Sócrates, uma das figuras mais referidas da história da cultura ocidental, é, também, uma das mais complexas e, literalmente falando, desconhecidas. A razão é simples: ele nada escreveu acerca do que fez ou pensou. E o que fez e pensou exerceu um impacto devastador na vida das pessoas que o freqüentaram e da comunidade na qual vivia.
A reação à sua poderosa personalidade e o impacto provocado por sua conduta e pensamento podem ser medidos por fatos. A democrática Atenas, onde os homens se gabavam de ter a ‘lÃngua livre’, que não se cansava de alardear doçura, tolerância, magnanimidade para com estrangeiros, suplicantes e escravos, viu nele um inimigo do povo e um agente de corrupção dos jovens, acusando-o de subverter práticas consagradas pela mais cara tradição cÃvica. Em 399 a.C. três cidadãos moveram contra ele uma ação pública (graphé), enquadrando-o como Ãmpio.
A terra do ‘franco falar’ (parrhesÃa), julgando procedente a acusação, reconhecia nele a figura do homem mau, que é preciso combater, punir e, sobretudo, segregar, para que a sua influência seja extirpada da vida social. Dessa perspectiva, Sócrates passa a incorporar as caracterÃsticas contrárias ao modelo do herói cÃvico, responsável pela proteção da comunidade, e por ela valorizado; agora, marcado com o sinal contrário, torna-se para todos um perigo.
Por outro lado, como que a compensar essa reação comunitária hostil – Atenas atingiu-o pela ação do tribunal popular –, desenvolveu-se após a sua morte um fenômeno espiritual de grande importância.
Aquele impacto a que nos referimos teve o seu lado positivo, e Sócrates, a sua louvação. Isso veio a traduzir-se na consolidação de um tipo de influência espiritual multifacetada, que se costuma designar pelo nome de socratismo. De fato, de seu convÃvio partilharam pessoas de condição social, objetivos e interesses variados e, por vezes, até contrários; após a sua morte algumas dessas pessoas se agruparam em orientações espirituais diferentes, apenas em alguns pontos coincidentes, à s quais não negavam a poderosa ascendência socrática. Podem ser lembrados, aqui, alguns lÃderes e suas escolas, como o grande Platão (Atenas) e a Academia, Aristipo (Cirene) e os cirenaicos, Diógenes e os cÃnicos, Euclides (Megara) e os megáricos, entre outros. Todas essas correntes dariam, na fase helenÃstica da cultura antiga, resultados significativos, pelo débito a elas devido por algumas das orientações filosóficas mais importantes daquele perÃodo.
Como se pode concluir, Sócrates é um ponto de referência incontornável na história da civilização ocidental. Falou-se dele, falar-se-á sempre dele. Alguns aproximam-no do filósofo, outros, do mártir, outros, do herói, outros, ainda, do grande mestre.
O "grande mestre" tem sido a opção preferida dos filósofos e dos educadores. Esses últimos, com muito orgulho, gostam de lembrar o hábil inquiridor, que finge tudo ignorar para tudo demolir, e investir, a seguir, desonerado dos julgamentos precipitados, na construção do saber, legitimado pela participação do interlocutor. Nesse grupo de admiradores, que sublinham sua condição de "maiêutico", infiltraram-se alguns admiradores vigorosos que se apressam em identificá-lo com o homem que inventou um grande método de ensino.
Este texto pretende discutir o sentido e a propriedade dessa associação de Sócrates com o problema do ensino, mais precisamente, com a questão dos meios no ensino. Em nossa interpretação Sócrates é "maiêutico", sim, mas esse "ser/agir maiêutico" se apresenta como "epistêmico" nos fundamentos e "didático" nos resultados. Ou, para ser fiel ao sentido mesmo da lÃngua grega antiga, é preciso recuperar o sentido "gnosiológico" do termo "didático", e repensar sua vinculação originária com o problema da constituição do conhecimento, em sua dimensão lógica e conceitual, ou, se se quiser, em sua correspondência ôntica também.
Em educação, as teorias vão e vêm, as experiências se sucedem, mas, por vezes, algumas idéias permanecem e algumas experiências resistem, ainda que de forma parcial, a novas práticas. Se é discutÃvel falar em "progressos" pedagógicos, não é arriscado considerar que, como saldo de tantas discussões e ensaios sobre educação, é possÃvel, ao final desse inventário histórico, considerar, de forma otimista, alguns "ganhos".
Ora, a valorização socrática da autonomia do aluno faz parte desse "ganho" e nem se cogita, aqui, de pôr isso em discussão. Todavia, as idéias e práticas têm sua vinculação histórica; ao longo do tempo esse vÃnculo vai perdendo a sua força, enfraquecido por uma certo tipo de "apropriação" quase que fatal, operada por força de uma utilização espontânea, adaptativa, do meio cultural a que serve.
Nossa reflexão vai em direção ao passado, revitalizar precisamente o sentido original dessa "maiêutica", não para negar-lhe todas as implicações metodológicas que se tem procurado dela depreender, mas, antes, para redimensionar essas implicações à luz do momento histórico de sua gênese, ou seja, dentro de seu contexto intelectual.
Dessa perspectiva, o "atuar maiêutico" desqualifica-se como simples emprego processual de um recurso pedagógico, a que, em suas origens, ele está longe de reduzir-se, e nos porá bem na frente de um problema de fundo, vinculado a uma investigação acerca da natureza do saber. Ora, deslocado para este lado, a questão do método a que se associa a grande contribuição de Sócrates vem a ganhar uma outra configuração, que só podemos compreender nos quadros de uma história cultural. Em outras palavras, se há uma questão de método a que se pode ligar a figura de Sócrates, essa questão enraizava-se em domÃnios que ultrapassam a referência a meios, ou técnicas, e vincula-se a uma pesquisa sobre os fundamentos e os fins em educação.
O Sócrates maiêutico acabará por nos colocar em um emaranhado conceitual, obrigando-nos a considerar separadamente o "instruir" e o "educar", numa posição filosófica nova, que realça a importância do princÃpio do "ensinar educando".
Assim, importa então um recuo histórico, para colocar Sócrates dentro de seu tempo, em confronto com sua herança cultural.
Mas, como vamos alcançá-lo se não há acordo entre os helenistas acerca de sua pessoa e de seu pensamento? Nossa referência vai ser o Sócrates maiêutico, aquele mesmo a quem se reservou um lugar na história da educação e na filosofia da educação, o filósofo e o mestre, ou, se se quiser, o "mestre filósofo". Nesses termos, os crÃticos em geral nos remetem ao Sócrates platônico. Mais precisamente, ao Sócrates platônico dos primeiros diálogos, os chamados diálogos "aporéticos". Que diálogos são esses e quem é esse Sócrates, como se apresenta?
Os "aporéticos" são os primeiros diálogos platônicos, que se supõe terem sido compostos ainda sob o impacto da morte do mestre, ou sob a poderosa e mais recente influência da pessoa dele. Referem-se a pesquisas acerca da perfeição humana, mais precisamente da qualidades que a integram, de sua natureza e das condições de sua aprendizagem. Em geral esses diálogos não chegam a uma solução acerca do conceito investigado, seja ele a coragem (Lakhes), a piedade (EutÃfron), a temperança (Cármides), a beleza (HÃpias Maior), como também, sobre a possibilidade de essas qualidades serem alcançadas por meio do ensino (Protágoras, Mênon). Dizem-se aporéticos devido ao tipo de desfecho da trama dialógica, desenvolvida com grande habilidade argumentativa da parte de Sócrates; este, após ter exposto a falsa ciência do interlocutor (ironia e refutação), coloca-o em posição adequada para reiniciar a investigação, uma vez que foram eliminados os conceitos pré-estabelecidos acerca do tema que se quer conhecer.
Sócrates, a figura central dos diálogos platônicos em geral e desses de que tratamos em especial, é um homem da cidade antiga, sem dúvida, mas, por sua conduta, está acima e adiante de seu tempo. Trata-se de uma pessoa em tudo diferente. Fisicamente forte, mas de semblante sem beleza, com aparência de um sátiro. Psicologicamente arguto, controlado em suas emoções, resistente à s intempéries da natureza, à dor, ao sofrimento e aos prazeres em geral. Indiferente aos enigmas da natureza, extremamente sociável e interessado na vida na cidade, nos problemas humanos relativos ao agir. Extremamente hábil no interrogar e refutar, rodeado, sempre, de amigos, discÃpulos ou ouvintes, submete essa habilidade a uma pesquisa antropológica de cunho ético. E o instrumento dessa pesquisa é o diálogo, que pratica invariavelmente, todo dia, em cÃrculos fechados, de jovens quase sempre bem nascidos e ricos, ambiciosos e ávidos por ocupar um posto importante na polÃtica, ou em cÃrculos abertos, em princÃpio para o homem comum, que circula ou trabalha na praça da cidade.
Até Sócrates, duas tradições culturais sustentaram o desenvolvimento espiritual dos gregos: a dos poetas e legisladores, de um lado, e a dos pesquisadores naturalistas, de outro. Aquela exercia sua influência de forma mais ampla, por intermédio da poesia, épica ou lÃrica, e da lei; esta aplicava-se a um cÃrculo mais restrito de associados, os "companheiros", "concidadãos" ou "discÃpulos", que gravitam em torno do sábio que os lidera. Sócrates vai interessar-se sobretudo pelo exame crÃtico da primeira, o que enquadra sua reflexão no campo da ética, da polÃtica e da educação.
Se quisermos conhecer o tipo humano que aparece como ideal dessa cultura, tão presente na tradição literária, temos que considerar a importância que os gregos davam à aparência e ao caráter. O homem em sua plenitude (areté) deve ser belo (kalós) e de valor (agathós). Esse homem belo é sempre, nas origens, uma criatura de estirpe, um nobre. Conhece os refinamentos da vida elegante, sabe receber, é experimentado nos jogos e se sobressai em todas as circunstâncias, na assembléia ou no conselho, na qualidade de orador; no combate também, exibindo técnica e coragem diante do inimigo. Alcançar a kalokagathia, isto é, corpo e espÃrito excelentes, eis, de forma resumida, o supremo bem.
Quando Sócrates emerge no cenário grego, essa tradição vai ser questionada. Atenas é uma "cidade-escola". Centro cultural da mais alta importância, caminho obrigatório de passagem ou de estadia das figuras mais brilhantes daquela época. Pólo irradiador do saber, para onde poetas, adivinhos, retóricos, professores de eloqüência, declamadores, pesquisadores da natureza, intelectuais de toda espécie afluem, circulando pela ágora; ali, a fina flor da juventude freqüenta ilustres estrangeiros, discute sobre todos os temas e questiona, racionalmente, os fundamentos da vida religiosa, social, familiar, polÃtica. Atenas tem poder – ela governa um império, e lidera a Grécia, sustentando seu brilho com os recursos dos aliados, que protege do perigo persa e animada pelo vigor do regime democrático. Quando Sócrates, ao final da vida, é julgado e condenado por um tribunal popular, Atenas, esgotada à exaustão, perdera a Guerra do Peloponeso, e, com ela, o império marÃtimo que a consagrara, sob o governo de Péricles, como lÃder da Grécia; esforçava-se por superar as conseqüências polÃticas de dois golpes oligárquicos (411 e 403 a.C.), lutando por manter a paz e, com ela, internamente, a democracia, regime polÃtico restaurado ao qual associava a sua glória, e que, agora, cabia preservar.
Foi dentro desse quadro cultural e polÃtico que emergiu, cresceu, se impôs e brilhou a figura de Sócrates. Essa Atenas clássica conheceu todo o poder da atuação de sábios racionalistas, crÃticos implacáveis da tradição em todos os sentidos, extremamente hábeis, alguns deles, em desenvolver e ensinar técnicas de comunicação, que os jovens, futuros lÃderes da cidade, viriam a aplicar com perÃcia, visando ao êxito nas assembléias populares e no Conselho.
Sacudido pelos novos ventos, "iluminado" pelo implacável exercÃcio crÃtico de sábios ambulantes, aquele ideal de excelência fÃsica e moral está em crise. O teatro cômico não vai perder a oportunidade de explorar o confronto entre os valores antigos e os novos, que acarretam mudanças notáveis e radicais na educação. A ilustração desse confronto pode ser acompanhada com proveito pela leitura de "As Nuvens", cujo autor, Aristófanes, não poupa talento em expor o choque de gerações e a radicalidade da atuação dos intelectuais contemporâneos.
Como Sócrates se situa diante desse quadro? Em que contexto e motivado por que preocupações ele irá agir, notabilizando-se pelo uso de uma tekhné investigativa, que depois se iria rotular de "método socrático"?
Como os sofistas, com os quais atua nesse cenário, Sócrates gosta de interrogar, partilha, até certo ponto, uma erÃstica, uma arte de discutir. Mas os sofistas gostam de longos discursos, não sabem ou não gostam de fazer perguntas curtas e diretas, usam e abusam de comentários do mito, da poesia. Sócrates quer que tudo isso seja evitado, em benefÃcio do diálogo direto, simples e conciso. Não é esse o testemunho do "Protágoras", com toda aquela magnÃfica "mise-en-scène" em que Sócrates ameaça abandonar a discussão?
Ele sabe propor as perguntas, mas, sobretudo, sabe encaminhar a discussão e refutar. Por isso é surpreendente sua dialética. Esse agón, essa disputa é, sobretudo, ágil e dura. Visa a bater no opositor e fazê-lo pôr-se em retirada. Não porque se proponha a ganhar sempre toda causa, ainda que fraca. A refutação, para ele, opera analogicamente ao fármaco bem aplicado, e promove uma purga, e, como lembra Mondolfo, essa purificação é que prepara o espÃrito para o conhecimento. Mas, o que vem a ser, precisamente, este "conhecimento"? Chegamos, aqui, ao ponto central dessa questão relativa ao "atuar maiêutico".
Até Sócrates – e também depois dele – , a educação grega usou e abusou do recurso ao modelo. Desde Homero, até de forma inconsciente, toda a formação do homem grego dependerá, em sua inspiração nuclear, de referência a "exemplaridades". Haverá manifestações em sentido contrário ou diferente, mas à pedagogia da "imitação" se destinava uma longa vida.
Sócrates rompe com toda essa tradição, embora, curiosamente, ele próprio seja um produto da velha escola, aquela que "formou os heróis de Maratona". Haja vista a referência, em mais de uma fonte, a feitos heróicos por ocasião de eventos militares (Delos, Potidéia). Mas com ele, questionado, o paradigma não suporta a inspeção crÃtica da razão. O modelo de coragem (Lakhes), o modelo de piedade (EutÃfrone), o modelo de temperança (Cármides), que preenchem os requisitos tradicionais a respeito dessas qualidades, mostram-se inconsistentes, todos eles, sucumbindo à laboriosa e astuta dialética socrática. Ainda mais uma vez, paradoxalmente, respeitando a convicção grega de que a lei consigna a justiça e nesta estão reunidos todos os valores cÃvicos, o mesmo Sócrates, que duvida da capacidade polÃtica do cidadão ateniense comum para bem votar as leis da polis, é quem, em obediência à idéia comum de excelência, aprovada por essa mesma maioria cuja competência vem de questionar, vai desafiar a assembléia ensandecida, no julgamento dos generais da batalha das Arginusas, empenhado em fazer cumprir as leis. Apesar de opor sérias dúvidas ao processo (democrático) pelo qual foram estabelecidas.
Mas, voltemos ao ideal paidêutico da kalokagathia. Em que condições os modelos presos, de alguma forma, a esse ideal foram confrontados, rejeitados ou reformulados?
Olhar o homem como uma unidade superior à soma do corpo e do espÃrito vai implicar, para Sócrates, uma reformulação estética de alcance inestimável. A beleza fÃsica, tão importante desde a épica, preserva seu valor, mas submetido a uma abrangência, que é o homem por inteiro. Dentro dessa perspectiva, o belo corpo, a ação corajosa, associados, com uma certa regularidade, à s exibições atléticas e esportivas, aos feitos heróicos de guerra, são repensados em função de uma idéia de homem mais elaborada. à preciso considerar o homem na sua totalidade, o que se encaixa numa filosofia educativa que subordina a ação humana a uma reflexão sobre a vida e a qualidade da vida. Alcançar a vida boa, viver bem, transforma-se, com Sócrates, em um projeto filosófico do mais alto alcance, com muito claras implicações de ordem educativa. Daà a importância de se determinar que bens devem ser eleitos como dignos de serem buscados e de que males fugir. Ora, como conhecer e determinar essa tábua de bens - refiram-se eles à saúde, à honra, ao poder, à riqueza, à glória - e como direcionar a conduta para a sua realização, no plano individual e coletivo? Qual a chave para a vida feliz?
Cabe considerar, aqui, a postura que faz, no caso de Sócrates, a diferença. Alcançar os fins últimos que garantem a felicidade é uma tarefa de conhecimento, sobretudo. Para agir é preciso, em primeiro lugar, saber. E o saber autêntico tem a força de gerar a ação legÃtima. Ninguém procura o mal, mas pode fazê-lo, se ignora o que é o bem. Qualquer ação humana é uma ação radicada na valorização da felicidade e do prazer. Apenas a ignorância (desconhecimento) pode explicar a falha que desencadeia prejuÃzo e desgraça.
Alcançar a felicidade é uma outra forma de alcançar a excelência, e esta não pode ser praticada sem antes ser conhecida. Mas como chegar ao conhecimento dessa perfeição, que é o nosso bem? Como tornar essa posse duradoura? E que sinal poderá assegurar-nos de sua permanência? Haverá alguém que conheça ou possa indicar o caminho para ela?
Inapelavelmente somos tentados a chamar aqui a figura do educador. Haverá professores de areté? Que condição essencial reclama a possibilidade de a excelência ser objeto de ensino? Seria ela, na verdade, objeto de ensino? Ora, essa possibilidade introduz aqui o parentesco da questão do "atuar maiêutico" com o "saber maiêutico". A areté pode ser ensinada se ela for ensinável, isto é, cognoscÃvel (didaktón), o que a aproxima da ciência. Nessa hipótese, a ciência que nos permite alcançá-la tem que ser constituÃda de uma certa forma, aquela mesma, "maiêutica", que leva a alma a parir um produto concebido e gestado dentro dela, por força da ação "magistral" (hoje dirÃamos, socrática) do "mestre".
Até Sócrates e os sofistas, a preocupação dos filósofos gregos esteve comprometida sobretudo com a investigação da natureza fÃsica, com algumas incursões pelo campo da polÃtica e da moral. Quando Parmênides, naquele belo poema sobre o Ser, faz advertências sobre os dois caminhos e louva a sorte daquele que é conduzido pelas divindades aos palácios da "Verdade bem estabelecida", em momento algum a necessidade de saber escolher o caminho gera qualquer dúvida sobre o objeto da busca, o conhecimento do Ser. Apenas "mortais de duplas cabeças" se desviam. Os agraciados chegam até o coração da verdade bem redonda. O pensado é o existente e todo o ser é pensamento. Heráclito mesmo, com sua dialética dos contrários, com sua oposição entre o "caminho para baixo" e o "caminho para cima", recorre ao final a um logos unificador que dá consistência e sentido ao conjunto de um aparente conflito. Sócrates contracena com pensadores que se ocupam dessa herança naturalista e fazem, de forma jocosa ou séria, a crÃtica dela. Górgias e Protágoras estabelecem referências importantes para a elaboração de uma teoria do conhecimento humano na qual a participação do sujeito ou o processo mesmo de apreensão do objeto passam a receber uma consideração crÃtica que a filosofia, depois deles, não mais vai poder desconsiderar. Por sua vez, Sócrates aprofunda essa consideração e vai contemplar o sujeito mesmo do conhecimento, em seu processo mental, que passa a ser contado como fator ativo na constituição do saber e na compreensão do erro. Se ele se ocupou em distinguir o pensamento do ser, ou se simplesmente disso não se ocupou, não pode ser resolvido ou tratado aqui, mas foi ele, sem dúvida, quem desenvolveu um trabalho teórico (e prático) de estabelecimento de uma disciplina mental indispensável a uma ciência moral com pretensão de validez universal. A forma pela qual aplicou sua capacidade dialética levou-o a elevar a erÃstica a uma atuação muito mais produtiva e fecunda, comparativamente aos efeitos do trabalho dos sofistas nesse campo; foi em razão desse esforço que se pôde configurar, pela primeira vez, a cadeia que movimenta o pensamento; ele nos ensinou que essa trama tem uma lógica, e que, para garantir a adequada comunicação entre os homens e, conseqüentemente, a possibilidade de legitimar o ensino, é necessário partilhar dessa técnica, para a constituição da qual ele foi o primeiro a contribuir de forma insuperável.
A areté pode ser cognoscÃvel e, por isso, pode ser ensinada (didaktón). Mas é porque sua natureza participa da ciência que isto é compreensÃvel. Enquanto ciência, deve, contudo, iluminar a vida. A coerência entre saber e agir se impõe, porque, se for diferente, haverá uma ruptura dentro do homem e seus passos serão desencontrados, como os de um cego sem amparo. A razão é o fator crÃtico que possibilita o discernimento e favorece a escolha da tábua de bens hábeis em levar-nos ao encontro da felicidade.
E o mestre? Ele só pode operar como um braço auxiliar da razão, que, uma vez ativada, traz em si o princÃpio que a faz produzir, isto é, conhecer. Interferir nesse processo, colocando na alma do outro um saber que não nasceu ali é uma opção pelo fracasso. Ele não promove a conversão, ele não opera o ‘milagre’ que levar a agir. Ou, se o fizer, a conduta assim provocada terá a qualidade das imitações, e bastará uma circunstância negativa para desviá-la de seu verdadeiro fim. Tal como ocorre com estátuas de Dédalo, "saberes" transplantados têm a leveza das plantas que não têm raÃzes. Apenas o encadeamento promovido dialeticamente pela razão pode aprofundá-los, e consolidando-os, torná-los fixos.
Sócrates procurou, sim, um método para a condução da alma ao seu verdadeiro bem, mas pôde estabelecê-lo na circunstância precisa em que procurou primeiro o conhecimento do homem e da terapia apropriada para levá-lo a alcançar o que, em seu entender, deviam ser os seus verdadeiros fins.
2007-03-18 20:35:00
·
answer #5
·
answered by patpedagoga 5
·
1⤊
2⤋
Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates. Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de Alcebíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou a sua instrução sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles.
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses políticos. Quanto à família, podemos dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher ideal na quérula Xantipa; mas também ela não teve um marido ideal no filósofo, ocupado com outros cuidados que não os domésticos.
Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com o voto da maioria.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.
Método de Sócrates
É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.
Doutrinas Filosóficas
A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão , de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade.
"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.
Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.
Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".
Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do sistema.
Gnosiologia
O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.
A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esquematicamente resumir nestes pontos fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução, definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os partos do corpo.
Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático "conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o seu conteúdo.
O procedimento lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.
A Moral
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral.
Escolas Socráticas Menores
A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A doutrina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico; a ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência dos costumes à filosofia especulativa. Não é, pois, de admirar que um homem, já aureolado pela austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de suas idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influência. Entre os seus numerosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadeiros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos. Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do mestre; desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do conjunto.
Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado, nem deixou algo de escrito; no entanto, descobriu o método e fundou uma grande escola. Por isso, dele depende, direta ou indiretamente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual, mediante o pensamento socrático, valoriza o pensamento dos pré-socráticos desenvolvendo-o em sistemas vários e originais. Isto aparece imediatamente nas escolas socráticas. Estas - mesmo diferenciando-se bastante entre si - concordam todas pelo menos na característica doutrina socrática de que o maior bem do homem é a sabedoria. A escola socrática maior é a platônica; representa o desenvolvimento lógico do elemento central do pensamento socrático - o conceito - juntamente com o elemento vital do pensamento precedente, e culmina em Aristóteles, o vértice e a conclusão da grande metafísica grega. Fora desta escola começa a decadência e desenvolver-se-ão as escolas socráticas menores.
São fundadores das escolas socráticas menores, das quais as mais conhecidas são:
1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de Zenão.
2. A escola cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445), que, exagerando a doutrina socrática do desapego das coisas exteriores, degenerou, por último, em verdadeiro desprezo das conveniências sociais. São bem conhecidas as excentricidades de Diógenes.
3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo, (n. c. 425) que desenvolveu o utilitarismo do mestre em hedonismo ou moral do prazer. Estas escolas, que, durante o segundo período, dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles , verdadeiros continuadores da tradição socrática, vegetaram na penumbra, mais tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dentre os herdeiros de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu mais ilustre continuador foi o sublime Platão
2007-03-18 20:45:06
·
answer #6
·
answered by NÃOPOSSUONOME 3
·
0⤊
2⤋