O cantor e compositor Antônio Moreira da Silva, o Morengueira, criador do samba-de-breque, nasceu no Rio de Janeiro. Há alguma controvérsia sobre a data exata de seu nascimento, mas é ele quem informa: "Nasci em 1902, num 1º de abril, na rua Santo Henrique, hoje Carlos Vasconcelos, na Tijuca", disse à revista Fatos e Fotos (11 de dezembro de 1973). E morreu em sua cidade natal, no dia 6 de junho de 2000. Filho de Dona Poladina e de Bernardino da Silva Paranhos, um trombonista da banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro que morreu de cirrose, o sambista nunca bebeu nem fumou, sempre trabalhou, casou-se em 1928 e permaneceu casado por 56 anos com a mesma mulher, Maria de Lurdes Lopes Moreira, a Mariazinha, a quem conheceu fazendo uma serenata no morro de São Cristóvão. "Nunca tomei um porre em toda a minha vida", diria pouco tempo antes de morrer. "Não bebia e ainda fazia apologia do leite?", escreveu o chargista Adail, quando de sua morte. Criado nos morros da cidade - "eu morei no Morro do Salgueiro também" - e formado na zona boêmia do Mangue, Moreira encarou o batente cedo e com uma assiduidade exemplar. Aos 9 anos foi para a escola. Mas logo deixou o Colégio Barão de Pilares, na Tijuca, e foi à luta para ajudar a família. “Filho de pobre, quando morre o pai, a coisa fica preta". Criança, vendeu doce nas ruas do Rio, entregou marmita e catou papel. Na adolescência, trabalhou numa fábrica de meias, em Botafogo. "Andava oito quilômetros a pé por dia, com uma comidinha muito fraca, que mal dava para enganar o estômago. Eu estava muito longe da minha mãe, que era cozinheira. Minhas irmãs foram morar na casa de umas tias e eu fiquei sozinho no barraco. Meu almoço era geralmente um bolo de milho e bananada", contou Moreira à revista Fatos e Fotos com seu jeito galhofeiro. "Depois, água por cima. Inchava o estômago, e eu passei a sofrer do fígado." Levou a vida nesse sufoco até que, aos 19 anos, arrumou um emprego na fábrica de cigarros Souza Cruz, onde começou a trabalhar como ajudante de motorista. Por essa época, já se apresentava em festas de conhecidos e fazia serestas em que cantava modinhas de Hermes Fontes e Cândido das Neves. "Fiz muitas meninas chorar, dando o meu recado em serestas". Uma dessas meninas foi Jandira, a quem engravidou. A moça e a criança morreram no parto. "O mulatinho ficou triste, mas um pouco aliviado. De alguma forma, tirou uma grande responsabilidade das costas", diria mais tarde, para espanto de muitos. Tempos de vacas magérrimas. Chegou a trabalhar numa barraca na festa da Penha em troca de um prato de comida: "Para mim, aquele ensopado de repolho valeu como uma das sete maravilhas do mundo", elogiou o cardápio, comido "de maracanã e remo" (em prato fundo e com a mão).
Em 1923 tirou a carteira de motorista e, antes de virar artista consagrado, foi chofer de táxi e, a partir de 1926, motorista de ambulância, acumulando as funções durante algum tempo para sustentar uma irmã e a mãe. "Fui pedir emprego na Assistência Municipal e, com meu modo de falar, modéstia à parte, consegui. Fiz um exame superficial e fui aprovado", conta Moreira. Ficou lá por doze anos. A Revolução de 30 foi encontrá-lo como motorista de Arsênio de Souza Matos, secretário do prefeito Prado Júnior ("Um dos melhores prefeitos que tivemos nessa ex-capital federal"), que fora ao palácio solidarizar-se com o presidente Washington Luís. "Veja você, o terceiro regimento sublevado, era dia de praia e eu lá no Palácio. De vez em quando, um tirinho aqui, outro ali", fabularia Moreira décadas depois. "Se os revoltosos do Regimento da Urca soltassem mesmo as tais bombas de 400 quilos que ameaçaram jogar naquele dia, eu tinha meu revertere ad locum tuum sem apelação", relembrava.
Como o bom malandro não anda sempre na linha, "que o trem pega", Moreira também tinha os pés bem fincados na orgia. Durante a juventude freqüentou rodas de baralho, botequins e a zona do meretrício. Conviveu com os malandros históricos da Lapa, gente como Brancura, Manoel Carretilha, Waldemar da Babilônia e João Cobra. E com bambas do Estácio, como Marçal, Bide, Baiaco e Ismael Silva. Tornou-se figura conhecida da boemia. "Convivi muito tempo no meio de malandros, e eles respeitavam minhas batucadas", dizia. "Eu sempre ia às festas na Praça Onze, onde tinha roda com rasteira, rabo-de-arraia. Era magrinho, novinho, mas entrava na roda e era respeitado", dizia sem falsa modéstia. Chegou a complementar sua renda com o dinheiro de uma prostituta que se encantou com sua lábia afiada. "Não gostava dela, mas a moça me satisfazia", dizia com sinceridade. Apesar disso, a boemia para ele foi sempre na base da "canja e ovos quentes". O vago-mestre (rei da malandragem) era consciente de seu lero: "Se me deixar falar, o ladrão não me assalta. Se me deixar falar muito, eu tomo uma grana emprestada", dizia. "O malandro de hoje anda armado de 45, matando motorista de táxi", indignava-se. "Adoro o Rio, mas hoje só saio com um objetivo, por causa da violência". Um contraste grande com o submundo que conheceu, onde "a arma do malandro era a saliva, o papo, a baba de quiabo". Dizia que "antigamente, você deixava o carro aberto e o máximo que entrava era mosquito. Crime era só passional. Hoje, nas ruas, só tem punguista, ladrãozinho barato", queixava-se. "Tem menino de 16 anos que está emprenhando gente e na hora em que comete um crime diz que é de menor", atacava.
fontehttp://www.samba-choro.com.br/artistas/moreiradasilva
consulta mais em fonte.
um abraço!
2007-03-22 12:19:43
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answer #1
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answered by Gregorio 7
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