Ninguém tem direito de condenar os outros por serem como são, e reconheço que, por viver no anonimato, levo vantagem ao zombar de quem, nas ondas da fama, se tornam celebridades, mas ficam vulneráveis e publicamente expostos à minha simpatia ou antipatia pessoal. Talvez por ter ouvido muito rádio na infância, percebi que na Arte, independente de sua forma de expressão e representação, pessoas habilidosas e inteligentes exteriorizavam livremente sua linguagem particular, mesmo aquelas que, como eu, não eram dotadas do dom da comunicação escrita ou (a que mais me apavorava), a linguagem... falada! Ainda na que me parecia fugir a tal regra, ou seja, a Arte Cênica, concebia que os atores, ao tentarem passar à platéia emoções e sentimentos que não lhes eram próprios, seriam meros “imitadores” ou intérpretes de falas e pensamentos alheios (o que não era tão temÃvel, já que as encenações eram sempre precedidas de ensaios, amparadas no desempenho de um bom esteio direcional). Mesmo assim, imaginava que enquanto as outras artes revelavam o âmago e esforço pessoal do artista ao tentar expressar a si mesmo através de uma obra de sua criação, encenar ou fazer teatro me parecia o contrário, como a arte de mentir, fazer de conta, enganar os outros, o que colidia de frente com meus princÃpios idealistas, religiosos e morais (base de segurança de famÃlias humildes!). Um dia, assistindo uns ensaios (não lembro o local, mas havia uma mocinha parecida com Fernanda Torres, filha da Montenegro), descobri quanto estava equivocado, concluindo que, ao “abraçar o ofÃcio”, tanto atores como atrizes de fato precisavam ser a um só tempo a nota musical, o pincel, a pena, o cinzel e outras ferramentas de Arte, pois ao interpretar, representar e expressar em si mesmos determinados personagens, havia requisitos pessoais exigindo que fossem criaturas endócrinas, obrigando-as a utilizar toda a quÃmica de suas supra-renais, dos testÃculos (ovários, se atriz), tireóide, timo, pituitária, ilhotas e, acima de tudo, muito... coração, dotados de tal sensibilidade que só os eleitos de Deus conseguem se desdobrar sem se confundirem com os personagens que representam. Aliás, atores (e atrizes) que não se enxergam e incorporam os seus personagens, trazendo-os para a vida real, são tomados de “estrelismos” e “fricotes” e ficam tão artificiais que são dignos de pena! Enfim, captar e transmitir emoções, sem retê-las não é para qualquer um. Tarefa acessÃvel aos abençoados, aparentemente fechada ao mortal comum, o mundo do Teatro não perdeu lá grande coisa por não haver me associado a tais atividades, pois só de assistir uma boa peça somatizo tudo (atuando mais com a mente do que o coração, se fosse um ator seria um ator... mentado)! Não vejo com bons olhos o que a maioria define equivocadamente como “sucesso”, eis que a fama tolhe a liberdade e resulta num tipo de prisão, pois cessa a autoconfiança até de se caminhar sozinho e, a partir de então, não há “segurança” defensória confiável de quem se torna celebridade senão a “segurança em Deus” e, ainda assim, quanto mais elevado que alguém pensa estar acima dos outros, mais vulneráveis ficam publicamente, desde humildes Ghandis, Papas e outros pregadores da paz, a poderosos Chefes-de-Estado, Reis e Presidentes que fomentam a guerra. Ninguém explora o “desconhecido” ou traz o “oculto” á luz de análises, sem usar parâmetros “conhecidos”. Assim, seja a “má-fama” de um marginal Fernandinho Beira-Mar ou “boa-fama” do excelente jogador Ronaldinho, ambas montadas pela mÃdia, o mito criado provoca um tipo de idolatria que leva as pessoas a se interessarem por qualquer acontecimento envolvendo os dois, cujas notÃcias trazidas a público são logo assimiladas. Por isso, que nenhum autodeslumbrado que se tornou “celebridade” junto ao grande público, sinta em mim um “ofensor”, se aqui for tomado como exemplo para ensinar, principalmente os que, bons ou maus, navegam na “crista da onda” neste mar “Universal”. Na acepção do “externo” (plano terreno dos sentidos) a regra áurea para o recrutamento e a participação do “interno” (plano celeste espiritual) expõe com clareza: “muitos serão chamados, mas poucos escolhidos” – como sentenciou o Rei dos reis, Jesus - e o requisito dessa escolha recai em pessoas que abdicam de si mesmas, renegando efêmeras glórias e situações passageiras advindas da fama, para viverem em favor do próximo, renunciando aos efêmeros benefÃcios trazidos pela “celebridade”. Dentro dos “veros reais”, que poucas almas têm o dom de perceber, quantas artimanhas e armadilhas se ocultam em “sucessos” e, sem darem conta, assimiladas por muitos como algo bom e definitivo! A maioria daquilo que adentra os sentidos humanos é ilusório e passageiro, principalmente quando chegam através de algum tipo de arte oriunda de quem não trabalha, mormente quando oculta ilusões aceitas como realidade por serem agradáveis aos sentidos, sem notarem que são armadilhas boladas por pessoas que adoram explorar o véu alheio que lhes encobre os sentidos, e que espalham pelo mundo. Prefiro a discrição até pela segurança que traz, contudo não condeno quem não pensa assim e discorda de minha opinião.
2007-03-15 18:38:15
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answer #8
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answered by Origem9Ω 6
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