A loucura ou insânia é uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados "anormais" pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psiquiatria clínica.
Em algumas visões sobre loucura, não quer dizer que a pessoa está doente de mente, mas pode simplesmente ser uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade. Na visão da lei civil, a insanidade revoga obrigações legais e até atos cometidos contra a sociedade civil com diagnóstico prévio de psicólogos, julgados então como insanidade mental.
Por doença mental devemos entender qualquer anormalidade na mente, ou no seu funcionamento. A anormalidade, perante o comportamento aceito de uma sociedade é indicativo de doença. A doença mental é conhecida, no campo científico, como psicopatologia, ou distúrbio mental e é campo de estudo da psiquiatria, neurologia e psicologia. Segue critérios de diagnóstico de resoluções psiquiatricas, que atualmente são o DSM IV, e o CID-10.
Estudo da psicopatologia
As doenças mentais podemm ser explicadas de várias formas, proveniente dos vários conhecimentos humanos. Com o avanço da tecnologia, este estudo se torna mais preciso, facilitando diagnósticos e prognósticos das doenças. Há, como anteriormente dito, uma equipe multidisciplinar para entender e tratar dos distúrbios. Normalmente, em disturbios leves, uma psicoterapia é suficiente. Porém, em casos mais graves, é necessário o acompanhamento medicamentoso de um psiquiatra, ou de estudo de caso de neurologistas.
Divisões e classificações das doenças mentais
Há algumas divisões no estudo da psicopatologia, que podem ser estudadas a partir de observações dos casos clínicos e a partir da teoria.
Quanto a forma de manifestação
Há duas classificações básicas de doenças mentais, que são as neuroses, e as psicoses.
NEUROSE: é chamada neurose toda a psicopatologia leve, onde a pessoa tem a noção (mesmo que vaga) de seu problema. Ele tem contato com a realidade, porém há manifestações psicossomáticas, que são notadas por este, e que servem de aviso para a pessoa procurar um tratamento psicológico, ou psiquiátrico. É um fator comum a ansiedade exacerbada. Existe inúmeras classificações menores; para citar algumas temos:
1) TOC - Trannstorno obsessivo compulsivo: é a repetição de algum ato diversas vezes ao dia, não controlável e causador de grande ansiedade;
2) Síndrome do pânico: causa grande aflição, e medo perante alguma situação.
3) Fobias: é o medo a alguma situação. Pode ser medo de ambientes fechados (claustrofobia), medo de água (hidrofobia), medo de pessoas (sociofobia), etc.
4) Transtornos de ansiedade: o indivíduo têm ataques de ansiedades antes ou depois de realizar algo, ou muitas vezes nem realizá-lo. É comum em pequena escala na maioria das pessoas, porém seu excesso é denominado como patológico.
5) Depressão: também chamada de distimia, ou depressão maior. Se caracteriza por intenso retraimento e medo do mundo exterior. Causa baixa auto-estima e pode levar ao suícidio.
6) Síndrome de Burnout: é a conseqüência de um grande estímulo estressor, como conflitos no trabalho ou família. Causa apagamento e falta de vontade.
Obs: Freud citou, em uma de suas obras, que todas as pessoas têm um pouco de neurose em si. É normal no ser humano ser um pouco neurótico, sendo apenas o excesso chamado de patológico.
PSICOSE: se caracteriza por uma intensa fuga da realidade. É, como a filosofia e as artes chamam, a loucura, propriamente dita. Pode ser classificada de três formas: pela manifestação, pelo aspecto neurofisiológico, e pela intensidade
Aspecto neurofisiológico:
1) Funcional: age apenas no funcionamento do aparelho psiquico, em suas ligações.
2) Orgânica: tem como característica mudanças ocorridas na química do cérebro, ou em mudanças fisiológicas e estruturais.
Manifestação: se divide em dois tipos principais:
1) Esquizofrenia: tem como aspectos principais a fuga da realidade, as manias de perseguição, as alucinações, entre outros. Têm ainda subdivisões, que são a esquizofrenia paranóide, a esquizofrenia desorganizada(ou hebefrênica), a esquizofrenia simples, a catatonia ou a esquizofrenia indiferenciada;
2) Transtorno de afeto bipolar: tem por característica picos muito grandes de humor, em pouco espaço de tempo, pro lado da depressão(ou distimia ou disforia), e pro lado da mania (euforia ou eutimia). Por estes dois aspectos também conhecemos este transtorno como psicose maníaco-depressiva. O doente sofre de mudanças de humor constantes, sendo perigoso e gastador em fases maníacas, e retraído, podendo se suícidar, no estado depressivo.
Obs: Ambas as psicoses listadas precisam de auxílio medicamentoso, adjunto de auxílio psicoterápico, para diminuir os sintomas e ajustar o comportamento.
Intensidade: como intensidade entendemos a agressividade e impulsividade do doente. Classificamos como:
1) Aguda: também chamada de fase de surto; é quando o doente se torna violento, impulsivo e fora da realidade. É necessária observação psiquíatrica constante, pois o doente oferece risco para si, para outros e para o patrimônio.
2) Crônico: é a fase de relaxamento do doente, onde ele está fora da realidade, mas não põe em risco os outros e sua vida. Este estágio é permanente, e resulta de algum caso onde não há cura.
Reforma Psiquiátrica
Embora esteja em andamento no Brasil há anos, a reforma psiquiátrica permacece em debate, e as resoluções tomadas ainda não foram totalmente implementadas.
Entre elas há a desativação dos manicômios, para que aqueles que sofrem de distútbios mentais possam conviver livremente na sociedade. Ocorre que muitos deles sequer têm nome conhecido, documentos, familiares, e assim não podem ser encaminhados para casas comunitárias ou empregos. Sequer têm direito aos benefícios sociais oferecidos pelo Estado, como a aposentadoria. Numa tentativa de solucionar o problema, a Ordem dos Advogados do Brasil está fazendo uma investigação dos casos, e fazendo emitir documentos, mesmo que sejam novos registros, com novos nomes, para que os internados tenham o mínimo necessário ao exercício da cidadania.
Outros problemas têm sido registrados. Um caso:
Hospitais psiquiátricos abrigam menores dependentes de drogas e são cenários de tragédias
No início de julho, no Rio Grande do Sul, um evento pouco noticiado demonstra que a luta antimanicomial continua a ser um movimento importante no país, e merece a atenção de todos.
O caso ocorreu no Hospital Psiquiátrico da Santa Casa de Rio Grande. Ali, às 22h50 da quarta-feira, dia 5 de julho, três adolescentes, trancadas num quarto, morreram carbonizadas. A informação do hospital: foram as próprias garotas, de 14, 15 e 17 anos de idade, as autoras do incêndio suicida. Agravante dessa história: duas delas já haviam recebido alta dos médicos, mas permaneciam internadas por decisão da Justiça.
No dia seguinte às mortes, uma equipe composta, entre outros, por Sandra Fagundes, do Ministério da Saúde e Neuza Guareschi, do conselho Regional de Psicologia, esteve no local. Foi recebida pelo diretor administrativo do complexo da Santa Casa, Rodolfo de Brito. Segundo ele, a instituição tem uma equipe formada por diversos especialistas, residência em psiquiatria, e é considerada uma referência no estado, mas sua vocação não é abrigar dependentes de drogas. Na ocasião, o administrador disse, ainda, que a tragédia aconteceu porque, mesmo sem ter estrutura para isso, o hospital é obrigado a acolher os jovens enviados, de forma compulsória, por decisão judicial.
Para apurar o que ocorreu, na Justiça e no hospital, já estão em andamento um inquérito policial e um processo do Ministério Público. E aqui há mais um agravante: os quartos e a enfermaria entraram em reforma no dia seguinte ao incêndio – o que impossibilita a realização de uma perícia esclarecedora acerca do ocorrido naquela noite.
Em dezembro do ano passado, o Brasil foi processado na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), pela morte de Damião Ximenes Lopes na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral (CE), em 1999. Foi acusado de violar quatro artigos da Convenção Americana: os direitos à vida, à integridade física, às garantias judiciais e à proteção judicial. À época, a Subsecretaria de Direitos Humanos da Presidência da República informou que o Estado brasileiro reconheceu que a violação dos direitos à vida e à integridade física "foi conseqüência da insuficiência de resultados positivos na implementação das políticas públicas de reforma da saúde mental que possibilitassem procedimentos de credenciamento e fiscalização mais eficazes de instituições privadas de saúde". A defesa brasileira alegou, no entanto, que tal situação "não corresponde" ao atual grau de evolução e implementação das políticas públicas na área de saúde mental e direitos humanos dos pacientes em todo o território brasileiro. O caso das três garotas, como se vê, não é apenas um exemplo, mas um indicador de que as políticas públicas ainda deixam a desejar. Para compreender melhor o que aconteceu no Rio Grande do Sul, vale a pena visitar o site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no link [1]. Ali se lê, entre outras coisas: “A Justiça Terapêutica é um programa judicial para atendimento integral do indivíduo, adolescente ou maior, envolvido com drogas lícitas ou ilícitas, inclusive alcoolismo, e violência doméstica ou social, priorizando a recuperação do autor da infração e a reparação dos danos à vítima. É um instrumento judicial para evitar a imposição de penas privativas de liberdade ou até mesmo penas de multa - que, no caso, podem se mostrar ineficientes -, deslocando o foco da punição pura e simples para a recuperação biopsicossocial do agente.” Ou seja: a internação numa clínica psiquiátrica, do ponto de vista do tribunal, não implica em privação de liberdade.
Segundo pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo, quase um quinto dos brasileiros entre 12 e 65 anos, em 107 cidades com mais de 200 mil habitantes, já experimentou algum tipo de droga ilegal (outras que não álcool ou tabaco). É de se imaginar o que aconteceria com o orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) se toda essa gente fosse submetida à “recuperação biopsicossocial”...
Em tempo: a Biblioteca Virtual em Saúde Mental, do sistema Prossiga, mantido pelo governo federal, não inclui a Santa Casa de Rio Grande entre as clínicas especializadas em tratamento de doentes mentais ou de adictos. Considerando que os juízes gaúchos estão orientados a internar adolescentes envolvidos com drogas, poderiam ter escolhido uma das seguintes instituições, em seu estado:
Clínica Pinel
A Clínica Pinel dispõe de quatro unidades: Unidade Paulo Guedes voltada para atender pessoas cujas capacidades psíquicas estão mais abaladas; Centro Vitae específico para tratamentos de dependentes químicos; Unidade Mario Martins voltada para pessoas com capacidade de auto-gerenciamento e a Unidade Melanie Klein que dispõe de um serviço diferenciado com infra-estrutura personalizada, voltada a atender às necessidades do paciente, tanto psíquicas, quanto de hotelaria de alto nível. O site apresenta os convênios e oferece atendimento ambulatorial.
Hospital de Clínicas de Porto Alegre - HCPA. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS [2] Oferece Serviço de Psiquiatria geral e Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. No âmbito assistencial, funciona em 3 áreas básicas: Unidade de Internação Psiquiátrica, disponibilizando 26 leitos para atendimento do SUS, 4 privativos e 6 semi-privativos e mantém uma extensa rotina de trabalho. Ambulatórios de Psiquiatria, operando em seus programas de atendimentos específicos e Consultoria Psiquiátrica. Por ser um hospital universitário, desenvolvem também as diversas linhas de pesquisa tanto do Serviço como do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRGS.
Prontopsiquiatria. Centro Psiquiátrico de Pronto Atendimento [3] O Prontopsiquiatria é um serviço na área da neuropsiquiatria que atua na Clínica São José em Porto Alegre - Rio Grande do Sul. Oferece aos clientes pronto atendimento, emergência psiquiátrica, atendimento domiciliar, remoções e internação hospitalar. Trabalha com vários convênios e também realiza diversos eventos, com os objetivos voltados para a assistência, o ensino e a pesquisa.
Está visto que há muito a investigar – no caso específico das garotas mortas em Rio Grande, no que diz respeito aos Direitos da Criança e do Adolescente, e também no âmbito da política judiciária.
A loucura tem cura?
Tem sim senhor. A maioria das "loucuras" são desencadeadas por estados emocionais alterados os quais a pessoa não sabe lidar e por isto como por um estado de auto defesa se afasta da realidade. A medida que se medica a pessoa para que ela saia deste estado emocional alterado e se faça uma psicoterapia, no sentido de ensina-la a lidar com as suas dificuldades ele pode não só sair da "loucura", como pode levar uma vida perfeitamente normal. Em alguns casos o problema é mais grave e embora a pessoa possa sair da "loucura", ficara com uma certa deficiência em seu comportamento e precisara usar a medicação para o resto da vida.
Esquizofrenia
Vou aproveitar este espaço para dar um enfoque diferenciado sobre esta doença que é a que carrega mais estigmas e preconceitos na psiquiatria e psicologia.
A visão aqui oferecida tentara escapar as interpretações tradicionais e acadêmicas e vai trazer a visão de um profissional que convive com pessoas com este problema quase que diariamente.
Primeiro a esquizofrenia é aquela síndrome que normalmente é chamada de loucura. Pessoas portadoras do quadro agudo vivem fora da realidade, tem importantes alterações do pensamento (chamado delírio) e da afetividade (em surto se mostram distantes, ou muito ansiosos, ou agressivos como é mostrado nos filmes naquele estereotipo do louco assassino). Quando fora do quadro agudo mostram cicatrizes na sua personalidade, com um incrível distanciamento afetivo, dificuldades importantes de relacionamento e de serem profissionalmente produtivos.
Hoje se sabe que nestes quadros existem anormalidades neuro químicas importantes, embora não se precisem exatamente quais sejam.
Outras pesquisas falam em anormalidades anatômicas ou funcionais, mas o fato é que tudo isto ainda são estudos.
O que parece certo é que a pessoa portadora deste quadro já nasce com uma certa pré-disposição a apresentar esta doença.
Via de regra, já de crianças se mostram introspectivas, com uma tendência ao isolamento social e apresentando alguns comportamentos classificados como estranhos.
Fato é que a incidência desta doença aumenta entre migrantes (dificuldades de adaptação social), em famílias com dificuldades emocionais (pais autoritários, mães inafetivas, violências sexuais, etc).
Ou seja, fatores constitucionais somados a questões emocionais e familiares se somam para que a doença propriamente dita surja.
Mas vamos ao que de fato nos interessa, como funciona a cabeça do portador desta doença.
Como são pessoas introspectivas tem um pensamento exageradamente produtivo e criativo, como já carregam uma dificuldade de relacionamento quando tem contacto com o mundo externo vivem sensações emocionais muito intensas. E desde cedo carregam e desenvolvem um núcleo de pensamento onde se sentem pessoas diferentes, especiais e superiores. Acreditam e são devoradas pela crença que são pessoas especiais, com uma missão especial e que tem algo de diferente para sustentar perante o mundo. Carregar esta carga de ser e se mostrar uma pessoa especial tem um preço, o seu contacto com as pessoas, com o mundo real carrega um nível de ansiedade elevadíssimo. Cada vez que vão se relacionar para coisas cotidianas, se sentem olhadas, avaliadas, medidas e principalmente criticadas. É curioso, mas o esquizofrênico também tem as suas variações de humor, e estas também são muito intensas, como todas as outras emoções. Quando estão em seus estados de euforia, se sentem deslumbrados consigo mesmo e com a sua performance, se sentem adorados e admirados e para competir com eles, neste momento, nem Deus.
Por outro lado, quando estão de mal humor, se sentem acuados, perseguidos, criticados e até odiados (mesmo que não esteja acontecendo nada).
Esta excitação psíquica (para cima o para baixo) leva a um quadro de alucinações auditivas (eles ouvem o próprio pensamento que, de tão excitado escapa do controle da vontade da pessoa, e acham que são outras pessoas que estão falando com eles), passam a ter os chamados delírios (alterações do pensamento se separando da realidade) que podem ser de grandeza ou persecutórios.
Quando saem deste quadro de excitação psíquica (chamado de quadro produtivo ou surto), não conseguem ser pessoas normais pela marca muito forte que estas fortes impressões deixam em sua personalidade.
Toda esta visão é uma palhinha mínima de como funciona a mente de uma pessoa com esquizofrenia.
Hoje existem medicações modernas, que além de acalmarem a excitação psíquica do surto ajudam o paciente a reorganizar a mente e acompanhado de uma boa terapia levar uma vida social e afetiva bastante profícua.
Hoje tenho aqui no consultório pacientes portadores desta terrível doença que trabalham, namoram e até se casaram.
Ou seja, vale a pena cuidar.
PHILIPPE PINEL
PIONEIRO DA PSIQUIATRIA
Médico, pioneiro no tratamento dos doentes mentais, Philippe Pinel nasceu a 20 de abril de 1745, em Saint André, cantão de Alban, no Departamento do Tarn, Sul da França, entre Castres e Toulouse. Faleceu a 25 de outubro de 1826, em Paris.
Fez seus estudos clássicos, ingressando depois na Faculdade de Teologia de Toulouse em 1767. Desistindo de abraçar a vida religiosa, passou a estudar matemáticas, mas optou depois pela medicina, uma carreira tradicional em sua família (Seu pai era cirurgião barbeiro e vários ancestrais por parte de sua mãe haviam sido médicos, apotecários e cirurgiões).
Diplomou-se na Faculdade de medicina de Toulouse aos 28 anos em dezembro de 1773. No ano seguinte foi aperfeiçoar seus conhecimentos de medicina em Montpellier, onde, por quatro anos, freqüentou a escola de medicina e os hospitais. viver, fazia trabalhos acadêmicos para estudantes, deu cursos particulares de matemática e de anatomia.
Em 1777 apresentou dois trabalhos sobre aplicação de matemática ao estudo da anatomia humana para a Société Royale des Sciences de Montpellier, da qual foi nomeado membro correspondente.
Chegado a Paris em 1778, ele se sustentou por muitos anos fazendo traduções científicas e médicas, e ensinando matemática. Nesse período, também visitava doentes mentais confinados, escrevendo artigos sobre suas observações.
Inicialmente clinicou e somente passou a se interessar pela psiquiatria por volta de 1780, aos quarenta anos, devido à preocupação em socorrer um amigo vítima de psicose maníaca aguda. Porém, somente cerca de 1786 tratou de doentes mentais, contratado por Belhomme para atender em sua clínica para doentes mentais aristocratas.
Tornou-se amigo do filósofo e fisiologista Pierre Jean Georges Cabanis (1757-1808) e do médico Michel-Augustin Thouret (1748-1810) que viria a ser posteriormente, em 1794, o primeiro diretor da Ecole de Santé de Paris, após reformada pela Revolução. Cabanis o introduziu aos salões de Madame Helvetius, viuva do filósofo Claude-Adrien Helvétius (1715-1771), onde conheceu o embaixador americano Benjamin Franklin (1706-1790) que negociava o apoio dos franceses contra a Inglaterra, para a independência das colônias americanas. Mme. Helvétius reunia em sua casa um grupo de filósofos mais tarde conhecidos como "os ideólogos", e lá Pinel conheceu as doutrinas de John Locke (1632-1704) e Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780), as quais o influenciaram fortemente no sentido da abordagem científica da doença mental.
Em 1784 assumiu a Direção da "Gazette de Santé", que lhe passou Jean-Jacques Paulet, diretor da faculdade de Medicina. Nesse periódico publicou vários artigos relativos a doenças mentais, escritos também para o Journal de Paris . Também ocupou-se de várias traduções e revisões para os editores franceses.
Inicialmente clinicou e somente passou a se interessar pela psiquiatria por volta de 1780, aos quarenta anos, devido à preocupação em socorrer um amigo vítima de psicose maníaca aguda. Porém, somente cerca de 1786 tratou de doentes mentais, contratado por Jacques Belhomme para atender em sua clínica para doentes mentais de recursos.
Em 1789 esteve engajado entusiasticamente na Revolução Francesa. Quando se instalou o Terror, não se furtou a ajudar aqueles que haviam sido proscritos pelo governo revolucionário, entre eles o filósofo Marie-Jean-Antoine-Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet (1743-1794), um defensor da reforma educacional e líder da Revolução, que caíra em desgraça por votar contra a morte do Rei, e viveria oculto até ser preso mais tarde para morrer na prisão. Pinel, como professor da Faculdade de Medicina, foi obrigado a assistir a execução de Luís XVI.
Pinel casou, em 1792 com Jeanne Vincent; e teve três filhos dos quais um, Scipio, seguiu a profissão do pai tornando-se também um especialista em doenças mentais. Viúvo em 1811, Pinel voltou a casar em 1815 com Marie-Madeleine Jacquelin-Lavallée. Em agosto de 1793, por influência dos amigos Cabanis e Thouret, foi nomeado médico-chefe do Asilo de Bicêtre, por decreto da Convenção.
Em Bicêtre, destinado a doentes mentais masculinos, eram reunidos sem distinção loucos e criminosos. Os loucos eram mantidos acorrentados em celas baixas e úmidas, grande parte deles acorrentados, fossem ou não perigosos.
Pinel tinha em consideração a experiência diária dos funcionários do estabelecimento, a qual ele considerava valiosa para ajudar a compreender certos aspectos das doenças mentais. O chefe dos guardas do asilo, Jean-Baptiste Pussin, cujos procedimentos observava com atenção, inspirou-lhe medidas humanitárias em benefício dos doentes, principalmente a de libertá-los das correntes a que vários viviam presos, tratá-los como doentes comuns e, em caso de crises de agitação e violência, aplicar apenas a camisa de força. Permaneceu em Bicêtre de 1793 a 1795.
Em december de 1794, com a reforma da universidade, o governo da Convenção Nacional criou três escolas de saúde, e Pinel foi nomeado professor adjunto de medicina interna para a escola de Paris. Em 1795 tornou-se professor de patologia médica, uma cadeira que manteve por vinte anos..
Em 1795 Pinel foi nomeado médico chefe do Hospício da Salpêtrière, um asilo feminino onde as doentes eram tratadas do mesmo modo como havia encontrado em Bicêtre. Lá ele aplicou os mesmos métodos e obteve os mesmos bons resultados, como livrar as doentes das correntes que as prendiam, muitas acorrentadas por 30 a 40 anos.
Pinel corretamente considerou as doenças mentais como resultado ou de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos, desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão demoníaca. Nesse particular seguiu idéias já avançadas por contemporâneos seus como Tuke, Chiarugi e Daquin. William Tuke (1732-1822) foi um comerciante de café e chá, e um filantropo, que fundou em 1792 um hospício em York na Inglaterra para dar tratamento humanitário aos doentes mentais; Chiarugi foi o médico diretor do Asilo Bonifacio, em Florença, onde em 1788 ele aboliu o tratamento desumano dos pacientes; e Joseph Daquin (1733-1815) o médico francês, de Chambéry, que havia estudado em Turin, na Itália, e que em seu La philosophie de la folie, em 1787 propôs um "tratamento moral" para os doentes mentais.
Pinel, no entanto, foi o primeiro a distinguir vários tipos de psicose e a descrever as alucinações, o absentismo, e uma serie de outros sintomas. Para o seu tempo, sua obra Nosographie Philosophique ou Méthode de l'analyse appliquée à la médecine ("Classificação filosófica das doenças ou método de análise aplicado à medicina "), de 1798; continha descrições precisas e simples de várias doenças mentais, com o conceito novo de que a cada doença era "um todo indivisível do começo ao fim, um conjunto regular de sintomas característicos"
Pinel aboliu tratamentos como sangria, purgações, e vesicatórios, em favor de uma terapia que incluía contacto próximo e amigável com o paciente, discussão de dificuldades pessoais, e um programa de atividades dirigidas. Preocupava-se também em que o pessoal auxiliar recebesse treinamento adequado e que a administração das instituições fosse competente.
Seu Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale, cuja primeira edição apareceu em 1801, está centrado sobre a psicose maníaca a qual considerava a doença mental mais típica e a mais frequente. Na segunda edição desta obra, em 1809, ele acrescenta duas centenas de novas páginas para descrever sua experiência em Bicêtre e em La Salpêtrière. Ele percebeu que havia sempre traços de razão no alienado, capaz de permitir uma terapia pelo diálogo. Salienta o interesse de um tratamento humano para os doentes mentais e insiste nas relações deste com o meio familiar e com os outros doentes, e no papel do médico na administração hospitalar para cortar o círculo infernal que leva à perpetuação e ao agravamento da doença mental. Para ele o tratamento medicamentoso era secundário, uma atitude que lhe vinha certamente de observar a ineficácia da farmacologia de seu tempo.
Uma geração de especialistas em doenças mentais, liderada por Jean Etienne Dominique Esquirol (1772-1840), foi educada em La Salpêtrière e disseminou as idéias de Pinel pela Europa. Esquirol sucedeu a Pinel na Salpêtrière.
Seu Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale ou la manie ("Tratado médico-filosófico sobre a alienação mental ou mania") de 1801 detalha seu método psicologicamente orientado e tornou-se um clássico da psiquiatria. Graças a suas iniciativas, a França tornou-se lider no tratamento dos doentes mentais em sua época. Em 1804 Napoleão concedeu-lhe a Legião de Honra no grau de Cavaleiro, e, em 1805, o nomeou Médico do Imperador. Após a Restauração, recebeu a Ordem de Saint-Michel em 1818; porém, por motivos políticos, foi destituído de seu cargo de professor em 1822.
Pinel foi eleito para a Académie des Sciences de Paris em 1804, e membro da Academia de Medecina desde sua fundação em 1820.
Adoeceu ele próprio de um tipo de demência arteriopática, de que veio a falecer a 25 de outubro de 1826. Uma estátua em sua honra foi erguida à frente de La Salpêtrière, em Paris.
2006-08-30 02:08:14
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answer #1
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answered by Leandro Piazzon 4
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