contados entre os justos. Bendito sejas Tu, ó Deus, que abates os soberbos."72
O testemunho de diversos Pais da Igreja confirma que esta maldição era regularmente pronunciada nas sinagogas.74 Jerônimo, por exemplo, escreve explicitamente: "Três vezes diariamente, em todas as sinagogas, amaldiçoam-se os cristãos, sob o nome de Nazarenos."75 O propósito da fórmula não era simplesmente amaldiçoar os cristãos como apóstatas, mas, como observa Marcel Simon, constituía "um teste confiável" para descobri-los. Ele explica que "como todos os membros da comunidade podiam ser convocados, na ausência dos sacerdotes oficiais, para oficiar no culto público, o método era certo: o participante contaminado com heresia tinha necessariamente que hesitar em pronunciar, com esta bênção, sua própria condenação. O Talmude declarava claramente: "Sempre que alguém cometer um engano em qualquer benção do Minin, deve ser chamado de volta ao seu lugar porque, supostamente, é um Min."76
O fato de que após a destruição de Jerusalém introduziu-se um teste pelas autoridades rabínicas palestinas para barrarem a presença dos cristãos e/ou sua participação nos serviços da sinagoga, indica que muitos cristãos judeus na Palestina ainda se consideravam essencialmente judeus.77 Sua aceitação de Cristo como o Messias não impedia sua freqüência aos serviços da sinagoga no sábado. A existência desta situação desacredita, portanto, qualquer tentativa de tornar os cristãos judeus responsáveis, à esta altura, pela substituição da guarda do sábado pelo culto no domingo.
A Política de Adriano
Indicações adicionais indiretas da permanência da observância do sábado na Igreja de Jerusalém após o ano 70 A.D.são fornecidas pelos eventos relacionados com a destruição da cidade por Adriano em 135 A.D. O imperador, após rudemente esmagar a revolta de Barkokeba (132 a 135 A.D.), reconstruiu sobre as ruínas de Jerusalém uma nova cidade romana, Aelia Capitolina.78 A esta altura, foram impostas sobre os judeus duras restrições. Foram expulsos da cidade, proibidos categoricamente de voltar, e proibidos de praticar sua religião, particularmente seus dois costumes peculiares: o sábado e a circuncisão. As fontes rabínicas falam exaustivamente das restrições impostas por Adriano, cujo reino é comumente referido como a "época da perseguição - shemad" ou "a época do edito - gezarah".79 A citação seguinte é um exemplo das declarações freqüentemente encontradas no Talmude com respeito à política antijudaica de Adriano: "O governo de Roma emitiu um decreto para que não estudem o Torah, não pratiquem a circuncisão em seus filhos, e que profanem o sábado. O que Judah B. Shammua e seus companheiros fizeram? Foram consultar uma certa matrona a quem todas as celebridades romanas costumavam visitar. Ela lhes disse: "Ide e proclamai vossas tristezas à noite." Foram e proclamaram à noite, dizendo: "Ai de nós, por amor dos céus, não somos vossos irmãos, não somos filhos de uma mesma mãe? Por que somos diferentes das outras nações e línguas que editam tão duro decreto contra nós?"80
Estas medidas repressivas tomadas pelo imperador contra os judeus afetaram não somente as atitudes dos cristãos em geral, para com os judeus, mas especialmente a composição étnica e orientação teológica da Igreja de Jerusalém. Da última, relata Eusébio: "E assim, quando a cidade havia sido esvaziada da nação judaica, e sofrido total destruição dos seus habitantes antigos, foi colonizada por uma raça diferente, e a cidade romana que surgiu em seguida, mudou de nome para Aelia, em honra do imperador Aelius Adrian. E, como a igreja lá era agora composta de gentios, o primeiro a assumir seu governo, após os bispos da circuncisão, foi Marcos.81
O fato de que como resultado do edito de Adriano, os membros e bispos cristãos-judeus foram substituídos por gentios, indica que se fez clara distinção entre os dois naquela época. Admitiríamos que a distinção fosse limitada não somente ao fator racial, mas que também incluía uma nova orientação teológica em particular para com as festividades judaicas características tais como a páscoa e o sábado. Esta hipótese é apoiada pelo testemunho de Epifânio, que em seu longo relatório acerca da controvérsia sobre a data da celebração da páscoa, declara: "A controvérsia surgiu (literalmente, foi aguçada) após o êxodo dos bispos da circuncisão (135 A.D.) e continuou até nossa época."82 O bispo faz referências específicas aos quinze bispos judeus cristãos que administravam a igreja de Jerusalém até 135 A.D, e que até àquela época tinham celebrado a Páscoa Quartodecimana, pois baseavam-se em um documento conhecido como a Constituição Apostólica v - onde é dada a seguinte regra: "Não mudareis o cálculo do tempo, mas a celebrareis à mesma época que vossos irmãos que vieram da circuncisão. Com eles observareis a Páscoa."83
Embora Epifânio nem sempre seja uma fonte fidedigna, suas informações sobre a observância da Páscoa Quartodecimana pela Igreja de Jerusalém até 135 A.D. da controvérsia que surgiu naquele tempo, merecem credibilidade por várias razões. O relato harmoniza bem com o que sabemos sobre a orientação teológica da Igreja de Jerusalém, fornecido pelas fontes que examinamos anteriormente. Além do mais, neste particular, o bispo está meramente relatando o que os Audianos 84 (uma seita que se recusou a aceitar o decreto do Concílio de Nicéia sobre a indicação da páscoa) acreditavam, a saber, que estavam segundo o exemplo e autoridade dos Apóstolos (tal como expresso nas Constituições Apostólicas) ao observarem a páscoa no dia 14 de Nisã. Epifânio não desafia a autenticidade deste suposto decreto apostólico, mas argumenta gratuitamente que os Audianos haviam compreendido mal seu significado, pois era intenção dos Apóstolos que todos devessem chegar à unidade da fé ao adotar em, finalmente, a data para a páscoa segundo o calendário romano, em lugar de 14 de Nisã. A debilidade de tal interpretação é mostrada pela sua própria menção (do que aparentemente era um fato conhecido e aceito) de que a controvérsia sobre a data da celebração da páscoa "surgiu após a época do êxodo dos bispos da circuncisão", implicando claramente assim que até àquela época, o cômputo da Quartodecimana foi unanimemente seguido.85
A controvérsia da Páscoa, a qual mais tarde examinaremos, foi aparentemente provocado por um grupo minoritário que recusou-se a abandonar a prática do sistema Décimo-Quarto e a aceitar a inovação da Páscoa dominical.86 O fato de que a controvérsia sobre a data da páscoa hebraica surgiu, não antes, mas na época quando a nova política anti-judaica do imperador provocou uma reconstituição da Igreja de Jerusalém com membros e líderes gentios, sugere, primeiramente, que até àquela época, a Igreja, composta primariamente de cristãos-judeus havia sido leal às instituições religiosas judaicas básicas, tais como a Páscoa hebraica e o sábado; e em segundo lugar, sugere que certas mudanças, particularmente no calendário litúrgico, foram ocasionados pelas novas medidas repressivas adotadas pelo imperador contra as práticas religiosas judaicas. Esta questão receberá maiores considerações em nosso estudo da relação entre a páscoa dominical e o domingo semanal. Notaremos que aparentemente, ambas festividades, que estavam e ainda estão inter-relacionadas, originaram-se à mesma época, no mesmo local em virtude das mesmas causas.87
Estes dados históricos a que brevemente consideramos desacreditam qualquer tentativa de tornar a Igreja de Jerusalém, antes de 135 A.D. a campeã das inovações litúrgicas tais como o culto do domingo. Descobrimos que, entre todas as igrejas cristas, esta estava aparentemente tanto racial quanto teologicamente mais próxima das tradições religiosas judaicas e lhe era mais fiel.88 Depois de 135 A.D. quando Jerusalém foi reconstruída como uma colônia Romana pagã – Aelia Capitolina – perdeu seu prestígio político e religioso tanto para os judeus como para os cristãos. Seria vão, portanto, após este tempo, explorar mais ainda a origem da observância do domingo entre a pequena e nova igreja gentia na cidade, da qual nada se sabe para o segundo século, com exceção de poucos e incertos nomes de bispos.
Nossa investigação da origem da observância do domingo até aqui assumiu uma conotação negativa. Mostrou quão infundado é a reivindicação de que a primitiva comunidade de Jerusalém instituiu o culto no domingo para comemorar a ressurreição no dia da páscoa e/ou as aparições de Cristo por meio da celebração da Santa Ceia. Este esforço, contudo, não fornece uma resposta alternativa à pergunta do local, época e causas da origem da guarda do domingo. À esta tarefa, portanto, nos dirigiremos agora, esforçando-nos para reconstruir um quadro que, afirmamos, é historicamente preciso.
NOTAS DO CAPÍTULO V
1. J. Daniélou, The Theology of Jewish Christianity, 1964, pág. 342.
2. J. Daniélou, The Bible and the Liturgy, 1966, pág.243.
3. C.S.Mosna, Storia della domenica, pág. 53. A mesma conclusão chega, por um raciocínio diferente, H. Riesenfeld, "Sabbat et jour du Seigneur", New Testament Essays. Studies in Memory of T. M. Manson, 1958, pág. 213f.; Y.B. Fremel, "Du Sabbat au Jour du Seigneur", Lumière et Vie (1962); 44f; Pierre Grelot, "Du Sabbat juif au dimanche chrétien", La Maison-Dieu 124 (1975): 28-31.
4. W. Rordorf, Sunday, pág. 237. Entre outros que já haviam advogado que a observância do domingo originou-se dentro da primitiva Igreja de Jerusalém, veja H. Dumanine, "Dimanche", DACL IV, col. 892f.; P. Cotton, From Sabbath do Sunday, 1931, pág.71; J. Nedbal, Sabbat und Sonntag in Neuen Testament, dissertation 1956, pág. 170f.; C. Callewart, "La synaxe eucharistique à Jerusalém, berceau du diman che", Ephemerides Theologicae Lovanienses 15 (1938): 34-73.
5. P. K. Jewett, Lord's Day, pág. 56. As referências cruciais de Paulo sobre o Sábado (Col. 2:16 e 17; Gál. 4:10; Rom. 14:6) são examina das no apêndice.
6. P. K. Jewett, Lord's Day, pág. 57.
7. W. Rordorf, Sunday, 218.
8. P. K. Jewett, Lord's Day, pág. 57. J. A. Jungmann, The Mass of the Roman Rite, 1950, 1, pág. 20f., argumenta que a substituição do sábado pelo domingo ocorreu entre o martírio de Estevão e a perseguição do ano 66 A.D. como resultado da perseguição judaica. Verificaremos que esta posição está desacreditada, pelas informações disponíveis a respeito da Igreja de Jerusalém.
9. Conforme W. Rordorf, Sunday, pág. 232-237.
10. Ibid. pág. 218.
11. C.S.Mosna, Storia della domenica, 53.
12. W. Rordorf, Sunday, pág. 218.
13. Eusebius, HE 3, 25,5, NPNF1, 159; o mesmo relato é dado por Theodoret, Haereticarum ia bularum compendium, 2, 1, pág. 83, 389.
14. H. Dumaine, "Le dimanche", DACL IV, col. 893, é da opinião de que a observância do domingo entre os Ebionitas "tem todas as chances de ser a sobrevivência do costume da primitiva Igreja de Jerusalém. Esta instituição, portanto, realmente nada tem de Cristianismo Helenístico"; conforme C. Callewaert (veja n. 4 pág. 51; C.S.Mosna, Storia della domenica, pág. 54-55; W. Rordorf, Sunday, pág.216-218; P.K. Jewett, Lord's Day, pág. 57.
15. W. Rordorf, Sunday, pág.218.
16. Templo: Atos 2:46; 3:4; 5:12,20,25,42; Sinagoga: Atos 9:20; 13:5, 14, 42; 14:1; 17:1, 10, 17; 18:4, 19, 26; 19:8; Casas: Atos 1:13; 2:46; 5:42; 12:12; 20:7; à margem do rio: Atos 16:16.
17. O. Cullmann, Early Christian Worship, 1966, pág.10, arrazoa que uma vez que mesmo casas particulares eram consideradas "igreja", a expressão "no templo" poderia significar "na casa". É difícil aceitar esta explicação pois dois termos muito distintos existiam e eram usados para designar respectivamente "o templo - " e "a igreja - ".
18. Conforme Atos 3:11; 5:12; João 10:23.
19. H. Riesenfeld (n.3), pág. 212, sugere que "obviamente os cristãos assistiam na capital judia ao culto do templo e da sinagoga por causa da leitura das Escrituras e das orações. Por intermédio dos sacrifícios eles entendiam sempre melhor que os mesmos haviam sido substituídos pela morte de Cristo. Após participar do culto no templo reuniam-se entre eles mesmos (Atos 2:46; 5:52), isto é, em uma casa particular, tal como o cenáculo (Atos 1:13) e aí ouviam os cristãos os ensines dos Apóstolos assiduamente, participando lealmente na comunhão fraternal, e no partir do pão e nas orações (Atos 2:42; conforme 6:1 e 2)".
20. Ralph P. Martin, Worship in the Early Church, 1974, pág,18; conforme T.W. Manson. "The Jewish Background", Christian Worship: Studies in its History and Meaning, ed. M. Micklem, 1936, pág. 35.
21. Ralph P. Martin (n.20), pág,19.
22. F.J. Foakes Jackson e Kirsopp Lake, The Beginnings of Christianity, 1933, 1, pág. 304; Karl L. Schmid, " " TDNT III, págs. 501-536. Ferdinand Hahn, The Worship of the Early Church, 1973, pág. 4l, rejeita a teoria de que a "igreja" desenvolveu-se a partir do modelo da sinagoga, porque diz "os cristãos tomaram grande liberdade com toda a tradição do judaísmo do Velho Testamento". Hahn argumenta que inicialmente os cristãos primitivos apartaram-se do culto judaico, mas que subseqüentemente, especialmente sob a direção de Tiago, irmão do Senhor, desenvolveram uma "estrita observância da lei, fidelidade ao culto, e uma atitude acentuadamente particular" (loc. cit.). Por que iriam os primeiros cristãos romper primeiramente com o culto judaico para serem mais tarde atraídos por ele novamente? O Novo Testamento não fornece indicações algumas que apóiem esta teoria. Hahn diz, por exemplo, que "a designação de um presbitério durante os anos quarenta era semelhantemente um retorno cons ciente aos costumes judaicos. Dependência semelhante não deve ser pressuposta para o período inicial, como se os primeiros cultos cristãos estivessem diretamente relacionados ao culto da sinagoga" (ibid. pág.51,52). A designação de um presbitério pela Igreja de Jerusalém é realmente indício de um retorno aos costumes judaicos? Não sugere, ao invés um progresso na estrutura organizacional da Igreja segundo o modelo judaico existente? E a eleição dos Helenistas para cuidarem do bem-estar social dos necessitados? (Atos 6:1-6)? Sua função não era semelhante à dos "coletores de esmolas que, em virtude da função, não tinham ligação com a conduta do culto" judeus? (Hermann W. Bayer, " v , TDNT II, pág.91). A eleição de novos oficia,is deve ser vista no contexto do desenvolvimento da estrutura local da Igreja determinada pelo crescimento da comunidade. Estruturas organizacionais e litúrgicas judaicas existentes forneciam um modelo válido qual os cristãos adaptavam às suas exigências. Mario Fois, Collegialità, Primato e Laicato nella Chiesa Primitiva, Gregorian University 973, pág. 52-75, mostra de maneira convincente como o desenvolvimento de estruturas eclesiásticas na primitiva Igreja Palestina foram moldadas segundo os padrões judaicos existentes.
23. C. W. Dugmore, "Lord's Day and Easter", Neotestamentica et Patristica in honorem sexagenarii O. Cullmann, 1962, pág.272; também The Influence of the Synagogue upon Divine Office, 1944, pág.7f.; W. O. E. Oesterley, The Jewish Background of the Christian Liturgy, 1925; P. P. Levertoff, "Synagogue Worship in the First Century", Liturgy and Worship, ed. W. K. L. Clarke, 1932.
24. O. Cullmann (nota 17), págs. 10 e 11.
25. H. Riesenfeld (nota 3), pág. 213.
26. O. Cullmann (nota 17), pág.9.
27. C.S. Mosna, Storia della domenica, págs. 179-180. Ele vê indícios desta separação da sinagoga já no Evangelho de Mateus (4:23; 10:17; 12:9) onde ocorre a expressão "na sinagoga deles".
28. Conforme O. Cullmann, "Dissensions Within the Early Church", Union Seminary Quarterly Review (1967): 83; M. Simon, St. Stephen and the Hellenists in the Primitive Church, 1958, nota 113, é da opinião de que estes Helenistas influenciaram os Ebionitas. Isto parece impossível, pois mostraremos mais tarde (veja na pág. ) que os Ebionitas provavelmente representam um desenvolvimento posterior da Cristandade judaica. E. Lohmeyer, em Galilaa und Jerusalem, 1936, faz distinção entre a teologia judaica e a Galiléia dos primeiros cristãos; conforme H.R. Baltz Methodische Problem der neutestamentlichen Christologie, 1967, pág. 171f.
29. O. Cullmann, "Courants multiplies dans la Com munauté primitive", Judéo-christianisme, ed. Joseph Moingt, 1972, nota 58.
30. W. Rordorf, Sunday, pág,127; conforme pág. 217. A suposição de Rordorf repousa principalmente em Atos 6:14, onde falsas testemunhas acusam Estevão de ter dito: "Este Jesus de Nazaré destruirá este lugar, e mudará os costumes que Moisés nos deu". Ele conjectura gratuitamente que os "costumes" poderiam incluir também o sábado; conforme também M.H. Shepherd The Paschal Liturgy and the Apocalypse, 1960, pág.17. Note, entretanto, que estas não são palavras de Estevão, mas dos falsos acusadores. Ataque semelhante foi feito contra Paulo: "ensinas todos os judeus que estar entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos nem andar segundo o costume da lei" (Atos 21:21)1). Paulo, entretanto, negou tal acusação: "Nada fiz contra o povo ou os costumes de nossos pais" (Atos 21:17). Aparentemente Paulo podia dizer isto em boa consciência porque nunca instou aos judeus, por exemplo, a abandonarem a circuncisão. A isenção foi feita somente aos gentios. (Atos 15:23). É dado significativo que, enquanto Paulo era acusado pelos judeus com relação à circuncisão, acusação nenhuma jamais foi feita contra de quebrar o Sábado. Semelhantemente, na acusação contra Estevão, há uma referência genérica ao templo, lei e costumes, mas nenhuma alusão específica ao Sábado.
31. A expressão se encontra em E. Haenchen, Die Apostelgeschichte, 1959, pág. 226.
32. T.M. Manson (nota 20) pág. 35.
33. F.A. Regan, Dies Dominica, pág.6.
34. B. Bagatti, The Church from the Circumcision, 1971, pág.67.
35. F.F. Bruce, Commentary on the Book of the Acts 1954, pág.429; Charles W. Carter e Ralph Earle, The Acts of the Apostles, 1905, pág. 322 apóiam a mesma posição: "Parece que a Igreja de Jerusalém provavelmente era organizada segundo o modelo do templo judaico. Tiago pode ter tido um corpo de setenta anciãos, correspondente ao Sinédrio, para assisti-lo na administração da igreja Judaica."
36. Lino Randellini, La Chiesa dei Giudeo-cristiani, 1967, pág.27, sustenta que a Igreja de Jerusalém era composta durante um período indeterminado de hebreus circuncidados que apareciam como "uma seita dentro do Judaísmo. Freqüentavam o templo, celebravam as festividades, observavam o Sábado e jejuns, submetiam-se a prescrições legais e circuncidavam seus filhos"; Cabrol e Leclerq, Monumenta ecclesiae liturgica, 1902, 1, pág. XVI, igualmente assinala que na primeira expansão da igreja, que ocorreu após a morte de Estevão, "quase toda a administração veio da Igreja de Jerusalém, na qual a autoridade e domínio dos judaizantes, como eram chamados, em muito excedia a influência dos Helenistas"; C. W. Dugmore, The Influence (nota 23), pág. 44, enfatiza que os cristãos judeus, ainda que com o tempo influenciassem os costumes da igreja, "uniram-se à Igreja que era essencialmente judaica quanto a origem e seu conteúdo"; Mario Fois (nota 22), pág. II, sutilmente observa que os cristãos, ao estabelecerem suas estruturas, não poderiam evitar "de olharem para os modelos judaicos e Romanos Helenísticos então existentes"; Conforme D. Judant, Judaisme et Christianisme, Dossier patristique, 1968, pág. 15.
37. Conforme Gál. 1:19; 2:9,12; I Cor. 15:7; Atos 12:17; 15:13; 21:18.
38. Para uma pesquisa concisa sobre a exaltação de Tiago nestas obras, veja B. Bagatti (nota 36) pág. 70-78.
39. The Protoevangelium of James, 18.
40. The Gospel to the Hebrews, "E quando o Senhor havia dado o pano de linho ao servo do sacerdote, foi a Tiago e lhe apareceu. Pois Tiago havia jurado que não comeria pão desde aquela hora em que tomou o cálice do Senhor até que o visse ressuscitado dentre os que dormem. E pouco tempo depois o Senhor disse: "trazei uma mesa e pão." Imediatamente está acrescentado: ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o a Tiago, o justo e disse-lhe "Meu irmão, coma deste pão pois o Filho do homem ressuscitou dentre os que dormem" (E. Hennecke, New Testament Apocrypha, 1963, 1, pág.165; conforme The Protoevangelium of James 18; The Kerygmata Petrou 1:1 "Pedro a Tiago, o senhor e bispo da santa igreja...." (E. Hennecke, op. cit. II, pág. III).
41. Conforme II Apocalypse of James III-IV (encontrado em Nag Hammadi). No Recognitions of Clement 1, 68, Tiago é denominado o "principal dos bispos" (ANF VIII, pág. 94). No mesmo documento é dada a seguinte instrução: "Tome a maior cautela, não creia em mestre, a menos que ele traga de Jerusalém o testemunho de Tiago, irmão do Senhor, ou quem quer que venha após ele" (4,35 ANF VIII, 162). A mesma atribuição de primazia a Tiago se encontra na introdução da Épistle of Clement to James: "Clemente a Tiago, o senhor e bispo de bispos, que dirige Jerusalém, a santa Igreja dos he breus, e as igrejas de toda a parte" (ANF VIII, pág. 18).
42. Gospel of Thomas, Logion 12: "Os discípulos disseram a Jesus: "Nós sabemos que sairás de nós. Quem é que será maior entre nós?" Jesus lhes disse: "Sempre que vierdes, ireis a Tiago, o justo, por cuja causa o céu e a terra vieram à existência". (E. He Hennecke (nota 40)1, pág. 290).
43. Hegesippus citado por Eusébio, HE 2, 23, 5-6; conforme Josephus, Antiquities 20,9,1, que relata dignos cidadãos judeus denunciaram o Sumo Sacerdote Ananus ao procurador Albinus por sua arbitrária execução de Tiago. Aparentemente Tiago desfrutava de grande favor entre o povo judeu na cidade. Em uma passagem atribuída a Josefo, a destruição de Jerusalém no ano 70 A.D, é vista como o justo castigo pela morte injusta de Tiago (veja Eusebius, HE 2, 23, 20).
44. B. Bagatti (nota 34) pág.70. A tradição de que Tiago transmitiu à Igreja tanto o poder real quanto sacerdotal se encontra, por exemplo, na The History of Joseph the Carpenter que faz de José um sacerdote; Epifânio, Adversus haereses, PG 41, 393-4; Apocalipse of James VII, 2, põe, na boca do moribundo Tiago estas palavras: "A luz procedente da luz me coroará" (citado por Bagatti (nota 34), pág.74).
45. A preocupação do partido da circuncisão, aparentemente apoiado por Tiago (Gál. 2:12), mesmo após o Concílio de Jerusalém, para impor a circuncisão aos conversos gentios, indica pouca mudança na atitude dos cristãos judeus para com os regulamentos mosaicos (conforme Gál. 5:12; 6:12; Fil.3:2; Atos 15:1,2,5).
46. W. Rordorf, Sunday, pág. 219; F.K. Jewett, Lord's Day, pp. 56, 57, igualmente argumenta que "o fato de não encontrarmos nenhuma indicação disso (a controvérsia a respeito do Sábado), especialmente no Concílio de Jerusalém (Atos 15), indica que nesta questão, toda a igreja apostólica, inclusive o partido judaico, estava em concordância. O culto do primeiro dia então, não era uma invenção de Paulo".
47. Joseph Addison Alexander, Commentary on the Acts of the Apostles, 1956, pág. 548. O autor faz uma síntese resumida de várias posições.
48. Conforme F.F. Bruce (nota 35) pág. 312, nota 41: "Uma interpretação variante do verso 21 faz Tiago querer dizer que, como as comunidades judaicas deviam ser encontradas em cada cidade, seus escrúpulos deviam ser respeitados".
49. Everett F. Harrison, Acts: The Expanding Church, 1975, pp 236-237: "Talvez tudo que Tiago queria fazer era salientar o fato de que os gentios que tinham o hábito de freqüentar a sinagoga (existentes quase que em toda a parte) estavam bem inteirados dos regulamentos levíticos aplicáveis aos gentios, assim a exigência do Concílio não deveria ser considerada arbitrária ou dura".
50. F.F. Bruce (nota 35), pãg.312.
51. R.C.H. Lenski, The Interpretation of The Acts of The Apostles, 1944, pãg.878. O autor sugere que "estes crentes judeus na Palestina sofriam por causa de falsos rumores sobre Paulo" (loc. cit.)
52. Richard B. Rackham, The Acts of the Apostles 1964, pág. 414, observa: "Deveras o propósito mesmo era provavelmente sugerido por sua (isto é, de Paulo) própria conduta. Pois em sua última visita a Jerusalém ele havia cumprido o voto de Nazireu (Atos 18:18): e, como fala de si mesmo (em Atos 24:17) como tendo vindo "para fazer ofertas", não é improvável que nesta ocasião ele estivesse também sob algum voto de ações de graças".
53. F.J.A. Hort, Judaistic Christianity, 1890, pág, 109-110. Sua conclusão é que "embora não mencionado em Atos, ele (Paulo) já estivesse se propondo oferecer sacrifício no Templo, por sua própria conta, possivelmente em conexão com algum voto anterior, possivelmente também, só posso sugerir, em conexão com a contribuição gentia aos cristãos judeus, não mencionada no capítulo 21, mas claramente colocada em 24:17".
54. Everet F. Harrison (nota 49), pág. 328, assinala que Paulo "não poderia ter descansado satisfeito, ao passar as contribuições que suas igrejas haviam levantado, se o verdadeiro objetivo da viagem – uma unificação das alas judias e gentias da igreja – não fosse alcançado".
55. E. Lohse, " " TDNT VIII, pág. 29, passagem esta discutida na pág.
56. M.D. Davies, "Paul and Jewish Christianity" Judéo-christianisme, 1972, pág. 72.
57. J. Lebreton e J. Zeiller, The History of the Primitive Church, 1949, 1, pág. 306. Três estudiosos têm desafiado, especialmente em épocas recentes, a autenticidade histórica do relato da fuga para Pella feito por Eusébio (HE 3,5,2-3): J. Junck, "Jewish Christianity in Post-Apostolic Times", New Testament Studies 6 (1959-1960): 103-104; G. Strecker, Das Judenchristentum in den Pseudokle mentinen, 1958, pág. 229-231; S.G.F. Brandon, The Fall of Jerusalem and the Christian Church, 1951, pãg.169. As objeções à migração para Pella são baseadas na análise das referências encontradas no Clementine Recognitions, Josephus, Epiphanius e Eusebius. M. Siom, "La migration à Pella. Legende ou réalité", Judéo-christianisme, pág. 37-54, mostra como as objeções não podem suster-se ao levar-se em consideração a contaminação da comunidade por seitas heterodoxas que se estabeleceram à volta de Pella e o vínculo da fuga com o martírio de Tiago.
58. F. A. Regan, Dies Dominica, pág.18.
59. Eusébio, HE 4,5,2-11; Epifânio, Adversus haereses 70,10 pág.42, 355-356.
60. Eusébio, HE 3,27,3 traduzido por Kirsopp Lake, Eusébio, The Ecclesiastical History, 1949, 1, pág. 263 (até aqui citado como Lake, Eusebius History).
61. Os defensores desta posição são listados acima, veja nota 14.
62. W. Rordorf, Sunday, pág.217-218, conforme P. K. Jewett Lord's Day, pág.57.
63. Irineu, Adversus Haereses 7,26,2 ANF I, pág. 352, escreve: "Aqueles que são chamados de Ebionitas ... praticam a circuncisão e perseveram nos costumes segundo a lei e o estilo judeu de vida e oram em direção de Jerusalém, como se fosse a casa de Deus".
64. Eusébio, HE 3,27,2, NPNF I, 159; Irineu, Adversus haereses, 1, 26, 2, ANF T, pág. 352, explicitamente associa a opinião dos Ebionitas quanto a Cristo com aquela dos Gnósticos como Gerinthus e Carpocrates. Ambos "representavam a Jesus como não tendo nascido de uma virgem, mas como sendo o filho de José e Maria segundo ao modo normal das gerações humanas.
65. J. Daniélou, The Theology of Jewish Christianity, 1964, pág. 56. Esta distinção também é feita por H.J. Schoeps, Aus Früchristlicher Zeit, 1950, pág. 282.
66. M. Simon (nota 57) pág. 48. Simon baseia sua conclusão na marcante semelhança entre as crenças dos Ebionitas e de uma seita pré-cristã-judia chamada " - Nasarenes" (diferente dos Nazarenos cristãos) relatada por Epifânio, Adversus haereses 1,18. Ele corretamente afirma que "é impossível atribuir... à comunidade de Jerusalém, as mesmas doutrinas particulares professadas pelos Ebionitas do Pseudo-Clementine" (ibid. pág.58, nota 27).
67. Justino Martyr, Dialogue with Trypho 47,ANF 1, 218. Philip Schaff e Henry Mace reconhecem este fato e enfatizam que enquanto no tempo de Justino, os cristãos judeus eram distinguidos não por "heresia doutrinária", mas por "duas tendências opostas" para cair, a lei judaica, algumas décadas mais tarde, ao tempo de Irineu, "a distinção que faz Justino entre a classe mais moderada e a mais rígida, não mais é feita: todos estão igualmente classificados nas fileiras dos hereges" (NPNF I, pág. 158, nota 7). Ambos escritores também notam que "tem sido o costume dos historiadores fazer esta distinção (isto é, entre os Ebionitas e os Nazarenos) retroativa aos tempos apostólicos, e localizá-los até a época de Epifânio, a existência contínua de um partido mais moderado – os Nazarenos e a de um partido mais rígido – os Ebionitas. Porém esta distinção Nitzsch (Dogmengesch, pág.37f.) provou que é totalmente infundada. A divisão que Epifânio faz e diferente da de Justino, bem como da de Orígenes e Eusébio" (Loc. cit.). É possível que os Ebionitas se tornassem uma seita heterodoxa, adotando opiniões gnósticas de Cristo como resultado de serem rejeitados pelos cristãos gentios. A separação foi aparentemente estimulada por medidas repressivas existentes em Roma contra os judeus, as quais discutiremos depois. Justino menciona na verdade que em seu tempo havia muitos cristãos gentios que não se "aventuravam a ter quaisquer relacionamentos com, ou a estenderem a hospitalidade" àqueles cristãos judeus que "criam em Cristo e O obedeciam" mas que também observavam as instituições judaicas. Ele se apressa em acrescentar contudo, "Não concordo com eles" (Dialogue 47, ANF I, 218). É possível, portanto, que alguns cristãos judeus, rejeitados pela maior parcela do Cristianismo, aproximaram-se mais, nesta época das seitas' judaicas gnósticas, adotando sua Cristologia herética e a observância do domingo (alguns pelo menos). No tempo de Irineu eles tornaram-se conhecidos como "Ebionitas", pois o bispo os identifica explicitamente por este nome (Adversus haereses 1,26,2).
68. Epifânio, Adversus haereses 29,7 pág. 42, 402.
69. Jerônimo relata ter cruzado com os Nazarenos em "Beroes, uma cidade da Síria" (De viris III. 3, NPNF 2a, III, pág. 362.
70. M. Simon (nota 57), págs. 47-48; conforme B. Bagatti (nota 34), págs. 31-35; J. Daniélou (nota 65), pág. 56, também vê os Nazarenos como descendentes dos cristãos de fala aramaica que fugiram para a Transjordânia e que "separaram-se do resto da Igreja porque rejeitavam as instituições judaicas do sábado e circuncisão como ainda em vigor."
71. Epifânio, Adversus haereses 29,7 pág. 42,402.
72. B. Bagatti (nota 34), pág. 30-31, assinala: "Os Nazarenos sempre se consideravam iguais a outros cristãos de precedência gentílica e desejavam, como um de seus anelos, o escritor Hegesippus diz, parecer verdadeiros cristãos distintos dos hereges, mesmo aqueles de seu próprio meio."
73. M. Simon, Verus Israel: étuáes sur les relations entre chrétiens et juifs dans l'empire romain, 1964, pág. 235. A data 80-90 A.D. para a introdução da maldição é aceita por praticamente todos os estudiosos. Para uma maior bibliografia, veja W. Schrage, " v " TDNT VII, pág. 848; James Parkes, The Conflict of the Church and Synagogue, 1934, págs. 77-78 corrobora a data da maldição com a argumentação seguinte:"Esta declaração, o Birkath-ha-minin, foi composta por Samuel, o pequeno, que viveu na segunda metade do primeiro século. Sua data exata não sabemos mas era contemporâneo de Gamaliel II, que presidiu Jabne de 80 a 110, e era conhecido de dois rabinos que foram mortos na captura de Jerusalém em 70. Podemos, portanto, concluir que era mais velho que Gamaliel, e assim data a maldição, composta por ele entre 80 e 90; conforme também o diz C.M. Dugmore, The Influence (nota 23) pág. 4.
74. Conforme Justino Martyr, Dialogue 16; Epiphanius, Adversus Haereses 29, 9 pág. 41, 404-405; Jerome, In Isaiam, PL 24,87 e 484.
75. Jerome, In Isaiam 5, 18, PL 24,87.
76. M. Simon (nota 73) pág. 236.
77. James Parkes (nota 73) pág.78, nota que "o fato de que o teste era uma declaração feita no culto da sinagoga, demonstra que na época em que era feita os cristãos judeus ainda a freqüentavam" Esta conclusão também é partilhada por Ernest L. Abel, The Roots of Anti-Semitism, 1943, pág. 131: "The Jewish Christians ... sentiam que sua aceitação de Jesus como o Messias não impedia continuar seguindo os preceitos do Judaísmo e, continuaram freqüentando a sinagoga. Como eles mesmos eram judeus, não havia como serem identificados, a menos que pessoalmente demonstrassem sua crença. Como resultado, os líderes judeus adotaram métodos especiais para detectar os hereges. O principal deles era o Birkath-ha-Minin, o qual foi escrito por Shemuel ha-Qaton por volta de 80 A.D."
78. Dio Cassius, Historia 59,12, 1, LCL VIII, pág. 447, escreve: "Em Jerusalém ele encontrou uma cidade no lugar da que havia sido arrasada até o pó, chamando-a de Aelia Capitolina, e no lugar do templo do deus, erigiu um novo templo a Júpiter."
79. S. Krauss, "Barkokba" Jewish Encyclopedia , 1907, II, pág. 509, sintetiza a dramática situação dizendo: "Os judeus passaram agora por um período de amarga perseguição; os sábados, as festividades, o estudo da Torah e a circuncisão foram interditados e parecia que Hadriano desejava aniquilar o povo judeu.... A época subseqüente foi de perigo (sha'at hasekanah') para os judeus da Palestina, durante a qual os costumes rituais mais importantes foram proibidos; por cuja razão o Talmude declara (Geiger's Jud. Zeit 1,199, 11, 126; Weis, 'Dor', 11, 131; 'Rev. Et. Juives', xxxii. 41) que certos regulamentos foram promulgados para enfrentar a emergência. Chamou-se a época do edito ('gezarah') ou de perseguição ('she mad', Shab. 60a; Caut. R. ii,5)", veja também H. Graetz, History of the Jew, 1940, II, pág, 425; S. Grayzel, A History of the Jews, 1947, pág, 187; S. W. Baron, A Social and Religious History of the Jews, 1952, II, pág. 40-41, 107.
80. Rosh Hashanah 19a em The Babylonian Talmud, trans. I. Epstein, 1938, XIII; pág. 78; Baba Bathra 60b igualmente declara: "Subiu ao poder um governo que edita decretos cruéis contra nós e nos proíbe a observância da Torah e dos preceitos...." (Babylonian Talmud, XXV, pág. 246); veja também Sanhedrin 11a, 14a; Aboda Zarah 8b; os editos anti-judaicos de Hadriano com respeito ao culto, os quais são encontrados nas fontes rabínicas foram compilados por Hamburger na Real-Encyclopaedie für Bibel and Talmud, 2a ed., s. v. Hadrianische Verfolgungsedikte"; J. Derenbourg, que fornece um tratado bem documentado das guerra e política de Hadriano, escreve: "O governo de Roma proibiu, sob pena de morte, a circuncisão, a observância do sábado e o estudo da lei" (Essai sur 1' histoire et la géographie de la Palestine, 1867, pág. 430; veja nota 79 para referências de fontes rabínicas adicionais); referindo-se aos editos anti-judaicos de Hadriano, Jean Juster igualmente observa: "Sua existência não pode ser discutida pois fontes rabínicas concordam quanto à questão; o ódio profundo demonstrado para com Hadriano – o qual é o mais profundo ainda que o demonstrado a Tito – tudo isto mostra que Hadriano deve ter feito coisas muito graves contra os judeus" (Les Juifs dans l'empire romain 1965, pág. 226, nota 3); em Midrash Rabbah (eds. H. Freedman, M. Simon, 1939) também ocorrem freqüentes referências ao decreto de Hadriano. Comentando Exodus 15, 7, diz por exemplo: "Pois mesmo que um inimigo decrete que devam profanar o Sábado, abolir a circuncisão ou servir a ídolos, eles (isto é, os judeus) preferem sofrer martírio a obedecer (93:170); sob Ecclesiastes 2,17 , diz: "Imikanton escreveu ao imperador Hadriano, dizendo "Se é a circuncisão que odeias, há também os Ismaelitas; se é o observador do Sábado, há também os Samaritanos. Eis que odiais somente este povo (Israel)" (8:66-67); conforme também diz S. W. Baron (nota 79), II, pág.107.
81. Eusébio, HE 4,6,4 NPNF 2ª, 1, pág. 177-178.
82. Epifânio, Adversus haereses 70,10, PG 52, 355-356.
83. Ibid, PG 42, 357-358; na Didascalia Apostolorum encontra-se uma declaração semelhante: "Convém-lhes então, irmãos nossos, nos dias da Pascha inquirir com diligência e fazer seu jejum com todo o cuidado. E fazem um bom começo quando seus irmãos que são do povo guardam a Páscoa judaica" (Didascalia Apostolorum 21,17, ed. R.H. Connolly, 1929, pág. 187. Alguns eruditos, por causa desta semelhança, identificam a Apostolic Constitutions citada par Epifânio com a Didascalia Apostolorum. O texto citado por Epifânio, entretanto, difere substancialmente daquele da Versão Siríaca da Didascalia que chegou até nós. Para uma discussão do problema, veja M. Richard, "La question pascale au lle siècle", L'Orient Syrien 6 (1961): 185-186.
84. Com respeito ao Audians veja Dictionnaire de Théologie catholique, 1903, s.v. "Audiens" por A. Bareille; Dictionnrie d'histoire et géographie ecclesiastique, 1931, s.v. "Audée" por A. Reignier.
85. Para uma discussão mais detalhada de testemunho de Epifânio veja o meu Anti-Judaism and the Origin of Sunday, 1975, pág. 45-52.
86. B. Begatti (nota 34), pág. 10, é da opinião que a controvérsia da páscoa hebraica em Jerusalém foi provocada pelo retorno de cristãos judeus à cidade, pois cerca de sessenta anos mais tarde, Narciso, bispo de Jerusalém, enfrentando oposição dos que defendiam a páscoa em 14 de Nisã, solicitou socorro de seu mestre Clemente da Alexandria; (PG 9, 1490). Isto não exclui a possibilidade de que mesmo entre os novos membros gentios alguns se recusaram a aceitar a nova data do domingo de páscoa. A questão é discutida mais amplamente nas páginas
87. Veja a página 88. B. Bagatti (nota 34), pág.33, fornece indícios adicionais para a sobrevivência da "presença judia" na Igreja de Jerusalém mesmo após a época de Hadriano. Ele escreve: "A respeito do caráter "judaico" que permaneceu na igreja naquela época, temos vários testemunhos, como o de Bardesanus (180-223) que, falando (Ps 2,605) de seus discípulos, afirmava que observavam o domingo e não o sábado, e que não praticavam a circuncisão "como os cristãos da Judéia". Uma carta inserida no pseudo-Clementine Books (PG. 2, 33-56) sob o nome de Clement, com o título: "A Tiago, senhor e bispo de bispos, que dirige a santa igreja dos judeus de Jerusalém." Bagatti continua, fornecendo fatos históricos significativos indicando a presença de duas comunidades rivais (uma judaica e outra cristã-gentia) até meados do quinto século (veja págs, 10-14), à sobrevivência,em Jerusalém, de tão fortes influências cristãs-judaicas, por séculos após a primeira destruição da cidade, desacredita qualquer tentativa de fazer do ano 70 A.D, o ponto de ruptura histórica entre o sábado e o domingo.
2006-10-12 07:21:05
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answer #3
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