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Outras - Sociedade e Cultura - março 2007

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BIBLIA ERROS – UMA FRAUDE....
A Bíblia é o mais conhecido e mais lido de todos os livros praticamente por toda parte no planeta e nenhum outro se vendeu tanto até hoje. Não obstante a diversas contradições existentes dentro do Velho Testamento e muito mais entre esse e o chamado Novo Testamento, é corrente no meio religioso a idéia de que há uma unanimidade maravilhosa de pensamento entre todos os escritores que participaram da criação do livro sagrado. Diante desse sucesso todo, muitos estudiosos têm dedicado tempo e muito trabalho perscrutando sua obscura origem e o poder inexplicável desse livro sobre o imaginário humano, tornando-o a base da fé da maior parte do mundo. Só recentemente, através da arqueologia e análise dos registros encontrado das bibliotecas de povos do Oriente Médio, está-se chegando a uma conclusão sobre o seu início. O começo da Bíblia escrita remonta ao século sétimo antes da era Cristã.

Todos os povos têm lendas que tentam explicar a origem de todas as coisas. Os hebreus também tinha as suas, que eram transmitidas oralmente de pais para filhos, misturadas com fatos e esculpidas pelas crenças vigentes em cada época e cada meio. Assim, versões diversas haviam sobre as divindades e a respeito da origem do universo com tudo que nele há. Uma leitura atenta do velho testamento nos mostra que vários escritores de pensamentos diversos contribuíram na elaboração dos primeiros livros bíblicos.

Mediante os dados arqueológicos e os registros encontrados em antigas bibliotecas egípcias e dos povos antigos do Oriente Médio, os estudiosos passaram a perceber que a realidade fática e geográfica anterior ao sétimo século antes da Era Cristã divergia muito dos relatos da história patriarcal hebraica, dando a entender que foi naquele século que o livro foi criado. Analisando todas as contradições, chegou-se à conclusão de que tudo foi redigido pelos escribas do templo a mando do rei Josias.

”Não há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C. , por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais intenções acabaram batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais evidentes no livro Deuteronômio. A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos. Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. Já as Dez Pragas seriam o eco de um desastre ecológico ocorrido no Vale do Nilo quando tribos nômades de semitas estiveram por lá.

Vejamos agora o caso de Abraão, o patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia, ele era um comerciante nômade que, por volta de 1850 a.C., emigrou de Ur, na Mesopotâmia, para Canaã (na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam em caravanas de camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a Canaã que justifiquem o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares citados na viagem de Abraão, como Hebron e Bersheba, nem existiam então. Hoje, a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Torá entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de 1 000 anos após a suposta viagem).

Então, como surgiu o povo hebreu? Na verdade, hebreus e canaanitas são o mesmo povo. Por volta de 2000 a.C., os canaanitas viviam em povoados nas terras férteis dos vales, enquanto os hebreus eram nômades das montanhas. Foi o declínio das cidades canaanitas, acossadas por invasores no final da Idade do Bronze (300 a.C. a 1000 a.C.)" [“300” deve-se ler “1.300”], "que permitiu aos hebreus ocupar os vales. Segundo a Bíblia, os hebreus conquistaram Canaã com a ajuda dos céus: na entrada de Jericó, o exército hebreu toca suas trombetas e as muralhas da cidade desabam, por milagre. Mas a ciência diz que Jericó nem tinha muralhas nessa época. A chegada dos hebreus teria sido um longo e pacífico processo de infiltração.

DAVID E SALOMÃO

Há pouca dúvida de que David e Salomão existiram. Mas há muita controvérsia sobre seu verdadeiro papel na história do povo hebreu. A Bíblia diz que a primeira unificação das tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu sucessor, David, organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e preparando o terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto império. O período salomônico (970 a.C. a 930 a.C.) teria sido marcado pela construção do Templo de Jerusalém e a entronização da Arca da Aliança em seu altar.

Não há registros históricos ou arqueológicos da existência de Saul, mas a arqueologia mostra que boa parte dos hebreus ainda vivia em aldeias nas montanhas no período em que ele teria vivido (por volta de 1000 a.C.) – assim, Saul seria apenas um entre os muitos líderes tribais hebreus. Quanto a David, há pelos menos um achado arqueológico importante: em 1993 foi encontrada uma pedra de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei David.

Por outro lado, não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na Bíblia, como sua vitória sobre o gigante Golias. Ao contrário, as cidades canaanitas mencionadas como destruídas por seus exércitos teriam continuado sua vida normalmente. Na verdade, David não teria sido o grande líder que a Bíblia afirma. Seu papel teria sido muito menor. Ele pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes que vivia nas montanhas, chamados apiru (palavra de onde deriva a palavra hebreu) – uma espécie de guerrilheiro que ameaçava as cidades do sul da Palestina. Quanto ao império salomônico cantado em verso e prosa na Torá hebraica, a verdade é que não foram achadas ruínas de arquitetura monumental em Jerusalém ou qualquer das outras cidades citadas na Bíblia.

O principal indício de que as conquistas de David e o império de Salomão são, em sua maior parte, invenções é que, no período em que teriam vivido, a arqueologia prova que a cultura canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido destruída) continuava viva. A conclusão é que David e Salomão teriam sido apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo localizado no sul da Palestina.

Na verdade, o grande momento da história hebraica teria acontecido não no período salomônico, mas cerca de um século mais tarde. Entre 884 e 873 a.C., foi fundada Samária, a capital do reino de Israel, no norte da Palestina, sob a liderança do rei israelita Omri. Enquanto Judá permanecia pobre e esquecida no sul, os israelitas do norte faziam alianças com os assírios e viviam um período de grande desenvolvimento econômico. A arqueologia demonstrou que os monumentos normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos pelos omridas. Ou seja: o primeiro grande Estado judaico não teve a liderança de Salomão, e sim dos reis da dinastia omrida.

Enriquecido pelos acordos comerciais com Assíria e Egito, o rei Acab, filho de Omri, ordena a construção dos palácios de Megido e as muralhas de Hazor, entre outras obras. Hoje, os restos arqueológicos desses palácios e muralhas são o principal ponto de discórdia entre os arqueólogos que estudam a Torá. Muitos ainda os atribuem a Salomão, numa atitude muito mais de fé do que de rigor científico, já que as datações mais recentes indicam que Salomão nunca ergueu palácios.

JUDÁ

Entender a história de Judá é fundamental para entender todo o Velho Testamento. Até o século VIII a.C., Judá era apenas uma reunião de tribos vivendo numa região desértica do sul da Palestina. Em 722 a.C., porém, os assírios resolvem conquistar as ricas planícies e cidades de Israel – o reino do norte, mais desenvolvido economicamente e mais culto. Judá, no sul, que não pareceu interessar aos assírios, pôde continuar independente, desde que pagasse tributos ao império assírio.

Assim, enquanto no norte acontece uma desintegração dos hebreus, levados para a Assíria como escravos, no sul eles continuam unidos em torno do Templo de Jerusalém. Judá beneficiou-se enormemente da destruição do reino do norte. Jerusalém cresceu rapidamente e cidades como Lachish, que servia de passagem antes de chegar a Jerusalém, foram fortificadas. Era o momento de Judá tomar a frente dos hebreus. Para isso, precisaria de duas coisas: um rei forte e um arsenal ideológico capaz de convencer as tribos do norte de que Judá fora escolhida por Deus para unir os hebreus. Além disso, era preciso combater o politeísmo que voltava a crescer no norte.

Josias foi o candidato a assumir a posição de rei unificador. Durante uma reforma no Templo de Jerusalém, em seu governo, foi “encontrado” (na verdade, não há dúvidas de que o livro foi colocado ali de propósito) o livro Deuteronômio, com todos os ingredientes para um ampla reforma social e religiosa. O livro possui até profecias que afirmam, por exemplo, que um rei chamado Josias, da casa de David, seria escolhido por Deus para salvar os hebreus. Ungido pelo relato do livro, o ardiloso Josias consegue seu objetivo de centralizar o poder, mas acaba morto em batalha. Judá revolta-se contra os assírios e o rei da Assíria, Senaqueribe, invade a região, destruindo Lachish e submetendo Jerusalém. A destruição de Lachish, narrada com riqueza de detalhes na Bíblia, também aparece num relevo encontrado em Nínive, a antiga capital assíria. E as escavações comprovaram que a Bíblia e o relevo são fiéis ao acontecido. Ou seja: nesse caso, a arqueologia provou que a Torá foi fiel aos fatos” (Superinteressante, julho/2002).

Como naqueles tempos não havia meios de análise do passado, tudo pareceu verdadeiro, e os judeus passaram a crer que o único deus verdadeiro os havia escolhido desde muitos séculos para governar o mundo. Yavé seria o único deus verdadeiro. Todos os outros teriam sido criações humanas. E os adoradores de Yavé dominariam o mundo.


O UNGIDO DE BELÉM QUE SUBMETERIA TODOS OS OUTROS REINOS

A Assíria, como acima informado, submetera o reino de Israel exilando o povo, e Judá permaneceu, embora obrigado a pagar tribuntos à Assíria. Alguma coisas deveria ser feito para que isso não prosseguisse. A mensagem do deus verdadeiro, Yavé, através de um profeta (homem santo que previa o futuro), fortaleceria o ânimo daquele povo com a promessa de destronar a Assíria e criar um reino inabalável. Assim, um profeta chamado Miquéias apresentou o futuro:

“Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto os entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. E ele permanecerá, e apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra. E este será a nossa paz. Quando a Assíria entrar em nossa terra, e quando pisar em nossos palácios, então suscitaremos contra ela sete pastores e oito príncipes dentre os homens. Esses consumirão a terra da Assíria à espada, e a terra de Ninrode nas suas entradas. Assim ele nos livrará da Assíria, quando entrar em nossa terra, e quando calcar os nossos termos. E o resto de Jacó estará no meio de muitos povos, como orvalho da parte do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem aguarda filhos de homens. Também o resto de Jacó estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais do bosque, como um leão novo entre os rebanhos de ovelhas, o qual, quando passar, as pisará e despedaçará, sem que haja quem as livre. A tua mão será exaltada sobre os teus adversários e serão exterminados todos os seus inimigos. Naquele dia, diz o Senhor, exterminarei do meio de ti os teus cavalos, e destruirei os teus carros; destruirei as cidade da tua terra, e derribarei todas as tuas fortalezas. Tirarei as feitiçarias da tua mão, e não terás adivinhadores; arrancarei do meio de ti as tuas imagens esculpidas e as tuas colunas; e não adorarás mais a obra das tuas mãos. Do meio de ti arrancarei os teus aserins, e destruirei as tuas cidades. E com ira e com furor exercerei vingança sobre as nações que não obedeceram.” (Miquéias, 5: 2-15).

Isso foi escrito, pelo menos está dito que foi, “nos dias de Jotão Acaz e Ezequias reis de Judá” (Miquéias, 1: 1).

Vamos ver um pouco da história, para entender as palavras de Miquéias:

“No ano duodécimo de Acaz, rei de Judá, começou a reinar Oséias, filho de Elá, e reinou sobre Israel, em Samária nove anos. E fez o que era mau aos olhos do Senhor, contudo não como os reis de Israel que foram antes dele. Contra ele subiu Salmanasar, rei da Assiria; e Oséias ficou sendo servo dele e lhe pagava tributos. O rei da Assíria , porém, achou em Oséias conspiração; porque ele enviara mensageiros a Sô, rei do Egito, e não pagava, como dantes, os tributos anuais ao rei da Assíria; então este o encerrou e o pôs em grilhões numa prisão. E o rei da Assíria subiu por toda a terra, e chegando a Samária sitiou-a por três anos. No ano nono de Oséias, o rei da Assíria tomou Samária, e levou Israel cativo para a Assíria; e fê-los habitar em Hala, e junto a Habor, o rio de Gozã, e nas cidades dos medos. (II Reis, 17: 1-6)

Uma vez que só Judá estava livre, e o restante de Israel, o reino no Norte, estava sob o poder assírio, na promessa do profeta estavam estas palavras: “então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel” .

Quando deveria vir o Messias? “Quando a Assíria entrar em nossa terra, e quando pisar em nossos palácios”, disse o profeta.

Segundo o profeta, a Assíria iria tentar dominar Judá também; mas aí surgiria o Messias e a esmagaria, libertaria Israel, estabelecendo o reino unificado de Israel sobre todas as nações, "até os fins da Terra”.

A Acaz, sucederam: Ezequias (16: 20), Manassés (20: 21; 21: 1), Amom (21: 18), e Josias (21: 26).

O segundo Livro dos Reis informa que: “No ano décimo quarto do rei Ezequias, subiu Senaqueribe, rei da Assíria, contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou. Pelo que Ezequias, rei de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro” (II Reis, 18: 134, 14).

O reino de Judá estava em uma condição bem melhor do que o de Israel, apenas pagando tributos à Assíria, enquanto o de Israel estava no esílio.

Josias, que era o terceiro dos sucessores Ezequias, no décimo oitavo ano de seu reinado, aproximadamente noventa anos após a submissão de Ezequias por Salmanazar da Assíria, determinou uma reforma do templo, onde dizem ter sido achado o livro da lei de Moisés (II Reis, 22: 1-8). “Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: Achei o livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias entregou o livro a Safã, e ele o leu” (v. 8).

Dadas as incongruências existentes na história pregressa, concluíram alguns analistas que esse livro da lei não fora encontrado, mas elaborado pelos escribas do reino e posto ali a mando de Josias. Havia até a seguinte predição:

“E o homem clamou contra o altar, por ordem do Senhor, dizendo: Altar, altar! assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias; o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que sobre ti queimam incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti” (II Reis, 13: 2). Tudo parece ter sido elaborado, com todos os assombrosos prodígios divinos e a predição sobre Josias, para levantar o ânimo do povo na luta para reunificar o reino.

Após matar os sacerdotes adoradores de outros deuses e destruir tudo que estivesse ligado à idolatria (adoração que não seja a Yavé) segundo a lei do livro, “Josias tirou também todas as casas dos altos que havia nas cidades de Samária, e que os reis de Israel tinham feito para provocarem o Senhor à ira, e lhes fez conforme tudo o que havia feito em Betel. E a todos os sacerdotes dos altos que encontrou ali, ele os matou sobre os respectivos altares, onde também queimou ossos de homens; depois voltou a Jerusalém. Então o rei deu ordem a todo o povo dizendo: Celebrai a páscoa ao Senhor vosso Deus, como está escrito neste livro do pacto” (II Reis, 23: 19-21). Ali está registrado que “não se celebrara tal páscoa desde os dias dos juízes que julgaram a Israel, nem em todos os dias dos reis de Israel, nem tampouco nos dias dos reis de Judá” (v. 22). Conferindo todas as descobertas sobre a história anterior, que acreditam ter sido encontrada na reforma do templo, não é difícil perceber que essa “páscoa” nunca existira antes, mas foi introduzida com as leis divinas elaboradas pelos escribas.

Mas, apesar de todo o preparo ideológico contido no livro, Josias não conseguiu estabelecer o reino unido. Foi morto em uma batalha, e Judá foi dominada pelo Egito e depois por Babilônia. A promessa divina falhou.

“Nos seus dias subiu Faraó-Neco, rei do Egito, contra o rei da Assíria, ao rio Eufrates. E o rei Josias lhe foi ao encontro; e Faraó-Neco o matou em Megido, logo que o viu.
...
E o povo da terra tomou a Jeoacaz, filho de Josias, ungiram-no, e o fizeram rei em lugar de seu pai.
...
Ora, Faraó-Neco mandou prendê-lo em Ribla, na terra de Hamate, para que não reinasse em Jerusalém; e à terra impôs o tributo de cem talentos de prata e um talento de ouro. Também Faraó-Neco constituiu rei a Eliaquim, filho de Josias, em lugar de Josias, seu pai, e lhe mudou o nome em Jeoiaquim; porém levou consigo a Jeoacaz, que conduzido ao Egito, ali morreu. E Jeoiaquim deu a Faraó a prata e o ouro; porém impôs à terra uma taxa, para fornecer esse dinheiro conforme o mandado de Faraó. Exigiu do povo da terra, de cada um segundo a sua avaliação, prata e ouro, para o dar a Faraó-Neco. Jeoiaquim tinha vinte e cinco ano quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém.
...
Jeoiaquim dormiu com seus pais. E Joaquim, seu filho, reinou em seu lugar. O rei do Egito nunca mais saiu da sua terra, porque o rei de Babilônia tinha tomado tudo quanto era do rei do Egito desde o rio do Egito até o rio Eufrates. Tinha Joaquim dezoito anos quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém.
...
Naquele tempo os servos de Nabucodonosor, rei de Babilônia, subiram contra Jerusalém, e a cidade foi sitiada. E Nabucodonosor, rei de Babilônia, chegou diante da cidade quando já os seus servos a estavam sitiando. Então saiu Joaquim, rei de Judá, ao rei da Babilônia, ele, e sua mãe, e seus servos, e seus príncipes, e seus oficiais; e, no ano oitavo do seu reinado, o rei de Babilônia o levou preso. E tirou dali todos os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei; e despedaçou todos os vasos de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera no templo do Senhor, como o Senhor havia dito. E transportou toda a Jerusalém, como também todos os príncipes e todos os homens valentes, deu mil cativos, e todos os artífices e ferreiros; ninguém ficou senão o povo pobre da terra” (II Reis, 23: 29, 30, 33-36; 24: 7-14).

Como a própria Bíblia relata, quando a Assíria entrasse na terra de Judá, deveria surgir o Messias e estabelecer o reino universal e eterno. Não obstante tudo indicasse esse ungido libertador fosse Josias, ele não o conseguiu, e os hebreus, longe de perder a fé nas palavras dos seus profetas, passaram a crer que esse Messias (ungido) viesse no futuro e ainda o esperam até hoje.

NOVAS PROMESSAS DE DOMÍNIO MUNDIAL APÓS A QUEDA DE BABILÔNIA

Como falhara a promessa do ungido de Belém e tanto judeus como israelitas caíram sob o domínio babilônico, novas promessas divina de libertação e domínio do mundo chegavam ao povo por meio dos profetas. Assim, estava sendo escrito mais um trecho do livro sagrado.

Nos dias de Babilônia, apareceu a promessa do profeta Isaías com a palavra de Yavé, anunciando a queda de Babilônia, a construção da nova Jerusalém (Jerusalém havia sido destruída pelo império babilônico), e a paz perpétua do povo:

"E Babilônia, a glória dos reinos, o esplendor e o orgulho dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou" (Isaías, 13:19)

"Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado. E eles edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos gozarão por longo tempo das obras das suas mãos: Não trabalharão debalde, nem terão filhos para calamidade; porque serão a descendência dos benditos do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor" (Isaías, 65: 17-25). A essa época ainda não se havia estabelecido entre eles a crença na ressurreição dos mortos. Por isso o profeta só prometia prosperidade e muito poder.

A QUEDA DE BABILÔNIA NÃO RESULTOU NO FUTURO PREDITO

Babilônia caiu. Entretanto, novamente, a promessa do reino de Israel não se cumpriu, e eles continuaram passando de um jugo para outro: após Babilônia, veio Medo-Pérsia, depois Grécia, depois Roma. No período babilônico, os hebreus já começaram a ter contato com a crença na ressurreição dos mortos. Entre os persas é que parece ter-se consolidado essa gloriosa esperança no ideário hebreu.

Não obstante mais uma vez quebrada a promessa divina do poderoso reino de Israel, os profetas continuaram prevendo esse futuro esplendoroso do povo escolhido de Yavé.

Nos dias em que o império grego estava dividido, o rei Antíoco Epífanes perpetrou a maior humilhação aos hebreus: profanou o tempo de Jerusalém e estabeleceu sobre ele sacrifícios aos seus deuses, sacrificando carne de porco sobre o altar que eles levantaram ao que crêem ser o deus verdadeiro. Depois de alguns anos de desolação, Judas Macabeu venceu uma grande batalha e conseguiu restabelecer o santuário. Deve ser nesses dias que apareceu a profecia de Daniel falando da abominação assoladora: os capítulos 8 a 12 de Daniel (o livro de Daniel não é uma seqüência, mas os capítulos 7 e 8 foram até escritos em línguas diferentes, o 7, que veio por último, em aramaico, e o 8, em hebraico, conforme informam alguns estudiosos).

Restaurado o santuário, em seguida viria o fim das desolações e aquele tão prometido reino seria estabelecido. O profeta Daniel iria ressuscitar no fim desse dias; pois a ressurreição dos mortos já havia sido incorporada nas crenças hebraicas. No entanto, mais uma vez, o povo hebreu não chegou a poder sobre os outros povos e estava muito distante do fim de suas agruras.


NOVA PROMESSA DE DOMÍNIO MUNDIAL

O capítulo 7, que foi escrito depois do 8, já apresenta uma história muito parecida com os atos de Antíoco, mas o período de "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" de assolamento e "destruição do poder do povo santo" já não era mais de um rei oriundo dos gregos, e sim do império seguinte, representado pelo "quarto animal", na visão de quatro animais que representavam os últimos reinos do mundo antes do estabelecimento do eterno reino de Israel. Em ambos os capítulos, era prevista a vitória final do povo de Yavé, para não ser molestado nunca mais.

Afirmam alguns comentaristas de Daniel que o povo judeu reconhecia a vitória de Judas Macabeu como o cumprimento da profecia sobre o fim da desolação. Mas, como o capítulo 7 apresenta a desolação procedente do quarto animal, que seria um reino posterior ao da Grécia, isso nos dá a certeza de que quem o escreveu tomou as previsões do capítulo 8 e a adaptou a um futuro, que deveria ocorrer com a queda de Roma. Aí estava a última promessa divina de domínio do mundo pelos hebreus. Mas não parou por aí. Esses textos seriam interpretados a seu modo pelos seguidores de Yeshua (Jesus) para novamente dar ao povo a esperança de que o deus criador de todas as coisas daria o reino a quem o adora, sendo escrita a última parte do famoso livro sagrado.

JESUS ADAPTADO AO MESSIAS DE MIQUÉIAS

Nos dias do Império Romano, alguns heróis surgiram pretendo ser o messias libertador dos hebreus. Todos eles foram abatidos pelo poderoso império romano. Mas os seguidores de um deles, mediante uma grande montagem literária, conseguiram transformá-lo naquele libertador e convencer quase o mundo inteiro com essa idéia, que persiste até hoje. Aí estava sendo escrita a última parte da Bíblia.

Os autores dos evangelhos de Mateus e Lucas apresentaram, após a destruição de Jerusalém do ano 70 AD, palavras atribuídas a Jesus, afirmando que a "abominação da desolação de que falou o profeta Daniel" se referia àquele período que eles já estavam vivendo nos dias em que foram escritos os evangelhos:

"Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel no lugar santo (que lê entenda)" (Mateus, 24: 15). "Quando, pois virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação" (Lucas, 21: 20). "Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais" (Mateus, 24: 21 [Referência a Daniel, 12:01]). "E, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles" (Lucas, 21: 20). "Estes por quarenta e dois meses calcarão aos pés a cidade santa.", completou o autor do Apocalipse (Apocalipse, 11: 2).

E a nova promessa de eternidade foi:

"Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória. E ele enviará seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." (Mateus, 24: 29 a 31).

Isso foi inspirado nas palavras do livro de Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado diante dele. E foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído" (Daniel, 7: 13, 14).

O mesmo que foi predito para ocorrer após o restabelecimento por Judas do santuário profanado por Antíoco Epífanes e foi repetido com certeza já sob o domínio romano, foi utilizado pelos cristãos para persuadir o mundo de que aquele Jesus executado pelos romanos teria ressuscitado e retornaria um dia para acabar com todo o mal.

O assolamento apresentado no capítulo 7 de Daniel deveria durar “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, a saber, três anos e meio. Como o fim da terra dos hebreus e sua dispersão pelo mundo durou séculos, criou-se uma interpretação de que cada dia da profecia corresponderia a um ano. Assim, foi possível passar ao mundo a idéia de que o que está na Bíblia ainda se cumprirá. Convertendo cada dia em um ano, o reino divino deveria ser estabelecido no século XIV (1260 anos a partir de 70 A.D. = 1330). Contudo, grupos religiosos criaram novas interpretações, e adaptações, conseguido manter a fé do povo por todos esses séculos. Todos os livros do Novo Testamento foram escritos décadas depois dos dias de Jesus, quando já era fácil convencer o povo de que ele tivesse operado grandes milagres, como ressurreição de mortos, cura de aleijados, loucos, etc. Muito foi escrito pelos cristãos, mas poucos livros foram selecionados para compor o livro sagrado. Assim estava escrito o mais famosos livro do mundo. É incrível como todas essas promessas e fracassos reunidos se converteram em um livro que a maior parte do mundo diz conter “A VERDADE”.

2007-03-19 13:14:14 · 8 respostas · perguntado por Marcio B 4

Ou só os brasileiros é que são chatos com os patricios ?

2007-03-19 12:59:03 · 15 respostas · perguntado por tibagy54 1

Semiosfera Semiosfera
ano 5, nº8

Mito e primeiridade
Gabriela Reinaldo


Resumo: Este artigo visa a discorrer sobre os aspectos intercessores
entre o mito – narrativa sagrada, de caráter coletivo, que se ocupa do
nascimento do cosmos graças à ação de seres sobrenaturais – e a primeira
categoria fenomênica do edifício filosófico de Charles Sanders Peirce,
chamada primeiridade. Interessam-nos os aspectos da narrativa e do
pensamento míticos como vir a ser não necessariamente realizado, o que
implica numa noção temporal que foge dos padrões cronológicos
ordinários.


Palavras-chave: mito, primeiridade, fenomenologia peirceana, semiótica,
narrativa, tempo.
Rudolf Otto (1869-1937), em sua obra revolucionária para os estudos de
teologia e ciências das religiões do começo do século XX, Das Heiling, diz
que originalmente o sagrado não está associado a noções como fé, bondade,
espírito ou boa vontade. Esta concepção equivale a um sagrado ocidental e
racional de deidade. Sagrado que se harmoniza com a idéia de um criador
bom, onipresente e misericordioso. Segundo Otto, este conceito em nada
coaduna com a dimensão sacra em sua origem, antes da sua apropriação por
qualquer forma institucional de religião. Para dizer do fundamento do
sagrado, o autor cunha o termo numinoso. O numen é uma categoria que está
ligada ao mysterium tremendum, ao mistério – algo que não é dado a
conhecer – que ao mesmo tempo em que fascina, arrebata e comove, também
causa tremor, medo, arrepio. Há um temor paralisante face ao totalmente
Outro, ao fascinans, ao mirum ou mirabile (de onde posteriormente derivam
os termos admiração, admirável). Algo que impede o movimento, embota o
pensamento, atrapalha a fala.
No Êxodo, Deus adverte a Moisés: “Enviarei o meu terror e semearei pânico
em todos os povos entre os quais chegares e porei todos os teus inimigos
em fuga diante de ti” (Ex, 23, 27). Santificar (em hebraico hiq’dich) algo
no coração é nutrir um sentimento especial de terror. Êmat Javeh, o terror
de Javé, penetra nos membros dos homens e os paralisa. Entre os gregos,
lembra Otto (cf. 1992, 23), há a expressão semelhante deima panicon, que
seria o terror do pânico, inspirado pelo que está além do que se pode
compreender na esfera natural e humana.
O novo, ao ameaçar a compreensão do que há, do que já se estabeleceu,
infunde espanto. É com estranhamento que o homem se depara com o
nascituro, a brotadura, o gomo, o que principia. O ovo cósmico, útero
fértil de onde o sol, as estrelas, os peixes e as águas emanam, assombra e
precisa ser submetido, senão ao entendimento, ao menos à experiência.
Esse sentimento de fascinação, de aniquilamento e de terror, essa vivência
de certo modo inefável com o que não nos é familiar, com o que foge do
domínio das coisas habituais, com esse pavor sacer (terror numinoso, pavor
sagrado) que preside o surgimento de algo, sua gênesis, não é, no entanto,
um entrave à narração. É no intuito não de compreender ou ajuizar, mas de
se apropriar desta dimensão que dá origem à vida e a tudo o que existe que
o homem narra.
Tão importante quanto conhecer as origens é a produção de um discurso
sobre esta origem. O homem que a narra não quer a explicação.
Interessa-lhe o ato de narrar como processo inventor de mundos. Narrar é
co-participar da gênesis cósmica. Na narração, a criatura torna-se sócia
do Criador, um co-criador. O poeta é fazedor (poiesis = fazer). Narrando,
o homem organiza o pensamento, afasta-se do caos ao criar contornos para o
que é amorfo.
O momento em que nos damos conta de nossa existência é o mesmo em que
tomamos consciência da nossa exposição ao tempo. Tempo que se mostra, em
sua essência, fundamentalmente alheio ao nosso desejo, à nossa vontade.
Horas que escorrem sem prévia permissão. O que marca o encontro com esse
motor de modificação da esfera física, é o sentimento de passividade.
Mas não somos tão estranhos aos mecanismos do relógio. Na narrativa, a
luta do homem é para domar a contingência. Narrar é um procedimento
gerador de sentido e arranjador da esfera temporal. É a narrativa que ata
o passado, o presente e o futuro. E ao criar esses elos, o narrador
inaugura essas dimensões de fato, dando sentido a elas, já que o passado é
o que não é mais, o futuro uma indefinição e o presente algo que está
sempre a escapar de maneira irrecuperável.
Narrando, o homem não apenas tenta estacionar os efeitos do tempo –
registrando e, assim, preservando a memória da comunidade ou de fatos
individuais de sua vida –, mas também reinventa o acontecido, projetando o
futuro ou remodelando o passado. A narrativa, portanto, está ligada por um
lado à memória e, por outro, à utopia, uma vez que reorganiza lembranças
ao mesmo tempo em que está carregada de uma noção fantasiosa ou idealizada
do vivido ou do imaginado.
Reorganização que tem um propósito estético. A narração mítica submete um
conteúdo caótico de imagens arquetípicas a um plano imagético não linear e
racionalizado, mas organizado como discurso. Ao narrar, o homem faz com
que haja um fluxo entre o meio em que vive e os devaneios de seu espírito.
O resultado é algo que transita entre o relato do acontecido e as imagens
que se formam no inconsciente, mantendo um equilíbrio entre o individual e
o que é de domínio da comunidade.
O mito é um tipo de narrativa que se propõe a outro modo de lidar com o
tempo. É o tempo arquetípico, de arché, origem, princípio formador de tudo
o que existe. Mas como narrar este antes, antes de quando nem sequer se
podia falar de tempo, pois o tempo mesmo ainda não tinha sido criado?
Tratar da criação do cosmos é debruçar-se sobre algo sem precedentes. É
tangenciar o buraco negro do caos sem cair dentro dele. É estar na beira
do precipício. Como dizer o que a filosofia e a matemática vieram um dia a
chamar de nada? A fala não autoriza este dizer.
Debruçar-se sobre o nascente é como estar bem no centro de um jogo de
espelhos. Quem criou tudo? Quem criou quem criou tudo? As imagens
refletem-se umas nas outras e apontam para um infinito entorpecedor. Não
se sabe se há uma progressão infinita ou uma regressão. À medida que a
distância avança, o olho não enquadra, não fixa, não enxerga. A sensação é
de abismo.
Os mitos são narrativas essencialmente religiosas, no sentido de re-ligar
o homem a uma outra esfera. Um além que não remonta aos seus antepassados,
mas ao que havia antes deles. Os mitos são histórias verdadeiras e
sagradas sobre o nascimento do cosmos - cosmos que pode ser um homem, uma
ilha, um comportamento ou o universo - graças à ação de seres
sobrenaturais. Acontecimento que teve origem no tempo primordial,
original, arquetípico, donde tudo provém [1] .
O homem sempre buscou mecanismos para explicar os começos. Mas, para o
pensamento mítico, entender a gênesis de algo não é apenas entender como
algo iniciou. É poder interferir positivamente, magicamente, na sua
existência presente. É poder fazê-lo ressurgir quando ameaçado com o mesmo
vigor inaugural. No mito, essa gramática dos começos não está disposta de
modo a recompor o passado para a compreensão do presente numa sucessão de
causa e efeito. O que se passou ab origine não é irreversível como versa a
História, mas está sempre se refazendo. No mito, o mundo é permanentemente
re-inaugurado. Cada escatologia equivale a uma nova gênesis.
A experiência com o sagrado permite ao homem o abandono da noção de tempo
profano, cronológico, irreversível. É o ingresso no tempo forte. No tempo
mítico, o presente não substitui o passado nem tampouco prenuncia o
futuro. Ritualizar é re-atualizar. O contato com o agora absoluto abole a
hierarquia das horas. E, se não há ontem nem amanhã, o momento é de
eternidade. Um eterno indefinidamente recuperável: circular. Um primeiro
preso no tempo presente para que não se desgaste com o correr das horas.
O homem mítico, ao contrário do homem moderno, não é fruto da História
Universal. Mas de algo que aconteceu neste tempo original. Ele caça,
procria, morre, anda sobre duas pernas, o sol se levanta, o arroz nasce
nas várzeas, porque, in illo tempore, assim aconteceu.
Hoje se sabe que não há fundamentos na idéia evolucionista que postula a
tese do homem ter passado de um estágio pré-lógico, dito simbólico ou
mitológico, para outro completamente racional. Os mitos não são respostas
que os povos “primitivos” davam ao mundo que os cercava e que carecia de
compreensão. Não se pretendia, com os mitos, explicar o mundo tal qual a
ciência moderna almeja. Não é por um defeito das faculdades mentais, uma
falha no conhecimento, que foram criadas as metáforas míticas, mas como
uma tentativa de se alcançar o transcendente.
Nas sociedades em que o mito ainda está vivo, distingue-se com clareza
entre as narrativas míticas e os outros tipos de narrativa. Estas relatam
situações ditas profanas, uma vez que não contribuem significativamente
com as atividades vitais da comunidade. O mito, ao contrário, está ligado
a temas como a vida e a morte, o renascimento, a reprodução sexual, a
alimentação, o plantio, a colheita, a criação de animais, as fases da
vida, mudança de status social e espiritual. O mito é uma história
verdadeira pois “só fala daquilo que realmente aconteceu, daquilo que se
manifestou plenamente”, diz Eliade. E exemplifica: “O mito é considerado
como uma história sagrada, e portanto uma história verdadeira porque se
refere sempre a realidades” (Eliade, 1989: 13). Ou seja, o mito
cosmogônico é verdadeiro porque o cosmos está aí para comprová-lo. A
mortalidade do homem prova que é verdadeiro o mito da origem da morte e
assim indefinidamente.
Ainda sobre a verdade no mito, Marcel Detienne diz que por relatar um
acontecimento que teve origem in illo tempore, há um distanciamento
essencial entre o narrado e o narrador, excluindo deste a responsabilidade
sobre o enunciado. O estatuto de verdade é garantido por haver uma
separação e independência entre a criação mítica e o ato de sua exposição.
Por lidar com uma verdade transcendente, não se pode, no mito, falar de
uma realidade empírica, mas de uma verdade prescritiva.
Segundo Detienne, o mito oferece não tanto um saber concreto, mas um
código que permite produzir saber a partir da observação e interpretação
do real (cf. Detienne, 1989: 96). Ele possibilita mecanismos de leitura
simbólica do real. Cada acontecimento insere-se numa estrutura
pré-existente, obedecendo a sua ordem constitutiva desde sempre, desde o
tempo ab initio. Os progressos da ciência, ao contrário, operam levando em
conta acontecimentos aberrantes que fogem dos paradigmas estabelecidos: o
logos lida com contradições e obscuridades para chegar ao conhecimento.
Para o mythos, o homem não é sujeito do conhecimento. Isso porque a
verdade é produzida de forma transcendente e divina, não cabendo ao homem
gerá-la, mas apenas reproduzi-la ritualmente.
Contudo, num certo momento, mito e logos se igualam, ao produzirem – é
verdade que de maneira antitética – não afirmações sobre os fenômenos do
mundo, mas sistemas de compreensão ou modelização do real. (cf. Detienne,
1989). Não se pode reduzir o mito a uma espécie de narração que
desestimula o homem a sentir-se agente de sua história e mero repetidor de
algo estabelecido sem o seu consentimento ou sua ação. Como, do mesmo
modo, seria uma atitude simplista dizer que o logos é um instrumento
“pobre” na descoberta de verdades transcendentais. Vale lembrar os avanços
da antropologia, biologia, física e matemática quando se puseram a
entender as narrativas míticas como sistemas lógicos de categorização do
real, capazes de relatar de forma metafórica o nascimento do cosmos ou de
lidar com temas complexos como, por exemplo, com a passagem entre a
natureza e a cultura, com suas intercessões e desdobramentos.
Mito não é mitologia. Sobre esta, incide o peso do discurso, da
explicação. A mitologia é um sistema de narrativas que tenta criar elos
lógicos (mythos logie) que assegurem coerência entre as imagens do mito.
Imagem mental primeira, os mitos não se propõem a dar lições de moral ou a
transmitir ensinamentos sociais, mas apenas a contar uma história. Nas
palavras de François-Bernard Mâche, ele se impõe "mais como uma alucinação
do que como uma significação.".(1991: 17). Alucinação pois os mitos estão
diretamente ligados aos arquétipos, falam mais diretamente do
comportamento espontâneo do inconsciente e assim são anteriores a todo
sistema mitológico em que repousam as categorias mentais de tipo racional.

Mitos são definidos como histórias exemplares, modelares. Narram a ação de
seres superiores e, ao serem ritualizados, revivem essa ação de forma a
oferecer um padrão de conduta à comunidade. Mas é o sentido de alucinação
evidenciado por Mâche; de numen (categoria que não pode ser definida, mas
tão somente vivida em profundidade e totalidade, anterior a qualquer
espécie de cognição) proposto por Otto; ou de verdade inaugural, no dizer
de Eliade, que queremos aqui por em relevo.
Vale dizer que Peirce, em nenhum momento, parece ter feito conjecturas
sobre as possíveis relações como as que aqui nos propomos a tecer entre
primeiridade e mito. Ainda assim, insistimos no tema por entender que a
primeiridade – sendo uma categoria fenomênica que está na base, que
inaugura a percepção – tem relações com a consciência mítica.
The ability to seize clouds
Charles Sanders Peirce (1839-1914) viveu no domínio da ciência
positivista, apogeu de idéias que nascem no século XVII com o advento da
Revolução Industrial, surgimento das cidades e esvaziamento do campo, e
que pregavam concepção mecanicista da natureza (natureza como máquina) e o
paradigma do cientificismo que exalta a razão em detrimento da fé. Ciência
centrada no homem como sujeito do conhecimento e na polaridade entre
matéria e mente, entre natureza e cultura.
Mas foi exatamente seu rompimento com essa ciência do tipo racionalista e
dual que, ao mesmo tempo em que o descredenciou em meio aos seus coevos, o
capacitou a construir um pensamento que veio a revolucionar a história do
conhecimento. Interessado em encontrar um elo entre as mais diversas
ciências, um método que fosse comum a todas elas, Peirce debruçou-se
durante anos sobre o estudo da Lógica. Lógica que, posteriormente, recebeu
o nome de semiótica [2].
Fundamentalmente anti-cartesiano, o pensamento de Peirce faz-se em torno
de tríades que estão em permanente movimento e numa sucessão
auto-gerativa, o que na esfera sígnica recebe o nome de semiose. Em termos
breves: semiose é ação do signo ou ação interpretativa ou inferencial a
partir do signo. Signo que, para Peirce, estrutura-se como representamen,
objeto e interpretante.
A sign, or representamen, is something which stands to somebody for
something in some respect or capacity. It addresses somebody, that
is, creates in the mind of that person an equivalent sign, or
perhaps a more developed sign. That sign which it creates I call the
interpretant of the first sign. The sign stands for something, its
object. It stands for that object, not in all respects, but in
reference to a sort of idea, which I have sometimes called the
ground of the representamen (CP 228).
É a semiose que faz com que o interpretante, aquilo que se forma na mente
do intérprete sobre o objeto a partir da mediação do signo ou
representamen, não se cristalize, mas se transforme em outro signo, que
por sua vez corresponderá a outro objeto, que por sua vez criará na mente
do intérprete outro signo e assim numa sucessão infinita. Por este motivo,
dá-se o nome de semiose infinita.
A percepção do continuum, do que está sempre em movimento, é o que faz com
que o pensamento de Peirce, sua lógica, seja uma lógica das indefinições,
das incertezas (teoria do falibilismo). Uma vez que um signo está aberto,
a sua interpretação é vaga. Repetindo as palavras do autor sobre o
representamen: “It stands for that object, not in all respects, but in
reference to a sort of Idea”. O signo representa apenas em parte o seu
objeto e, portanto, há uma indeterminação no signo que é “completada” pelo
intérprete. Sendo a semiose – processo que é complexo e infinito mas que
está na dependência de condições objetivamente reais – inseparável dessa
imprecisão, o conhecimento deve ser entendido como provisório, algo a ser
permanentemente submetido ao questionamento. Não existe verdade a priori.
O acaso intervém no que é lei.
Antes de adentrarmos mais especificamente na primeiridade, vale esclarecer
ainda outros pontos que definem o pensamento peirceano. Para Peirce,
inexiste a polaridade que opõe matéria de um lado e mente do outro.
Diferentemente de Agostinho, que postulava haver um universo dos signos e
outro das coisas, Peirce acreditava que o universo estava permeado de
signos se é que não fosse formado apenas por eles. (CP 5.448). Assim como
os signos e as idéias se espalham num continuum, também a mente assim
procede. Utilizando-se do termo grego synechismos, ele cria, assim, sua
teoria do sinequismo que afirma que o universo é uma unidade contínua, ou
seja, não há partes separadas ou limitadas. O universo está em expansão,
pois o que há são signos em crescimento. [3] É a doutrina do sinequismo
que assegura conectividade entre eventos aparentemente descontínuos [4] .
Para estudar os signos é preciso partir da própria experiência. A
fenomenologia ou phaneroscopia é a ciência que estuda os fenômenos.
Fenômenos no sentido grego de phaneron – tudo aquilo que aparece. Em suas
palavras: “Phenomenology ascertains and studies the kinds of elements
universally present in the phenomenon; meaning by the phenomenon, whatever
is present at any time to the mind in any way” (CP 1.186). Não importando
se se trata de algo real ou não. (“by the phaneron I mean the collective
total of all that is in any way or in any sense present to the mind, quite
regardless of whether it corresponds to any real thing or not” CP.
1.284.).
Estar aberto a tudo o que chega a nós, tudo o que está presente em nossa
mente antes de qualquer juízo ou interpretação, requer a habilidade de
perceber com os sentidos ainda não contaminados. Peirce entendia que a
primeira tarefa de um filósofo seria captar a essência do ato perceptivo.
Nada é mais aberto à observação do que os fenômenos. (CP 1.286). A
fenomenologia é a ciência que estuda as experiências cotidianas,
experiências a que cada um pode se submeter. Basta “abrir os olhos
mentais”, deixar-se aberto ao mundo como uma criança sedenta de
descobertas e livre de conceitos previamente estabelecidos.
Be it understood, then, that what we have to do, as students of
phenomenology, is simply to open our mental eyes and look well at
the phenomenon and say what are the characteristics that are never
wanting in it, whether that phenomenon be something that outward
experience forces upon our attention, or whether it be the wildest
of dreams, or whether it be the most abstract and general of the
conclusions of science. (CP 5.41)
Tarefa que é das mais difíceis, uma vez que exige uma consciência de certa
forma despoliciada, contemplativa: a habilidade de capturar nuvens.
It is a most difficult, perhaps the most difficult, of its tasks,
demanding very peculiar powers of thought, the ability to seize
clouds, vast and intangible, to set them in orderly array, to put
them through their exercises. (CP 1.280)
Mais uma vez, podemos verificar que o pensamento de Peirce organiza-se
sempre em tríades. Terceiro elemento que põe os outros em movimento. 1. A
habilidade de agarrar nuvens; 2. colocá-las em ordem, o que significa
distingui-las e 3 compô-las em processo. Em outro momento, Peirce discorre
sobre essas habilidades de forma mais incisiva:
The faculties which we must endeavor to gather for this work are
three. The first and foremost is that rare faculty, t he faculty of
seeing what stares one in the face, just as it presents itself,
unreplaced by any interpretation, unsophisticated by any allowance
for this or for that supposed modifying circumstance. This is the
faculty of the artist who sees for example the apparent colors of
nature as they appear. When the ground is covered by snow on which
the sun shines brightly except where shadows fall, if you ask any
ordinary man what its color appears to be, he will tell you white,
pure white, whiter in the sunlight, a little greyish in the shadow.
But that is not what is before his eyes that he is describing; it is
his theory of what ought to be seen. The artist will tell him that
the shadows are not grey but a dull blue and that the snow in the
sunshine is of a rich yellow. That artist's observational power is
what is most wanted in the study of phenomenology. (CP 5.42)
A exemplo de Aristóteles, Hegel e Kant, Peirce tenta estabelecer
categorias que possam dar conta da análise de todas as experiências
possíveis. Também chamada doutrina das categorias, a fenomenologia
peirceana, sustentada em tríades, postula que todos os fenômenos
existentes no Universo aparecem numa sucessão de três: 1)qualidade de
sentimento como presentidade, singularidade, totalidade; 2) conflito,
dualidade e 3) lei, processo, generalidade.
Peirce preocupava-se em suas categorias não serem confundidas com
categorias do tipo psicológicas [5] . Por isso ele toma emprestado termos
próximos da matemática e convenciona chamá-las primeiridade, secundidade e
terceiridade. Essas categorias são do tipo universal e estão presentes ao
mesmo tempo em todo e qualquer fenômeno.

Saber ver quando se vê
A secundidade é a categoria da binariedade, do conflito, do esforço e da
resistência, da força cega e bruta, da ação e reação, da causa e efeito. É
a intervenção do outro, da alteridade, do que me dá contornos, do que me
dá limites, do que se força contra mim. É a secundidade ou segundidade que
assegura a existência. Na terceiridade, esboça-se a primeira noção de
signo, de tríade, de semiose, de autogeração, pois a terceira categoria
refere-se ao processo, ao entendimento, à inteligência, ao movimento.
Estas categorias, como foi dito acima, são do tipo universal e ocorrem
concomitantemente em todo e qualquer fenômeno. Assim, não podemos dizer de
um fenômeno de primeiridade ou de secundidade ou de terceiridade; mas de
episódios com propensão à primeiridade, ou à secundidade ou à
terceiridade.
. . . Among phanerons there are certain qualities of feeling, such
as the color of magenta, the odor of attar, the sound of a railway
whistle, the taste of quinine, the quality of the emotion upon
contemplating a fine mathematical demonstration, the quality of
feeling of love, etc. I do not mean the sense of actually
experiencing these feelings, whether primarily or in any memory or
imagination. That is something that involves these qualities as an
element of it. But I mean the qualities themselves which, in
themselves, are mere may-bes, not necessarily realized. (CP 1.304)
A primeiridade é a categoria do poder ser. Poder ser não necessariamente
realizado. Na primeiridade, não podemos falar ainda de signo, mas de
qualidade de sentimento inanalisável, incomparável e indivisível.
By a feeling, I mean an instance of that kind of consciousness which
involves no analysis, comparison or any process whatsoever, nor
consists in whole or in part of any act by which one stretch of
consciousness is distinguished from another, which has its own
positive quality which consists in nothing else, and which is of
itself all that it is, however it may have been brought about; so
that if this feeling is present during a lapse of time, it is wholly
and equally present at every moment of that time. To reduce this
description to a simple definition, I will say that by a feeling I
mean an instance of that sort of element of consciousness which is
all that it is positively, in itself, regardless of anything else.
(CP 1.306)
É a mais evanescente das categorias. A simples tentativa de descrevê-la,
de defini-la, significa perdê-la. Uma vez deflagrada, é prontamente
engolida pela segundidade, pelo existente. A potência deve ser atualizada.
A primeiridade absoluta, estado despoliciado de mente, em que a
consciência não está alerta (segundidade) e dirigida a um fim
(terceiridade), seria um atentado à sobrevivência. Na primeiridade, o ego
é predominante e está espraiado em todas as coisas. Tudo sou eu, pois não
há ainda a presença do outro, do não-ego, a consciência dessa presença.
Contudo, podemos falar de instantes privilegiados de primeiridade.
Momentos de fruição, deleite, gozo, de contemplação, sem a interferência
incisiva da consciência [6] . Apropriado falar-se de êxtase, de transe, de
estágios em que a mente está alterada e se presta à contemplação livre de
prejulgamentos, percepção aberta, não automatizada. Como nos versos de
Fernando Pessoa:
“O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa”
No edifício filosófico construído por Peirce, a Semiótica sofre influência
direta da Fenomenologia. Assim, formam-se signos com maior pendor a um dos
estágios fenomenológicos. Na mais conhecida das tríades, a que se refere à
classificação sígnica de acordo com o objeto, temos como correspondente da
primeiridade o ícone [7] . O ícone é o signo da abstração, das artes, da
música e da matemática. É o signo do “parecer com”; mas uma semelhança
livre, destituída de uma lei que o obrigue a funcionar assim.
Eminentemente próximo da imaginação infantil, o ícone é o signo do
devaneio e está ligado à faculdade de ver desenhos nos nódulos de uma
madeira, ou acreditar que haja jacarés voando no céu em forma de nuvens,
ou ainda de realizar fantasmas nos lençóis estendidos no varal.
Idiossincrático como a própria primeiridade, o ícone puro simplesmente não
poderia existir, seria incomunicável. Ele depende não de uma convenção, de
uma lei, mas do simples ato de perceber livre de qualquer forma de
intencionalidade. Nas palavras de Pessoa: “Saber ver quando se vê”.
Na linguagem verbal, o ícone seria o signo das onomatopéias, das palavras
que por seu caráter fônico equivaleriam ao próprio objeto representado [8]
. Este é um exemplo em que ainda podemos perceber o ícone com forte
componente simbólico [9] , uma vez que toda palavra, mesmo que queira
aparentar-se estreitamente com o objeto que representa, depende de um
contexto cultural, de uma convenção.
No ícone puro (repetimos: apenas imaginável se tanto) o signo não tem a
intenção de representar o objeto. O signo quer ser o próprio objeto. Tomar
o lugar deste. Nas artes, temos movimentos como a poesia dadaísta que
tentava extrair de ritmos quase infantis, balbucios, estágios de uma mente
inconsciente. Também o vocabulário glossolálico das igrejas pentecostais,
em que os fiéis endereçam preces aos céus acreditando ser a linguagem dos
anjos ao repetirem sílabas randomicamente escolhidas a exaustão, é outro
exemplo.
O pensamento do tipo mítico tem uma ligação com a linguagem que muito se
assemelha ao ícone. A palavra edênica, quando Deus convidou os animais
para desfilarem em frente a Adão para que este lhes desse “os verdadeiros
nomes”. Palavra em que não havia fossos entre o que era dito e o que era
entendido. Palavra que era única, em que o homem tinha acesso ao mundo do
sobrenatural e do animalesco: o verbo que se estendia à comunicação com o
divino e com as bestas. É a palavra tabu, palavra evocativa: o que não se
pode pronunciar sob pena de trazer a tona ou macular. Os 999 nomes de
deus.
Para o pensamento mítico-religioso, o ato da nomeação é garantia de
determinados qualidades ou atributos. O nome próprio é manejado como
propriedade física, passível de ser usurpada. A linguagem é icônica pois
há uma verdadeira identidade entre nome e essência da coisa nomeada, entre
o som e o sentido. No mito, há uma aderência entre signo e objeto. O signo
não é tomado como signo, mas como a própria coisa representada.
Ernst Cassirerdiz que este vínculo que existe entre a consciência
lingüística e a mítico religiosa provém do fato de todas as estruturas
verbais aparecerem também como entidades míticas, em que a palavra
converte-se numa espécie de “potência primária, donde procede todo ser e
acontecer” (Cassirer, s/d: 58).
Debruçando-se sobre a natureza acústica da matéria, Marius Schneider, em
Le rôle de la musique dans la mythologie et des rites des civilizations
non européennes, diz que há um princípio sonoro presidindo a gênese
cósmica. Segundo ele, no momento em que o demiurgo manifesta sua vontade
de criar, ele emite um som: “expira, suspira, fala, canta, grita, ulula,
expectora, vomita, troveja ou toca um instrumento musical.". (Schneider,
1986: 132).
Anterior ao conflito, à idéia de causa e efeito, a primeiridade é a
categoria da totalidade. O mundo inteiro está ali, presente, naquele
momento, indivisível. Peirce fala de um estado monádico de sentimento:
Imagine me to make and in a slumberous condition to have a vague,
unobjectified, still less unsubjectified, sense of redness, or of
salt taste, or of an ache, or of grief or joy, or of a prolonged
musical note. That would be, as nearly as possible, a purely monadic
state of feeling. Now in order to convert that psychological or
logical conception into a metaphysical one, we must think of a
metaphysical monad as a pure nature, or quality, in itself without
parts or features, and without embodiment. Such is a pure monad. (CP
1.303)
O pensamento mítico compartilha desse estado monádico de consciência
descrito por Peirce. Diferentemente da consciência teórica, o mito não
decompõe o conteúdo da percepção em partes para submetê-las a comparações
entre si. Se o pensamento teórico fraciona o objeto, desloca-o de seu
contexto para lidar com abstrações, o pensar do tipo mítico é aprisionado
pelo mundo sensível, lida com a totalidade, com o que não pode ser
explicado ou apreciado em partes. Cassirer diz que “repousa sobre ele, só
sente e conhece sua imediata presença sensível, tão poderosa sobre ele que
tudo o mais desaparece” e completa: “para a pessoa que esteja sob o
encanto dessa intuição mítico-religiosa, é como se nela o mundo inteiro se
afundasse” (Cassirer, 1992: 52).
A gema, o rebento, a situação germinal. O pasmo inicial é o motor da
narração mítica. O primeiro homem, o primeiro som, o primeiro gesto, a
primeira palavra, a primeira chuva, a primeira morte. O momento fugaz em
que algo abandona o terreno da não existência para ser. O mito lida com
esse vir-a-ser. Não lhe interessa o estabelecido, o firmado, mas a
possibilidade, a passagem da potência para o ato.
O mito é um tipo especial de narrativa pois se ocupa da transição entre o
nada e o que há. À narrativa mítica interessa o devir. Devir não
necessariamente realizado. O mito quer agarrar o instante que foge
permanentemente. O momento nascituro, espécie de éter continuamente
capturado e envelhecido pela ação das horas, prontamente engolido pela
experiência. O broto traz em si o resíduo da memória de seus antecedentes,
o que o estabelece de antemão se dele nascerá um jacarandá ou um carvalho.
No mito, a narrativa se faz numa tentativa de romper com liames que
prendem o presente ao passado e ao futuro. O momento é o agora. A
ampulheta está deitada e como o desenho de uma lemniscata arrisca falar do
que se pretende presente infinitamente, presente absoluto.
Também na primeiridade não há o fluir do tempo. Tudo é presente. Se o
primeiro não conta com a intervenção do outro (other é no inglês arcaico o
termo para dizer second, segundo, de onde vem secundidade), outro que o
sucede, que dá a partida na roda do tempo, criando a idéia de diferença,
não há medida temporal. Também se inexiste a tríade, não há o fluxo, o
processo (terceiridade), não se pode falar de presente, passado e futuro.
O futuro não se anuncia. As ações não se dirigem a ele nem se pautam por
ele. Tampouco o passado emerge; não há experiência, memória, depósito. O
acontecimento, quando tem pendor para a primeiridade, rompe com a
previsibilidade. Não se pode deliberadamente produzir ou antecipar um
instante de primeiridade. Não podemos prever por quem vamos nos apaixonar.
Tampouco existem regras para a construção de uma verdadeira obra de arte.
O deleite estético, que pode ser obra de um movimento intelectivo,
intencional, não é por esse movimento totalmente explicado. Há o que se
chama insight, êxtase, epifania. Algo que surge, irrompe, aparece, e que é
de uma simplicidade desconcertante. Isso porque está sua essência da
primeiridade a liberdade.
“The free is that which has not another behind it, determining its
actions” diz Peirce (CP 1.302). Liberdade como sinônimo de acaso, já que
livre é o que não pode ser previsto ou criado intencionalmente. O que não
tem nada anterior a ele determinando suas ações, como diz o autor. Num
sistema, é a intervenção do acaso que gera a crise e a sua superação,
aumentando seu coeficiente de complexidade. Imaginemos uma mutação
genética espontânea no código genético de uma flor, de uma espiga de milho
ou de uma borboleta. Se a terceiridade é responsável pelo processo, pela
evolução, e a segundidade ocupa-se da reação, da resposta cega e bruta que
nos afasta do caos das indefinições, das potencialidades, é graças à
primeiridade que podemos ter a renovação do sistema. É a liberdade, o
acaso, que, desestabilizando o normativo, a lei, geram a diversidade.
Voltando às palavras de Peirce: “Freedom can only manifest itself in
unlimited and uncontrolled variety and multiplicity; and thus the first
becomes predominant in the ideas of measureless variety and multiplicity”.
(CP 1.302)
O mito, quando narra a irrupção do sagrado, quando se ocupa da desmedida,
do numen, do impronunciável, lida com o que não pode ser explicado pela
razão. Essa verdade buscada pelo homem religioso, verdade transcendente –
ou verdade prescritiva, como disse Detienne – re-significa a realidade. O
rompimento com a verdade dita “profana”, verdade de coisas averiguáveis
empiricamente, possibilita um aumento na complexidade do sistema. Assim
como a primeiridade, o mito cumpre um papel de inovação, de expansão das
formas de percepção do real. A arte, embrionariamente colada ao momento
perceptivo primeiro, à faculdade de “agarrar nuvens”, nasce do mito e a
ele sempre retorna, refazendo-o, re-inventando-o. É também do encontro com
o sagrado que surgem as idéias de um existir absoluto – idéias de
realidade, verdade e significação que mais tarde serão elaboradas e
sistematizadas pelas especulações metafísicas. A evolução da matemática e
da música nasce da possibilidade de lidar com campos ainda não
semantizados. Uma linguagem não de referentes, mas de ícones. O que abre o
campo de possibilidades perceptivas e combinatórias, como na poesia. A
geometria lida com formas não existentes no mundo natural. Da mesma forma
que a aritmética combina equações que ultrapassam a singularidade do
existente. A matéria não suportaria as divisões que são possíveis pelas
representações numéricas.
Primeiridade e mito andam juntos no processo de abertura da capacidade
perceptiva e expressiva. Lidam diretamente com o que a teoria da
informação chamou de ruído da comunicação, com essa interferência positiva
sem a qual não se poderia falar de diversidade, de novidade. A opera
aberta que, como lembra Umberto Eco, não diz respeito apenas às expressões
artísticas intencionalmente inacabadas a espera da interferência do
fruidor. Abertura que é a razão pela qual algumas obras não envelhecem,
não caducam. Primeiridade e mito são pontos de oxigenação de estruturas
cediças, promovem outras possibilidades de diálogo, de compreensão, de
fluxo entre natura e cultura, entre micro e macro, entre dentro e fora.
Restauram a percepção.
Narrativa, ensinamentos, memória de uma comunidade são características do
mito que o aproximam do que Peirce chamou de terceiridade. Ao lidar com os
pares feminino e masculino, vida e morte, com os ritmos circadianos, com
binariedades, ele se aproxima da secundidade. Nosso objetivo, neste
trabalho, não é negar essas intercessões. Mas tão somente destacar – mesmo
sabendo da dificuldade da empresa, dada a natureza fugidia, evanescente,
do tema – alguns aspectos da consciência mítica (que nos parecem,
inclusive, anterior aos outros tantos), que se avizinham da primeira
categoria fenomênica de Peirce.
Gabriela Reinaldo é doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia
Universidade de São Paulo. e-mail .
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Notas
[1] Sobre o conceito de mito ver Mircea Eliade, Aspectos do Mito e
Introduction à la Philosophie du mythe de Jamme Christoph.
[2] O capítulo “Tempo da Colheita”, do livro A assinatura das Coisas, de
Lúcia Santaella, descreve com pormenores o percurso de Peirce no estudo da
lógica.
[3] Segundo Gerson Tenório dos Santos, em sua tese de doutorado intitulada
A semiose do sagrado – uma abordagem complexa dos sistemas religiosos,
defendida no programa de Pós-Graduação em Comunicação e semiótica da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a doutrina do sinequismo de
Peirce se contrapõe a três tendências do pensamento humano existente em
sua época: o materialismo, o idealismo e o dualismo: “Assim, em
contraposição ao materialismo, para o qual a matéria é tudo, ao idealismo,
que advoga serem as idéias o absoluto, e o dualismo, que divide tudo em
dois, Peirce propõe, com o sinequismo, que não consideremos nada como
material ou idealmente absolutos ou divididos em esferas que não
dialoguem.”.
[4] As leis da natureza são hábitos introjetados no universo. A matéria
possui um grau de “atividade mental”, dizia Peirce descartando o conceito
de mente como exclusivamente humana. A matéria nada mais é do que a mente
amortecida pela estagnação dos hábitos que deixaram de se transformar,
repetindo-se assim com uma regularidade mecânica, cega, bruta.
[5] “... in various ways they have restricted the meaning of it too much
to cover my conception (if conception it can be called), besides giving a
psychological connotation to their word which I am careful to exclude”, CP
1.285
[6] Peirce utiliza-se da imagem de um lago sem fundo para falar da
consciência. A razão seria apenas a camada mais superficial dessas águas,
não o todo.
[7] Existem três níveis de iconicidade e seis sub-níveis. Não vamos tratar
aqui de todas estas nuanças icônicas. O que chamaremos de ícone é o
conceito mais geral e também o mais próximo do ícone puro: simples
qualidade de sentimento individual, inanalisável, possibilidade ainda não
realizada, anterior até mesmo à noção de insight.
[8] Vale lembrar ainda a importância dos ícones para a poesia concreta.
Suas experimentações lidam não somente com o corpo fônico das palavras,
mas com a imagem que elas formam na mancha do papel.
[9] Se o ícone é um signo de primeiridade, o símbolo pertence à
terceiridade. É o signo da convenção, da lei, da regra.

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Bibliografia
• CASSIRER, Ernst (1992). AntropologíaFilosófica - introducción a una
filosofía de la cultura. 14ª ed. México: Fondo de Cultura Económica,
• CASSIRER, Ernst (1992). Linguagem e mito. Trad. J. Guinsburg e Miriam
Schnaiderman. 3 ª ed. São Paulo: Perspectiva.
• DETIENNE, Marcel. (1989) Mito/Rito. On Enciclopédia Einaudi
Mythos/Logos, Sagrado/Profano. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
• Di NOLA, Alfonso (1989) Origens. On Enciclopédia Einaudi Mythos/Logos,
Sagrado/Profano. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
• ECO, Umberto (2000). Opera aperta – forma e indeterminazione nelle
poetiche contemporanee. Milano: Tascabili Bompiani.
• ELIADE, Mircea (1989). Aspectos do mito. Lisboa, Edições 70
(Perspectivas do Homem, 19).
• _____________. (1991) La nostalgie des origines: metodologie et histoire
des religions. Paris: Gallimard (Folio Essais; 164)
• _____________. (2002) O sagrado e o profano – a essência das religiões.
Lisboa: Edição Livros do Brasil.
• IBRI, Ivo Assad (1992). Kósmos No é tós - a arquitetura metafísica de
Charles Sanders Peirce . São Paulo: Perspectiva; Holon. (Coleção Estudos;
130).
• JAMME, Christoph (1995). Introduction à la Philosophie du mythe. Paris:
Vrin.
• MÂCHE, François-Bernard (1991). Musique, mythe, nature ou lês dauphins
d´Arion. Paris: Meridiens Klincksieck.
• OTTO, Rudolf (1992). O sagrado. Lisboa: Edições 70. (Perspectivas do
Homem, 41)
• PEIRCE, Charles Sanders. Collected Papers (Cd-rom)
• SANTAELLA, Lúcia (1992). A assinatura das coisas – Peirce e a
literatura. Rio de Janeiro: Imago.
• ________________ (1995). A teoria geral dos signos – semiose e
autogeração. São Paulo: Ática.
• ________________ (2002). Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning.
• SCHNEIDER, Marius (1986). Le rôle de la musique dans la mythologie et
des rites des civilizations non européennes. On Histoire de la musique 1 -
des origines à Jean-Sébastien Bach (sous la direction de Roland-Manoel.
Paris: Gallimard. (Encyclopedie de la Pleiade).

2007-03-19 12:54:00 · 8 respostas · perguntado por Marcio B 4

OITO(8) PERGUNTAS SOBRE AQUELE QUE SE DIZ SER DEUS.
Transcrevi do meu livro ATEU GRAÇAS A DEUS Se pus em minha página na internet o capítulo OITO DESCONCERTANTES PERGUNTAS SOBRE AS VERDADES DIVINAS:

Algumas pessoas me escreveram sobre elas. De todas, achei por bem publicar aqui uma que recebi em 3 de setembro 2002. Não faço menção do nome da pessoa, visto ter ela escrito para mim em particular.

O internauta escreveu o que segue abaixo, repetindo minhas perguntas e dando as respostas que achou adequadas, às quais seguem minhas considerações que lhe devolvi:

“Querido amigo, após fazer uma breve análise de suas indagações a cerca da veracidade da Bíblia e de nosso Deus, pude tentar responder as perguntas abaixo relacionadas. Mas saiba que a veracidade da Palavra de Deus é inegável, como também é impossível não crer que Deus criou todos os animais, plantas, homens e planetas, o que passa disso é relativismo humano, todas as leis científicas comprovam a existência de um Criador, além das maiores autoridades de nossa história que também atestam, o mundo em sua totalidade aclama e reconhece o Criador, a humanidade reconhece um Deus Único, não sejamos nenhum de nós a ter a infelicidade de levantar nenhuma hipótese irrelevante que contexte aquilo que o mundo jamais ousou e que se aproxima de nós a cada dia que passa. Boa leitura!

OITO DESCONCERTANTES PERGUNTAS SOBRE AS VERDADES DIVINAS
OITO DESCONCERTANTES RESPOSTAS PARA AS INDAGAÇÕES HUMANAS

Por que Deus falou com Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Davi e outros e não fala conosco?

Deus fala conosco sim, só que a diferença é que nós queremos muitas vezes ver da parte de Deus, grandes proezas, milagres, sinais e prodígios, quando a pergunta certa deveria ser: eu pago o preço ou busco me santificar como Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Davi e outros para que Deus possa falar comigo? Sem contar que naquela época eles não tinham recursos de leitura como temos hoje, ou seja, no livre de Hebreus, (vc deve sabe) está escrito que tudo o que ocorreu no passado foi para ser deixado como exemplo para nós, ou seja, conosco temos literatura que nos ilustra o passado, eles precisaram passar pela experiência, pois redigiram a literatura da época. De modo que na maioria dos casos basta buscar na palavra de Deus, só que se somos transgressores da palavra de Deus, como queremos que Deus fale face a face conosco, é realmente muita pretensão.

MIHA CONSIDERAÇÃO: Quando se crê em uma coisa, não faltam argumentos para justificar aquilo em que se acredita. Realmente a fé é a “certeza daquilo que se não vê”. Deus teria falado com um homem que foi capaz de matar seu súdito só para ficar com sua mulher, assim como outro que por mulher matou o próprio irmão. É bastante barbaridade da parte de homens de Deus, não é?!

2. Por que os milagres só acontecem muito distante de nós ou ocorreram em época muito remota?

Porque cada milagre segue um fim específico e único de glorificar a Deus e não pura e simplesmente para pasmar aquele que o observa ou participa dele. Os milagres sobretudo atendem ao propósito de Deus, sem dúvida numa sociedade onde se fala de Deus diariamente através de veículos de comunicação em massa como a Internet, jornais, revistas, a tv, etc., não há necessidade de milagres para convencer ou converter ninguém, mas se andarmos um pouco mais até a África, Índia e outros países afora, veremos que alguns milagres são tão constantes como no passado.

MINHA CONSIDERAÇÃO: Na minha infância, eu ouvia muitas pessoas afirmarem terem visto coisas sobrenaturais. Ao tentar ver tais coisas, verificava que não passava de coisas naturais interpretada de forma supersticiosa. Em uma sociedade muito atrasada, muitos fenômenos naturais são obras de seres sobrenaturais, e alguns milagres da fé, esses sim, ocorrem até com as pessoas que tomam remédios falsos quando se lhes diz que estão tomando o remédio verdadeiro. É o poder do pensamento positivo. Alguém já disse que “não importa qual seja o objeto de sua fé, se falso ou verdadeiro”, o poder está na fé. Mas essa história de que fulano ressuscitava os mortos, fulano transformava varas em cobras, etc. é coisa muito distante do nosso mundo.

3. Por que um deus bom (Salmos, 34:8), perfeito (Mateus, 5: 48) e justo (Salmos, 145: 17) "vinga a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração" (Deuteronômio, 5: 9)?

Isso é um princípio bíblico baseado na instituição patriarcal na qual toda comunidade judaica se baseia, mas sobretudo essa pergunta não deveria ser feita em questionamento a Deus, que sem dúvida é perfeito, mas deveria ser feita a nós. Seria justo que um homem odiasse a um Deus bom, perfeito e justo? Dt 5:9.

Na verdade tal homem seria passivo de morte, contudo Deus vinga o pecado (conseqüência da própria desobediência do homem), porém esse verbo deve ser mudado para vingou. Ezequiel 18:4, nos informa que este mandamento não existe mais a séculos. Além do mais a resposta para todas estas indagações está em Deuteronômio 30, leia o capítulo e entenderá porque o homem sofre tanto, uma simples palavra: desobediência.

MIHA CONSIDERAÇÃO: Exatamente isso, “instituição patriarcal na qual toda comunidade judaica se baseia”. O homem da época tinha um conceito muito tacanho de justiça, e assim era o seu deus. Ellen Gould White, com sua grande habilidade de adaptação das afirmações bíblicas, escreveu: "É inevitável que os filhos sofram as conseqüências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados. Dá-se, entretanto, em geral o caso de os filhos andarem nas pegadas de seus pais. Por herança e exemplo, os filhos se tornam participantes do pecado do pai. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração. Esta terrível verdade deveria ter uma força solene para restringir os homens de seguirem uma conduta de pecado". (Patriarcas e Profetas, p. 312).

Todavia, o registro de I Reis 11:34, 35 confirma a literalidade do segundo mandamento e refuta o argumento de E. G. White: "Todavia não tomarei da sua mão o reino todo; mas deixá-lo-ei governar por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, meu servo, a quem escolhi, o qual guardou os meus mandamentos e os meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino e to darei a ti, isto é, as dez tribos". Jeová estaria vingando a idolatria de Salomão no seu filho, nos termos do segundo preceito..

Resquício dessa justiça primitiva chegou até quase os nossos dias, atingindo os filhos e netos de Tiradentes. Seu julgador sentenciou: "declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real". Foi mais clemente do que o deus de Israel, injustiçando apenas os filhos e netos. Felizmente nossa atual Constituição, de modo diverso, afirma: "Nenhuma pena passará da pessoa do condenado".

Quanto a castigos, veja-se A INCONSISTÊNCIA DOS CHAMADOS CASTIGOS DIVINOS .

4. Por que Jeová, Deus criador de todas as coisas, não informou a Davi que o sol não "principia numa extremidade dos céus, e até a outra vai o seu percurso" (Salmos, 19: 4-6)?

Bem, na verdade Deus não informou muitas coisas não só a Davi como a muitos outros personagens bíblicos, mas na lógica isso foi baseado em fatos visuais, e além do mais o livro de Salmos não se propõe como um livro para tratar verdades históricas, o livro de salmos é um compendio de canções judaicas (hinário judeu) que foi disposto sob forma de livro, embora hajam profecias e outros termos, não é tecnicamente um livro para tratar de história. Por isso não foi revelado, pois não houve consulta direta para se escrever esta passagem, foi apenas inspiração visual na escrita de um cântico.

Segundo, para que a palavra de Deus não perdesse a sua integridade, pois foi inspirada em Deus, mas escrita pelos homens, logo contamos então com as características e particularidades de cada um, sendo assim se Deus revelasse toda a perfeição do universo e sabedoria através do homem, estaríamos diante de um Deus hipócrita, pois se Ele não contasse com as peculiaridades de cada um para escrever determinados trechos, então não estaria respeitando o homem, este seria simplesmente um mero escrivão e não peça principal no plano da salvação. O plano de escrita conta com a visão do universo na perspectiva do homem como ele a vê, e não segundo a perspectiva de Deus, pois se fosse sobre a dele, acho que dificilmente entenderíamos.

MIHA CONSIDERAÇÃO: Se você for analisar bem à luz da realidade, no final você irá admitir que toda a Bíblia foi escrita sob a perspectiva do homem. E estará certo, embora nela esteja escrito que não é de procedência humana, mas “homens falaram da parte de Deus, movidos pelo espírito santo” (II Pedro, 1: 21).

Quando Davi disse: “Não deixará minha alma no inferno, nem permitirá que seu santo veja corrupção”, isso serviu para os próprios apóstolos interpretarem que ele estivesse falando da ressurreição de Cristo, e muitos outros salmos foram utilizados como sendo profecias.
O uso de textos do Velho Testamento atribuindo-se-lhes sentido de previsão de coisas do Novo Testamento quando apenas eram relatados fatos sem qualquer ligação com os dos dias dos intérpretes começou com os evangelista. Veja-se O MESSIAS DE BELÉM NUNCA EXISTIU NEM PODERÁ EXISTIR
.

5. Por que Cristo disse que "as estrelas cairão do firmamento" (Mateus, 24:29)? Seria possível as estrelas do céu caírem "pela terra como a figueira, quando abalada por vento forte, lança seus figos verdes" (Apocalipse, 6:13)?

A não ser que estejamos falando de estrelas de outras galáxias, e até assim seria possível, em várias partes do mundo tem acontecido e até mesmo o Grand Kanyon nos EUA foi formado a partir de um meteorito (ou estrela) que chocou-se com a terra, no Colorado (EUA) preserva-se um exemplar de um meteoro (estrela) que caiu sobre a terra e causou uma cratera imensa, a força do projétil foi tão grande que a "estrela" ficou soterrada sobre vários metros de terra. A rachadura existente na Lua, foi provocada por um grande meteoro (estrela) de vários quilômetros de extensão que chocou-se contra ela. Quando a Bíblia descreve a queda das estrelas fala num nível pré-apocalíptico que antecede a grande tribulação, são eventos que claramente acontecerão independente de nossa vontade ou crença. Veja o que escreve um correspondente da NASA:

Em todos os textos a palavra grega usada para estrela é astera (asteróide). Estudando Apocalipse 8:7 encontramos a sugestão de que a tormenta vermelho-sangue aparecerá no céu antes de ser lançada na Terra. São registros na língua original do N. T. que dão força maior a crença de que o Final do Mundo será precedido da queda de um grande astro sobre a Terra.

Ap. Cap.6:12-13:"...Houve um grande terremoto; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua toda tornou-se como sangue e as estrelas do céu caíram sobre a terra..."

Cap. 8: 7-8 - "...e houve saraiva e fogo misturado...que foram lançados na Terra; e foi queimada a terça parte da terra, a terça parte das árvores, e toda a erva... e foi lançado no mar um grande monte ardendo em fogo..."

Jesus disse: "Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecerá o sol, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados" (Mateus 24:29)

A queda de um meteoro produzirá uma energia equivalente de 300 Gigatons de TNT, ou seja, 10 vezes maior do que todo o Arsenal Atômico disponível durante a guerra fria dos anos 60.

MIHA CONSIDERAÇÃO: Há algo a se observar sobre sua declaração “...a queda das estrelas fala num nível pré-apocalíptico que antecede a grande tribulação”. Essa contradição aparece também nas palavras de outros intérpretes. Está escrito que “logo após a tribulação daqueles dias o sol se escurecerá, a lua não dará a sua claridade e estrelas cairão do firmamento”. Não se pode falar de coisa que “antecede a grande tribulação” referindo-se àquilo que deveria vir “logo após a tribulação”. Ainda não entendi de onde tiraram essa inversão da ordem. Ademais, basta ler A ÚLTIMA SEMANA DE DANIEL – SETENTA SEMANAS, para ver que os escritores do Novo se deixaram claro que um “tempo de angústia tal qual nunca houve nem haverá jamais” teria início com o cerco e destruição de Jerusalém (Daniel, 12: 1); Mateus, 24: 15, 21; Lucas, 21: 20). Assim, não se pode mais esperar uma “grande tribulação”.

6. Por que os escritores bíblicos falam de "quatro cantos da terra" (Apocalipse, 7:1; 20:8), embora seja ela é redonda?

Porque hoje sabe-se que a terra é redonda, mas antigamente não havia estudo eficaz para se apurar o fato, aliás por volta do século XV os navegadores tinham medo de ir além do oriente ou explorar novas águas pois temiam que a terra fosse quadrada como imaginavam, pensando que então terminariam caindo num abismo. Além do mais o escritor poderia apenas estar se referindo aos quatro pontos cardeais (conhecidos há milênios) daí então os "quatro cantos" norte, sul, leste e oeste.

MIHA CONSIDERAÇÃO: Não é novidade o argumento de que “quatro cantos da terra” não significaria necessariamente uma terra quadrada, mas os quatro pontos cardeais.

No entanto, poderíamos perguntar onde ficaria o canto LESTE: No Japão? Não poderia ser, porque lá não é canto do mundo. Poder-se-ia até definir canto norte ou canto sul como sendo os pólos; todavia jamais se poderia encontrar canto leste ou oeste, porque, seguindo continuamente a leste ou a oeste, chega-se ao mesmo ponto.

Para tirar qualquer dúvida de que a visão cristã era de uma terra quadrada, veja-se o que foi dito pelo navegador Fernão de Magalhães:

“A igreja diz que a terra é quadrada, mas eu sei que ela é redonda, porque vi sua sombra na lua. Tenho mais fé em uma sombra do que na igreja.”

7. Por que as profecias se cumpriam no passado até determinada época, perdendo posteriormente os rumos da história?

As profecias pelo contrário ainda estão se cumprindo (Mt 24 - Mc 13), até o dia de hoje, e se por acaso imaginamos que algumas delas se perderam com o decorrer da história, talvez seja pura e simplesmente por falta de conhecimento (Mc 12:24). Além do mais a Bíblia não foi escrita em ordem cronológica de acontecimentos e além disso houve um período de 400 anos de silencio, onde o conhecimento humano não remonta nenhuma ocorrência Bíblica. As profecias porém, continuam se cumprindo. A narração bíblica dos fatos atuais é algo fascinante, num passado tão remoto não se tinha conhecimento disso, no entanto, tem acontecido dia a dia, e você diz que as profecias não estão se cumprindo??!

MIHA CONSIDERAÇÃO: é novamente necessário que se refira a mais um artigo: JESUS ANUNCIA O FIM DO MUNDO. Ali se vê claramente que os escritores do Novo Testamento não deixaram dúvida de que um “tempo de angústia tal qual nunca houve nem haverá jamais” teria início com o cerco e destruição de Jerusalém (Daniel, 12: 1), e o fim deveria vir “logo após a tribulação daqueles dias”, a qual, pelo tempo previsto, teria que terminar por volta do Século XIV. Assim, não posso admitir que as profecias estejam se cumprindo fielmente.

8. Por que a Bíblia informa que todas as coisas vieram a existir há mais ou menos seis mil anos, sendo criadas em um período literal de sete dias (tardes e manhãs - Gênesis, 1: 1-31; 2:1)?

Por que os nossos caminhos não são os caminhos de Deus e nem os nossos pensamentos seus pensamentos que são mais altos que os nossos, da mesma maneira mil anos para o Senhor é como um dia, e um dia como mil anos (II Pe 3:8), vemos que a notação temporal de Deus não corresponde a nossa, então como poderemos conhecer tão maravilhosa sabedoria e poder? Além do mais somente os cientistas criacionistas crêem na remontagem da história no máximo até 14.000 anos atrás e não em milhões, além do mais o teste de datação de carbono 14, não é específico e 100% confiável conforme demonstrou teste oficial e matéria comprovada divulgada pela Rede Globo de Televisão. A não ser que você queira contestar.

MIHA CONSIDERAÇÃO: Podemos até admitir que o método de datação não seja muito preciso. MAS, errar ao ponto de confundir alguns milênios com bilhões de ano já seria exagero extremo. Se as datações são precisas em relação a coisas conhecidas de quatro ou cinco mil anos, não há como imaginar que uma coisa de dez mil anos seja interpretada como tendo bilhões.

No final das contas, concluo que só mesmo uma fé realmente inabalável pode, diante de tantas evidências contrárias, persistirem aceitando incondicionalmente o divino.

2007-03-19 12:49:15 · 10 respostas · perguntado por Marcio B 4

2007-03-19 12:46:55 · 20 respostas · perguntado por ◘ Ysis ◘ 7

Presiso de fotos, imagens que exemplifiquem a cituação do Brasil e dos brasileiros nos anos 90. Como lançamentos tecnologicos, os carros da época, os meios de comunicação, as mudanças politicas e socio-culturais da época.E que sejam faceis de copiar para a montagem de uma apresentação em slides. Obrigada!

2007-03-19 12:45:29 · 2 respostas · perguntado por albino junior demartini 1

A placa na grama dizendo "NÃO PISE NA GRAMA", me diga, como colocaram ela lá?

2007-03-19 12:40:49 · 5 respostas · perguntado por Vivi R 3

O cidadão tem de ficar a mercê do PM, do PV, do ladrão, do menor, todos armados e só ele não?

2007-03-19 12:37:29 · 10 respostas · perguntado por Bugy 3

kkk...

2007-03-19 12:34:49 · 8 respostas · perguntado por Anonymous

É o livro que todos nós escrevemos juntos.
Entre vários neologismos, deixei registrados aqui alguns como: "Telepatolexia", "Burricismo", "Auto-Estrelificação" e "Encimadomurismo".
Vamos lá... dê a sua contribuição!
Ali se aceita de tudo mesmo. E todos nós somos co-autores.
KKkkkKkkK!!!

2007-03-19 12:20:08 · 8 respostas · perguntado por Anonymous

Urgente

2007-03-19 12:07:54 · 2 respostas · perguntado por Taís A 1

Já se fala que o dinheiro não é solução. Decerto viu o esvoaçar das notas pelas ruas do Iraque ...numa dada situação o dinheiro de qualquer país poderá valer zero. Que tal voltarmos à troca direita sem riscos e sem ganância? Ou... Vamos pensar em soluções? Vamos contribuir para um mundo menos materialista?

2007-03-19 12:02:40 · 6 respostas · perguntado por Maria da Silva 1

2007-03-19 12:02:27 · 27 respostas · perguntado por emiliodijian1 2

2007-03-19 11:38:03 · 12 respostas · perguntado por junin_guaira 1

Tudo isto e muito mais, estão assolando o mundo, e prometendo piorar a cada ano. Diante de tantos problemas presentes e futuros, vale preocupar-se com CRIAÇÃO OU EVOLUÇÃO, DEUS OU O DIABO, CEU OU INFERNO, ou com a sobrevivencia no futuro, que promete ser uma luta intensa e individualista, pela sobrevivencia?

2007-03-19 11:24:57 · 3 respostas · perguntado por Firmino 4

Jornal ou a revista?

2007-03-19 11:14:55 · 12 respostas · perguntado por Raphael M 6

Como você trataria alguem a quem todas as pessoas ao redor chamam ela de doido por tras( quando não é dito na frente dela) só por causa do seu jeito?Alguem, que alias é frequentemente vista como alvo de gozação e chacota e, também, além disso, alvo sempre de desconfiança da maluquice que é capaz de fazer com os outros.

2007-03-19 11:12:56 · 12 respostas · perguntado por Renan 2

2007-03-19 11:06:49 · 12 respostas · perguntado por Boca dura 4

2007-03-19 10:45:35 · 4 respostas · perguntado por marinaldo c 1

Alguém do Rio interessada em ter um ESCRAVO PESSOAL?
Um CAPACHO. Se sim, me avise; pois estou a procura de DONA.
Não se trata de escravo sexual! Serei escravo para realizar todas as ordens, limpeza, serviços diverços. Aceito xingamentos e punições, humilhaçoes tipo faxinas, limpar as solas dos pés com a língua, ser assento e tudo que te der vontade. A IMAGINAÇÂO é o LIMITE e terei total prazer em ser teu total capacho, obediente somente a tuas ordens e complacente aos teus prazeres. Serei o ser te dará prazer em ser abusado.
Satisfação garantida!!! rsss
Me contactem

2007-03-19 10:27:43 · 2 respostas · perguntado por escravo carioca 1

A obra de Leonardo da Vinci,; aquela figura humana c/ 4 bracos, tornou-se símbolo de que? Alguem poderia me informar? Eu sei q. é símbolo de alguma coisa pq. já ví várias vezes mas nao consegui descobrir de que...alguem já me disse mas nao consigo lembrar.

2007-03-19 09:59:54 · 8 respostas · perguntado por Anonymous

2007-03-19 09:38:03 · 7 respostas · perguntado por bellissima 1

2007-03-19 09:30:56 · 9 respostas · perguntado por emiliodijian1 2

Será que o diretor nunca leu a Biblia?

2007-03-19 09:26:02 · 14 respostas · perguntado por Milico 3

Cds originais custa entre R$ 15,00 a R$ 40,00. acho isso absurdo, pois a maioria dos brasileiros não ganho isso por dia.
Acho que a melhor maneira de acabar com a pirataria é baixar os preços dos originais.
Ninguém compra pirata poque gosta, compra pois não tem condições de comprar original.

2007-03-19 09:22:22 · 9 respostas · perguntado por Milico 3

2007-03-19 09:17:20 · 23 respostas · perguntado por Mei 3

2007-03-19 09:10:13 · 4 respostas · perguntado por Reginaldo- SKILLO 4

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