A Primeira Cruzada (1096-1099) foi também chamada de Cruzada dos Nobres, dos Cavaleiros ou dos Barões, pois nenhum rei dela participou.
O Concílio de Clermont, inaugurado pelo Papa Urbano II em novembro de 1095, incluiu entre suas decisões a de conceder o perdão de todos os pecados - isto é, a indulgência plena - aos que fossem ao Oriente para defender os peregrinos, cujas viagens tornavam-se cada vez mais perigosas. A repercussão popular da medida tornou-se patente quando o papa, ao anunciá-la, foi aclamado por uma multidão. Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os pagãos (maior parte constituída por muçulmanos), o Papa Urbano II estava a criar um novo ciclo. Com a campanha "salvação a todos os mortos em combate contra os infiéis", o Papa não estava só garantindo um grande exército, mas também um novo foco bélico às forças que se batiam em lutas internas perturbando a paz na Europa.
A Cruzada foi provocada pela ascensão ao poder dos turcos seljúcidas, que interferiram na tradicional peregrinação a Jerusalém. É certo que a ideia não era totalmente nova: parece que já no século IX se declarara que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na Itália mereciam a salvação. Mas desta a salvação não era prometida numa situação excepcional. As várias versões que nos restam do seu apelo mostram que Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem distinção, pobres ou ricos.
Ao grito de "Deus o quer", que logo se propagou pela Europa, numerosos europeus de todas as camadas sociais vestiram um uniforme que ostentava uma grande cruz e que deu o nome aos guerreiros. O entusiasmo foi de tal ordem que muitos venderam ou hipotecaram todos os seus bens para obter as armas e o [dinheiro]] necessários. Os exércitos da nobreza e o povo comum procedente da França, do sul da Itália e das regiões da Lorena, Borgonha e Flandres participaram dessa empreitada, mas os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
A CRUZADA DO POVO
As camadas mais humildes da população criaram sua própria força, a chamada cruzada do povo, que, formada em torno do pregador Pedro, o Eremita, atravessou a Hungria e a Bulgária, provocando a sua passagem grandes abusos e desordens. Dizimados em parte pelos búlgaros, esses cruzados foram expulsos de Constantinopla em 1096 e acabaram sendo aniquilados pelos turcos. Outros grupos, sobretudo alemães, que se aproveitaram da expedição para massacrar judeus, sequer obtiveram permissão para atravessar as fronteiras bizantinas.
A CRUZADA DOS NOBRES (1096 - 1099)
Em termos de exércitos organizados, existiam quatro grupos. Um sob o comando do conde Hugo de Vermandois, irmão do rei francês Filipe I, que partiu em 1096. Parte deste grupo naufragou no Adriático, enquanto os restantes, que viajavam por terra, comandados por Godofredo de Bulhão, duque da Baixa Lorena, e por seus irmãos Eustáquio e Balduíno, atingiram Constantinopla em fins de Dezembro. Para financiar sua participação na cruzada, Godofredo vendera seu castelo - o que prova que não pretendia voltar para casa.
O segundo grupo era comandado por Boemundo de Tarento, normando do Sul de Itália, velho inimigo de Bizâncio. Chega a Constantinopla em Abril de 1097. O mais numeroso dos exércitos era o de Raimundo de Saint-Gilles (Raimundo de Tolosa), conde de Toulouse, acompanhado de Ademar de Monteil, legado do Papa e bispo de Puy. Chegaram a Constantinopla, po terra, em Abril do mesmo ano, depois de percorrer a região bizantina da Dalmácia (atual costa croata).
O quarto e último contingente estva sob as ordens de Roberto da Flandres, com quem iam Roberto da Normandia, irmão do rei inglês Guilherme II, o ruívo, e Estêvão de Blois, neto de Guilherme I, o Conquistador. Esse exército cruzou o Adriático saindo de Brindisi e chegou também à capital bizantina.
Ao todo, reúnem-se, em 1097, perto de 300 mil cruzados em Constantinopla, sendo cerca de quatro mil cavaleiros e aproximadamente 25 mil soldados à pé. Concordam todos em tomar a Palestina aos Turcos e depois devolver os seus territórios ao imperador bizantino, autor desta exigência.
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Os cruzados, em Constantinopla, reuniram-se sob o comando de Godofredo de Bulhão. O imperador Aleixo Commeno forneceu-lhes navios para passarem o estreito. Em abril de 1097, os cruzados atravessaram o estreito de Bósforo (que separa a Europa da Ásia) sem encontrar resistência. O governante muçulmano, o sultão turco Kilij Arslan, iludido pela facilidade com que havia derrotado os pobres cruzados do Eremita, estava mais preocupado com disputas internas com vizinhos muçulmanos do que com a chegada de um novo contingente de cristãos. Como o sultão iria perceber apenas tarde demais, esse seria o maior erro de sua vida. A cruzada dos cavaleiros possuia recursos, mas progredia devagar. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. O acordo com os bizântinos de devolver-lhes os territórios conquistados seria desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria. Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente enquadrados ao qual se pagasse o soldo e que obedecesse às ordens - não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos, depois de tantos sacrifícios a entregar o que obtinham. Apesar da animosidade entre os líderes e das promessas quebradas entre os cruzados e os bizantinos que os ajudavam, a Cruzada prosseguiu. Os turcos estavam simplesmente desorganizados. A cavalaria pesada e infantaria francas não tinham experiência em lutar contra a cavalaria leve e arqueiros arábes, e vice versa. A resistência e a força dos cavaleiros venceram a campanha em uma série de vitórias, a maioria muito difíceis.
Em 19 de Junho de 1097, os cruzados cercaram e tomaram Nicéia, devolvendo-a aos bizantinos, e logo tomaram o rumo de Antioquia. Em julho, foram atacados pelos turcos em Doriléia, mas conseguiram vencê-los e, após penosa marcha, chegaram aos arredores de Antioquia em 20 de outubro. Diante da resistência dessa grande cidade, protegida por imponentes muralhas e muito bem defendida, muitos cavaleiros cristãos esmoreceram. A cidade somente cairá a 3 de Junho de 1098, com a ajuda de um sentinela armênio que facilitou a entrada dos cruzados nas muralhas da cidade (os armênios eram um povo cristão subjugado pelos muçulmanos). Uma vez dentro de Antióquia, efetuou-se o extermínio da sua população islâmica e um saque terrível.
Em 28 do mesmo mês, os cristãos travaram uma longa batalha contra o general turco Karbuga de Mosul e venceram, mas uma peste mortífera dizimou as fileiras e empanou essa vitória. A peste, contudo, não os impedirá de marchar sobre Jerusalém, agora em poder dos califas fatímidas do Cairo. O exército cristão ficara reduzido a cerca de 1.200/1.500 cavaleiros e 12.000 soldados, carentes de armas e provisões. Em 7 de junho de 1099, acamparam perto da cidade santa e em 15 de julho (uma sexta-feira santa) Godofredo de Bouillon tomou um setor das muralhas e conseguiu abrir uma de suas portas. Neste mesmo ano, conseguem tomar Jerusalém. A repressão fora violenta. Os árabes que encontraram no pátio da Grande Mesquita foram exterminados à espadaços e à lançadas. Aos judeus coube um destino pior, queimaram-nos vivos. Mataram inclusive os animais domésticos. Pouparam apenas a vida do governador egípcio Iftikhar ad-Dawla, e dos seus guardas, a quem Raymond de Saint-Gilles, um cavaleiro de cabelos brancos, que "desdenhava ser cruel com os fracos", jurara proteção. Até hoje os historiadores embaraçam-se com o número das vítimas que os cristão fizeram em Jerusalém. Oscilam entre 6 mil a 40 mil mortos. Segundo o arcebispo Guilerme de Tiro, a cidade oferecia tal espetáculo, tal carnificina de inimigos, tal derramamento de sangue que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.
Os cristãos humilharam-se após as duas conquistas massacrando muito dos residentes, indiferentemente da idade, fé ou sexo.
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Ao contrário da maioria dos cruzados, Godofredo de Bulhão decidiu permanecer na Palestina com 300 homens, mas não aceitou a coroa que lhe ofereceram. Ficou só com o título de protetor ("Defensor e Barão do Santo Sepulcro"). Á sua morte, Balduíno, seu irmão, proclamou-se rei (novembro de 1100), inaugurando-se assim o primeiro dos reinos cristãos que se instalariam na Terra Santa em conseqüência das cruzadas.
ORGANIZANDO A CONQUISTA
Surgiram quatro unidades políticas. Ao sul, o mais importante, o Reino Latino de Jerusalém. Um pouco acima estavam o Condado de Edessa (na Alta Mesopotâmia, o Condado de Trípoli e o Principao de Antioquia. Dos quatro estados que surgiram, o maior e mais poderoso foi o Reino de Jerusalém. Os chefes desses Estados logo perceberam que a permanência lá não seria fácil. Balduíno foi nomeado conde de Edessa e Bohemundo,o chefe dos normandos, governante de Antioquia.
A maioria dos combatentes cruzados regressou à Europa uma vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), permanecendo uma pequena tropa de reserva da força original para organizar e estabelecer o governo e o controle latino (ou europeu ocidental) sobre os territórios conquistados (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protegê-los. O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes, em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa). As cidades mercantis italianas vão-se tornar fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanas, tornando o Mediterrâneo novamente um mar navegável pelos ocidentais. Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
As conquistas da primeira Cruzada se deveram em grande parte ao isolamento e à fraqueza relativa dos muçulmanos. Contudo, a geração posterior a essa Cruzada contemplou o início da reunificação muçulmana no Oriente Médio sob a liderança de Imad al-Din Zangi.
MANTENDO A CONQUISTA
De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para oriente. Os contingentes seguiam por nacionalidades, continuando pouco organizados. As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que "apenas" pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.
Durante o meio século seguinte, apesar dos reforços que incluíam frotas de Génova, da Noruega e de Veneza, os cristãos que se encontravam na Síria foram muito pressionados.
Os governantes cristãos logo perderam o apoio dos bizantinos, porque se recusavam a reconhecer a soberania do Império na região e não haviam demonstrado nenhum escrúpulo em substituir os patriarcas da Igreja Ortodoxa Bizantina por bispos oriundos da Igreja Católica Romana. Para piorar, não havia soldados suficientes para a formação de grandes exércitos.
Os governantes cruzados encontravam-se em grande desvantagem númérica em realção às populações muçulmanas que eles tentavam controlar, então, construíram castelos e contrataram tropas mercenárias para mantê-las sob controle. A cultura e a religião dos francos era muito estranha para cativar os residentes da região. Dos seguros castelos, os cruzados interceptavam cavaleiros árabes. Por aproximadamente um século, os dois lados mantiveram um clássico conflito de guerrilha. Os cavaleiros francos eram muito fortes, mas lentos. Os árabes não aguentavam um ataque da cavalaria pesada, mas podiam cavalgar em circulo em volta dela, na esperança de incapacitar as unidades dos francos e fazer emboscadas no deserto. Os reinos cruzados localizavam-se, em sua maioria, no litoral, pelo qual eles podiam receber suprimentos e reforços, mas as constantes incursões e o infeliz populacho mostravam que eles não eram um sucesso econômico.
Ordens de monges cavaleiros foram formadas para lutar pelas terras sagradas. Os hospitalários (1113) e os cavaleiros templários (1118) eram, em sua maioria, francos. Os cavaleiros teotônicos eram alemães. Esses eram os mais bravios e determinados dos cruzados, mas nunca eram suficientes para fazer a região ficar segura.
Os reinos cruzados sobreviveram por um tempo, em parte porque aprenderam a negociar, conciliar e jogar os diferentes grupos árabes uns contra os outros.
Por volta do ano 1100, uma nova expedição parte. Chegados a Constantinopla levantam-se discussões com os bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos incómodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além das diferenças culturais e religiosas). Entretanto, os turcos estavam a unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça. Evitando combates diretos até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de emboscadas. Em Mersivan, esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram). Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Alexius imperador de Bizâncio por não ter dado apoio.
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Outro grupo, o exército de Nivernais, também foi destruído de forma similar (com fuga de líderes incluída). A expedição da Aquitânia portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a combater e morrer junto com o povo. Alguns poucos conseguiram fugir para Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o pequeno exército de Jerusalém (com o membros da Primeira Cruzada) derrotava um exército egípcio. Edessa perdeu-se em 1144. Depois disso, os muçulmanos desmantelaram sistematicamente os Estados cruzados na região. Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas. O Papa Urbano II havia morrido em 1111. Os territórios cristãos no oriente tiveram de se aguentar por conta própria. Assumem como padroeiro São Jorge da Capadócia, exemplo de cavaleiro cristão, e seu brasão de armas, a cruz vermelha num escudo branco.
2007-04-03 22:04:05
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answer #4
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answered by Mauricio 7
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