Envelhecer sem perder a juventude e sem precisar se submeter a uma plástica é um desejo antigo da humanidade que faz a indústria da estética faturar cada vez mais alto em todo o mundo. Enquanto o elixir da juventude não é inventado, volta e meia reaparece uma "novidade" no país. Desta vez é a procaína (KH-3), apresentada como uma droga eficaz para retardar o envelhecimento e tratar das depressões senis, aumentando a qualidade de vida dos idosos.
A procaína é um anestésico odontológico criado em 1905 pelo bioquímico austríaco Alfred Einhorn. Em 1951, foi transformado em procaína benzóica estabilizada ou Gerovital H-3 (GH-3) pela médica romena Anna Aslan. Na década de 50, os jornais popularizaram a novidade como as injeções da "Doutora" Anna, que "deixavam senhoras de 80 anos com corpo de moças". Muitos famosos, como Charlie Chaplin, Salvador Dali, Marlene Dietrich e Pablo Picasso teriam experimentado a novidade. Nenhum deles chegou aos 80 com corpinho de 20. Nem mesmo a própria Anna Aslan que morreu em 1988, aos 91 anos.
Desde então, o uso da procaína divide opiniões na medicina. Quem toma garante que a droga serve para tudo, um verdadeiro "bom-bril", de aumentar a libido a sonhar colorido. Já os pesquisadores só garantem seu efeito como leve anestésico odontológico e leve antidepressivo.
Briga na Justiça - Vamos aos fatos. O Ministério da Saúde romeno aprovou a droga em 1958. Nosso Ministério da Saúde proibiu a venda em outubro de 1973, pois a droga entrava ilegalmente no país. E desde 1976, nos EUA, o Food and Drug Administration (FDA) vem sistematicamente não aprovando seu uso para reverter o envelhecimento. Em 1985, portaria número 4 do Ministério da Saúde resolveu que "os produtos com indicação geriátrica que contenham procaína deverão ter suas fórmulas modificadas pela substituição ou retirada de procaína."
Porém, em 1997, a clínica Anna Aslan misteriosamente conseguiu uma liminar junto ao Tribunal Regional Federal. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) foi criada dois anos depois e só permite o uso da procaína como anestésico odontológico. Por causa da liminar, a Clínica Anna Aslan é a única no Brasil que pode ministrar a droga.
"Até hoje, como faltam estudos científicos que comprovem sua eficácia publicados em revistas sérias, ministrar o GH-3 é considerada má prática médica", alertou o geriatra Clineu Almada, diretor científico do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Sou contra seu uso porque a droga não é aprovada, nem pela Anvisa nem pelo FDA, para qualquer coisa que não seja anestésico odontológico. A medicina é baseada em evidências, as pessoas falam que há inúmeros trabalhos que provam a eficácia da GH-3, mas não tem nenhum publicado em revista de expressão", completou o médico.
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) também é contra o uso do GH-3. No ano passado, solicitaram junto à Anvisa, ao Conselho Federal de Medicina e ao Conselho Regional de Medicina a proibição da droga para uso de rejuvenescimento em território brasileiro. "Não existe, na opinião da SBGG, qualquer indicação para o uso do GH-3 em pessoas idosas. E, muito ao contrário do que se propaga, ela pode causar efeitos colaterais importantes.
Um artigo do FDA alerta para casos de hipotensão, distúrbios respiratórios e convulsões", explicou o geriatra Alberto Macedo Soares, presidente da regional paulista. A assessoria de imprensa da Anvisa informa que estão estudando o processo, mas que o maior problema é mesmo judicial e caberia à Advocacia-Geral da União (AGU) entrar com um processo para caçar a liminar da clínica.
Um médico, que preferiu não se identificar, disse que participou da negociação para a liberação da venda da procaína e que a substância é realmente eficaz pois "acorda os genes que vão ficando dorminhocos com a velhice". "O problema todo é que ela é uma droga órfã, nenhum laboratório quer fabricá-la", argumenta.
Estudos científicos - "Tal assunto vem sendo estudado, exaustivamente, há várias décadas, sem resultados práticos. Por exemplo: em 1977, uma coletânea de 285 artigos e textos, englobando um total de mais de 100 mil pacientes, foi bem clara ao afirmar que 'exceto por um possível efeito antidepressivo leve e fugaz não há evidências convincentes de que a procaína (ou Gerovital) tenha algum valor no tratamento de doenças em pacientes idosos' (Ostfeld et al., 1977). Tal fato foi corroborado pelo estudo de Goodnick & Gershon, de 1984. Os estudos com tal substância foram interrompidos por duas décadas devido à sua ineficácia.
Porém, a propaganda exagerada e infundada sobre o produto, por interesses, talvez, de ordem financeira, deve aumentar a ocorrência de rabdomiólise (tipo de lesão muscular) e insuficiência renal devido à administração de procaína (GH3). Isto é grave", alerta Joel Rennó Jr, doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador geral do projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O que acha Valdir, você arriscaria ser submetido à um tratamento com procaína? Eu não... Um abraço e até mais.
2006-07-20 14:42:26
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answer #1
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answered by Júnior 4
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