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A Banda :
Fantômas
Formação: Califórnia, EUA em 1998.
Formação:
Buzz Osborne: guitarra
Dave Lombardo: bateria
Mike Patton: vocais e eletrônicos
Trevor Dunn: baixo
Outros integrantes:
Terry Bozzio: bateria
Biografia:
O futebol, bem como várias manifestações artísticas, já escancarou circunstâncias onde a política dos dream teams resulta em grandes frustrações. De vez em quando, algum clube mega-milionário (ou mega-perdulário) resolve apostar muito dinheiro e reunir grandes destaques da bola, vislumbrando única e exclusivamente o triunfo irrestrito. Quando tais fenômenos acontecem, as expectativas ultrapassam limites e, na maioria dos casos, não são plenamente correspondidas pelos resultados alcançados. Arte, futebolística ou não, não se resume a bons nomes elencados em uma planilha: para ela acontecer de forma eficaz e triunfal, precisa de uma forte química entre seus agentes. Esse detalhe certamente não passou despercebido por Mike Patton quando fundou seu Fantômas.
Com o fim do Faith No More em 1998, Patton encontrou-se livre das circunstâncias que envolviam uma banda com alcance mundial. Longas turnês, conflitos com seus ex-colegas e dificuldade em conciliar os destinos musicais decretaram o encerramento de praticamente dez anos de um desgastante compromisso, que em certo ponto passou a entrar em conflito com seus projetos pessoais e a maneira como gostaria de ser percebido pelo público. Ávido por colaborar com outros artistas e espalhar suas idéias por ramos musicais menos ortodoxos, o vocalista não hesitou em jogar a última pá de terra sobre a banda que lhe proporcionou notoriedade mundial. Entretanto, mesmo com sua relevância gradualmente diminuída com o passar dos anos, o Faith No More deixou milhares de fãs abandonados, afinal, até seus momentos mais fracos superavam muita coisa que se apresentava como "ressurreição do rock" no final da década de 90. Uma contrapartida ao fim da banda tornava-se necessária.
Em meio ao desânimo geral dos fãs, uma pequena evidência apresentou-se ainda naquele ano. Lançada pela gravadora Tzadik de John Zorn, a coletânea de covers "Great Jewish Music", dedicada a Marc Bolan do clássico T-Rex, contava com uma faixa de Patton, sob o pseudônimo de Fantômas. O indicativo, que naquele momento poderia significar apenas mais um dos inúmeros trabalhos nos quais o vocalista se metia com freqüência, se revelaria no ano seguinte um dos primeiros passos tomados por ele em sua nova realidade.
Fantômas ameaçou o mundo nos cinemas,
livros e na música
A ação de Patton que responderia ao final do Faith No More não tardou a se revelar – e de forma um tanto diferente do que poderia se imaginar: além da apresentação de um novo projeto musical e do lançamento de um novo disco do Mr. Bungle, inaugurou um selo destinado a acolher sua música e a de artistas que admirava. A Ipecac Recordings nasceu em 1999 e o seu primeiro lançamento foi justamente o da misteriosa banda de Patton, o Fantômas (cujo nome faz alusão a um vilão clássico da literatura francesa, mestre em disfarces e exaustivamente desenvolvido no cinema e na literatura no decorrer das décadas).
"Amenaza Al Mundo", como é comumente conhecido, é o disco que apresenta o Fantômas e deixa explícitas algumas das razões do fim do Faith No More e os rumos que Patton tomaria a partir dali. Além do formato musical totalmente voltado para o avant-garde, onde o Naked City de Zorn fez-se bastante presente, o álbum inaugura uma tendência até então um tanto retraída em seu autor: sua verve de composição. Embora tenha participado de inúmeros projetos musicais desde que inaugurou o Mr. Bungle em 1984, Patton nunca havia apresentado um álbum autoral pelo qual se responsabilizasse plenamente, algo que para muitos de seus fãs já poderia ter acontecido há algum tempo. Elaborando mentalmente as passagens sonoras, criou o primeiro disco do Fantômas fixando sua temática nos quadrinhos (mais precisamente, no título italiano "Diabolik" de 1962), contextualizando-o de tal forma a atribuir cada faixa a uma página imaginária. Recheado de vinhetas de cinema B e efeitos sonoros, afastou-se da tendência crooner que marcou a última turnê de sua ex-banda, limitando sua voz a efeitos vocais e cacofonias diversas.
Estruturalmente, as músicas estavam associadas a essa tendência, apresentando-se frenéticas e inconstantes, trafegando a altas velocidades entre o grindcore, o metal e os experimentos avant-garde citados. Como se todas essas surpresas não bastassem, Patton se mostrou soberano na escolha dos músicos que trariam suas intenções para o plano real. Contrariando a má-sorte inerente a muitos grupos que reúnem estrelas, a escalação do Fantômas revelou-se perfeita tanto no papel como na prática. Com as guitarras sujas de Buzz Osborne (Melvins), o baixo jazzístico de Trevor Dunn (Mr. Bungle) e a bateria selvagem de Dave Lombardo (Slayer), Patton cercou-se de músicos capazes de corresponder técnica e artisticamente a suas intenções e construiu um dream team impecável (comenta-se que o baterista do Sepultura, Igor Cavalera, também foi cogitado a integrar a banda quando Patton projetava sua formação). Tal fato foi provado desde os primeiros shows do quarteto, onde Patton conduziu magistralmente a execução de músicas quebradas, inconstantes e de complicada execução, deixando muita platéia perplexa e confirmando o acerto de suas escolhas.
Não adianta: imagens promocionais são clichê mas são legais
Mesmo com seus membros ligados a outros compromissos, o Fantômas de forma alguma perdeu relevância nos anos seguintes. O segundo álbum do quarteto chegou às lojas em 2001, surpreendendo muitos ouvintes. Já acostumados com a linguagem abstrata do debut, foram agraciados com uma obra baseada em versões de músicas de filmes clássicos ou obscuros como "O Poderoso Chefão" e "O Bebê de Rosemary". "The Director's Cut" aproximou-se mais dos anseios de quem não se conectava com a ausência de vocais convencionais, apresentando versões fiéis aos originais à maneira Fantômas, com Patton efetivamente cantando quando necessário. Nesse disco é possível perceber uma maior habilidade do mentor em aplicar efeitos eletrônicos e colagens sonoras sobre a pancadaria habitual, dando mais magnitude ao resultado e mais facilidade de absorção, graças a uma conexão mais facilitada com o ouvinte. Como um passo seguinte a um disco de comunicação complicada, "The Director's Cut" aproximou o Fantômas de muitos ouvintes que não assimilavam o avant-garde, notoriamente os que mostravam predileção pelo metal.
Sua turnê foi obviamente celebrada pelos fãs, de tal forma que um registro ao vivo acabou especialmente no catálogo da Ipecac em 2002. "The Fantômas Melvins Big Band: Millenium Monsterwork" é a gravação de um show combinado entre as duas bandas na noite de ano-novo entre 2000 e 2001, que já incluía faixas do álbum mais recente. No ano seguinte, o Fantômas contribuiu com uma faixa do disco "Masada Anniversary Edition vol. 3: The Unknown Masada", de John Zorn, onde regravou ao seu modo uma das músicas de um dos inúmeros projetos do saxofonista.
Sem quebrar a tradição de nunca se repetir, o Fantômas lançou em 2004 o seu disco mais ambicioso (sendo que ambição sempre foi uma constante na carreira da banda). "Delìrivm Còrdia" leva à risca os ensinamentos de anos no avant-garde, aproximando Patton do nível de composição de seus mestres. Tido como "difícil" e "monótono" por até mesmo muitos fãs do Fantômas, o álbum aborda o ambient e os longos momentos de texturas musicais, utilizando as pancadarias onipresentes nos dois discos anteriores em bem menor escala.
Pequeno detalhe do arsenal
(foto: Caroline Bittencourt)
Patton mostrou-se magistral na capacidade de contextualizar sua obra, dessa vez transformando-a em uma trilha-sonora imaginária para intervenções cirúrgicas, dotando-a de uma aura sombria e macabra. Até mesmo por se apresentar em uma única faixa, o que exige uma dedicação maior por parte do ouvinte, o álbum se afastou da linguagem direta (e nem por isso simples) das iniciativas anteriores, mas revelou que Patton só evoluía em termos de capacidade de composição e desenvolvimento de sua música.
O quarto e mais recente disco da banda foi lançado em 2005, desta vez, sem exatamente inaugurar um capítulo tão distinto na discografia deles. "Suspended Animation" surpreendeu os fãs que esperavam mais uma etapa que divergisse das outras três anteriores, pois o quarteto acabou oferecendo um álbum de estrutura semelhante ao debut, com faixas muito ligadas ao grindcore e freqüentemente fragmentadas, intercaladas com muitos samplers, ruídos e sonoridades contraditórias.
du-da-grmph-tch-tch-GAAAA
(foto: Caroline Bittencourt) Embora os vocais de Patton também apontassem para a inteligibilidade do álbum de estréia, o novo disco mostra evoluções na utilização de samplers e eletrônica, que passou a integrar as composições de forma mais massiva e melhor encaixada. Ao invés de quadrinhos, o tema principal são as animações, plenamente audíveis no disco através de sons de bichos de borracha esmagados e samplers característicos de desenhos animados clássicos. Além disso, cada música tem o seu título vinculado a um dia do mês de abril, quando foi lançado (a primeira edição de "Suspended Animation" foi editada em um encarte em forma de calendário de mesa).
Foi esse disco que proporcionou à banda sua primeira visita ao Brasil, em novembro de 2005. Tocando em São Paulo e no Rio de Janeiro no festival "Claro que é Rock", o Fantômas foi responsável pelo show mais polarizado do evento, com a grande maioria do público deslocada em meio ao ensurdecedor e frenético ataque sonoro capitaneado pela banda. O que para muitos significou o encerramento das relações com uma figura tão cultuada no Brasil durante os anos 90, para alguns foi a verdadeira realização de um sonho. Nesses shows, bem como em alguns shows da turnê de 2005, Lombardo foi substituído por Terry Bozzio, em virtude de seus compromissos com o Slayer.
"Claro Que É M*rd*": mais uma frase imortalizada por Patton
(foto: Caroline Bittencourt)
O ano de 2005 ainda viu o lançamento de um split obscuro do Fantômas com a banda Melt-Banana. Contando com apenas uma faixa de cada banda (a do Fantômas tem apenas quarenta e três segundos), o single saiu por um selo italiano nos formatos sete polegadas e mini-CD quadrado (!).
Difícil mesmo é prever os passos seguintes do Fantômas. Para uma banda sem nenhum compromisso com o mercado ou mesmo com seus ouvintes, o melhor a se fazer é apenas aguardar por novos discos e recebê-los da maneira como eles serão trazidos ao mundo. Em meio a tantas incertezas, há sempre a segurança de trabalhos arrojados e certeiros para quem gosta de música inovadora e distanciada do lugar-comum.
Vicente Moschetti
fevereiro/2006
Álbums:
Discos oficiais Ano
Fantômas
1999 (Ipecac)
The Director's Cut 2001 (Ipecac)
Delìrivm Còrdia 2004 (Ipecac)
Suspended Animation 2005 (Ipecac)
Singles, participações Ano
Great Jewish Music: Marc Bolan 1998 (Tzadik)
Millennium Monsterwork 2002 (Ipecac)
Masada Anniversary Edition vol. 3: The Unknown Masada
2003 (Tzadik)
Fantômas/Melt-Banana (split) 2005 (Unhip)
2007-03-18 04:58:10
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answer #1
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answered by Anonymous
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