As formas de se plantar arroz são agrupadas em dois grandes sistemas: semeadura direta e transplantio.
A principal diferença entre estes sistemas é que na semeadura direta, como o próprio nome indica, as sementes são distribuídas diretamente no solo, na forma de sementes secas ou pré-germinadas, a lanço ou em linhas, em solo seco ou inundado; já no sistema de transplantio, as plântulas são produzidas primeiramente em viveiros ou sementeiras, antes de serem levadas para o local definitivo.
Semeadura direta
A semeadura direta é a forma mais adequada de plantio de arroz irrigado nas várzeas do Tocantins. O arroz produzido por meio de semeadura direta pode atingir a maturação sete a dez dias antes daquele transplantado. Esta redução de ciclo pode ser importante para áreas onde se utilizam cultivos sucessivos e/ou apresentam limitações climáticas, como ocorrência de baixas temperaturas. A semeadura direta pode ser feita utilizando-se semente pré-germinada ou semente seca.
Semente pré-germinada
No Brasil, este sistema de semeadura, denominado pré-germinado, é amplamente utilizado no cultivo de arroz irrigado no Estado de Santa Catarina, compreendendo 98% da área cultivada, com uma produtividade média de 6.900 kg ha-1. No Rio Grande do Sul, o sistema é utilizado em mais de 90 municípios produtores, numa área superior a 102 mil hectares, compreendendo cerca de 11% da área total cultivada com arroz no Estado.
No sistema pré-germinado, a quantidade total de água necessária ao cultivo de arroz irrigado é menor que nos demais sistemas, em virtude da formação da lama. Entretanto, como neste sistema a semeadura de sementes pré-germinadas é efetuada em solo previamente inundado, há necessidade de um grande volume de água por ocasião do preparo do solo e da semeadura. As Regiões Centro-Oeste e Norte são caracterizadas pela ocorrência de dois regimes pluviais bem definidos: o período de maio a setembro, com índices de pluviosidade muito baixos, é considerada a época seca; e de outubro a abril, período de maior ocorrência de chuvas, é a época predominante de cultivo de arroz irrigado. Como no início da época recomendada de plantio, que vai de outubro a dezembro, o nível do lençol freático e dos rios está baixo na grande maioria das áreas, a semeadura é dependente da ocorrência da precipitação pluvial. Com isso, este sistema de plantio pode se tornar inviável para determinadas regiões do Estado do Tocantins.
Ademais, há necessidade ainda maior de se manejar adequadamente a água em comparação aos demais sistemas, pois a drenagem da área após a semeadura pode desencadear grave problema ambiental, ao mesmo tempo que causaria perdas de nutrientes e/ou herbicidas que estão em suspensão na água de irrigação que é jogada fora.
A pré-germinação das sementes consiste basicamente em acelerar o processo natural de germinação, na ausência de solo, de tal maneira que, por ocasião da semeadura, a semente já apresenta a radícula e o coleóptilo claramente desenvolvidos, não devendo ultrapassar 2 mm a 3 mm de comprimento.
O solo deve ser previamente preparado, seco ou com água, a fim de favorecer o processo germinativo e o estabelecimento das plântulas. As operações de preparo do solo podem ser iniciadas logo após a colheita até poucos dias antes da semeadura. O preparo do solo compreende duas fases. A primeira fase pode ser realizada envolvendo as seguintes alternativas: (a) aração em solo úmido, seguindo-se o destorroamento com enxada rotativa ou com as rodas do trator adaptadas, sob inundação; (b) aração, seguindo-se o destorroamento com grade de disco ou enxada rotativa, em solo seco; (c) uso da enxada rotativa, sem aração, em solo não inundado, em diversas ocasiões durante a entressafra; e (d) uso de enxada rotativa, sem aração, em solo inundado.
A segunda fase é feita em solo inundado para a formação da lama, que é o renivelamento e alisamento do terreno, realizados com equipamentos ou pranchões de madeira, com o intuito de corrigir pequenos desníveis e, com isto, melhorar as condições do solo para receber as sementes pré-germinadas. Após o preparo final do solo, os quadros ou tabuleiros devem ser necessariamente inundados com uma lâmina de água de 5 cm a 10 cm, por um período de 20 a 30 dias antes da semeadura.
No preparo do solo, a água é utilizada para a formação da lama, como referência para o renivelamento e para facilitar o alisamento. O manejo de água interfere no espectro das plantas daninhas e é determinante no sucesso do controle das mesmas.
A adubação pode ser efetuada de três a quinze dias antes da semeadura, a lanço na lâmina de água, e incorporada utilizando-se enxada rotativa ou grade na formação da lama ou após o renivelamento da área. A semeadura das sementes pré-germinadas é feita a lanço sobre a lâmina de água, manualmente, por meio de implementos acoplados ao trator ou por avião, dependendo da dimensão da lavoura.
Este sistema de plantio exige, no entanto, 20% a 30% a mais de sementes que o sistema de semeadura com sementes secas, pois o perfilhamento é menor. Com isto, a população adequada corresponde a 300 plântulas m-2, distribuídas uniformemente. Este sistema tem sido amplamente recomendado para áreas de arroz irrigado infestadas com arroz-vermelho.
Semente Seca
Este sistema de semeadura é o mais empregado no Brasil. No Estado do Rio Grande do Sul, o uso de semente seca, semeada a lanço ou em linhas, predomina em cerca de 88% da área cultivada. Na semeadura com semente seca, o manejo eficiente das plantas daninhas é essencial. Dependendo dos equipamentos utilizados, este sistema pode ser subdivido em semeadura a lanço e semeadura em linhas.
Semeadura a lanço
As vantagens da semeadura a lanço são a rapidez e a economia. As sementes são espalhadas no terreno, manual ou mecanicamente, mediante o uso de semeadoras ou de aviões agrícolas, e incorporadas superficialmente ao solo por meio de grade. Tanto na semeadura a lanço como em linhas, a semente deve ficar ao redor de 3 cm de profundidade. Portanto, deve-se tomar cuidados especiais no uso de grade de disco na incorporação superficial das sementes, para que a maioria delas fique em profundidade nunca superior a 5 cm.
A semeadura é irregular, e a emergência, desuniforme. A profundidade de semeadura é mais desuniforme que no sistema em linhas, e varia conforme a forma de cobrir as sementes. Aquelas que permanecem nas camadas mais superficiais ficam mais sujeitas ao ataque de pássaros, e podem apresentar, adicionalmente, problemas de germinação devido ao secamento rápido da camada superficial do solo.
A localização das sementes no solo influencia a ocorrência de focos de infecção de brusone, por meio da transmissão do patógeno pelas sementes infectadas. Em semeadura seguida por chuva contínua, sementes na superfície do solo constituem focos de infecção para a disseminação secundária da doença, ao passo que as mais profundas podem ter mais dificuldade de romper o solo, retardando a emergência e, conseqüentemente, prejudicando o manejo de água e a aplicação de defensivos na folha. Além disso, a semeadura profunda reduz o perfilhamento, podendo determinar diminuição na produtividade.
Devido ao maior risco de algumas sementes ficarem muito profundas no solo ou na superfície, a quantidade de sementes empregada é maior que na semeadura em linhas. De modo geral, para o sistema de semeadura a lanço de arroz irrigado, recomenda-se a densidade de 500 sementes por metro quadrado para garantir uma população inicial de 200 a 300 plântulas por metro quadrado, uniformemente distribuídas. Assim, o gasto de sementes pode variar de 100 kg a 200 kg ha-1.
O controle mecânico, ou mesmo manual, das plantas daninhas que se fizer necessário é impossibilitado. Outra desvantagem deste sistema é que as plantas daninhas, como o arroz-preto, o arroz-vermelho e o capim-arroz, crescem rapidamente, em virtude de o solo manter condições de umidade semelhantes ao que ocorre em terras altas durante as primeiras etapas de desenvolvimento da cultura, dificultando sua identificação.
Semeadura em linhas
Este é o sistema mais empregado no Brasil, mediante o uso de semeadora-adubadora. Além de requerer cerca de 20% menos de semente que no sistema a lanço, possibilita adequada profundidade de plantio, propiciando maior uniformidade na emergência das plântulas, melhor manejo da água de irrigação, maior facilidade na distribuição de fertilizantes e na aplicação de defensivos, resultando em maior eficiência no controle de plantas daninhas, tanto manual como mecânico. Neste sistema, há também maior eficiência de utilização dos fertilizantes, visto que são colocados somente no sulco de semeadura, abaixo das sementes. Preferencialmente, deve-se utilizar semeadora com dispositivos para efetuar a compactação do solo na linha de plantio, pois isto resulta em maior porcentagem de germinação e uniformidade de emergência de plântulas. Caso contrário, é necessário efetuar a passada do rolo compactador, operação denominada rolagem. Dependendo do manejo do solo, a semeadura em linhas pode ser efetuada em solo preparado, ou seja, no sistema convencional, em solo sem preparo, no sistema de plantio direto, ou no sistema de plantio direto com cultivo mínimo.
Sistema convencional
Neste sistema, o manejo eficiente das plantas daninhas é essencial, pois a inundação permanente somente é realizada cerca de três semanas após a emergência das plântulas de arroz. O preparo do solo envolve os preparos primário e secundário, mediante os diferentes sistemas, utilizando um ou mais implementos. O preparo do solo deve propiciar o destorroamento da camada superficial, o que irá favorecer a germinação das sementes e a emergência uniforme das plântulas.
O preparo primário consiste em operações mais profundas, para as quais, em geral, utilizam-se grades aradoras, com o objetivo, principalmente, de romper as camadas compactadas e eliminar e/ou proceder o enterrio da cobertura vegetal.
No preparo secundário, as operações são mais superficiais, realizadas com grades destorroadoras e niveladoras ou plainas, para destorroar, nivelar, incorporar agroquímicos e eliminar plantas daninhas.
A semeadura é feita com a camada superficial do solo drenada. É recomendado o espaçamento entrelinhas de 17-20 cm e uma população de 50 plântulas por metro de linha de plantio (Figura 2), o que corresponde a um gasto de 80 kg a 120 kg ha-1 de sementes. A população de plantas influencia a incidência e a severidade da brusone. Todas as medidas para aumentar a população de plantas favorecem o rápido desenvolvimento da doença nas folhas.
Plantio direto
Neste sistema, a semeadura é efetuada diretamente no solo não revolvido, contendo resíduos do cultivo anterior, antecedida ou seguida da aplicação de herbicida de ação total para controle das plantas daninhas e voluntárias. É aberto apenas um pequeno sulco com profundidade e largura suficientes para garantir uma boa cobertura e o contato da semente com o solo, e não mais de 25% a 30% da superfície do solo são movimentados. No ecossistema de várzeas, o plantio direto de arroz irrigado por inundação controlada está mais relacionado ao controle do arroz-vermelho e arroz-preto e à redução dos custos de produção que à conservação do solo. O gasto de sementes, neste sistema, é maior que na semeadura em solo preparado, obtendo-se maiores respostas com 150 kg a 170 kg ha-1 de sementes no mesmo espaçamento entrelinhas, o que corresponde a 500 sementes por metro quadrado. O plantio direto possibilita a utilização mais racional da maquinaria, haja vista o seu custo de operações ser 2,5 vezes menor que o da semeadura convencional. Este sistema de plantio de arroz irrigado pode se tornar inviável em certas áreas do "Projeto Formoso", no Formoso do Araguaia, TO, em virtude da alta ocorrência de ratos, que proliferam rapidamente, e seu controle torna-se ainda mais difícil devido à cobertura vegetal constituída pelos resíduos do cultivo anterior e plantas daninhas.
Plantio direto com cultivo mínimo
No cultivo mínimo, a mobilização do solo é menor, quando comparado ao sistema convencional. Neste sistema, efetua-se um preparo reduzido do solo até aproximadamente 60 dias antes da semeadura do arroz irrigado, para promover a germinação das sementes de plantas daninhas e voluntárias, bem como, reduzir as irregularidades da superfície do solo provocadas pelas colhedoras. Por ocasião da semeadura do arroz, que é realizada diretamente no solo sem revolvimento, faz-se a aplicação prévia de herbicida de ação total para dessecar a cobertura vegetal. O número de operações de preparo não é fixo, podendo variar em função das características do solo e do teor de umidade. Em geral, o preparo do solo é efetuado no verão ou no fim do inverno e início da primavera, sendo recomendado, no último caso, uma antecedência que permita a formação de cobertura vegetal. A semeadura é realizada diretamente no solo, sob cobertura vegetal previamente dessecada com herbicida, sem revolvimento. Desta forma, a incidência de plantas daninhas, principalmente arroz-vermelho, é bastante reduzida. A densidade de semeadura deve ser semelhante à do sistema anterior.
Transplantio
No Brasil, este sistema de plantio é usado em pequenas lavouras, especialmente no Nordeste. Nas demais regiões é muito pouco utilizado e está restrito aos campos de produção de sementes, principalmente nas regiões onde não há mais disponibilidade de novas áreas e naquelas já cultivadas que se encontram infestadas de arroz-vermelho e plantas voluntárias.
Esse sistema compreende as fases de produção de mudas e de transplantio propriamente dito, e constitui-se no método mais eficiente de controle do arroz-vermelho.
É um sistema de semeadura indireta, no qual o arroz é semeado inicialmente em sementeira ou viveiro, em solo bem preparado, e assim que as mudas atingem tamanho adequado para o transplantio, são levadas para o campo definitivo. Este sistema possibilita a obtenção de um produto de qualidade mais elevada, sendo recomendado, portanto, para a produção de sementes de alta qualidade. Para conseguir alta pureza varietal, a técnica de eliminação de plantas contaminantes, atípicas, do campo de produção, também denominada de purificação ou roguing, é prática fundamental e torna-se facilitada quando se emprega o sistema de transplantio. Desta forma, são arrancadas e destruídas todas as plantas fora do padrão da cultivar em multiplicação, ou plantas pertencentes a outras cultivares e espécies. Nesse processo de eliminação devem ser incluídas as plantas com sintomas de doenças, mormente daquelas cujos patógenos são veiculados pela semente. As plantas daninhas nocivas, que não foram controladas pelos sistemas convencionais e são problemáticas, devem ser eliminadas.
O transplantio manual é indicado somente para utilização em áreas menores ou onde se tenha disponibilidade de mão-de-obra. Para transplantar manualmente um hectare, é necessário o equivalente ao trabalho diário de 30 a 40 homens. Para o transplantio mecânico, as mudas são produzidas em caixas apropriadas de madeira ou plásticas, com 5 cm de altura e fundo perfurado, e com comprimento e largura de acordo com a transplantadora a ser usada. Em geral, estas dimensões são de 60 cm de comprimento e 30 cm de largura. São necessárias cerca de 120 a 130 caixas para transplantar um hectare, com possibilidade de reutilização a cada 20 dias. No método manual, as mudas devem ser transplantadas em áreas previamente drenadas quando atingem 20 a 30 dias de idade, o que corresponde a uma altura ao redor de 25 cm. Já no método mecânico, o transplantio é recomendado quando as mudas atingem cerca de 12 cm de altura, o que se verifica por volta de 18 dias após a semeadura. No momento do transplantio, as caixas devem estar com umidade adequada para facilitar o desempenho da transplantadora.
As transplantadoras permitem regulagens de três a dez mudas por cova e espaçamento de 14 cm a 22 cm entre covas e de 30 cm entrelinhas (Figura 3). O rendimento médio de uma transplantadora com seis linhas é de 3.000 m2 h-1, ou seja, três horas para transplantar um hectare, sendo necessárias 120 a 130 caixas de mudas por hectare. A inundação permanente deve ser feita após o pegamento das mudas, o que ocorre dois a três dias após o transplante.
2007-03-26 01:58:34
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answer #5
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answered by inka 7
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