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1. A Estética: evolução histórica da luz na composição da imagem


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1.3 - A luz nos movimentos artísticos



"Se é um lugar-comum dizer que não haveria coisa visível sem a luz, logo se lhe acrescenta um paradoxo, a saber, que a luz pode igualmente permitir a expressão, o fazer ver aos olhos do espírito aquilo que escapa aos olhos do corpo."

René Huyghe



Segundo Platão a luz seria, no mundo dos sentidos, o supremo grau, o sinal absoluto de Deus, a verdade e o bem, o belo, já que ela transcende os limites do físico. Se vemos a luz também a pensamos. A oposição da luz e da matéria assumiu desde o homem primitivo uma força simbólica.



"O homem primitivo sente que o negro, que a sombra, exprimem a matéria, aquilo que é opaco, aquilo que é denso, enquanto a luz traduz o vazio, aquilo que é subtil, aquilo que é imaterial. Dos "frescos" pré-históricos do Levante ibérico ou Saara até às figuras negras dos vasos gregos, a mancha sombria eqüivale à massa."



Voltando ao tempo da antiga arte grega, vamos encontrar o princípio básico da composição da imagem usada hoje em televisão, que já passou pela fotografia e pelo cinema: o chamado "ponto de ouro", que é a técnica de dividir uma cena em oito linhas eqüidistantes tanto na horizontal quanto na vertical. Os artistas gregos alegavam que o centro de interesse em uma cena deveria ser colocado no ponto de interseção das linhas horizontais e verticais a 5/8 (cinco oitavos) de qualquer das margens. Assim a cena se tornaria mais equilibrada, descartando a monotonia visual ao mesmo tempo que proporcionaria um equilíbrio visual. Os gregos focaram como principal centro de interesse o primeiro quadrante na leitura ocidental: a primeira intersecção das linhas de cima para baixo, da esquerda para a direita, porém abriram as possibilidades para o 2º, 3º e 4º quadrantes sendo que o primeiro ponto a ser visualizado por um observdor sempre é a 1ª intersecção.





Fig. 5: Desenho ilustrativo do ponto de ouro grego onde encontra-se o centro de interesse

Na prática, 5/8 (cinco oitavos) são praticamente 2/3 (dois terços). Em dividindo uma tela de TV em três partes horizontais e três partes verticais, o "ponto de ouro" está localizado na interseção ao dois terços de qualquer das margens.

Chegando à televisão, observamos que esta técnica ainda é utilizada, inconscientemente, pelos operadores de câmera e diretores de TV.





Fig. 6: Cena de telejornal com centro de interesse no "ponto de ouro"



Observando o trabalho dos profissionais de TV, os enquadramentos seguem ao conhecimento empírico e ao perguntar sobre o "ponto de ouro" há o desconhecimento geral sobre esta regra da arte grega, no entanto sabem que o centro de interesse deve ser colocado em aproximadamente dois terços das margens sob o risco de tornar a cena monótona ao telespectador.

No renascimento, as características principais das pinturas foram a triangulação, simetria e perspectiva. O triângulo, formado por três linhas imaginárias servia de guia para introdução dos elementos da imagem. No topo do triângulo encontra-se sempre o centro de interesse, o elemento mais importante do conteúdo. Nos vértices são colocados os elementos complementares como base de sustentação para o elemento principal. Geralmente, nos quadros desta escola, ao prolongarmos as linhas das perspectivas, elas sempre convergem para o centro de interesse.





Fig. 7: Quadro "A Ceia" de Leonardo da Vinci. Abaixo com as linhas predominantes.









Fig. 8: Quadro "A Ceia" de Leonardo da Vinci com as linhas predominantes.



Na obra "A Ceia" de Leonardo da Vinci observamos que a composição básica é formada por uma grande linha horizontal tendo ao meio a figura de Cristo que marca o eixo vertical. A triangulação formada em Cristo tem Sua cabeça como centro. O prolongamento de todas as linhas das perspectivas das paredes se cruzam num ponto de fuga que não outro senão a própria cabeça de Cristo. A simetria tem como centro de interesse o corpo de Cristo.

A luz já aparece como elemento central neste quadro com a função de chamar a atenção do centro de interesse: está ao fundo, como uma moldura clara onde Cristo aparece com muito bom contraste. É uma primeira demonstração do aspecto iluminação como fortalecedor do centro de interesse.



"Sem dúvida Leonardo da Vinci foi o primeiro - e bem antes que fossem empreendidas todas as tentativas para sacudir este jugo que se tornara demasiado pesado - a pensar no partido que se poderia tirar da luz, a compreender que o jogo dos valores abria um campo completamente diferente à imaginação artística."



O Renascimento ainda não trabalhava sombra e luz, mas claros e escuros. Daí a importância que adquiriu os claros e escuros nas obras de Leonardo da Vinci.

Mais um exemplo, dentro das características do Renascimento é o quadro "A Libertação de São Pedro" uma das mais importantes obras de Rafael, onde revela a maestria de uso da luz para tornar expressiva a importância do anjo salvador. Na mesma cena apresenta ao centro o anjo "iluminado", nos dois sentidos, despertando São Pedro e à direita da mesma obra o "iluminado" anjo libertando-o. O trabalho apresenta no contraste o fundo sombrio dos soldados e prisão.



"Rafael revela aqui sua maestria na utilização da luz, no uso expressivo do claro escuro. Nesse sentido é uma das cenas noturnas mais imaginativas da história da arte: os tons pálidos da noite enluarada, a tocha e, sobretudo, a brilhante luminosidade da aura sobrenatural dos anjos em contraste com o fundo sombrio estão magistralmente tratados.(...) Todas essas características dão forte impacto a essa obra, uma das mais importantes de Rafael."





Fig. 9: "A libertação de São Pedro" de Rafael



A escola barroca começa a incluir a sombra e luz iniciando um novo conceito na representação pictórica: a textura da imagem. Até então as cenas eram representativas respeitando-se a simetria, triangulação e perspectiva. Agora a textura passava a enriquecer as representações dando-lhes a impressão da tri-dimensionalidade. Aspecto esse que transferimos para a televisão.

Caravaggio, nascido na Itália (1572-1610) "foi uma das personalidades mais fascinantes da história por ter encarnado o ideal do artista em conflito com as convenções sociais" (). O uso da luz e sombra, definido como o uso dramático do claro-escuro proporcionaram um novo vocabulário histórico.

Esta nova técnica permite a ilusão de maior dramaticidade da cena, uma vez que a representatividade ganhava expressão própria. A luz passou a ser elemento gerador de sensações no receptor. A fonte inspiradora para o uso da luz foi a observação que Caravaggio pintava geralmente com iluminação de lamparinas ou muitas velas, dando-lhes elementos comparativos dos resultados iluminados com forte fonte de luz.

2007-03-08 02:48:16 · answer #1 · answered by Ricardão 7 · 0 0

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