EVOLUCIONISMO E FILOSOFIA
A ingenuidade geométrica de alguns "cientistas" chega ao absurdo de imaginar que o evolucio.ismo darwiniano é um posicionamento puramente científico, sem nenhuma relação com a história, com a filosofia ou com a religião. Eles imaginam que o evolucionismo surgiu apenas, e tão só, dos estudos científicos de Darwin e de seus seguidores, todos hermeticamente isolados em seus laboratórios, profilaticamente preservados de qualquer contágio metafísico ou teológico.
Separando, deste modo, o darwinismo de seu contexto histórico e cultural, eles ficam impossibilitados de ter verdadeira compreensão do problema e de seu significado histórico.
Na verdade, o evolucionismo é um capítulo inserido na História da Filosofia e na História da Religião, no Ocidente. Ele só pode ser verdadeiramente entendido em seu contexto cultural.
“(...) o pensamento evolucionista de Darwin não era uma simples hipótese científica que ocorreu para combater idéias religiosas admitidas em certas questões de fato. Era, antes, o produto e, uma parte essencial, de uma Weltanschauung -- uma visão do mundo -- proximamente ligada à produção da revolução industrial e às revoluções políticas, principalmente à Revolução Francesa, estes grandes acontecimentos históricos desenrolados entre os anos 1776 e 1848”. (Howard E. Gruber, op. cit. p. 47). Portanto, o darwinismo só pode ser entendido como parte de uma “visão do mundo” -- de uma Weltanschauung -- e de uma Weltanschauung revolucionária.
O próprio Darwin, em sua Autobiografia confessa que foi ao ler uma obra de Malthus sobre população que teve a idéia da seleção natural, através da luta pela sobrevivência, a qual faria sempre o mais fraco ser eliminado.
Stephan Jay Gould, defensor de um evolucionismo reformado, citando os últimos estudos de Howard E. Gruber e Silvan S. Schweber sobre a vida de Darwin mostra como o fundador do evolucionismo moderno não se fundamentou na biologia para estabelecer sua teoria.
"Ao ler o relato pormenorizado de Schweber dos momentos que precederam a formulação da teoria da seleção natural por Darwin, fui particularmente tocado pela ausência de influências decisivas a partir de seu próprio campo, a biologia. Os precursores imediatos foram um cientista social [Comte], um economista [Adam Smith] e um estatístico [Adolph Quetelet]" (S. Jay Gould, O polegar do Panda, p.55).
Jay Gould diz que a obra de Schweber demonstra que "as peças finais [da teoria da evolução de Darwin] não surgiram a partir de novos fatos da história natural, mas das incursões intelectuais de Darwin em campos distantes. Ao ler uma extensa revisão do "Cours de Philosophie positive -- o trabalho mais famoso do filósofo [Sic!] e cientista natural [Sic!] Augusto Comte -- Darwin ficou particularmente impressionado com a insistência do autor em que uma teoria adequada deve ser profética [Sic!] e, no mínimo, potencialmente quantitativa" ( S. Jay Gould, O polegar do panda, p. 55)
"De fato, acredito que a teoria da seleção natural deveria ser vista como uma analogia ampliada - se consciente ou inconsciente da parte de Darwin, não sei -- à economia de do laissez-faire, de Adam Smith" (Jay Gould, op. cit. p. 55).
E mais:
"A teoria da seleção natural constitui uma transferência criativa, para a biologia, do argumento básico de Adam Smith a favor de uma economia racional: o equilíbrio e a ordem da natureza não surgem de um controle externo mais elevado (divino) ou da existência de leis operando diretamente sobre o todo, mas sim a partir da luta entre indivíduos pelos seus próprios benefícios" (em termos modernos, pela transmissão de seus genes a gerações futuras através do êxito diferencial na reprodução). (Jay Gould, op. cit. p. 56).
Jay Gould procura minimizar a surpresa -- ou o espanto gerado por sua afirmativa -- de que a teoria da evolução não se fundamentou, inicialmente, em descobertas biológicas, dizendo:
"Muitas pessoas se sentem perturbadas ao ouvir um tal argumento: não compromete a integridade da ciência o fato de algumas de suas conclusões primárias se originarem, por analogias, da política e da cultura contemporâneas, em vez de se basearem nos dados da própria disciplina" (Jay Gould, op. cit. p. 56).
Tais fatos são comprometedores, sim, na medida em que o evolucionismo tem sido sistematicamente apresentado como uma teoria puramente científica e biológica, quando, na verdade, não é
2007-03-07
22:19:08
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Anonymous