A Trindade é a doutrina acolhida pela maioria das igrejas cristãs que acredita no único Deus, preconizado em três pessoas distintas: referidas como o Pai; o Filho e o EspÃrito Santo.
Trata-se de vertente doutrinária da religião cristã, que professa o monoteÃsmo.
As outras duas grandes religiões monoteÃstas, o JudaÃsmo e o Islamismo, bem como algumas denominações cristãs, não acolhem a doutrina trinitária.
A doutrina trinitária professa que o conceito da existência de um só Deus, omnipotente, omnisciente e omnipresente, revelado em três Pessoas distintas, pode-se depreender de muitos trechos da BÃblia. Um dos exemplos mais referidos é o relato sobre o baptismo de Jesus, em que as chamadas "Três Pessoas da Trindade" se fazem presentes, com a descida do EspÃrito Santo sobre Jesus, sob a forma de uma pomba, e com a voz do Pai Celeste dizendo: "Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo" (Lucas 3, 21-22; Mateus 3, 17) e na fórmula tardia, mas canónica, de Mateus 28, 19: «Portanto ide, fazei discÃpulos de todas as naçöes, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do EspÃrito Santo». Sublinha-se que o termo "Trindade" não se encontra na BÃblia.
O primeiro uso da palavra “trindade” em sua forma grega ‘trias’ foi de autoria de Teófilo, que tornou-se bispo de Antioquia da SÃria, no oitavo ano do reinado de Marco Aurélio (168 D.C.). Ele usou a palavra no segundo dos três livros que escreveu endereçados ao seu amigo Autólico. Comentando o quarto dia da criação no Gênesis, ele escreveu: ”Da mesma maneira também os três dias que foram antes dos luminares, são tipos da trindade, de Deus, de sua palavra, e Sua sabedoria.” (Teófilo, “Para Autólico”, The Ante-Nicene Fathers)
Tertuliano (160-220 D.C.) foi o primeiro à usar a palavra latina “trinitas”, por volta de 210 D.C, quando abandonou o cristianismo primitivo e uniu-se `a seita montanista. Tertuliano lançou as bases da Teologia Latina, a qual mais tarde foi apoiada por Cipriano e Agostinho. Embora tenha denunciado Platão como filósofo herege, Tertuliano expressou sua teologia nos termos da filosofia de Platão. Ele estava entre os primeiros à ensinar a trindade e a imortalidade da alma, desenvolvidas e formuladas dentro de um sistema de teologia mais tarde por Agostinho.
Os escritos de Agostinho tornaram-se a teologia básica da Igreja Católica Romana. Tertuliano menciona a trindade em seu livro escrito contra Praxeas que apoiava a teoria monarquiana. Ele escreveu: “O mistério da dispensação ainda está guardada, que distribui a Unidade numa trindade, colocando em sua ordem as Três Pessoas - o Pai, o Filho e o EspÃrito Santo.” (Tertuliano. “Contra Praxeas,” - The Anti-Nicene Fathers)
Ainda segundo os seguidores desta doutrina, ao longo da BÃblia há todo um conjunto de passagens que revelam quer a divindade, quer a pessoalidade de cada uma das três pessoas divinas:
No que concerne à divindade de Deus-Filho, referem-se, por exemplo, à sua omnisciência (Colossenses 2, 3), à sua omnipotência (Mateus 28, 18), à sua omnipresença (Mateus 28, 20), ao facto de perdoar os pecados (Marcos 2, 5-7; conferir a afirmação de IsaÃas 1, 18) e ser dador da vida (João 10, 28) em Ãntima unidade - e não igualdade - diferenciada com o Pai: «Eu e o Pai somos um» (João 17, 21-22). Contudo, mais do que estas simples passagens isoladas, a afirmação da plena divindade de Jesus - pois a sua pessoalidade nunca foi seriamente posta em causa - é o resultado da reflexão, na Fé, sobre a sua missão redentora;
No que concerne à divindade do EspÃrito Santo, os seguidores desta doutrina, reportam-se, por exemplo, à sua omnisciência (1 CorÃntios 2, 10-11), à sua omnipotência (1 CorÃntios 12, 11), à sua omnipresença (João 14, 10) e sobretudo ao facto de ser EspÃrito "de" verdade (João 16, 13) e "de" vida (Romanos 8,2), prerrogativas que, tais como as apresentadas para Deus-Filho, para a BÃblia são unica e exclusivamente divinas;
No que concerne à pessoalidade da terceira pessoa da Trindade, assunto que foi muito debatido ao longo dos primeiros séculos do cristianismo, é comum referirem-se a atributos d'Este que, tal como os que no Antigo Testamento são aduzidos para a pessoalidade do Deus do Antigo Testamento, YHWH - cuja divindade e pessoalidade nunca foram alvo de crÃticas substânciadas entre os cristãos -, testemunham o seu caracter pessoal: Ele glorificará Cristo (João 16, 14); ensina a comunidade (Apocalipse 2, 7) e os fieis (Lucas 12, 12), distribui os dons segundo o seu desÃgnio (1 Corintios 12, 11), fala nas escrituras do Antigo Testamento (Hebreus 3, 7; 1 Pedro 1, 11-12), é enviado pelo Pai em nome de Jesus aparecendo como distinto de ambos (1 João 2, 1) pois não é Cristo sob outra forma de existência, mas seu interprete ou testemunha (João 15, 26). Mas mais importante do que as passagens isoladas é o conjunto que revela-O como Aquele que tem a missão de recordar, universalizar e realizar em cada pessoa a obra de Jesus, o que não ocorre mecanicamente, mas somente onde houver a liberdade do EspÃrito, dado que «onde está o EspÃrito do Senhor, aà há liberdade» (2 Corintios 3, 17). Para os cristão trinitários, esta liberdade do EspÃrito exclui que Este possa ser um princÃpio impessoal, um meio ou instrumento, mas antes pressupõe a sua independência relativa.
Desde o acontecimento pascal e sua proclamação catequética - génese da experiência e da reflexão trinitária - até à formulação conceptual do mistério trinitário, um longo percurso foi trilhado. Na verdade, desde a proclamação primitiva da morte e ressurreição de Jesus de Nazaré (Atos 2, 22-36), passando pelas primeiras afirmações do Novo Testamento da plena divindade de Jesus - (Romanos 9, 5; Tito, 2, 13) -, da pessoalidade do EspÃrito Santo - (João 14, 16) - e o surgir das primeiras fórmulas trinitárias - (2 CorÃntios 13, 13) - até ao Credo Niceno-Constantinapolitano, um tortuoso caminho foi burilado pelas primeiras gerações de cristãos.
Embora a Igreja primitiva fosse plenamente consciente do caracter trinitário da soteriologia - a doutrina da salvação - (veja-se Inácio de Antioquia, "Carta aos Efésios", 9, 1; 18, 2 e a "Primeira Carta de Clemente Romano" 42; 46, 6), do ponto de vista historico, um dos primeiros a utilizar no Ocidente cristão o termo "Trindade", para expressar a unidade divina que existe nas três pessoas distintas, foi Tertuliano, no inÃcio do século III, na sua obra "Adversus Praxeas" (2,4; 8,7), onde ele utilizou o termo latino de "trinitas". Antes dele, e no Oriente cristão, só há o registo do termo grego "ΤÏιαÏ" nos escritos de Teófilo de Antioquia ("Três Livros a Autolycus", 2, 15) datado de meados do século II.
Na realidade, mais do que a partir da especulação teórica e abstracta - que mais tarde viria a ser preponderante -, a afirmação teológica da "Trindade" ocorreu sobretudo a partir do uso dos textos bÃblicos em âmbiente liturgico eclesial. Esta doutrina, de facto, foi-se apoiando e alicerçando no âmbito da práxis baptismal (veja-se "Didaké" 7, 1; Justino, "Apologia" 1, 61, 13) e eucarÃstica (veja-se Justino, "Apologia" 1, 65.67; Hipólito, "Tradição Apostólica" 4-13 ).
Somente depois da pacificação do Império Romano, sob Constantino I, é que ocorreu aquela convergência de factores - a paz, as facilidades de comunicação e diálogo entre as diversas Igrejas e teólogos, entre outros - que permitiu a elaboração de um edificio conceptual - a definição precisa das noções de "ousia"/"natureza", "hipostasis"/"pessoa", "homoousios"/"consubstancialidade", bem como a sua mútua relação e aplicação teológica - apto para a descrição e explanação da Divindade revelada em Jesus Cristo.
Várias denominações cristãs e outras religiões, como o Islão e o JudaÃsmo, discordam da doutrina trinitária, isto é, da afirmação de que o único Deus revela-se em três Pessoas distintas. As principais denominações cristãs que rejeitam esta doutrina são os unicistas, vários movimentos para-protestantes, os seguidores da Mensagem de William Branham e as Testemunhas de Jeová. Há também grupos discordantes dentro de algumas denominações que aceitam a doutrina, como por exemplo entre os Adventistas.
As Testemunhas de Jeová rejeitam o dogma da Trindade, argumentando que há apenas Um só Deus: «YHVH, nosso ElohÃm, é um só YHWH» (Deuteronómio 6:4, Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas). Jesus Cristo é visto como um "Ser Divino": «era (um) deus» (João 1:1, NM); Filho Unigénito de YHWH - o Deus Todo-Poderoso - e o Seu porta-voz. Não consideram Jesus como sendo o próprio Deus, mas uma "pessoa" diferente Dele, que foi criada conforme se extrai da BÃblia em Colossenses 1:15 onde se refere a Cristo como o "Primogênito de toda Criação" . Teve um papel importante na Criação, como Mestre de Obras de Provérbios 8:30. Na sua existência pré-humana, era o Arcanjo Miguel. O EspÃrito Santo é a força activa de Deus, e não uma Pessoa Divina. Crêem que a personificação do EspÃrito em alguns versÃculos bÃblicos não prova a existência duma personalidade, tal como acontece com a personificação de outros conceitos impessoais, como o pecado ou a sabedoria (Refª Página na Wikipédia sobre as Testemunhas de Jeová). A este respeito, muitos cristãos acreditam, porém, que Jesus é, de facto, a personalização pessoal da Sabedoria - o "Logos" joanino e a Sabedoria veterotestamentária são conceitos inter-permutáveis - e Satã a personificação do pecado, do mal (Refª "The Wisdom of Solomon: A New Translation with Introduction and Commentary by David Winston", 1979);
Outros movimentos que, embora não sejam reconhecidos como cristãos pelas grandes denominações cristãs, se auto-denominam de cristãos, bem como alguns movimentos pára-cristãos, afirmam que a Trindade é o fruto da importação de conceitos religiosos pagãos, e ainda uma fabricação da Igreja do século IV. A este respeito, porém, é hoje concensual entre os especialistas em História das Religiões que nas outras religiões - em especial a religião EgÃpcia e a religião Hindú - não se encontra a afirmação da «subsistência de um Deus em três Pessoas distintas» - crença peculiar e restrita ao cristiansmo trinitário -, mas tão só a reunião de três deuses distintos de entre um vasto panteão, ou de três avatáres, respectivamente (Refª Henri-Charles Puech - "Histoire des religions", T1. T2, 1999; Konemann Verlag - "Histoire des religions", 1997). Quanto à datação da doutrina da Trindade como tendo surgido somente no século IV, as práxis sacramentais e os escritos cristãos dos três primeiros séculos - sobretudo OrÃgenes, Teófilo de Antioquia, Justino, Hipólito e Tertuliano - são testemunhos suficientes para se ser ter uma posição de grande renitência, senão mesmo de rejeição, quanto à veracidade tal afirmação (Refª Mircea Eliade - "Traité d'histoire des religions", 2004). Na realidade, se a formulação dogmática da referida doutrina só foi postulada no decorrer dos grande concÃlios ecuménicos do referido século IV, a sua crença é-lhe anterior, podendo a sua génese remontar aos próprios escritos do Novo Testamento .
Também o Islão critica com grande vigor a Trindade - que segundo Maomé seria concebida pelos cristãos como sendo constituida por Deus-Pai, Jesus e Maria (Refª Chantepie de la Saussaye - "História das religiões", Vol. 2, 1979) - na medida em que, segundo a sua leitura do dogma trinitário, se trata de uma clara e inequÃvoca afirmação politeÃsta que atenta contra a unicidade de Alá (Al Corão, 5, 73).
2006-09-22 16:19:09
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answer #7
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answered by Zoing 5
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