PARAÃSO, INFERNO E PURGATÃRIO:
1012 Haverá lugares determinados no universo destinados à s
penalidades e aos prazeres dos EspÃritos, conforme seus méritos?
– Já respondemos a essa questão. As penalidades e os prazeres são inerentes ao grau de perfeição dos EspÃritos; cada um tira de si mesmo o princÃpio de sua própria felicidade ou infelicidade; e como estão por toda parte, nenhum lugar localizado nem fechado está destinado a um ou a outro. Quanto aos EspÃritos encarnados, eles são mais ou menos felizes ou
infelizes conforme o mundo que habitem seja mais ou menos avançado.
1012 a Em vista disso, o inferno e o paraÃso não existiriam como o homem os representa?
– São apenas figuras: existem EspÃritos felizes e infelizes por toda parte. Entretanto, como também dissemos, os EspÃritos da mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem se reunir onde quiserem quando são perfeitos.
A localização exata dos lugares de penalidades e recompensas existe apenas na imaginação do homem e provém da tendência de materializar e circunscrever as coisas das quais eles não podem compreender a essência infinita.
1013 O que se deve entender por purgatório?
– Dores fÃsicas e morais: é o tempo de expiação. à quase sempre na Terra que fazeis vosso purgatório e onde sois obrigados a expiar vossas faltas.
O que o homem chama de purgatório é igualmente uma figura pela qual se deve entender não como um lugar qualquer determinado, mas como o estado dos EspÃritos imperfeitos, que estão em expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos EspÃritos bem-aventurados. Essa purificação, operando-se nas diversas encarnações, faz com que o purgatório consista nas provas da vida corporal.
1014 Como se explica que EspÃritos, que pela sua linguagem
revelam superioridade, tenham respondido a pessoas muito sérias a respeito do inferno e do purgatório, de acordo com a idéia corrente que se faz desses lugares?
– Eles falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam, e quando essas pessoas se mostram convictas de certas idéias evitam chocá-las bruscamente para não ferir suas convicções. Se um EspÃrito quisesse dizer, sem precauções oratórias, a um muçulmano que Maomé não foi profeta, seria muito mal compreendido.
1014 a Concebe-se que assim possa ser com a maioria dos Es-
pÃritos que desejam nos instruir; mas como se explica que EspÃritos interrogados sobre sua situação tenham respondido que sofriam torturas do inferno ou do purgatório?
– Quando são inferiores e ainda não completamente desmaterializados, conservam parte de suas idéias terrenas e transmitem suas impressões se servindo de termos que lhes são familiares. Eles se encontram num meio que lhes permite sondar o futuro apenas imperfeitamente, e é por isso que
freqüentemente EspÃritos errantes, ou recém-desencarnados, falarão como se estivessem encarnados. Inferno pode se traduzir por uma vida de provações extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor.
Purgatório, por uma vida também de provações, mas com consciência de um futuro melhor. Quando passais por uma grande dor, não dizeis que sofreis como um condenado? São apenas palavras, e sempre no sentido figurado.
1015 O que se deve entender por uma alma penada?
– Um EspÃrito errante e sofredor, incerto de seu futuro, e a quem podeis proporcionar o alÃvio que, muitas vezes, solicita ao se comunicar convosco. (Veja a questão 664.)
1016 Em que sentido se deve entender a palavra céu?
– Acreditais que seja um lugar, como os Campos ElÃseos dos antigos, onde todos os bons EspÃritos estão indistintamente aglomerados com a única preocupação de desfrutar, durante a eternidade, de uma felicidade passiva? Não. à o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores onde os EspÃritos desfrutam de todas as suas qua-
lidades sem os tormentos da vida material nem as angústias próprias à inferioridade.
1017 Alguns EspÃritos disseram estar habitando o quarto, o quin-
to céu, etc.; o que quiseram dizer com isso?
– Se lhes perguntais qual céu habitam é porque tendes uma idéia de muitos céus sobrepostos, como os andares de uma casa. Então, eles respondem conforme vossa linguagem. Mas, para eles, essas palavras, quarto e quinto céu, exprimem diferentes graus de depuração e, conseqüentemente, de felicidade. à exatamente como quando se pergunta a
um EspÃrito se ele está no inferno; se é infeliz, dirá que sim, porque para ele inferno é sinônimo de sofrimento; porém, ele sabe muito bem que não é uma fornalha. Se fosse um pagão diria que estava no Tártaro.
O mesmo acontece com muitas outras expressões semelhantes, como: cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera, etc., que não passam de expressões usadas por certos EspÃritos, quer como figuras, quer algumas vezes por ignorância da realidade das coisas e até mesmo das mais simples noções cientÃficas.
De acordo com a idéia restrita que se fazia antigamente dos lugares de sofrimentos e recompensas, e principalmente com a opinião de que a Terra era o centro do universo, de que o céu formava uma abóbada e que havia uma região de estrelas, colocava-se o céu em cima e o inferno embaixo. Daà as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, estar precipitado no inferno. Hoje a ciência demonstra que a Terra
não passa de um dos menores planetas, sem importância especial. Entre milhões de outros, traçou a história de sua formação e descreveu sua constituição; provou que o espaço é infinito, que não há nem alto nem baixo no universo, e assim impôs a rejeição à idéia de situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares baixos. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe fora designado. Estava reservado ao Espiritismo dar sobre todas essas coisas a explicação mais racional, grandiosa e, ao
mesmo tempo, mais consoladora para a humanidade. Assim, pode-se dizer que levamos em nós mesmos nosso inferno e nosso paraÃso e, quanto ao purgatório, nós o encontramos em nossa encarnação, em nossas vidas fÃsicas.
1018 Em que sentido é preciso entender estas palavras do Cristo: “Meu reino não é deste mundo?”
– O Cristo, ao responder assim, falava num sentido figurado. Ele queria dizer que apenas reina nos corações puros e desinteressados. Ele está por todos os lugares onde domina o amor ao bem, mas os homens ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra não estão com ele.
1019 O reino do bem poderá um dia realizar-se na Terra?
– O bem reinará na Terra quando, entre os EspÃritos que vêm habitá-la, os bons predominarem sobre os maus; então eles farão reinar na Terra o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da felicidade. Pelo progresso moral e praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons EspÃritos e afastará os maus; mas os maus só a deixarão quando o homem tiver expulsado de si o orgulho e o egoÃsmo.
A transformação da humanidade foi anunciada e é chegado o tempo em que todos os homens amantes do progresso se apresentam e se apressam, porque essa transformação se fará pela encarnação dos EspÃritos melhores, que formarão sobre a Terra uma nova ordem. Então, os EspÃritos maus, que a morte vai retirando a cada dia, e aqueles que tentam deter a marcha das coisas serão excluÃdos da Terra porque estariam deslocados entre os homens de bem dos quais perturbariam a felicidade.
Eles irão para mundos novos, menos avançados, desempenhar missões punitivas para seu próprio adiantamento e de seus irmãos ainda mais atrasados. Nessa exclusão de EspÃritos da Terra transformada não percebeis a sublime figura do paraÃso perdido? E a chegada à Terra do homem em semelhantes condições, trazendo em si o gérmen de suas paixões e
os traços de sua inferioridade primitiva, a figura não menos sublime do pecado original? O pecado original, sob esse ponto de vista, se refere à natureza ainda imperfeita do homem, que é, assim, responsável por si mesmo e por suas próprias faltas e não pelas faltas de seus pais. Todos vós, homens de fé e boa vontade, trabalhai com zelo e coragem na grande obra da regeneração, porque recolhereis cem vezes mais o grão que tiverdes semeado. Infelizes aqueles que fecham os olhos à luz. Preparam para si longos séculos de trevas e decepções; infelizes os que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais privações do que os prazeres de que desfrutaram; infelizes, principalmente, os egoÃstas, porque não encontrarão ninguém para ajudá-los a carregar o fardo de
suas misérias.
Os Demônios Segundo o Espiritismo
Segundo o Espiritismo, nem os anjos nem os demônios são seres à parte; a criação dos seres inteligentes é una. Unidos a corpos materiais, eles constituem a Humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; separados do corpo, constituem o mundo espiritual ou dos EspÃritos que povoam os espaços. Deus os criou perfectÃveis; deu-lhes por objetivo a perfeição, e a felicidade que dela é conseqüência, mas não lhes deu a perfeição; quis que a devessem ao seu trabalho pessoal, a fim de que lhe tivessem o mérito. Desde o instante de sua formação, progridem, seja no estado de encarnação, seja no estado espiritual; chegados ao apogeu, são puros EspÃritos, ou anjos segundo a denominação vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há ma cadeia ininterrupta, da qual cada elo marca um grau no progresso.
Disso resulta que existem EspÃritos em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, segundo estejam no alto, embaixo, ou no meio da escala. Há EspÃritos, por conseqüência, em todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade. Nas classes inferiores, há os que estão ainda profundamente inclinados ao mal, e que nele se comprazem. Querendo-se, pode-se chamá-los de demônios, porque são capazes de todas as ações feias atribuÃdas a estes últimos. Se o Espiritismo não lhes dá esse nome, é porque se liga à idéia de seres distintos da Humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, votados ao mal pela eternidade e incapazes de progredirem no bem.
Segundo a doutrina da Igreja, os demônios foram criados bons, e se tornaram maus pela desobediência: são os anjos decaÃdos; foram colocados por Deus no alto da escala e desceram. Segundo o Espiritismo, são EspÃritos imperfeitos, mas que se melhorarão; estão ainda na base da escala e subirão.
Aqueles que, pela sua indiferença, sua negligência, sua obstinação e sua má vontade permanecem tempo mais longo nas classes inferiores, disso carregam a pena, e o hábito do mal torna-os mais difÃcil de sair dele; mas chega um tempo em que se cansam dessa existência penosa e dos sofrimentos que lhes são a conseqüência; é então que, comparando a sua situação com a dos bons EspÃritos, compreendem que seu interesse está no bem, e procuram se melhorar, mas o fazem por sua própria vontade e sem serem constrangidos a isso. Eles estão submetidos à lei do progresso por sua aptidão em progredir, mas não progridem apesar deles. Para isso Deus lhes fornece, sem cessar, os meios, mas são livres para aproveitarem ou não. Se o progresso fosse obrigatório, eles não teriam nenhum mérito, e Deus quer que tenham o de suas obras; não coloca nenhum na primeira classe por privilégio, mas a primeira classe está aberta a todos, e a ela não chegam senão por seus esforços. Os mais elevados anjos conquistaram o seu grau como os outros, passando pela rota comum.
Chegados a um certo grau de depuração, os EspÃritos têm missões em relação com o se adiantamento; eles cumprem todas as que são atribuÃdas aos anjos das diferentes ordens. Como Deus criou de toda a eternidade, de toda a eternidade se encontram EspÃritos para satisfazer a todas as necessidades do governo do Universo. Uma única espécie de seres inteligentes, submetidos à lei do progresso, basta, pois, para tudo. Essa unidade na criação, com o pensamento que todos têm um mesmo ponto de partida, a mesma rota a percorrer, e que se elevam por seu próprio mérito, responde bem melhor à justiça de Deus, que a criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas de dons naturais que seriam tantos privilégios.
A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas humanas, não admitindo a lei do progresso, e vendo, contudo, seres em diversos graus, disso concluiu que eram o produto de tantas criações especiais. Ela chega, assim, a fazer de Deus um pai parcial, dando tudo a alguns de seus filhos, ao passo que impõe aos outros os mais rudes trabalhos. Não é de se admirar que, durante muito tempo, os homens não tenham encontrado nada de chocante nessas preferências, então que as usavam do mesmo modo em relação aos seus filhos, pelos direitos inatos e os privilégios de nascença; poderiam crer fazer mais mal que deus?
Mas hoje o cÃrculo das idéias se alargou; eles vêm mais claro; têm noções mais limpas da justiça; querem-na para eles, e se não a encontram sempre na Terra, esperam ao menos encontrá-la mais perfeita no céu; e aqui está porque toda doutrina onde a justiça divina não lhes apareça em sua maior pureza, lhes repugna a razão.
2006-08-19 09:55:34
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answer #6
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answered by Antonio Vieira Sobrinho 7
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