Josie Jeronimo
Depois de muito ponderar sobre o candidato que apoiaria oficialmente, a igreja Assembléia de Deus declarou a escolha pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão informal foi tomada em julho, mas de acordo com pastores ligados ao presidente da Convenção Nacional das Assembléias, bispo Manoel Ferreira, a igreja se apressou em formalizá-la depois que Lula ofereceu a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar ao líder religioso. Publicamente, Ferreira disse que a origem humilde do presidente pesou na escolha.
Ontem, Lula foi festejado por 1.200 pastores evangélicos, no templo da Assembléia, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Ao receber o presidente, Manoel Ferreira leu emocionado um versículo da Bíblia, mas o tom do discurso foi político.
- Vamos somar os esforços ainda neste turno para que Vossa Excelência saia vitorioso e fortalecido sem a necessidade de flexionar o governo - discursou. - O poder deve estar na mão daquele que Deus e o povo outorgaram.
Somadas, as forças da Assembléia são uma ajuda indispensável. A igreja é a maior petencostal do país, com quase 10 milhões de fiéis. Além disso, a aproximação pode garantir a Lula o apoio, no Congresso, de pelo menos 60 parlamentares da bancada evangélica.
O apoio público, no entanto, não foi fácil de conseguir. O ex-governador Anthony Garotinho - que esteve no templo um dia antes de Lula - trabalhou para demover os líderes. Disputou internamente forças com Ferreira, seu ex-aliado, mas a maior parte da igreja fechou com o Planalto. A outra parte das duas correntes que compõem a Assembléia ficou com Geraldo Alckmin (PSDB).
Lula reconheceu o passado de "antagonismo" e, agora, disse que "somos todos crentes".
- Alguém falava mal de mim para vocês e mal de vocês para mim- reconheceu. - E a gente parecia que não se gostava sem sequer se conhecer.
Citou a lei que reconhece as igrejas evangélicas como entidades privadas para demonstrar a boa vontade do governo.
- Quis Deus que eu fosse eleito presidente e criasse a lei que estabelece a liberdade religiosa.
Com discurso de cristão-novo, atacou o antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse que o tucano teve grande ajuda do eleitorado evangélico para se eleger, mas fugia dos religiosos.
- Tem presidente que foi eleito por vários segmentos evangélicos e só se reunia à noite com vergonha de que a imprensa o visse.
Passou pelo batismo e foi aplaudido com entusiasmo pelos religiosos. Pensou que tivesse vencido a prova de fogo, até que os líderes decidiram fazer uma oração pelo governo. Cercado por uma platéia gritando murmúrios de fé e com os olhos cerrados, o presidente não disfarçou o desconforto.
2006-09-11
06:09:42
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