Embora alguns escritores e profetas bíblicos condenassem os sacrifícios humanos, a Bíblia não é de modo algum consistente na forma como encara esta prática religiosa. O Salmo 106 condenou os israelitas que tinham "sacrificado os seus filhos e as suas filhas aos demônios" e que tinham "derramado sangue inocente, o sangue dos seus filhos e filhas, a quem eles sacrificaram aos ídolos de Canaã" (vs:36-37), e reis como Acaz (2 Reis 16:3) e Manassés (2 Reis 21:6) foram acusados por terem feito os seus filhos "passar através do fogo", uma expressão que denotava o sacrifício de crianças como ofertas queimadas. Uma das razões que o escritor de 2 Reis deu para Iavé ter permitido que a Assíria levasse o reino setentrional de Israel ao cativeiro foi o povo ter "feito os seus filhos e as suas filhas passar através do fogo" (17:17). Portanto, os sacrifícios humanos eram condenados por alguns escritores bíblicos mas mesmo assim ainda eram praticados.
Isto não quer dizer que o sacrifício humano fosse uniformemente condenado na Bíblia, pois existem algumas passagens que parecem implicar aceitação da prática. Em Gênesis 22, Deus ordenou a Abraão que levasse o seu filho Isaque para uma montanha na terra de Moriá e "o oferecesse ali como uma oferta queimada" (v:2). Conforme reza a história, Abraão levou Isaque à montanha, amarrou-o a um altar e tomou uma faca para o matar, em obediência à ordem, quando uma voz do céu disse a Abraão para parar, pois tinha provado que "temia a Deus" ao não recusar oferecer o seu único filho (vs:9-12). Uma história destas só podia ser contada e aceite como exemplo de grande fé numa cultura na qual se pensava que o sacrifício humano era uma homenagem apropriada ao deus que se adorava, portanto, mesmo que Abraão não tenha sido uma pessoa histórica real, a existência desta lenda na cultura israelita indicaria que a idéia de sacrifícios humanos não era completamente repugnante nesse tempo.
Que esse não era um conceito repugnante, é mostrado por um caso real de sacrifício humano registado em Juizes 11. Jefté tinha sido chamado para julgar Israel numa época de conflito com os amonitas. Antes de ir para a batalha, o "espírito de Iavé" veio sobre Jefté, que fez um voto dizendo que se Iavé entregasse os amonitas nas suas mãos, "então qualquer que seja a pessoa que saia das portas da minha casa ao meu encontro, quando eu voltar vitorioso dos amonitas, será de Iavé, para ser oferecida por mim como uma oferta queimada" (vs:30-31). Jefté infligiu uma "grande derrota" (v:33) aos amonitas, e ao voltar a casa, encontrou a sua única filha, que saiu da casa dançando com tamborins (v:34). Ao vê-la, Jefté rasgou as suas roupas em desespero e contou à filha o voto que fizera. Conforme reza a história, a reação dela foi que um voto é um voto e tem de ser cumprido, portanto depois de lhe terem sido dados dois meses para ela "chorar a sua virgindade" (v:38), Jefté "fez com ela segundo o voto que fizera" (v:39).
Será que o cristão percebe que o homicidio foi a forma máxima de purificação( morte de jesus ) e que o morto é comido pela comunidade ( eucaristia )? Simbolicamente falando.
2006-08-24
09:20:32
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Sociedade e Cultura
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