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estou sequindo estatistica na faculdade

2007-03-20 00:46:53 · 3 respostas · perguntado por osvaldofidelmauter 1 em Ciências e Matemática Matemática

3 respostas

População é o número total de habitantes de uma região, território, país ou continente.

2007-03-20 00:58:49 · answer #1 · answered by Anonymous · 0 0

resposta
resumo sobre populaçã=Genericamente, uma população é o conjunto de pessoas ou organismos de uma mesma espécie que habitam uma determinada área, num espaço de tempo definido.População humana

Deste modo, em relação aos seres humanos, pode ser definida como todos os habitantes de um determinado espaço, como uma região, país ou área, considerados no seu conjunto.

[editar] Estudo

As populações são estudadas num conjunto variado de disciplinas: o tamanho dinâmico da população, idade e estrutura sexual, mortalidade, comportamento reprodutor e crescimento da população. arias de estados

[editar] Demografia

A demografia é o estudo da dinâmica da população humana. Outros aspectos são estudados na sociologia, economia e geografia.

[editar] Biologia

As populações de animais e plantas são estudados na biologia e, em particular, biologia populacional, um ramo da ecologia e genética da população. Na biologia evolucionária e genética de populações uma população denota um grupo reprodutor, cujos membros se reproduzem entre si, por exemplo, através de isolamento físico, mas biologicamente eles podem reproduzir-se com todos os membros da espécie ou subespécie.


A densidade populacional mede o número de pessoas ou organismos por unidade de área. As variantes podem expressar a população por unidade habitável, habitada, produtiva (ou potencialmente produtiva) ou até área cultivada.

Uma área geográfica em particular de terra é dita como tendo capacidade máxima, representando a população máxima que pode suportar. Alguns observadores das sociedades humanas acreditam que o conceito de capacidade máxima também se aplica à população humana, e que um crescimento populacional descontrolado pode resultar numa catastrofe. Outros opõem-se a esta visão.

[editar] Estatística

Em nível estatístico, população é sinónimo de universo, isto é, a colecção completa de unidades (exemplos: pessoas, instituições, registos ou acontecimentos), a partir da qual se podem constituir amostras.

2007-03-20 01:35:15 · answer #2 · answered by neto 7 · 0 0

A população



"João Saraiva dos Santos, que foi prefeito de Xambioá de 1971 a 1974, também não se nega a falar sobre a guerrilha. Ele conta que, no início de 1972 o Exército tomou posição em Xambioá para combater a guerrilha. Ocupou o aeroporto local, a dois quilômetros da cidade, instalando ali suas bases de operação. Ele diz que em Xambioá estavam apenas as bases do Exército e que as operações eram todas efetuadas em território paraense, isto é, do outro lado do Araguaia. 4



"O senador emedebista por Goiás, Lázaro Barbosa, um dos vice-líderes do partido no Senado, trabalhava numa firma de consultoria que prestava assistência a prefeitura de Xambioá na época em que começaram os conflitos armados na região. (...) ...ele revelou que ficou intrigado com os gastos excessivos que estavam aparecendo nas contas da prefeitura, destinados a ‘caixões para indigentes’, e então foi indagar ao prefeito Saraiva dos Santos sobre a estranha epidemia que estaria atacando os indígenas de Xambioá. Então foi informado que os caixões se destinavam aos mortos nos choques com o Exército." 4



"Sei que morreu muitos, tenho a impressão que eles mataram quase todo mundo que estava lá.

(...)

Mas o que eu achei mais grave, prossegue o bispo de Marabá, é que eles se serviram dos índios Suruí para guias na mata para pegar estes guerrilheiros. E se serviram desses próprios lavradores aí de dentro da mata, que foram torturados, alguns morreram. E os outros que não morreram sofreram uma lavagem cerebral e transformaram-se em guias e colaboradores do Exército. Essa turma toda se localiza hoje na estrada operacional OP-3, que é uma vicinal da Transamazônica, perto do porto da balsa do rio Araguaia.(...)." 4 [Depoimento de D. Alano Maria Penna, bispo de Marabá, ao jornal Movimento].



"Com isso conseguiu o que nenhum movimento guerrilheiro tinha conseguido no Brasil até então – e que é fundamental para a guerrilha que é o apoio da população civil local. (...)" 4 [Depoimento de Jarbas Passarinho ao jornal Movimento.]



"Então os soldados pediu licença da FUNAI. Maravi e Arecachu, os dois entrou primeiro na mata – veio um Toyota buscar. Nós procurava a pinicada, via barraquinha dele embaixo do cipozal, mas terrorista se escondeu mesmo. (...) Esse cara (o índio Arecachu) ajudou muito carregando morto dentro do hericópire. Cortava a cabeça e levava pro São Raimundo para tirar retrato. Era homem, mulher, tudo misturado. Mas de primeiro morreu um bocado de soldado. (...) Agora chegou um cara de Brasília, rapaz! Foi ele que acabou tudo. Como era o nome dele? ...Doutor Antônio.

Ele trouxe muita espingarda pra nós, cartucho pra gente caçar. Soldado primeiro pegou o pessoal que dava coisas pro terrorista. Foi tudo preso, tudinho, tudinho. Bateram, bateram ..." 4 [Depoimento dos índios Suruís ao jornal Movimento].



Trechos do depoimento do Padre Humberto Railland: "Amauri salvou muitas crianças. Quando eles saíram de lá, se estima que em menos de um ano faleceram mais de 100 crianças. Ele também salvou muitas mães de famiília, porque na região da Palestina se estima que mais ou menos 20% das mulheres morrem no primeiro parto ou resguardo – descalcificação, falta de vitaminas, todas essas coisas; então o Amauri salvou muita gente passando as noites nas cabeceiras."4A



" E, num primeiro momento, centenas de moradores da região auxiliaram de alguma forma a ação dos guerrilheiros, como reconhecem hoje fontes do próprio Exército. (...) 5



" Um general que participou das operações no Araguaia admitiu para Veja que as forças de segurança cometeram violências contra a população local. Parte da tropa, ressalva o general, agia sob forte tensão – sobretudo os conscritos, que revelavam medo da mata. (...)." 5



"Primeiro foram os índios suruís, uma aldeia de 75 pessoas desgraçadamente civilizadas e que não foram poupadas durante o ‘tempo da guerra’. Além de terem sua aldeia cortada por uma estrada operacional, por onde as tropas se locomoviam no combate à guerrilha, estrada que sai do Km 48 da Transamazônica e atinge o município de São Geraldo do Araguaia, os suruís foram também ‘recrutados’ para guias das forças do governo na selva. Mas eles possuíam, como uma espécie de escudo ecológico, o dominicano frei Gil Gomes, que primeiro entrou em atrito com a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), favorável à nova atividade dos suruís, e depois com os militares." 9



"A população dos lugarejos continuava apoiando a guerrilha, mas com muita dificuldade. Quando um castanheiro, ou habitante de povoado, fazia compras consideradas ‘suspeitas’ em Marabá ou Xambioá, um grupo o seguia e, antes de perguntar para quem iriam os mantimentos (e na maioria das vezes iriam mesmo para a guerrilha), metralhavam as casas, com as famílias dentro, mas não se tem registro de mortes nessas operações. Eram, ao que tudo indica, tiros nas coberturas de palha, só para intimidar. E depois o grupo varria o local, derrubando a casa, arrasando as plantações, prendendo o homem. Castigo." 9



Entrevista do jornalista Fernando Portela com oficial do Exército que não quis se identificar:

Sobre o apoio da população aos guerrilheiros:

"A população dava guarida aos guerrilheiros porque tinha sido muito bem assistida anteriormente. Eles fizeram um trabalho de conquista do povo, um trabalho quase perfeito, o povo gostava deles. Então o povo achava que devia dar proteção. (...) Davam comida ou vendiam comida, davam alojamento, escondiam pessoal, mas nunca soube de nenhum não guerrilheiro que tivesse entrado em combate ou (...) lógico, o povo carregava o pessoal que estava ferido, atendia, procurava realmente ajudar, mas nunca houve participação direta, e nem em apoio mais ostensivo ao pessoal.(...) Sim, porque eles tiveram um apoio anterior muito grande dos guerrilheiros. O Araguaia não era nada mais nada menos que um campo de refrescamento de pessoal, quero dizer, o pessoal esquerdista que estava muito queimado, muito visado por aí, nas cidades maiores, sumia de circulação e passava uma temporada por lá. Logicamente não ficava sem fazer nada. Eles tinham seu adestramento (...) e eles procuravam aliciar a população para a guerrilha, mas eles nisso não foram felizes, não aliciaram quase ninguém lá (...) Sim, um ou outro deve. Sempre entra. Mas isso foi um mínimo. A maioria era mesmo de pessoal de fora. Então, eles criaram condições psicológicas muito favoráveis a eles. Não era só atendimento médico, tinha atendimento jurídico, nas questões de terra, eles inclusive ensinavam a ler e, no meio, iam soltando suas idéias...."

Sobre os guerrilheiros e a população, a partir de 1973:

"Digamos que eles forçavam a população local a dar. Mas as ações deles limitaram-se sempre a alimentos e munição. Nunca, que eu saiba, roubaram alguma coisa do pessoal. Nunca disseram ‘olhe, você fique aqui, que você vais servir de refém’. Nunca tive conhecimento disso. E eles estavam no fim, porque eles nunca foram realimentados, eles estavam sempre diminuindo, o que não aconteceu com o governo; o governo estava sempre aumentando (...)

É que o pessoal dava apoio, as populações achavam os guerrilheiros bonzinhos e os ajudavam. E então chega o Exército lá e começa a apertar o crânio deles, lógico, é uma reação natural, normal, voltar-se contra o Exército. Se o governo tivesse entrado um pouco mais maliciosamente (...) Eu não sei se eu, digamos, se eu estivesse comandando aquilo, se faria diferente, hoje eu falo porque vi a experiência e vi o resultado (...) Agora, entrando cru, na primeira vez, talvez, não sei, talvez tivesse feito a mesma coisa. E, é muito fácil a gente falar agora, depois que passou e a distância, sem ter sentido no pelo (...)"10



Bom, nós ficamos em Castanheira, mas trabalhando na Faveira. Um dia nós fomos fazer um serviço lá. Eu, papai, um moço que trabalhava com a gente, dois irmãos e esse outro que morreu, o Sabino. Nós fomos tirar um arame da cerca pra aproveitar. Chegamos à noite e dormimos lá. De manha cedo fomos tirar o arame. (...) Aí ele encontrou a granada. Estava no chão, no meio do mato. Ele não conhecia e pegou. Levou pra onde eu estava e eu também não conhecia. Eu botei ela na mão esquerda e fiquei olhando. Era tipo uma garrafa, de pescoço, baixa, grossa, toda verdinha. Tinha uma tampa. Quando eu peguei no grampozinho que desarma, ela explodiu. O Sabino morreu na hora. Eu fiquei lá. Quando explodiu, não vi mais nada. Eu ouvia mas não enxergava, porque a pólvora queimou a minha vista. Isso foi em 17 de agosto de 72. (...) Sabino já estava morto, mas veio também, foi sepultado em Marabá. Quando chegou, papai foi lá no comando do Exército. De manhã me mandaram pra Belém e me internaram no hospital da Aeronáutica. Eu fiquei lá internado quatro meses.(...)

Foram sessenta soldados e o papai foi também, pra mostrar. Eles pegaram pedaços da granada, inclusive a asinha dela. O tenente, quando foi lá comigo, mostrou a asinha e perguntou: "É essa?" Eu falei que era. Ele perguntou de que jeito era a granada. Eu disse que era verdinha, tinha inicial amarela. Aí ele disse que era do Exército mesmo. Daí prometeu de novo essas coisas e sumiu. Depois eu fiz umas cartas lá pro quartel do Exército. Eles me chamaram em Belém, eu fui no quartel, isso mais ou menos em 74. Lá eles ficaram só me enrolando, mandando de um quartel pra outro. Aí larguei mão."(Entrevista de Lauro Rodrigues dos Santos ao jornalista Luiz Maklouf) 20



"... Auguriava-nos, entretanto, maiores dificuldades ainda, porque fora informado que agentes das Forças Armadas, tomando conhecimento prévio da Caravana, haviam passado de casa em casa, pelo sertão afora, ameaçando os lavradores para que não dessem nenhuma informação aos familiares, além de espalharem o boato de que eles estariam lá para se vingar da população.

(...)

O Exército prendia, batia, botava de pernas pra riba, esganchado numa vara, com a cabeça pra baixo, dentro de um buraco. Botavam nu, passaram 5 dias nu, do jeito que nascera, dentro de um salão. Eram muitos dentro de um quarto. O Seu Zé da Luz, Abdias, Pedro Borba, tudo tavam nu, nu, nu. Sem beber. E a água, quando foi com 5 dias sem beber, é que foram beber e a água era quente, morna, parecia que tinha sido fervida. Sem comer e sem beber. Isso com os morador.

Prendia, batiam, botavam em cima de umas latas ...(método de tortura que consiste na colacação do preso torturado em cima de uma lata de bordas afiadas, para que com o peso do corpo, pouco a pouco, as bordas da lata penetrem nos pés descalços do prisioneiro)

(...)

...quando os meninos (guerrilheiros) andavam lá em casa , foram pedir pro Sitônio (Antônio Veloso) não andar (ilegível), porque era arriscado eles atirarem no guia, porque o guia ia na frente. Eles não faziam isso porque já conheciam o Sitonho, mas tinha outros batalhões junto com eles que podia atirar nele. Aí o Sitônio disse pra eles, mas o que que eu ando de fazer? Porque se a gente não vai, vai muito humilhado demais, vai batido. É o jeito, agora é o que Deus quiser... Agora o Sitônio só foi uma vez.

(...)

... Qundo eles foram pra mata, quando eles já estavam muito anaufragos, porque eles deixaram as coisas escondidas, mas o pessoal já tinha achado, já tinha tudo acabado, eu dei roupas, dava o de comer, farinha, tapioca. Seu Zé da Luz mandava botinas, rede, tudo isso para eles no mato..." 29A



Trechos do termo de declarações que presta ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o doutor Paulo César Fonteles de Lima, no dia 21/01/81: "que Lauro Rodrigues dos Santos estava mutilado, sem um braço esquerdo e relatava também a morte de um seu companheiro, tudo pela detonação acidental de uma granada que havia sido deixada perto de sua casa; que este lavrador havia conhecido várias das pessoas procuradas pela caravana tendo mesmo reconhecido algumas das fotografias exibidas pela caravana; que também o mesmo lavrador depôs a respeito da vida cotidiana das pessoas que haviam se mudado para a região por volta de 1968, 1969..." 29A



"... Apesar disso, uma moradora teve a coragem de fazer um depoimento. Dona Lindaura Vilarense, casada, 52 anos, sete filhos. Visivelmente emocionada, como se visse fantasma, disse:

O Zé Carlos morou em São Domingos. Quando ele chegou perto da guerra, eles saíram. Tinha deles que viviam na mata. Tinha enfermeira, muito boa. Faziam parto, davam assistência pro pessoal dentro da mata. Davam remédio e conquistavam o pessoal para acompanhar eles, dizendo que o Presidente, o Governador não davam assistência ao pessoal da mata. Então o pessoal adoeciam, morriam à míngua, e eles nem sabiam que o pessoal existiam. Diziam isso pro povo antes da guerra começar. E por isso eles já tinham bastante gente com eles, que morreram junto com eles por aqui mesmo ...

Todo o pessoal que tinha contacto com eles foram presos. Daqui, uma base de cento e tantas pessoas, foi muita gente. Eram tratados mal, judiados, maltratados. Eram presos, fechados, suavam lá mais de 24 horas. Davam um pouquinho de comida, só pra não morrerem de fome, uma vez por dia. Botavam em cima de lata de carne, descalço, pra lata entrar nos pés.

Dona Lindaura Vilarense ainda disse que muitos presos, gente do lugar, jamais voltaram. Confirma que "Rosinha" foi presa viva, passando por São Domingos num jeep. Um dos seus filhos disse ainda que sabe onde estão localizadas as sepulturas de guerrilheiros, enterrados na mata.

(...)

Dona Maria Augusta da Luz, mãe de José da Luz, embora visivelmente nervosa acompanhou a entrevista do filho, reportando-se também a vários acontecimentos:

Prenderam o meu marido. Disseram que ele era da turma do Osvaldão. Vieram buscá-lo, tudo à paisana. Meu marido ficou incomunicável durante três meses. Primeiro levaram ele pra Bacaba, Marabá e Araguaína. Só pude visitar ele na Bacaba depois de três meses. Aí ele ficou nu, dormia no chão e até hoje tem sinal nas costas de mal-trato. A comida da Bacaba nem porco comia ...

(...)

29 de outubro – A Caravana, em que pese algumas opiniões contrárias, resolveu ir até a região da OP-3, seguindo para lá em carro fretado. (...)

Vitória Lavínia Grabois descreveu a viagem:

Primeiro fomos a Bacaba, no lote do Sargento Santa Cruz. Lá fomos recebidos por um homem velho, chamado Miguel. Disse-nos que já sabia de nossa chegada e parecia estar com muito medo. O lugar era estranho. Um barracão de madeira, muito bem construído. Um grande salão e vários cubículos que davam para o referido salão. Também havia um banheiro, muito bem montado para a região. Havia várias máquinas de costura, várias geladeiras, muitos brinquedos e um arquivo bastante enferrujado. Também havia botas de soldado e muitos sacos cheios de mantimentos, talvés. No fundo, havia um cercado no terreno que achamos que fosse um cemitério. Alguns familiares viram um homem nos espreitando, na mata ... Na Palestina, a população estava muito temerosa. Nos olhavam com muita desconfiança. Entramos no botequim do Pedro. Ele estava muito temeroso e disse que não conhecia ninguém. Depois outras pessoas disseram que o próprio Pedro fora preso e muito torturado. A cidade inteira nos olhava com muita desconfiança, acabando por provocar uma crise de choro em Dona Cirene Moroni Barroso, no meio da rua.

Um jovem que não quis se identificar narrou a guerra. Disse que houve muito tiro. Os helicópteros sobrevoavam a área com muita intensidade. Devido ao fogo intenso, os moradores fizeram buracos nas parede, que conservam até hoje, pois o Exército divulga na região que haverá outra guerra. Através de fotografias, identificou José Huberto Bronca, o Fogoió, um dos guerrilheiros e informou que Osvaldão foi morto em 73, no "Saranzal". Que primeiro o levaram para a Bacaba e depois para Xambioá. (...)

Da Palestina fomos para o Brejo Grande. O clima era o mesmo, de muita desconfiança. Enquanto distribuíamos nossos folhetos, éramos olhados e vigiados com hostilidade e receio. Uma professora ainda tentou dar informações. Notamos que um automóvel Fiat que estava na Palestina também estava em Brejo Grande.

(...)

Voltamos para Marabá seguidos ostensivamente.

(...)

Em Vila Nova, a 15 Km de São Geraldo, a Caravana parou para descansar. Logo se formou uma pequena multidão de lavradores e pequenos comerciantes para ouvir com atenção os objetivos daquela estranha comitiva (...) Disse um morador:

Naqueles tempos, ninguém podia carregar nada. Era só um quilo de sal, um de açucar, um de feijão, um de arroz. O Exército furou todas as latas de 20Kg, pra ninguém abastecer o povo da mata."29A



"Conheci todos esses rapazes e moças da guerrilha. Eram bons rapazes. Diziam-se paulistas. Fiquei um pouco admirado. Fui uma ou duas vezes no sítio deles, tomar café. (...)

O exército ocupou Marabá. Depois ocuparam São Domingos das Latas. Chegavam em helicópteros. O povo do Taurizinho, na fazenda do Carlos Holanda, espocou foguetes para avisar. Aí veio um capitão e proibiu. Eu perguntei: Por que? Por que não se pode soltar foguetes?

Quando o Exército entrou na mata foi mal sucedido. Fiquei com pena dos rapazes do Exército. Caminhões saiam cheios de soldados mortos.

Todas essas pessoas eram simpáticas aos guerrilheiros. Todas. Os guerrilheiros eram muito bons. O povo dava apoio moral, fornecia víveres aos guerrilheiros.

Tinha uma moça que vinha buscar víveres toda noite numa casa. O Exército descobriu. Intimaram os de casa a não sair, e quando veio a noite chegou uma daquelas moças. Quando ela abriu a porta, deram voz de prisão. Ela tirou o revólver, matou um oficial e depois baleou um sargento..

Praticamente todo mundo apoiava a guerrilha.(...) Eu penso que o povo apoiava totalmente os guerrilheiros. Só depois que o Exército entrou, muitos, por medo, foram mudando de opinião porque foram presos e torturados. O Exército disse que eles eram terroristas. Mesmo assim uma metade não acreditou e continuou apoiando em silêncio. (...)

Muitos entraram com eles. Inclusive um, que tinha me ajudado a entrar em contato com os índios gaviões, entrou e ficou com os guerrilheiros. Esse escapou. (...)

Só que eu conheci, umas oito a doze pessoas do povo entraram. Os guerrilheiros já tinham quase cem pessoas. Muitos foram mortos, outros conseguiram escapar. (...)

Justamente lá na Metade, no auge da briga, marquei uma missa no rio Fortaleza. No caminho apareceram eles, os guerrilheiros, duas moças e três rapazes, todos armados de fuzil. Então conversamos. Dei para eles umas bananas. Eles perguntaram qual a minha opinião sobre eles. Eu disse: Eu aprovo. Cada pessoa tem o direito de procurar a verdade e defender seus direitos. Agora, acho que não vai dar certo.

Eles disseram que queriam libertar o povo. Que o governo escraviza o povo. Até me deram um caderno escrito contendo as idéias que eles discutiam com o povo. Falavam que existem cinco preliminares da liberdade: saúde, alimentação, terra ou casa, alfabetização ou cultura e participação na política do governo.

Depois que o Exército prendeu os posseiros, eu protestei. Fui a Belém, falei com o general Jardim de Mattos. Disse que o Exército estava com uma imagem muito negativa. Torturava pais de família.

Um belo dia, recebi um rapaz mandado pelo bispo dizendo que eu voltasse a Marabá, porque corria uma notícia de que eu ia ser preso. (...)"30



"Lauro Rodrigues dos Santos é morador da Faveira (...) Ele conta: Quem primeiro chegou na Faveira foi o Seu Mário (Maurício Grabois), juntamente com Dona Maria (Elza Monnerat) e Joca, em 1969. Depois vieram os outros. Eles foram trabalhar na roça, no comércio, na farmácia. Minha mãe ensinou muitos deles a fazer as comidas aqui da região, beiju, tapioca, mandioca. Eu tive uma malária de 20 dias e quem me curou foi a Alice. Se não fosse ela eu tinha morrido.(...) Dona Maria gostava de visitar a gente de domingo, falava de hospital, escola, do governo que não dava assistência. Falava tudo isso. Eram assuntos que eles tratavam." 34



"Houve povoados, como São Domingos das Latas e Palestina, em que quase toda a população foi presa. Em um só dia foram presas 150 pessoas. E presas por meses. (...)

Por que? Nesse tempo, a repressão já prendia e torturava de maneira seletiva. Ninguém que não tivesse maiores implicações com a guerrilha era preso por muito tempo. Pelo contrário, o Exército tudo fazia para cativar a população local, com a ACISO por exemplo. Sabe-se inclusive que as prisões do final de 1973 foram feitas através de denúncias de espiões, o que demonstra sua seletividade.

Só se pode chegar a uma conclusão: centenas de prisões queriam dizer que centenas de moradores haviam se ligado à guerrilha, em alto nível. Muitos deles, dezenas talvez, nunca voltaram.

Hoje, creio, já podemos afirmar que uma grande parte da população apoiou a guerrilha com informações, alimentação e calçados. E outra parte, menor, porém expressiva, participou da União pela Liberdade e os Direitos do Povo, integrando-se na própria luta guerrilheira. Por isso a guerrilha sobreviveu tanto tempo." 34



"Em São Geraldo, um morador resumiu: Se há inferno, aqui foi muito pior. Outro, o Zé Veinho, lavrador de idade avançada, declarou: Toda quinta-feira tinha que viajar três léguas para assistir a reunião deles (do Exército). E aquilo era sem apelo. Se não fosse, tinha que explicar o motivo que não foi. Se não fosse, daí a pouco chegava quatro a cinco soldados. Lá nessas reuniões tinha o retrato do pessoal. O que eles iam pegando, iam tirando do mapa..." 34



Atestado para fins de aposentadoria por invalidez de Lauro Rodrigues dos Santos, assinado pelo prefeito de São João do Araguaia, José Freire Falcão, datado de 27 de abril de 1973, onde se lê: "Tendo em vista os acontecimentos por época da caçada aos Terroristas pelo Exército Brasileiro, o mesmo foi alvo de uma explosão que o inutilizou para o trabalho da roça ..." 82



"Antes de sair, Criméia abraça o dono da casa e pede desculpas pelo que lhe causaram, mesmo sem querer. Isso foi coisa da guerra, ele responde. Lauro se adianta, estende a mão que lhe restou e pede: O que passou foi mesmo coisa da guerra. Agora, volta para a cidade e briga por mim."120



"...Geraldo Martins de Souza, ex-delegado, se orgulha da medalha que tem em casa, dada pelo Exército, por ter prendido Rosinha, já debilitada. Maria da Metade, feminista – por causa da Cristina, que me ensinou que mulher também tem querer - é a que mais ajuda." 120



"Até agora, o lavrador Frederico Lopes era um desaparecido político. Seu nome consta de um cartaz do PC do B que relaciona os camponeses que participaram da guerilha do Araguaia. Até sua mulher, Adalgísia Moraes, hoje com 70 anos, acreditava que o marido tinha morrido. Mas, em 1985, o desaparecido apareceu.

- De repente, numa tarde, levei o maior susto ao ver meu marido em frente de casa. Tinha sido deixado por um carro do Exército e estava totalmente louco. Queria me matar, nunca mais foi o mesmo. Passou a ter problemas mentais, depois de ter sido submetido a choques elétricos, obrigado a comer dois quilos de limão com casca e a pisar em cacos de vidros e latas furadas – afirmou.

Frederico foi levado primeiro para as antigas instalações do DNER em Marabá. Depois, para Belém. Chegou a ser visto pelo ex-guia Manoel Leal, o Vanu, num hospital militar. (...)

Frederico é apenas um exemplo do rastro que o combate à guerrilha deixou no Araguaia. Lauro Rodrigues dos Santos, hoje com 35 anos, perdeu a mão direita ao pegar uma granada em 1972. A freira Maria das Graças, com 68 anos, depois de torturada, tornou-se doente mental. (...)

Excluídos da lista de parentes de desaparecidos políticos prestes a receber indenização do Governo, são os que, até hoje, mais pagam com o sofrimento a conta da guerrilha. Denunciam que foram expulsos de suas terras, torturados e mantidos em campos de concentração com justificativas que, após mais de 20 anos, ainda não entendem.

Eduardo dos Santos, hoje com 68 anos, diz que em abril de 72, num só dia, 30 pessoas foram presas, espancadas, torturadas e confinadas em campos de concetração. As roças foram destruídas e os mais velhos, obrigados a se tornar guias.

- As prisões eram constantes. Me bateram muito só porque encontraram uns guerrilheiros, entre eles o André Grabois, na minha roça. Depois disso, para não apanhar mais, me tornei guia e informante – recorda Geraldo Martins de Souza, que chegou a ser condecorado pela prisão da guerrilheira Maria Célia Corrêa.

Carlindo Pereira, de 63 anos, tinha um sítio perto do acampamento de Bacabas. Segundo ele, a violência contra a população foi num crescendo. Entre as tantas formas de tortura, nenhuma impressionou tanto como o buraco da morte.

- Era um buraco enorme, coberto com arame farpado. Os camponeses eram colocados lá dentro e jogavam jornais em chamas para que eles entregassem os guerrilheiros. Os que saíram vivos estão imprestáveis para o resto da vida – disse.

Comerciante na região, ele explica que, para fugir das torturas, os moradores, além de entregar os guerrilheiros, passaram a mentir, mas acabavam pagando caro.

Muitos camponeses torturados tiveram um fim ainda mais trágico do que Frederico. Não resistindo aos maus-tratos, alguns dos chamados mateiros morreram dias depois da guerrilha. (...)

- Meu marido, Aderico Ramos, estava pescando quando pegaram e levaram ele. Três meses depois, ele voltou para casa, mas não era mais o mesmo: vomitava sangue e teve constantes convulsões até morrer – afirmou Raimunda Alves Ramos, de 60 anos, moradora de Palestina. (...)

Segundo Maria Raimunda Rocha Veloso, de 62 anos – que também perdeu o marido em conseqüência de traumas das violências – muitas viuvas, por medo de represálias, escondem que os maridos foram mortos.

- Foi tanto sofrimento que elas preferem esquecer o passado – conta Raimunda, que se tornou mito no Araguaia, devido à sua obstinação em ajudar os parentes de desaparecidos a procurar cemitérios clandestinos.

A maioria da viuvas – entre elas Madalena Lopes de Souza, de 54 anos, que mora em Xambioá – desconhece a Lei 9.140/95, que obriga o Governo a pagar indenização aos parentes de desaparecidos políticos. O marido de Madalena, José Ribeiro Dourado, está desaparecido desde 1972, quando foi preso em sua roça, em Pau Preto. Segundo ela, seu marido foi assassinado porque dias antes tinha dado comida ao guerrilheiro "Osvaldão".

- Além de matar meu marido, puseram fogo na nossa roça, que tinha de tudo: frango, comida e outros mantimentos. Hoje vivo na miséria – disse.(...)

Mas a exemplo da maioria das mulheres da região, é semi-analfabeta, mal tem dinheiro para comer e só tirou documento, na época da guerrilha, por ordem dos militares, que queriam saber quem morava no local (...)

Os traumas também são grandes entre os padres que foram torturados e perseguidos. Chegaram até a ser proibidos de celebrar missas durante o tempo da guerrilha.

- Foi duro resistir a tudo. Apanhei muito, ao lado da irmã Maria das Graças, que ficou louca, só porque confundiram a gente com guerrilheiros – contou o padre francês Roberto de Valicourt, que mora em Marabá e se recorda do dia em que teve sua cabeça batida várias vezes na parede." 173



"Vanu contou que a depressão maior, localizada bem no meio do terreno, era um buraco usado para tortura. Os guerrilheiros e os moradores da região acusados de colaborar com eles eram pendurados num pedaço de madeira em cima do buraco e espancados. O ex-guia contou que nunca assistiu ao enterro de alguém no DNER, mas via as covas abertas no final da tarde e depois constatava, na manhã seguinte, que os buracos estavam fechados.(...)." 180



"Agora sou uma mulher atuante, feminista, preocupada com a educação para o povo e a reforma agrária, disse a mulher ... Lembro com carinho e saudades dos guerrilheiros, pois todos eram nossos amigos."192 [Maria Raimunda Veloso, 66 anos]



"A doméstica Clarice Ferreira, 49 anos, não perdeu nenhum parente nos conflitos que ocorreram em Xambioá, mas não se sente nem um pouco à vontade em relembrar aqueles tempos. A gente tinha medo de ir para a roça e ser apanhada pelo Exército. Sumiram muitas pessoas na mata e ninguém encotrava depois, conta. O Zé (José Carlos, 55, companheiro de Clarice) saía para o campo à noite e eu não dormia até que ele voltasse, três dias depois. Os tiros que eu ouvia de noite me faziam chorar porque imaginava que ele tinha morrido, relembra Clarice já com os olhos cheios de lágrimas. Hoje seu esposo ainda é agricultor. (...)

Os soldados diziam para os agricultores que tinham parentes desaparecidos que a culpa era dos ‘estudantes paulistas’ (guerrilheiros comunistas), relata o comerciante Félix Magalhães. Mas a gente sabe mesmo que era o próprio Exército que matava as pessoas (...) Até hoje quando vêem aqueles soldados vestidos de verde para cá, a população treme, sustenta o comerciante.

Outra testemunha da guerrilha moradora de Xambioá, a doméstica Maria do Socorro da Costa, 50 anos, diz que o Exército queria denegrir a imagem dos estudantes que ocupavam a mata. Tudo mentira. Eles (ativistas) eram bondosos. Pediam para meu marido ensinar eles a plantar e um deles disse que poderia até dar aulas para meus filhos numa escola um pouco longe daqui, recorda. (...)

(...)

Lá [em São Geraldo] os habitantes que presenciaram a Guerrilha do Araguaia também não gostam de lembrar esse passado negro da história. Muitos têm medo e acreditam que um outro conflito pode acontecer a qualquer momento." 194



"Margarida chora quando fala no nome dos guerrilhros e camponeses que conheceu por ocasião da guerrilha, torturados e mortos pelos militares. Tenho muitas saudades do Zé Carlos, do Zebão, do Alfredo, do Dudinha, que era carioca, lembra. (...)

Durante a conversa com o representante do Ministério da Justiça, Cristiano Morini, e com Fondebrider, Margarida disse que a guerrilheira Lúcia Maria de Sousa, que tinha o codinome de Sônia, nem sequer chegou a ser enterrada. O corpo dela ficou seis meses apodrecendo na Fazenda Caçador, onde morávamos eu e meu marido.

Adalgisa de Moraes aderiu à guerrilha e conta que não só dava guarida e comida aos guerrilheiros, como também participava das discussões políticas. Os militares chegaram a nos oferecer 20 alqueires de terra no Brejo Grande do Araguaia, para que colaborássemos, mas não aceitamos porque esse é um presente maldito, afirma. Adalgisa é mulher de Frederico Lopes, lavrador considerado morto na guerrilha, mas que reapreceu, doente mental, em 1985. Os militares penduraram meu marido, deram choque no seu órgão genital e o obrigaram a pisar em vidros cortados." 210



"Moradores de Marabá contam que, no começo da década de 70, o Exército costumava realizar manobras na Praia de Tucurnaré. Ali eram jogadas bombas, provavelmente com o objetivo de intimidar as pessoas que tivessem alguma simpatia pelos guerrilheiros do Araguaia.

Lavradores de Xambioá ainda se lembram do buraco fundo, onde os suspeitos de colaborar com a guerrilha eram jogados. Contam que, depois de provado qualquer envolvimento, os suspeitos eram retirados e executados. (...)

... Fala-se muito, por exemplo, que o guerrilheiro conhecido como Osvaldão foi capturado na selva e içado, vivo, por um helicóptero. Depois, segundo essa versão popular, o guerrilheiro teve a cabeça decepada e exibida para o povo." 211



"(...) Que, no final de 1970, início de 1971, esteve no local o Exército, supondo o depoente que tratava-se da referida Arma porque os integrantes estavam fardados. Que referida ação do Exército levou aquele grupo de pessoas citado anteriormente, hoje conhecidas por ‘guerrilheiros’, a refugiar-se na mata; (...) que acordou com a gritaria dos moradores da cidade, indo então ver o que se passava; que, neste momento, viu Nonato acompanhado de um grupo composto por treze a quatorze homens à paisana e que se diziam ser da Polícia Federal e traziam consigo aproximadamente vinte pessoas, as quais tinham prendendo seus pés argolas de ferro do tipo que se usa para adestrar animais, todos nus da cintura para cima e descalços; que Nonato disse que os presos eram levados para Araguaína, mas o depoente mais tarde veio a saber que, na realidade eram eles levados para uma cidade no Maranhão, próximo a Tocantinópolis cujo nome não se recorda. Que no dia seguinte ao retorno de Nonato, esteve este novamente em sua casa com mais pessoas presas; que, no terceiro dia, Nonato convidou o depoente para irem para a mata; que no início a mãe do depoente recalcitrou em deixá-lo acompanhar o grupo, mas acabou cedendo; que, no primeiro dia em que acompanhou o grupo nada aconteceu, sendo que a empreitada durou em torno de seis dias; que após dois meses de acompanhamento, o depoente, com seu grupo, encontrou um corpo em estado de putrefação; que referido corpo não tinha cabeça e ficou às margens de uma picada entre duas propriedades, numa distância de seis a oito quilômetros da Vila Metade, aproximadamente por dois anos; que soube, à época, que o corpo era de uma pessoa chamada ‘Fatima’; que o referido corpo só saiu do local quando o Exército esteve na área construindo estradas para a colonização; que assistiu à execução de ‘Luizinho’ (baixo, moreno, cabelos lisos e pretos) por uma patrulha comandada pelo Cabo Andrada; que ‘Luizinho’ morava a uns quinze a vinte quilômetros da Vila Bacaba; que nesse dia, a patrulha comandada por ‘Andrada’ era composta por quinze homens, sendo que doze caminhavam à frente do depoente e dois, atrás; que chegaram ao local da casa de ‘Luizinho’, que encontrava-se vazia. Caminharam mais uns seiscentos metros e por ter ficado para traz, o depoente já encontrou a vítima morta, sendo que o tiro foi dado pelas costas, e que pode ver o coração e o fígado e a ‘frente’ de um modo geral toda "para fora"; que viu preso um indivíduo conhecido por ‘Zezinho’ (com estatura de um metro e setenta e cinco centímentros, cabelos lisos e pretos, aparentando ter uma idade entre dezoito e vinte anos) filho do finado ‘Luizinho’, em São Domingos dentro de um saco de estopa por volta de seis horas da tarde, quando os políciais disseram que o iriam levar para Bacaba e depois para Brasília. Que acompanhou até Bacaba uma moça alva, branca, baixa, cabelos curtos e escuros, e olhos castanho claro, chamada ‘Rosinha’, cuja verdadeira identidade é Maria Célia Correa, a qual era do Rio de Janeiro e supostamente seu pai era um militar; que a viu durante os três dias em que ficou na Vila Bacaba; que Maria Célia foi entregue na Base da Bacaba na última noite de carnaval do ano de 1973; que ‘Valdir’ e ‘Zé Carlos’ foram capturados na região do Saranzal; que ‘Valdir’ tinha um hematoma na perna e era conduzido por ‘Zé Carlos’; que viu ‘Valdir’ e ‘Zé Carlos’ ao passarem por sua casa presos por Nonato, com destino à Bacaba; que ‘Zé Carlos’, parece, era marido de ‘Dina’, uma moça morena, que exercia um cargo elevado na Vale do Rio Doce na Bahia; que possivelmente ‘Zé Carlos’ era um ex-terceiro-sargento do Exército no Rio de Janeiro; que conheceu ‘Osvaldão’, indivíduo moreno escuro que usava uma arma calibre quarenta e cinco, que era do Rio de Janeiro e possivelmente primeiro-sargento do Exército; que ‘Osvaldão’ foi morto por ‘Arlindo Piauí’, pertencente a uma família local por sobrenome ‘Piauí’, moradora nas proximidades da Vila Metade; que conheceu ‘Cristina’, uma moça de cor clara e cabelos longos que foram cortados com a finalidade de andar facilmente pela mata, havendo ‘Rosinha’ falado para diversas pessoas que a mesma foi morta nos arredores da Fazenda Chega com Jeito, por volta de meio dia em uma casa abandonada; que soube, através de Nonato que ‘Joãozinho’, companheiro de ‘Valdir’ e ‘Zé Carlos’ também fora preso mas o depoente não o viu; que o depoente também conheceu ‘Maria Lúcia’, uma moça alta, branca, cabelos claros; que conheceu ‘Zé Linhares’, indivíduo moreno, cabelos encaracolados e castanho-escuro, de um metro e setenta centímetros de altura, com idade entre vinte e cinco e trinta anos que tinha um comércio em São Domingos, entre 1970 e metade de 1971, tendo sido um dos primeiros a serem presos; (...)" 226

[Essa historia está um pouco confusa; as informações parecem corretas mas com erro de datas e troca de algumas pessoas]



"Pelo menos um integrante de cada família que abrigou ou apoiou a guerrilha foi preso e torturado pelo Exército. O caso mais comovente presenciado pela fotógrafa foi o de Frederico Lopes, um camponês de 65 anos, que era amigo dos guerrilheiros e dava comida a eles.

Com a sua prisão, a mulher e os oito filhos pequenos perderam a terra, onde tinham uma plantação de arroz. Frederico voltou da prisão com problemas psiquiátricos e como a convivência com a família ficou insuportável, o Exército o internou em um sanatório. Um mês depois ele voltou mais controlado. Mais tarde uma de suas filhas, então com 10 anos, foi trabalhar em uma pensão na região da Fazenda Bacaba, que abrigava um centro de tortura, e sofreu abuso sexual por parte dos militares." 243



"Inúmeras barbaridade foram cometidas, como a que atingiu a família de Pedro Moraes Silva, hoje com 33 anos. Seus pais, Frederico e Adalgisa, fizeram amizade com os ‘meninos’, como os guerrilheiros eram chamados pelos moradores. Foi a guerrilheira Sônia (Lúcia Maria de Souza) quem fez o parto de uma das filhas de Adalgisa e salvou sua vida. Quando a ação do Exército começou e os guerrilheiros foram obrigados a se esconder na mata, a casa de Pedro era um dos pontos de busca de comida. Por causa disso, em 1973 o Exército prendeu Frederico e expulsou Adalgisa e os oito filhos, inclusive um recém-nascido, de casa.

- Eu tinha oito anos mas lembro como se fosse hoje, conta Pedro, do Curió queimando a minha casa. Minha mãe mandou eu voltar lá para pegar um pouco de comida e quando cheguei vi tudo queimando: casa, cama, panela, plantação. Os animais que não comeram, mataram e levaram. Quando vi tudo que tínhamos se acabando, chorei.

... naquela ocasião [Curió] prendeu Frederico, que desapareceu durante seis meses, levando a família a pensar que ele havia morrido. Um dia, um jipe do Exército deixou Frederico na porta de casa. Havia sofrido inúmeras atrocidades, submetido a choques elétricos, obrigado a ficar em pé sobre latas de cerveja cortadas, história que só conseguiria contar muitos anos depois. Frederico voltou louco para casa e nunca mais foi o mesmo. Hoje, ele e Adalgisa são sustentados pelos filhos.(...)

Duas décadas depois, pouco se fala sobre a guerrilha e ainda agora os moradores não conseguem entender direito o motivo da guerra contra ‘os meninos’ que ensinavam a ler, davam remédios, faziam partos. Para eles, os guerrilheiros foram vítimas e como tal são lembrados." 244


História

A chegada dos primeiros agentes - o início da Guerrilha

Primeiras notícias sobre o início da Guerrilha

Segunda Campanha

Terceira campanha - a guerra suja

Versão oficial

Os guerrilheiros

Prisioneiros e mortos

Os militares e seus colaboradores - cachorros e pistoleiros

A repressão na região

O silêncio e a fala dos militares

A guerrilha e os guerrilheiros

A ocultação dos mortos

Ações na justiça

A busca dos familiares

A busca dos familiares em outros locais

Medidas dos governos civis

Impunidade

Homenagens

O Partido Comunista do Brasil

Bibliografia


Saiba mais

A repercussão da Caravana ao Araguaia
julho/2001

O processo dos familiares contra a União na OEA

Os guerrilheiros

Os camponeses

Os militares

Os cemitérios clandestinos

(*)

2007-03-20 00:49:27 · answer #3 · answered by M. A. D. S. 5 · 0 0

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