El Bigode Cantante ;
BIENVENIDO
© by Antonio Marrocos
Quem entrava era meu amigo Rubens Parada. Cidadão de Porto Velho, nascido em Guyaramerin, Bolívia. Em "La Banda", como dizíamos antigamente. Conversamos sobre amenidades, acontecências da cidade, ultimamente tão avara em novidades. Culpa da tal de economia!
Trazia seu mais recente CD, "Rubens Parada Interpreta Bienvenido Granda", para que o conhecesse.
- Obrigado, Rubens! Estou certo de que está ótimo.
O título trouxe lembranças antigas e falamos delas.
- Sabes, Rubens, quando garoto, em PV (já lá se vão quatro décadas) tínhamos poucos ídolos. Além de alguns dos grandes nomes do cinema americano (um pouco mais novo, ficara muito surpreso com a notícia da morte verdadeira de um cowboy dos filmes de faroeste. Como era possível?); os craques do futebol, como Pelé, Garrincha, Ademir e outros; e alguns "monstros" da música latina, como Nelson Gonçalves e Bienvenido,<<<<<<<<<<<<< El Bigode Cantante Granda>>>>>>>>>>>. Eram para nós (talvez só possa falar por mim), seres quase míticos. Apenas podiam ser admirados, nunca vistos, menos ainda, tocados.
Falamos sobre esses e outros grandes nomes da época. Miguel Aceves Mejia, ele encontrara um dia, por acaso, caminhando pela Cidade do México. Como uma recordação puxa outra e solta a língua, passei a falar sobre algo guardado na minha caixinha de segredos de curumin.
Naquele início dos anos 60, Porto Velho era como uma ilha. Esta é uma imagem que sempre me vem quando penso naqueles tempos. Uma pequena e pobre cidade de 25.000 habitantes, no centro da floresta virgem, então quase indevassada. Era chamada de "Inferno Verde", enquanto a maior conscientização em relação à ecologia e importância das florestas não tornava a expressão politicamente incorreta. Nenhuma rodovia ligando-a a qualquer outra cidade. Não mais que dois ou três pousos comerciais por semana na pista de terra do Aeroporto do Caiarí. A histórica ferrovia Madeira-Mamoré, razão da criação da cidade há (então) menos de 50 anos, operava precariamente numa viagem de dois dias pelos seus 366 km, até Guajará Mirim. O Madeira sim, era soberano. Pelo grande Rio Madeira, mesmo que em lentas e demoradas viagens, podiam-se alcançar as mais longínquas fronteiras. Era como nosso istmo, para alcançar continentes.
- Por isso, quando foi anunciado que em poucos dias Bienvenido estaria cantando, numa audiência pública e gratuita, nas escadarias do Porto Velho Hotel, quase não acreditei. Ocorreu-me ser uma brincadeira de quem nada tinha o que dizer.
- Brincadeira! Bienvenido Granda em Porto Velho ? Talvez, então, não fosse tão grande quanto eu acreditava. Se não, como explicar vir até aqui no nosso querido fim de mundo e, cantar praticamente na rua ?
Entre incrédulo, algo decepcionado e, por que não dizer, esperançoso, aguardei o dia anunciado. Naquela noite (não consigo lembrar o dia da semana), lá estava eu, na escadaria, ouvindo com enorme alegria os acordes de Angustia, ...... . Foi uma noite inesquecível!
Disse-me ele então, que Bienvenido aqui estivera naquela data devido a problemas políticos resultantes da revolução socialista na ilha de Cuba, sua pátria. Percorria então toda a América Latina. De qualquer modo, o motivo é irrelevante.
Essa questão, para mim confusa, se os ídolos tinham de fato a estatura quase mítica que lhes atribuía, ou não, esteve presente comigo até quando minha família mudou-se para o Rio de Janeiro, e as coisas do mundo então adquiriram outra dimensão, outra verdade.
- Sabes, Rubens. Embora hoje a música de Tom Jobim me toque muito mais fundo, ouvi com prazer e, alguma saudade, os boleros que voce interpretou com a habitual emoção.
Nota : Parabens pelo site Mauricio;valeu.
Abraços
2007-05-31 15:05:10
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answer #1
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answered by Paulo 7
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