resposta=winston Churchill e Franklin Roosevelt já haviam levantado a lebre. Espiões russos espalhados pelo globo foram taxativos em seu alerta. Em dramática e desesperada carreira, desertores germânicos cruzaram a fronteira da Polônia para dar a notícia: a Alemanha estava prestes a invadir a União Soviética. Apesar de tudo, o líder vermelho Josef Stalin, que recebia havia semanas relatórios sobre a movimentação das tropas tedescas ao Leste, preferiu fazer ouvidos moucos. Adolf Hitler, para ele, continuava a ser um aliado. Foi preciso que três milhões de nazistas penetrassem numa faixa de 2.880 quilômetros da fronteira russa, na madrugada de 22 de junho, para que finalmente Stalin saísse de sua letargia e fosse apresentado à realidade. A União Soviética é, definitivamente, a bola da vez no mapa-múndi de feltro do Reich.
O ataque ao território vermelho foi determinado pelo Führer, sem declaração de guerra ou ultimato, sob a justificativa de retaliar supostas "violações de fronteira". Mas a destruição do bolchevismo e a conquista do chamado "espaço vital a Leste" já vinham sendo defendidos por Hitler havia anos. Na verdade, o mundo inteiro já previa o ataque - exceto Stalin, que se agarrava como uma criança ao jogo de aparências contido no pacto nazi-soviético. Agora, civis e militares russos estão pagando pela inépcia de seu líder: em menos de 10 dias de combate, os alemães já fizeram 300.000 prisioneiros e destruíram mais de 1.200 tanques. A Luftwaffe, apenas no primeiro dia de batalha, destruiu 1.811 aeronaves inimigas, perdendo apenas 35. A cidade de Minsk foi alcançada em 28 de junho, graças à eficiência do general Heinz "Ligeirinho" Guderian e seus Panzers - que, devastadores, continuam avançando uma média de 40 quilômetros diários.
Genuinamente surpreso com o ataque, Stalin demorou quase dez dias para se recompor. Apenas ao virar o mês, pouco antes do fechamento desta edição, é que o "Homem de Aço" se dirigiu à população, invocando uma "Guerra Patriótica" contra os invasores. Apelou para uma política de "terra arrasada" - a mesma que ajudou os russos a derrotar Napoleão - para vencer os nazistas. Os nativos devem levar toda espécie de suprimento na retirada para Leste; o que não for possível transportar deve ser destruído. Stalin também incitou a formação de unidades de guerrilheiros e grupos de sabotagem nas áreas ocupadas pelo inimigo: "Técnicas de guerrilha devem ser aplicadas em todo lugar, para explodir pontes e estradas, destruir linhas telefônicas e de telégrafos e incendiar florestas, depósitos e trens."
Mas, para Adolf Hitler, de nada adiantará o esforço vermelho. O manda-chuva teutônico prevê que a campanha esteja finalizada em menos de dez semanas - antes, portanto, da chegada do temível inverno soviético. "Só precisamos chutar a porta da frente", garante ele. "Então toda a apodrecida estrutura interna irá desmoronar."
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Em ponto de bala - A confiança do Führer resulta do porte da incrível máquina de guerra que deslocou ao front soviético. "Esta é a maior movimentação militar da história", afirmou Hitler sobre a chamada Operação Barbarossa - batizada em homenagem ao kaiser Frederico I, o Barba-Ruiva -, que foi desenhada durante meses bem debaixo do bigode de Stalin e pretende destruir a União Soviética e o bolchevismo. Hitler manobrou nada menos que três milhões de soldados para o front oriental, com o suporte de 3.350 tanques e 2.815 aeronaves - o que deixa a Alemanha com apenas 600.000 homens para defender o resto da Europa e o Norte da África. Além disso, divisões da Finlândia, Romênia, Eslováquia, Hungria e Itália, alinhadas com os germânicos, também devem apresentar-se para a batalha.
Já a União Soviética, por sua vez, conta com 2,5 milhões de homens (132 divisões) em sua fronteira ocidental, além de 20 divisões na fronteira com a Finlândia e mais 133 no interior do país e a Leste. Ao menos em números, há um equilíbrio; porém, enquanto as tropas tedescas estão em ponto de bala, as forças vermelhas só entraram em alerta de guerra na véspera do ataque - diferença que pode ser fatal.
Pelo que se viu até agora, o plano de ação germânico divide-se em três frentes. 1) O Grupo de Exército Norte, comandado pelo marechal-de-campo Wilhelm von Leeb, atravessa os países bálticos em direção a Leningrado, que também está sendo acossada pelos finlandeses; 2) O Grupo de Exército Central, sob a direção do marechal-de-campo Fedor von Bock, conta com as mais fortes divisões blindadas e tem a missão de cercar e destruir as forças vermelhas na Bielorússia, para assim abrir caminho rumo a Moscou; 3) O Grupo de Exército Sul, liderado pelo marechal-de-campo Gerd von Rundstedt, está se preparando para um ataque à Bessarábia, enquanto um destacamento de tanques rasga a Ucrânia, sentido Kiev, para eliminar a resistência.
Em comum, todos eles têm a determinação não apenas de conquistar territórios, mas também de espalhar o terror pelas cidades e povoados soviéticos - função que escapava, até agora, aos procedimentos tradicionais da Wehrmacht. No início de junho, uma Kommissarbehefl (Ordem do Comissário) foi emitida com o título "Determinações para a Conduta das Tropas na Rússia". "O bolchevismo é o inimigo mortal da Alemanha Nacional-Socialista, e a luta da Alemanha é dirigida contra essa ideologia e seus simpatizantes." Os soldados foram orientados a eliminar de forma bruta e enérgica toda a resistência. Ordens de Hitler também estabeleceram que nenhum oficial será julgado por crimes cometidos contra civis soviéticos.
Os russos, como os eslavos em geral, são considerados pelo governo do Reich como Untermenschen, ou sub-humanos; muitos estão sendo executados com frieza brutal pelos carrascos nazistas. Os milhares de prisioneiros tomados pelos alemães estão sendo praticamente abandonados à própria sorte, sem alimentação ou cuidados médicos, apodrecendo em seu confinamento. Como se não bastasse, os SS Einsatzgruppen, esquadrões assassinos de Heinrich Himmler, também estão na zona de guerra, cumprindo sinistras "tarefas especiais" delegadas pelo Führer - entre elas, o atroz massacre de judeus, forçados a cavar suas próprias sepulturas e abatidos por metralhadoras.
Com o sucesso dos primeiros dias de campanha, o comando militar alemão arrisca ousadas previsões. Hitler espera que o desfile da vitória em Moscou ocorra no começo de agosto. Oficiais já começam a trabalhar em planos de ataque à distante região industrial dos Urais, no extremo Leste russo. Tudo isso faz parte de um "Plano Geral Leste" nazista, que prevê a destruição total de Moscou e Leningrado, com a aniquilação de toda sua população, e esquemas gigantes de reconstrução urbana, com a troca de 30 milhões de habitantes nativos por povos germânicos. "Jamais deixaremos as terras soviéticas", avisou o Führer.
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Grande Expurgo - Esse conflito era tudo o que não queria Josef Stalin, que no último dia 5 tornou-se presidente do Conselho dos Comissários (título equivalente ao de primeiro-ministro), em substituição a Vyacheslav ******* - até então, apesar de seu poder real, Stalin detinha apenas o título de Secretário Geral do Partido Comunista. Para evitar animosidades com a Alemanha, Stalin, nos últimos meses, vinha fazendo uma série de agrados a Hitler. Entre outros mimos, promoveu o aumento da remessa de suprimentos ao Reich, facilitando o trânsito da borracha do oriente à Alemanha, determinou a censura expressa de qualquer crítica da imprensa russa ao nazismo, deixou de lado suas reivindicações na fronteira dos Balcãs, expulsou o embaixador iugoslavo de Moscou e recusou-se a reconhecer o governo grego em exílio.
De nada adiantou - e agora Stalin tem de superar graves problemas internos para colocar-se em posição de duelo com a Alemanha. Em primeiro lugar, mais da metade de seu exército ainda está em fase de adaptação às novas posições nas fronteiras russas pós-1939 - em territórios ocupados como a Bessarábia, a Polônia, a Finlândia e os países Bálticos -, o que significa que suas fortificações e linhas de comunicação nesses locais ainda são improvisadas ou incompletas. Além disso, as tropas ainda se recuperam das perdas derivadas do Grande Expurgo que Stalin, aterrorizado com a possibilidade de um golpe usurpador, promove desde 1936.
Enquanto Hitler domou seu corpo de oficiais, Stalin simplesmente matou o seu, executando, apenas para mencionar alguns, três de seus cinco marechais, todos os 11 Comissários da Defesa, 75 dos 80 membros da Junta Militar Soviética e 13 dos 15 comandantes de Exército. Essa decapitação desorganizou e minou o poderio da máquina militar soviéticas de tal forma que, apesar de não representar mais uma ameaça interna para Stalin, também não significa risco para um inimigo - ainda mais para um rival do porte da Alemanha. A Guerra da Finlândia foi um exemplo disso, forçando os russos a empregar 1,5 milhão de homens em três meses numa batalha em que as falanges teutônicas teriam gasto uma ou duas semanas, no máximo.
Depois desse choque, Stalin acelerou a reorganização de suas defesas, mas a impressão é de que as armadas vermelhas ainda estão abaixo da média. Não foram muitos os novos líderes que emergiram em campo - com gloriosas exceções, caso do general Georgi Konstantinovich Zhukov, que após sua notável campanha contra os japoneses foi nomeado em janeiro deste ano como Chefe do Estado-Maior.
A verdade, os analistas são unânimes em afirmar, é uma só: em processo de reorganização e renovação de seus equipamentos, as forças armadas e as defesas fronteiriças soviéticas terão um trabalho hercúleo para conter os três milhões de triunfantes e confiantes soldados alemães que avançam a Leste. Os relatos do front apontam que civis e soldados vermelhos, ainda que de forma desordenada, têm lutado bravamente, entregando-se apenas em forma de cadáver aos alemães. Mas será apenas a vontade arma suficiente contra o rolo compressor bélico nazista?
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Patife sanguinário - Stalin desconfia que não, e, por isso, já aceitou a ajuda da Grã-Bretanha, oferecida tão logo as primeiras bombas começaram a chover sob o céu vermelho. Já no dia 24, em Westminter, o secretário britânico Anthony Eden anunciou um acordo oficial anglo-soviético de auxílio mútuo. Crítico ferrenho do comunismo, Winston Churchill foi o primeiro a correr em apoio à União Soviética, sem ver nenhuma contradição entre suas idéias e seus atos. "Nos últimos 25 anos, ninguém tem se oposto ao comunismo de forma tão consistente como eu. Não retirarei uma palavra do que disse sobre esse regime. Mas tudo isso desaparece diante do espetáculo que se descortina agora", afirmou.
O primeiro-ministro foi além. "Hitler é um monstro da maldade, insaciável em seu desejo de sangue e riquezas. Não contente em ter a Europa sob seus calcanhares, agora leva sua carnificina e desolação para as vastas terras da Rússia e da Ásia. Sua máquina de guerra não pode ficar parada, precisa estar em constante movimento, ceifando vidas humanas e eliminando lares e direitos de centenas de milhões de homens. Mais que isso, precisa ser alimentada não só com cadáveres mas também com petróleo. E agora esse patife sanguinário lança seus exércitos mecanizados para novos patamares de massacre, pilhagem e devastação", atacou. "Por isso, qualquer homem ou Estado que lute contra o nazismo terá o suporte da Grã-Bretanha. Qualquer homem ou Estado que marche com Hitler será nosso inimigo."
Já os Estados Unidos, que aprovaram há três meses a nova Lei de Empréstimos e Arrendamento - o Lend-Lease Act, que permite ao país fornecer ajuda econômica e material aos países em guerra com a Alemanha -, também prontificaram-se a auxiliar os vermelhos. O presidente Franklin Delano Roosevelt conseguiu dobrar a oposição e estendeu a lei para a União Soviética, recusando-se a colocá-la na Lei de Neutralidade. Já no fim de junho, disponibilizou 39 milhões de dólares e enviou a Moscou o secretário Harry Hopkins, eminência parda de seu governo, para oferecer seu apoio formal a Stalin e verificar as reais necessidades russas em termos de material bélico.
"Na opinião deste governo, qualquer defesa contra o hitlerismo irá apressar a queda dos atuais líderes germânicos, redundando, portanto, em benefício de nossa própria defesa e segurança. Os exércitos de Hitler são, hoje, o prinicipal perigo das Américas", justificou o norte-americano Sumner Welles, no papel de Secretário de Estado, em fala muito próxima à de Churchill, comprovando, uma vez mais, os baixíssimos índices de popularidade de Hitler no Ocidente - perto do nazista, o camarada Stalin parece ser o menor dos males.
Um velho ditado russo ensina: "Se estão dando, pegue. Se vierem buscar, corra". Josef Stalin está seguindo à risca o conselho, aceitando a ajuda de britânicos e americanos e incentivando o recuo a Leste para evitar o braço-de-ferro com os alemães. Cedo ou tarde, porém, o encontro com a Wehrmacht ocorrerá. E o líder soviético precisará de mais do que provérbios para manter-se de pé.
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2007-03-12 02:56:59
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answer #1
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answered by Anonymous
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