Amigo, eu não vou te dar só um motivo mas uma dezena deles. Leia abaixo a entrevista com o cientista Peter Ward e veja porque "ESTAMOS SÓS", ou sejam ETs não existem.
Leia mais sobre o assunto, ao final da resposta, no artigo sobre o PARADOXO de FERMI.
ATENÇÃO: repare que NÃO estou falando de vida microbiana (bactérias e vírus) que acreditamos ser relativamente comum no universo e provavelmente encontraremos vestígios dela em breve aqui mesmo no nosso sistema solar.
Cada vez que um ser humano contempla uma noite de céu estrelado, a primeira questão que lhe vem à cabeça diz respeito à existência de ETs e civilizações em outros planetas. Se há tantas galáxias no universo, por que só nós estaríamos aqui? Nos últimos anos, a curiosidade sobre o tema tornou-se quase obsessiva. O paleontólogo Peter Ward e o astrônomo Donald Brownlee, ambos da Universidade de Washington, acabam de jogar uma ducha de água fria no debate.
Eles são os autores do livro Rare Earth – Why Complex Life Is Uncommon in the Universe (Terra Rara – Por que a Forma Complexa de Vida é Incomum no Universo), que alcançou o oitavo lugar entre os mais vendidos nos Estados Unidos. Com base nas descobertas científicas recentes, Ward e Brownlee sustentam que a hipótese de vida inteligente fora da Terra é quase nula. "Somos produto de um lance de sorte, uma combinação única de fatores que não se repetem em nenhum outro lugar do universo conhecido", diz Ward. Ele explicou por que nesta entrevista.
Entrevista
P – Por que o senhor é tão pessimista em relação à existência de vida fora da Terra?
Ward – Primeiro é preciso esclarecer sobre que tipo de vida estamos falando. Se você estiver pensando em micróbios ou bactérias, há toda a probabilidade de que possamos encontrá-los fora da Terra, mesmo em nosso sistema solar. Acredito que existam microrganismos no subsolo de Marte ou embaixo da camada de gelo de Europa, uma das luas de Júpiter. Vida inteligente, porém, é outra história, muito mais complicada. Para chegar até ela, é preciso que os micróbios evoluam para formas de vida animal e depois desenvolvam inteligência. Tudo isso leva milhões e milhões de anos. A maior parte dos sistemas planetários hoje conhecidos não teve tempo para que isso acontecesse. Outro problema é que a manutenção de formas de vida mais complexas que uma lesma exige que um planeta atenda a uma série longa de requisitos, todos muito raros fora do sistema solar.
P – O astrônomo Carl Sagan, que tinha opinião contrária a sua, dizia que o fato de haver bilhões e bilhões de galáxias tornava muito provável a existência de vida inteligente em outros planetas. O senhor não leva esse dado em conta?
Ward – Não é só uma questão de probabilidade estatística. Para começar, são pouquíssimas as galáxias que podem hospedar formas superiores de vida. Tome como exemplo as de forma irregular. Elas surgem quando duas galáxias colidem. O resultado dessa colisão é um ambiente infernal. Seria impensável a existência de qualquer forma de vida num lugar desses. As galáxias elípticas também não servem, porque ali as estrelas são pobres em metais e substâncias químicas essenciais para a vida. Pequenas galáxias devem ser igualmente descartadas porque o interior delas é muito instável. Por fim, podemos esquecer as galáxias muito distantes, que são novas demais, ainda não tiveram tempo para formar planetas sólidos, como a Terra e Marte, e cuja composição química não favorece em nada a existência de vida. Então, sobra pouca coisa: apenas as galáxias em espiral, como a nossa Via Láctea.
P – Mesmo assim, há bilhões e bilhões de estrelas nas galáxias espirais.
Ward – Mas nem todas poderiam abrigar vida. O núcleo das galáxias é congestionado demais. A altíssima freqüência de explosões e colisões de estrelas faz dessas regiões um ambiente estéril do ponto de vista biológico. Se você pegar o lado oposto, mais próximo das bordas de uma galáxia, também não funciona. Nessas áreas, é muito baixa a concentração de elementos pesados, como carbono, ferro e sódio, todos fundamentais para a formação de planetas sólidos e para iniciar a fusão que aquece o interior desses planetas. Nossa galáxia tem um diâmetro aproximado de 85.000 anos-luz. O Sol está a cerca de 25.000 anos-luz do núcleo, na zona intermediária de um dos braços da Via Láctea. É uma combinação única, extremamente favorável à existência de formas de vida como a nossa. Tivemos muita sorte.
P – Por que essa combinação é única?
Ward – Para sustentar vida, um planeta não pode orbitar qualquer estrela. Muitas pessoas acreditam que o Sol é uma estrela comum. Isso está errado. Cerca de 95% de todas as estrelas têm massa menor que a do Sol. As mais numerosas em nossa galáxia têm apenas 10% da massa solar. São todas más candidatas a hospedar vida evoluída porque emitem pouca energia. Para conseguir calor suficiente, um planeta precisaria estar tão perto dessa estrela que entraria no que chamamos de rotação sincrônica. Um lado do planeta estaria sempre de frente para a estrela. A temperatura no lado escuro seria tão baixa que toda a atmosfera congelaria, impedindo a formação de vida animal.
P – E se a estrela for maior do que o Sol?
Ward – Também não serve. Nosso Sol tem o tamanho exato para ficar praticamente estável durante 10 bilhões de anos, tempo suficiente para a evolução de formas complexas de vida. Se a massa do Sol fosse apenas 50% maior, ele queimaria toda sua energia em apenas 2 bilhões de anos. No estágio final, antes de virar um gigante vermelho, seu brilho e calor aumentariam 1 milhão de vezes, incinerando os planetas mais próximos, inclusive a Terra.
P – Digamos que, garimpando muito bem, sobrem ainda cinco ou seis estrelas do tamanho do Sol. Apenas isso já não bastaria para derrubar sua teoria?
Ward – Ainda não. Há uma infinidade de outros fatores que contribuem para a existência de uma forma superior de vida como a nossa. É preciso que o planeta não esteja sob bombardeio freqüente de cometas e meteoros. Isso só não acontece na Terra porque os planetas vizinhos lhe servem de escudo. O enorme campo gravitacional de Júpiter atrai boa parte da sujeira espacial que poderia destruir a Terra. Resolvido esse problema, a órbita do planeta candidato a abrigar vida precisa estar na distância correta em relação à estrela, de modo a manter água em estado líquido. A maior parte dos planetas está muito longe ou perto demais. Aqueles com pouca água não podem ter formas avançadas de vida. Os inteiramente cobertos por oceanos profundos também não são ideais.
P – Por que a água é tão essencial?
Ward – O fato de haver águas rasas na Terra pode ter sido vital, em um certo momento de sua história, para o processo químico que formou grandes quantidades de calcário e retirou gás carbônico da atmosfera. Se isso não tivesse acontecido, a atmosfera de nosso planeta teria concentrações muito elevadas de gás carbônico. Como resultado, a temperatura seria excessivamente alta, acima de 100 graus Celsius. Num ambiente assim, os oceanos evaporariam e a vida na Terra terminaria de maneira catastrófica. Nosso planeta levou cerca de 2 bilhões de anos para formar oxigênio em quantidade suficiente para permitir a sobrevivência de animais. Além disso, a superfície passou por um longo período de estabilidade, que permitiu a existência contínua de água. A Terra só conseguiu desenvolver um ecossistema tão rico porque vem mantendo seus oceanos por mais de 4 bilhões de anos. E sempre em grau de acidez e salinidade que permite a formação de proteínas, a estrutura básica dos seres vivos.
P – Então, tudo se resume a uma questão de sorte?
Ward – Sorte é, sem dúvida, uma razão para existirmos, mas há outros fatores. Veja o papel desempenhado pela Lua nessa história. Ela mantém um perfeito jogo de forças gravitacionais com a Terra e evita que nosso planeta oscile demasiadamente enquanto gira em torno do próprio eixo. Se não fosse pelo efeito estabilizador da Lua, não estaríamos aqui. Isso é muito raro. Em nosso sistema solar, só Terra e Plutão têm um satélite natural de bom tamanho. A diferença é que Plutão é um freezer perdido na escuridão, onde provavelmente a vida nunca florescerá.
P – E quanto às outras formas de vida, mais elementares, é possível haver seres não inteligentes em outros planetas?
Ward – A respeito disso eu tenho poucas dúvidas. A forma mais antiga e abundante de vida na Terra é a microscópica. Ela surgiu há cerca de 4 bilhões de anos, tão logo o planeta resfriou e começou a apresentar as condições mínimas para a existência de vida. O fato de as primeiras bactérias terem aparecido aqui tão cedo sugere que não é difícil que elas brotem em qualquer outro lugar com a mesma facilidade.
P – Quais são as possibilidades de encontrarmos vida microscópica em Marte?
Ward – Muito boas. Há 4 bilhões de anos, as condições em Marte eram bem mais favoráveis à vida do que são hoje. O planeta vizinho era mais quente, tinha uma atmosfera e até mesmo água na superfície. E, uma vez que formas microscópicas de vida se formam, é difícil que desapareçam. Uma das grandes descobertas recentes é que os micróbios podem ser encontrados em camadas profundas do solo, até a 1 quilômetro abaixo da superfície. Eles conseguem viver em material rochoso, a altíssimas temperaturas, e não precisam de muita energia. Por isso, o melhor lugar para procurar vida em Marte é no subsolo. Como a temperatura lá é mais alta do que na superfície, provavelmente há uma boa quantidade de água aprisionada no interior das rochas, inclusive em estado líquido. O Pólo Sul marciano tem um bom volume de água, embora em quantidade bem menor do que na Terra, é claro.
P – E em Europa, a lua gelada de Júpiter, é possível haver vida lá?
Ward – Europa tem uma superfície coberta por uma camada de gelo. Há evidência de que, no fundo dessa crosta gelada, exista um oceano, com água em estado líquido. Lá também há boas chances de se encontrar microrganismos extraterrestres. Mas é praticamente impossível existir alguma forma mais evoluída de vida. Como a superfície é inteiramente coberta de gelo, não há como a luz chegar ao oceano líquido embaixo. O brilho do Sol nas imediações de Júpiter já é muito pálido. A única fonte de calor seria a atividade vulcânica no interior da própria lua.
P – Ao mostrar-se tão cético em relação à vida fora da Terra, o senhor não está subestimando a capacidade dos seres vivos de se adaptar a condições hostis?
Ward – Até hoje não se descobriu um modelo tão eficiente para gerar e sustentar a vida quanto o DNA, código genético que compõe a base de todos os seres vivos na Terra. Nem a ficção científica conseguiu imaginar uma estrutura molecular tão maravilhosa para metabolizar energia, se reproduzir e evoluir. É preciso levar em conta também a anatomia. Veja o ET do cineasta Steven Spielberg. Biologicamente, a criatura que ele inventou não faz nenhum sentido. Era um bichinho muito fofo, sem dúvida. Mas um ser com uma cabeça tão grande e um pescoço tão fino para sustentá-la não poderia sobreviver. Os ficcionistas dariam péssimos cientistas.
P – O que lhe vem à cabeça quando contempla um belo céu estrelado?
Ward – Eu sempre me pergunto se há alguém lá fora. Diante de um céu estrelado, é fácil entender por que tantas pessoas acreditam em ETs e discos voadores. Como cientista, porém, eu tenho de lidar com fatos e dados concretos. E todos eles até agora nos dizem que provavelmente estamos sós no universo.
P – Nos Estados Unidos, cientistas sérios e renomados, ligados ao Programa de Busca de Inteligência Extraterrestre, Seti, tentam escutar sinais de rádio emitidos por seres extraterrestres. É dinheiro jogado fora?
Ward – A principal característica de nossa espécie é ser otimista e explorar o desconhecido. Da mesma forma como nos dedicamos à arte e à literatura, precisamos persistir em pesquisas arriscadas, de futuro incerto. Mas é preciso definir certas prioridades. A biodiversidade da Terra nunca correu risco tão grande como hoje. Antes de gastar muito dinheiro procurando ETs, deveríamos investir prioritariamente para manter as espécies de nosso planeta. O governo americano está gastando mais de 60 milhões de dólares no Seti, além dos 100 milhões de dólares investidos pela iniciativa privada. Esse dinheiro poderia ser mais bem aplicado em projetos que ajudem a proteger as florestas tropicais e os ecossistemas ameaçados.
P – Como o senhor reagiria se, amanhã ou depois, o projeto Seti realmente captasse sinais de vida inteligente fora da Terra?
Ward – Antes de tudo, eu teria de pedir desculpas ao pessoal do projeto. Além disso, acho que nossa espécie seria profundamente transformada. Poucas questões filosóficas são tão instigantes e têm implicações tão profundas quanto aquela relacionada ao nosso papel no universo. Se estamos sós, é surpreendente. Se tivermos companhia lá fora, é mais chocante ainda.
O Paradoxo de Fermi
por Kentaro Mori
Reza a lenda que certo dia no laboratório de Los Alamos, um grupo de jovens cientistas discutia animadamente a possibilidade de vida extraterrena. Concluíram que os extraterrestres deveriam existir, afinal, o Universo é infinito e nós não devemos ser os únicos seres inteligentes em todo esse espaço. Seria então que o físico Enrico Fermi, que estava ouvindo a conversa, teria se levantado em resposta e professado a célebre frase "Então onde eles estão?". Como Fermi era brilhante e muito famoso, sendo o inventor entre outras coisas do primeiro reator nuclear, desta simples frase nascia o 'paradoxo de Fermi', um dos principais argumentos usados para afirmar que nós estamos sozinhos. Segundo ele, se os ETs existem, eles já deveriam ter pousado na frente da Casa Branca.
Há sérios problemas com essa lenda. O principal é que ela indica algo que simplesmente não é verdade: ao contrário do que muitos pensam, Enrico Fermi de fato acreditava na existência de vida extraterrestre. Outro problema não só com essa lenda, mas com o conhecimento popular, é o de que o paradoxo de Fermi serve para provar que ETs inteligentes não existem. Se este fosse o caso, o paradoxo não existiria: ele é justamente um paradoxo porque qualquer resposta que se dê a ele é paradoxal. Seja ela a existência ou mesmo a inexistência de vida extraterrestre inteligente.
Uma versão mais verossímil sobre a origem do paradoxo de Fermi diz que nos anos 50, ainda em Los Alamos, Enrico Fermi estava pensando sobre a vida extraterrestre em seu escritório no andar superior, e embora sempre tenha simpatizado com a idéia, percebeu que as descobertas recentes cada vez mais aceitas da cosmologia indicavam que nosso Universo teria de 8 a 18 bilhões de anos (atualmente, estimativas mais precisas indicam 12 bilhões). Ele notou que com tanto tempo e com tanto espaço, alguma civilização extraterrena não só deveria ter surgido, como também já deveria ter colonizado toda Galáxia. Frustrado com a ausência de evidências que apoiassem essa conclusão, desceu perplexo as escadas para o refeitório lotado de cabeças brilhantes e perguntado em voz alta: "Onde eles estão?"
E ele recebeu uma resposta. Leo Szilard teria retrucado "Eles já estão aqui. Mas chamam a si mesmo de húngaros". Essa era uma referência a uma piada (ou não?) corrente no departamento de física teórica segundo a qual há milhões de anos os marcianos precisaram deixar seu planeta e pousaram no que hoje é conhecido por Hungria. Conseguiram adaptar-se e parecer-se com os macacos falantes que habitavam a Terra, mas três características eram muito fortes para ser escondidas: sua vontade de viajar (húngaros estariam por todo o mundo), sua língua (única e diferente de todas circunvizinhas) e sua inteligência (muitas das melhores mentes de Los Alamos eram húngaras. Incluindo Szilard, Von Neumann). Essa versão sobre a origem do paradoxo de Fermi é mesmo confirmada por Edward Teller, tido como pai de bomba de hidrogênio, e ele mesmo um marciano, digo, húngaro. Será que essa versão do paradoxo de Fermi é pouco conhecida porque os húngaros-marcianos conspiram para que o vazamento do segredo a Fermi não alcance o público? Sem dúvida, a verdade está lá fora...
Em todo caso, notar que o próprio Fermi era um simpatizante da existência de seres inteligentes fora da Terra ilustra perfeitamente a profundidade do paradoxo. Parece uma ironia sem sentido que um simpatizante da idéia de ETs tenha criado um argumento usado por pessoas que não acham ETs muito atraentes, por assim dizer. Mas entender a fundo o paradoxo pode mostrar que seria esperado que um defensor bem-informado e genial da idéia de ETs deveria ter sido o primeiro a enxergar a contradição. Ela é uma contradição, não uma afirmação. Isso deveria ser óbvio, mas infelizmente parece não ser a muitos.
Existem duas respostas principais e óbvias ao paradoxo: ETs inteligentes existem ou simplesmente não existem. Ambas respostas têm sérios problemas, e isso é justamente o que leva a uma contradição, a um paradoxo. Vamos abordar primeiro a resposta mais comum no meio ufológico.
Pois bem, suponha que ETs existam. Mais, que o Universo esteja pululando de civilizações diferentes, com diferentes índoles, objetivos e crenças. As respostas usuais para que nenhuma delas tenha resolvido colonizar a Terra apela para motivações comportamentais, ou seja, algo no comportamento destas civilizações impede que elas nos colonizem de forma óbvia. Essas respostas comportamentais podem ser divididas em três categorias.
A primeira é a de que todas civilizações que dominam a tecnologia de viagem espacial também dominam a tecnologia de se auto-aniquilar. E de que boa parte delas infelizmente acaba aplicando esta última tecnologia, por diversos motivos. A mesma seleção natural que pode ter criado vida inteligente por todo o Universo condena esta vida a uma competição contínua, que leva à guerra, que combinada com tecnologia leva ao apocalipse. Olhando para nossa própria civilização, vemos que esta resposta, embora pouco atraente, parece ser a que possui mais embasamento por experiência.
A segunda categoria, e a que parece ser mais atraente, é a de que as civilizações que não se aniquilaram são capazes de perceber a importância da própria vida e outras baboseiras espirituais ou motivações éticas quaisquer, e assim se importam tanto com a vida que não querem interferir nela. Então, ou elas resolvem não partir para a exploração do Universo e fecham-se em si mesmas para viver em paz e felizes (algo meio zen) ou partem para explorar o Universo mas de forma discreta, procurando sempre evitar quaisquer interferências (algo como 'Jornada na Estrelas').
A terceira categoria é a de que ao contrário da anterior, as civilizações que desenvolvem a tecnologia de viagem espacial acabam rapidamente tornando-se desenvolvidas a ponto de perder completamente o interesse por seres atrasados como nós e mesmo dos recursos que planetas como o nosso poderiam oferecer, ao passo que sua presença acabaria tornando-se invisível devido à sua integração com os processos naturais do Universo. Uma idéia sem dúvida muito próxima de ficção científica - de fato, tema de algumas histórias deste gênero. Tais civilizações acabariam 'transcendendo'. Seu processo de pensamento poderia ser acelerado através da integração de sua biologia com sua tecnologia, e a passagem de tempo subjetiva a eles seria mínima. O que para nós é um segundo, para eles pareceria milênios. E não haveria a menor razão para que eles se interessassem por nós. Eles poderiam estar resumidos à escala nano ou picoscópica, e através de enorme otimização seu processamento de dados e manipulação de energia seria praticamente indistinguível de flutuações quânticas aleatórias, ou simples ruído. Um dos proponentes da resposta transcendental ao paradoxo de Fermi é Ray Kurzweill, famoso inventor e tido como prodígio.
O problema com todas respostas comportamentais é que elas deveriam se aplicar a todas as civilizações, sem absolutamente nenhuma exceção. É possível imaginar que a maioria das civilizações se aniquile, que boa parte transcenda, e que o resto resolva aderir até mesmo a uma benigna 'Federação dos Planetas' que siga à risca uma 'Primeira Diretriz'. Mas com tanto espaço, com tanto tempo, é difícil imaginar que nenhuma civilização tenha ao mesmo tempo desenvolvido tecnologia e vontade de colonizar a Galáxia. Olhando para nós mesmos, o único exemplo de civilização que conhecemos, esse parece ser nosso caminho. Por que não o de outras, de incontáveis outras civilizações? Isso inclui a idéia ingênua de que os ETs estão aqui e se escondem com a ajuda dos governos. Alguns ETs poderiam aderir à idéia mesmo que ela fosse praticável, mas todos, sem exceção, é algo estranho. E uma presença óbvia deveria ser realmente óbvia, não apenas visível aos que simplesmente acreditam.
Uma idéia é a de que uma benigna Federação dos Planetas resolva impedir aqueles que tentem a empreitada de colonizar a Galáxia. Mas isso apenas leva à idéia de guerras espaciais! Seria possível que, como nos filmes, o bem sempre vença? Outro problema: não seria o próprio ato de impedir uma civilização de colonizar outros planetas uma interferência com o curso normal dela? Seria isso o 'bem'? A ética de tal 'Federação dos Planetas' é posta à prova, e sinceramente, não parece ser muito consistente.
O paradigma mais vigente entre cientistas, ainda simpatizantes da idéia de que seres extraterrestres inteligentes existam, é o de que a viagem espacial é muito dispendiosa. Um notável adepto deste paradigma foi Carl Sagan. Essa idéia explica porque ele defendeu por toda a vida a possibilidade de existência de vida extraterrestre, ao mesmo tempo em que mostrou-se cético com relação à alegações de que OVNIs seriam naves extraterrestres. Isso também justifica sua defesa apaixonada - e com sucesso - do SETI. Se os ETs não viajam, eles ainda podem se comunicar - o que é relativamente pouco dispendioso - e não custa muito tentar ouvir.
Mas mesmo a idéia defendida por Sagan tem problemas, e problemas sérios. O que freqüentemente se fala, principalmente entre ufólogos, é que dizer que a viagem espacial é excessivamente dispendiosa é limitar o avanço de eventuais civilizações ETs ao nosso próprio estado atual. Além disso, nada indica que nosso estado atual de tecnologia seja definitivo. Incrivelmente, estes são argumentos razoáveis, mesmo a demonstrações de quanta energia seria utilizada em tais viagens. Hoje em dia nós usamos mais energia em um ano do que nossos antepassados usariam em toda uma vida. Mas há um argumento ainda mais decisivo contra a idéia de que a viagem espacial não seria prática.
Já em 1970, o astrônomo Michael Hart argumentou que mesmo a 0,1c (um décimo da velocidade luz, ou 30.000Km/s) seria possível cruzar toda Galáxia em poucos milhões de anos. No ano passado, outro astrônomo, Ian Crawford, publicou na Scientific American um artigo ainda mais incisivo: com nossa tecnologia atual, poderíamos alcançar a estrela mais próxima de nós, Alfa do Centauro, em 100 anos. Supondo que quando chegássemos lá levássemos 400 anos para criar uma segunda onda de colonização com duas naves para outras duas estrelas próximas e assim sucessivamente - estimando assim um período de 500 anos para cada onda de colonização - levaríamos de 5 a 50 milhões de anos para colonizar toda a Galáxia. Ou seja, com nossa tecnologia atual e muito esforço já poderíamos nos fazer notar por toda Galáxia em um piscar de olhos - em termos astronômicos, com um Universo de 12 bilhões de anos de idade. A viagem espacial pode ser dispendiosa, mas é difícil imaginar que isto limite uma civilização à proximidade de seu planeta por tempo indefinido, ainda mais quando sabemos que as estrelas não têm vida eterna. Algo dispendioso não é algo impossível.
Uma classe diferente de resposta é o 'Grande Filtro', que situa-se no limiar de afirmar que ETs não existem. Eles existem, ou teriam existido, e espalhado por todo Universo máquinas destinadas a exterminar qualquer civilização que se faça muito notada ou que resolva colonizar a Galáxia. Qual o objetivo deste 'Grande Filtro'? Não se sabe ao certo, e em verdade, não importa. A civilização que criou este 'Grande Filtro' pode ter uma lógica e motivações próprias, incompreensíveis a nós, mas com efeitos claros e decisivos sobre todos que resolvam se fazer notar por toda Galáxia. Mas, e quanto à civilização que criou o 'Grande Filtro'? Onde ela está? Talvez ela mesma tenha se extinguido, e suas máquinas continuem funcionando. Não se sabe, porém embora pareça muito estranha, a idéia do Grande Filtro é uma das que mais fazem sentido para explicar o Grande Silêncio. O Grande Problema com o 'Grande Filtro' é que não parece funcionar muito: nós já podemos nos fazer notar razoavelmente bem, estamos prestes a colonizar outros planetas, e nada apareceu para nos aniquilar. Até o momento, pelo menos.
Enfim, não há nenhuma resposta completamente satisfatória que explique porque, se os extraterrestres existem, nós não os notemos de forma óbvia. Podemos cogitar sobre o comportamento de tais ETs, mas é inviável imaginar que não exista nenhuma exceção. Podemos ainda imaginar um Grande Filtro, mas ele ainda não nos filtrou. Podemos constatar o quanto é difícil viajar entre as estrelas, mas isso certamente não é algo impossível. O paradoxo de Fermi revela sua profundidade: Se eles existem, onde eles estão?
Muitas vozes se levantam agora e dizem: 'Eles não estão em lugar algum'. Esta é uma resposta simples, muito aceita por pessoas bem-informadas e razoavelmente satisfatória. Seres extraterrestres inteligentes podem simplesmente não existir. É preciso lembrar entretanto que ela também tem sérios problemas, porque é uma conclusão que dificilmente pode ser provada, e nada indica sequer decisivamente para ela até o momento.
O paradoxo de Fermi é um paradoxo justamente porque 'eles' deveriam existir segundo nosso conhecimento científico, que o próprio Fermi conhecia bem assim que a ciência tornou-se suficientemente sólida para permitir pensamentos sobre o tema e incrivelmente, continua a apoiar a idéia até hoje, cinco décadas depois. Não sabemos de nada que impeça a existência de outras civilizações, e como sempre foi regra, o que não é impossível geralmente acaba ocorrendo na natureza, mesmo que seja um tanto improvável. Mas talvez ocorra apenas uma vez se for algo excessivamente improvável. E nós seríamos esta única vez.
Há algumas décadas, a maioria dos que advogavam a raridade de inteligência no Universo acreditava que sistemas solares seriam raros, formados por processos talvez mesmo catastróficos, como por exemplo uma estrela passando perto ou - pasmem - chocando-se com outra. As chances de que isso ocorra são ínfimas, e se os sistemas planetários tivessem origem catastrófica, deveriam ser de fato raríssimos. Mas recentemente, a detecção de planetas extrasolares tornou-se possível e mesmo comum, e nós conhecemos mais planetas fora de nosso sistema solar do que dentro dele. Isto é algo histórico: uma grande evidência a favor do princípio de Copérnico, segundo o qual nós não somos extraordinariamente especiais, o que deve incluir nossa inteligência. A descoberta de diversos planetas extrasolares praticamente aniquilou a idéia de formação catastrófica dos sistemas planetários, e hoje em dia hipóteses evolutivas de formação, como uma própria conseqüência da formação de estrelas são dominantes. Devem existir quase tantos sistemas planetários na Galáxia quanto existem estrelas, e existem centenas de bilhões de estrelas em nossa Galáxia.
Assim, um dos principais argumentos sobre nossa singularidade passou a ser nossa Lua. Hoje acredita-se que nossa Lua formou-se não só por um processo catastrófico - o choque de um meteoro com a Terra - mas de um processo com características determinadas extremamente limitadas, e portanto algo raríssimo. De fato, nosso sistema Terra-Lua mal pode ser chamado de um planeta e um satélite, pois está próximo de algo que realmente deve ser muito raro: um sistema de planetas duplo, que ainda por cima situa-se na ecosfera de uma estrela.
Se a colisão que teria formado nossa Lua tivesse sido levemente diferente, a Lua poderia ter escapado ou boa parte dela teria caído de novo na Terra e ela seria bem menor. Ou poderiam existir várias luas menores. Nenhum outro planeta de nosso sistema solar tem um satélite que pode ser comparado ao que a Lua é para a Terra.
E a Lua é importantíssima para a vida como nós a conhecemos. Ela estabiliza o eixo de rotação de nosso planeta, impedindo que os pólos gélidos tornem-se equadores quentes a todo momento. Ela é a grande responsável pelas marés intensas que temos, que podem ter sido decisivas para a passagem da vida do mar para a terra. Ela levou a dose exata de massa da Terra para que nosso planeta tivesse placas tectônicas que se movem com relativa rapidez, o que contribui - e muito - para que tenhamos grandes continentes e grandes mares, que se movimentam e aceleram grandemente o processo de evolução. Existem incontáveis outros fatores pelos quais devemos à Lua nossa existência, e talvez os povos antigos estivessem certos ao venerá-la. Muitos cientistas acreditam que a Lua é a grande responsável por nossa existência. E se a formação da Lua foi fruto de um enorme acaso, algo raríssimo, então vida inteligente como nós deve ser igualmente raríssima.
Poderíamos nos estender sobre os diversos aspectos que podem nos fazer únicos, mas a maioria deles deve mudar com o tempo, à medida que novas descobertas sejam feitas. Isso não indica que são inválidos, nós devemos ser realmente especiais, mas é de toda forma praticamente impossível provar que a vida extraterrestre inteligente não existe. Podemos observar que não há prova de que ela existe a despeito de intensas buscas neste sentido, e podemos descobrir o quão raras foram as condições que permitiram o nosso surgimento.
Mas como Sagan imortalizou em uma célebre máxima, "Se nós estamos sozinhos, o Universo seria um grande desperdício de espaço". O Universo é muito imenso, mesmo nossa Galáxia já é muito imensa, e existiu há tanto tempo para que mesmo uma possibilidade ínfima leve a dezenas, talvez centenas de civilizações a existir. Mesmo limitando o conceito de civilização a algo próximo de nós mesmos. Isso pode ser criticado como uma brincadeira com números grandes, mas quando falamos de nosso Universo, essa brincadeira deve ser levada a sério. Nosso Universo é muito grande, e é muito velho - em termos biológicos. A despeito de novas descobertas relativas à nossa singularidade, e a despeito das que possam surgir, a descoberta recente a respeito da quase onipresença de sistemas planetários contrabalança o que parecia um jogo ganho. Em verdade, no momento o jogo deve estar pendendo justamente para o lado oposto.
Os extraterrestres deveriam existir. Mas se eles existem, eles deveriam estar aqui de forma óbvia. Eles não estão aqui de forma óbvia. Entender a perplexidade que levou Fermi a perguntar "Onde eles estão?", perplexidade que resiste a inúmeras descobertas e mesmo revoluções em diversos campos da ciência relacionados nestas cinco décadas, é entender o que deve ser um dos maiores enigmas que a ciência do século XX nos deixou. Um paradoxo ao qual qualquer resposta tem sérios problemas, e ao qual a resposta verdadeira deve portanto ser histórica e em si uma enorme revolução sobre nossa posição no Universo. Afinal, "onde eles estão?"
2007-03-26 04:35:52
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answer #2
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answered by roamara 5
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