Bem acho q é isso:::
A todo aquele que acredita mais fé lhe será dada em abundância; e daquele que não crê lhe será tirado”. Palavras do Evangelho, segundo São Matheus! O efeito Matheus, denominado por Robert Merton (1973, 1988), é usado na sociologia da ciência, numa alusão ao evangelho, para enfatizar vantagens e prestÃgio que se adquirem no meio acadêmico, sempre em favor de quem possui.
Merton (1973) resume pesquisas de estudiosos da sociologia da ciência, para demonstrar o aparecimento de estratificação no sistema cientÃfico, seja de reconhecimento ou honorÃfico, de recursos financeiros, de comunicação da ciência. Por ser uma estratificação, marginaliza cientistas que mesmo produtivos não recebem as benesses em detrimento do outro, também produtivo, que pertence, por exemplo, a uma universidade de prestÃgio. Quem já publica tem mais chance de publicar do que quem nunca publicou. Quem pesquisa terá sua pesquisa aprovada e financiada, em oposição a quem está começando.
Outra situação é a da “cadeira 41”, denominação dada ao estabelecimento de um número fixo, com critérios, regras e direcionamentos de toda ordem para exclusão do ranking honorÃfico. à uma referência à Academia Francesa, em que somente 40 membros seriam qualificados como imortais, criando-se uma lista para ocupar a “cadeira 41” da qual faziam parte Descartes, Pascal, Molière, Boyle, Rousseau, Stendhal, Saint-Simon, Diderot, Flaubert, Zola e Proust.
A partir dessas premissas, o citado autor estuda o sistema de reconhecimento, o sistema de comunicação, a alocação de recursos e os efeitos de redundância decorrentes, concluindo que na academia o Evangelho de São Matheus é sumamente praticado. Um fÃsico laureado reconhece que quem é mais conhecido recebe mais crédito, conseqüentemente, mais recursos para pesquisa e mais possibilidade de publicar. Um quÃmico renomado reporta que quando as pessoas vêem seu nome num artigo ou num evento não lembram de outros nomes. Chamo a isto de perversidade com os que não têm, dos quais ainda se retira. Merton (1988) as chama de vantagens e desvantagens cumulativas, pois uma e outra somente se acumulam.
Como isto afeta as Instituições de Ensino Superior (IES) de paÃses/regiões menos desenvolvidos? No Sul/Sudeste brasileiro, situam-se as IES com maior número de cursos de pós-graduação e melhor conceituados, possuindo maior número de profissionais qualificados, maior número de editoras, maiores e melhores laboratórios e maiores e melhores bibliotecas. Estas universidades para manter este status necessitam de recursos, do fomento em pesquisas em prol do desenvolvimento cientÃfico e tecnológico, para continuar divulgando resultados, mantendo os conceitos dos cursos e das respectivas IES. São elas que ocupam os espaços representativos nas instituições do sistema.
A região Sudeste possui 77% dos cursos de doutorado e 82,35% dos tÃtulos de periódicos brasileiros indexados no Institute for Scientific Information (ISI), órgão que mantém a mais abrangente base bibliográfica e multidisciplinar de informações cientÃficas do mundo. Vantagens cumulativas! Dentre os 43 representantes de áreas da CAPES, triênio 2005-2007, apenas seis são representantes do Norte/Nordeste; assim distribuÃdos: dois são da Bahia, dois de Pernambuco, um do Rio Grande do Norte e um do Pará. São os representantes que estabelecem/aprovam os critérios de avaliação da pós-graduação. Matheus, primeiro os teus!
Em oposição, exemplifiquemos com a Universidade Federal da ParaÃba (UFPB). Percebe-se que na lista da CAPES ela não aparece. A estratificação a atinge entre e intra-regiões. Estamos na contra mão. Mas, nós também contribuÃmos para o desenvolvimento do paÃs! Professores, pesquisadores e funcionários, os Quixotes, a despeito das condições, continuam na luta diuturna, contra os moinhos de vento, por uma universidade de qualidade.
Do total de cursos de pós-graduação, atualmente, temos 16 com conceito três na CAPES. Isto porque, na última avaliação, há uns que foram salvos do descredenciamento em virtude de seus similares no Sul/Sudeste que não podiam cair e, por isso, seguraram os conceitos de cá. Laboratórios? Biblioteca? Editora? Salas de aula? Equipamentos? Quem gostaria de realizar um diagnóstico? Número de periódicos cientÃficos? Dos 30 que já existiram, hoje, nove tentam sobreviver! Sem receber da instituição os recursos necessários para continuar existindo. No Evangelho de São Matheus, somos os que não têm fé e deles mais se retira.
A polÃtica da UFPB também não nos beneficia de forma igualitária. O efeito Matheus aumenta as desvantagens dos que menos têm. O fomento à editoração cientÃfica e de fortalecimento aos cursos de pós-graduação faz criar, em 2003, o Fundo de Investimentos de Apoio a Revistas Acadêmicas (FIAR). O FIAR se propõe a apoiar as revistas indexadas, até o máximo de seis, em cinco áreas: Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências Exatas e Tecnologia, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas. Situação confortável porque somente três periódicos podem se candidatar aos recursos e, melhor ainda, apenas um em cada uma das áreas, sociais, saúde e humanas. Se considerarmos isto um prêmio, aceitamos passivamente a imposição da “reprodução perversa do efeito Matheus” para os demais. Estes nunca atingirão os critérios, pois a indisponibilidade de recursos lhes retira as possibilidades. De quem não tem mais lhe será retirado!
Quanto à “cadeira 41”, ela também existe aqui dentro. à o modelo de alocação de vagas docentes, matriz desenvolvida pelo Núcleo de Tecnologia de Informação. Por ela, estabelecem-se os departamentos que têm maiores e melhores condições dentro de cada centro e a matriz é utilizada para distribuição de recursos financeiros, humanos e materiais. Como na Academia Francesa, as regras são criadas para excluir. Quem fica de fora acata/aceita as regras e espera pela próxima vez, quando elas outra vez entrarão em cena. E os que não tiveram, acumularão desvantagens, e não atenderão aos critérios. Amém!
Em sã consciência, estamos satisfeitos com nossas diferenças regionais? O que se pratica entre regiões e intra instituição é justo? Não devia ser exatamente o contrário? As condições serem oferecidas para que todos tivéssemos patamar semelhante? O que buscamos, todos nós, não é o desenvolvimento do nosso paÃs, da nossa região, do nosso Estado? Isto nós conseguiremos quando todas as regiões, todas as instituições, todos os departamentos, todos os cursos, enfim, quando todos caminharmos numa só direção! Assim, a academia praticará um Evangelho mais humanitário do que o de São Matheus!
boa sorte!bjs mih
2007-03-28 17:52:13
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answer #4
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answered by Millena :D 3
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