Malária ou Paludismo, entre outras designações é uma doença infecciosa aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. A malária mata 2 milhões de pessoas por ano, uma taxa só comparável à da SIDA/AIDS, e afecta mais de 500 milhões de pessoas todos os anos. É a principal parasitose tropical, e uma das mais frequentes causas de morte em crianças nesses países (mata um milhão de crianças com menos de 5 anos a cada ano). Segundo a OMS, a malária mata uma criança africana a cada 30 segundos, e muitas crianças que sobrevivem a casos severos sofrem danos cerebrais graves e têm dificuldades de aprendizagem.
plasmódio é um protozoário, ou seja um ser unicelular, eucariota como as células humanas. Quatro espécies podem produzir a infecção:
Plasmodium falciparum: causa a forma de malária mais grave, a malária maligna (terçã). Tem o mais rápido ciclo de vida. Ataca tanto as hemácias jovens quanto as maduras. Responsável por 80% dos casos clinicamente significativos e 90% das mortes.
Plasmodium vivax: Ataca apenas eritrócitos jovens, especialmente reticulócitos. Causa doença crónica, a malária benigna terçã. Pode ficar dormente durante muitos anos e depois reaparecer, devido à reativação de uma de suas formas parasitárias, os hipnozoítos.
Plasmodium malariae: Ataca apenas os glóbulos vermelhos mais maduros. Causa malária benigna quartã, crónica.
Plasmodium ovale: É comum apenas na África e, raramente, no Pacífico Ocidental e na América do Sul. É rara no Brasil. Ataca apenas eritrócitos jovens causando doença crónica, a malária benigna terçã ovale. Pode ficar dormente durante muitos anos e depois reaparecer.
O ciclo de vida do plasmódio é complexo. Esporozóitos são formas que existem nas glândulas salivares do mosquito Anopheles, sendo injectadas no sangue da vítima humana. Daí, os esporozoítos invadem o fígado, onde, na forma gigante multinucleada de esquizontes, se reproduzem assexuadamente, gerando merozóitos - as formas invasoras dos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos). Invadem estas células por receptores diferentes para cada espécie, donde se explica a sua preferência por subpopulações de eritrócitos. Dentro do eritrócito, o plasmódio não é detectado pelo sistema imunitário, cessando as manifestações clínicas. No eritrócito, o plasmódio divide-se assexuadamente até que, devido ao número excessivo de merozoítos, o eritrócito rebenta. Nessa altura volta a haver febre e outros sintomas, porque os merozoítos e as substâncias químicas por eles produzidas dentro do eritrócito são dispersas na corrente sanguínea e identificadas pelos leucócitos. Estes produzem citocinas (espécie de hormonas) quando identificam os invasores. Febre violenta, tremores, mal-estar, dores, são alguns dos efeitos da estimulação no cérebro pela citocina IL-1 (a temperatura alta é produzida pelos tremores musculares e causa mal-estar, mas inibe a multiplicação de microorganismos, que preferem 37ºC). Esses merozoítos invadem então novas hemácias, multiplicando-se cada vez mais a cada ciclo. Alguns transformam-se em gametontes que são sugados, juntamente com o sangue, por outros mosquitos. Os gametontes masculino e feminino fundem-se no corpo do mosquito, dando origem a um zigoto, que se multiplica em novos esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do insectos hospedeiros. Esta fase de reprodução sexual permite uma maior variabilidade genética, o que explica por que um indivíduo afectado não desenvolve sempre resistência eficaz a outras estirpes.
O parasita produz e secreta proteínas que são expressas na membrana celular do eritrócito infectado e que se ligam a outras proteínas produzidas pelo endotélio dos vasos sanguíneos. Assim o eritrócito hospedeiro acopla à parede do vaso, evitando a passagem pelo baço, um centro importante da filtração imunológica do sangue, onde muitos eritrócitos infectados são destruídos. A propensão dos eritrócitos infectados de se concentrarem nos vãos pode levar à oclusão dos pequenos vasos, com hemorragias e enfartes, especialmente na malária causada por P. falciparum. Estas proteínas não são úteis para a formação de anticorpos específicos, porque o parasita possui genes para mais de 50 variedades com a mesma função, a quando os anticorpos contra essas proteínas começam a ser produzidos já a maior parte dos parasitas está a usar outra variedade.
A malária é transmitida pela picada das fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles. A transmissão geralmente ocorre em regiões rurais e semi-rurais, mas pode ocorrer em áreas urbanas, principalmente em suas periferias. Em cidades situadas em locais cuja altitude seja superior a 1500 metros, no entanto, o risco de aquisição de malária é pequeno. Os mosquitos têm maior atividade durante o período da noite, do crepúsculo ao amanhecer. Contaminam-se ao picar os portadores da doença, tornando-se o principal vetor de transmissão desta para outras pessoas. O risco maior de aquisição de malária é no interior das habitações, embora a transmissão também possa ocorrer ao ar livre.
O mosquito da malária só sobrevive em áreas que apresentem médias das temperaturas mínimas superiores a 15ºC, e só atinge número suficente de indivíduos para a transmissão da doença em regiões onde as temperaturas médias sejam cerca de 20-30ºC, e umidade alta. Só os mosquitos fêmeas picam o homem e alimentam-se de sangue. Os machos vivem de sucos de plantas. As larvas se desenvolvem em águas paradas, e a prevalência máxima ocorre durante as estações com chuva abundante.
A malária causada por P.falciparum caracteriza-se inicialmente por sintomas inespecíficos, como dores de cabeça, fatiga, febre e náuseas. Estes sintomas podem durar vários dias (seis para P.falciparum, várias semanas para as outras espécies).
Mais tarde Caracterizam-se por acessos periódicos de calafrios e febre intensos que coincidem com a destruição maciça de hemácias e com a descarga de substâncias imunogénicas tóxicas na corrente sangüínea ao fim de cada ciclo reprodutivo do parasita. Estas crises paroxísticas, mais frequentes ao cair da tarde, iniciam-se com subida da temperatura até 39-40ºC. São seguidas de palidez da pele e tremores violentos durante cerca de 15 minutos a uma hora. Depois cessam os tremores e seguem-se duas a seis horas de febre a 41ºC, terminando em vermelhidão da pele e suores abundantes. O doente sente-se perfeitamente bem depois e até à crise seguinte, dois a três dias depois. Se a infecção for de P. falciparum, denominada malária maligna, pode haver sintomas adicionais mais graves como: choque circulatório, Síncopes (desmaios), convulsões, delírios e crises vaso-oclusivas. A morte pode ocorrer a cada crise de malária maligna. Pode também ocorrer a chamada malária cerebral: a oclusão de vasos sanguíneos no cérebro pelos eritrócitos infectados causa défices mentais e coma seguidos de morte (ou défice mental irreversível). Danos renais e hepáticos graves ocorrem pelas mesmas razões. As formas causadas pelas outras espécies ("benignas") são geralmente apenas debilitantes, ocorrendo raramente a morte.
Os intervalos entre as crises paroxísticas são diferentes consoante a espécie. Para as espécies de P. falciparum, P. ovale e P. vivax, o ciclo da invasão de hemácias por uma geração, multiplicação interna na célula, lise (rebentamento da hemácia) e invasão pela nova geração de mais hemácias dura 48 horas. Normalmente há acessos de febre violenta e tremores no dia 1, e passados 48 horas já no dia 3, etc, sendo classificada de malária ternária. A infecção pelo P. malariae tem ciclos de 72 horas, dando-se no dia 1, depois no dia 4, etc, constituindo a malária quaternária. A detecção precoce de malária quaternária é importante porque este tipo não pode ser devido a P. falciparum, sendo, portanto, menos perigoso.
Sintomas crónicos incluem a anemia, cansaço, debilitação com redução da capacidade de trabalho e da inteligência funcional, hemorragias e infartos de incidência muito aumentada, como infarto agudo do miocárdio e AVCs (especialmente com P. falciparum).
Se não diagnosticada e tratada, a malária maligna causada pelo P. falciparum pode evoluir rapidamente, resultando em morte. A malária "benigna" das outras espécies resulta em debilitação crónica mas mais raramente em morte.
É uma das doenças mais importantes para a humanidade, devido ao seu impacto e custos, e constitui um fardo extremamente pesado para as populações dos países atingidos, principalmente em África, incomparável aos custos sociais de qualquer doença ocidental. A malária existe potencialmente em todas as regiões onde existem humanos e mosquitos Anopheles em quantidade suficiente, o que inclui todas as regiões tropicais de todos os continentes e muitas regiões subtropicais. Hoje em dia, a África é particularmente atingida, estando poupadas apenas o Norte e a África do Sul. Na América existe em toda a região central (México e países do istmo) e norte da América do Sul, incluindo mais de metade do território do Brasil (todo o Nordeste e Amazónia) e ainda nas Caraíbas (não existe no Sul incluindo Sul do Brasil). Na Ásia está presente em todo o subcontinente indiano, Médio Oriente, Irão, Ásia central, Sudeste asiático, Indonésia, Filipinas e sul da China. A malária já existiu mas foi erradicada no século XX da região mediterrânea, incluindo Sul da Europa: Portugal, Espanha, Itália, sul da França e Grécia; e no Sul e Oeste dos EUA. Ao todo, vivem quase 3 mil milhões de pessoas em regiões endémicas (ou seja, metade da humanidade) em mais de 100 países.
Há, todos os anos, 300 a 500 milhões de casos da malária, dos quais mais de 90% em África, a maioria com resolução satisfatória, mas resultando em enfraquecimento e perda de dias de trabalho significativos. Ela mata, contudo, cerca de 2 milhões de pessoas em cada ano, cerca de um milhão das quais são crianças com menos de 5 anos.
Na Europa e, mais especificamente, em Portugal, os casos são muito menos graves, havendo apenas alguns milhares. A grande maioria dos casos, e provavelmente a sua totalidade, são importados de pessoas que visitaram países tropicais.
A melhor medida é a erradicação do mosquito Anopheles. Ultimamente, o uso de insecticidas potentes mas tóxicos, proibidos no ocidente, tem aumentado porque os riscos da malária são muito superiores aos do insecticida. O uso de redes contra mosquitos é eficaz na protecção durante o sono, quando ocorre a grande maioria das infecções. Os cremes repelentes de insectos também são eficazes, mas mais caros que as redes. A roupa deve cobrir a pele nua o mais completamente possível de dia. O mosquito não tem tanta tendência para picar o rosto ou as mãos, onde os vasos sanguíneos são menos acessíveis, quanto as pernas, os braços ou o pescoço os vasos sanguíneos são mais acessíveis .
A drenagem de pântanos e outras águas paradas é uma medida de saúde pública eficaz.
Diagnóstico Clínico
O elemento fundamental no diagnóstico clínico da malária, tanto nas áeras endêmicas como não-endêmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença. Como distribuição geográfica a malária não é homogênea, nem mesmo nos países onde a transmição é elevad, torna-se importante, durante o exame clínico, regastar informações sobre a aréa de residência ou relato de viagens de exposição ao parasita como nas áreas endêmicas (tropicais). Além disso informações sobre transfusão de sangue, compartilhamento de agulhas em usuários de drogas injetáveis, transplante de órgãos podem sugerir a possibilidade de malária induzida.
Diagnóstico Laboratorial
O diagnóstico de certeza da infecção malárica só é possível pela demonstração do parasito, ou de antígenos relacionados, no sangue periférico do paciente, através dos métodos diagnósticos especificados a seguir: Gota espessa - É o método adotado oficialmente no Brasil para o diagnóstico da malária. Mesmo após o avanço de técnicas diagnósticas, este exame continua sendo um método simples, eficaz, de baixo custo e fácil realização. Sua técnica baseia-se na visualização do parasito através de microscopia ótica, após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise da sua morfologia, e pelos estágios de desenvolvimento do parasito encontrados no sangue periférico. Esfregaço delgado -Possui baixa sensibilidade (estima-se que, a gota espessa é cerca de 30 vezes mais eficiente que o esfregaço delgado na detecção da infecção malárica). Porém, o esfregaço delgado é o único método que permite, com facilidade e segurança, a diferenciação específica dos parasitos, a partir da análise da sua morfologia e das alterações provocadas no eritrócito infectado. Testes rápidos para detecção de componentes antigênicos de plasmódio-Testes imunocromatográficos representam novos metodos de diagnóstico rápido de malária. Realizados em fitas de nitrocelulose contendo anticorpo monoclonal contra antígenos específicos do parasito. Apresentam sensibilidade superior a 95% quando comparado à gota espessa, e com parasitemia superior a 100 parasitos/µL.
São recolhidas amostras de sangue. Os parasitas são observados no interior dos glóbulos sanguíneos, e a sua conformação e número permite determinar a espécie.
A malária maligna, causada pelo P.falciparum é uma emergência médica. As outras malárias são doenças crónicas.
O tratamento farmacológico da malária baseia-se na susceptibilidade do parasita aos radicais livres e substâncias oxidantes, morrendo em concentrações destes agentes inferiores às mortais para as células humanas. Os fármacos usados aumentam essas concentrações.
A quinina (ou o seu isómero quinidina), um medicamento antigamente extraído da casca da Cinchona, é ainda usada no seu tratamento. No entanto, a maioria dos parasitas já é resistente às suas acções. Foi suplantada por drogas sintéticas mais eficientes, como quinacrina, cloroquina, e primaquina. É frequente serem usados cocktails (misturas) de vários destes fármacos, pois há parasitas resistentes a qualquer um deles por si só. A resistência torna a cura difícil e cara.
Ultimamente a artemisinina, extraída de uma planta chinesa, tem dado resultados encorajadores. Ela produz radicais livres em contacto com ferro, que existe especialmente na hemoglobina no interior das hemácias, onde se reproduz o parasita. É extremamente eficaz em destruí-lo, causando efeitos adversos mínimos. No entanto, as quantidades produzidas hoje são insuficientes. No futuro, a cultura da planta artemisina na África poderá reduzir substancialmente os custos. É o único fármaco antimalárico para o qual ainda não existem casos descritos de resistência.
Algumas vacinas estão em desenvolvimento.
etc....
2006-09-09 12:28:39
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answer #1
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answered by Love 2
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