João Pereira Coutinho, colunista da Folha de S.Paulo, conta que “as mulheres brasileiras fizeram mais por Portugal do que séculos e séculos de permutas acadêmicas, literárias, culturais. Tempos houve em que "beleza" e "mulher portuguesa" não rimavam na mesma frase. A visão de uma mulher bonita tinha o impacto de um marciano que subitamente aterrava no fundo do quintal. Era um acontecimento. O resto era desolador. Rostos fechados. Pernas também. E o clássico bigode, que crescia por desleixo. Tudo mudou. Milhares de brasileiros cruzaram o Atlântico. Milhares de brasileiras também. As ruas de Lisboa e do Porto foram inundadas por um certo calor tropical que deixou os homens assustados e maravilhados em partes iguais. Foi a nossa passagem do cinema mudo para o sonoro. Do preto e branco para a cor genuína. Claro que a chegada em massa de brasileiras em massa não contentou as próprias mulheres lusitanas, subitamente jogadas nas cordas da concorrência internacional. Mas a concorrência tende a melhorar o produto para alegria geral dos consumidores. E o produto foi melhorado pela "mão invisível" da competição hormonal. As portuguesas deixaram que o jardineiro entrasse lá em casa, com tesoura de poda, pronto para cortar a grama florestal. Subiram-se saias. Desceram-se decotes. Os portugueses descobriam, atônitos, que as suas mulheres também tinham formas de mulheres. Hoje, difícil em Portugal é não encontrar uma mulher bonita. Obrigado, Brasil. Um dia alguém irá escrever essa história: a história de como as mulheres brasileiras, cinco séculos depois de Cabral, descobriram, finalmente, Portugal. E de como os portugueses descobriram também as mulheres indígenas que tinham em casa. Sim, essas mulheres. Sim, as nossas mulheres: injustamente perdidas e escondidas na floresta amazônica da frigidez secular”.
2006-10-16
13:37:06
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zeca do trombone
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